Eu não mereço

*Depois me contém o que estão achando.

Dirigi o mais rápido possível, cheguei na empresa e fui direto para a sala de Thales.

-Porra Thales! Que mer... -Me calo em choque ao me deparar com a aparência doente de nosso pai.

Thales vem ao meu encontro e nos sentamos um ao lado do outro. Thomas nem se mexia.

Meu pai se levanta com uma certa dificuldade. Eu fico mais assustado.

Ele andou devagar e mesmo tentando esconder percebemos ele arrastando um pouco a perna direita, se sentou na poltrona de frente para nós. Em seus olhos, algo parecido com. Vergonha?

-Eu tive um pequeno AVC no começo do mês. -informou com a voz baixa e arrastada.

-E por que somente agora estou sabendo disso? - questiona Thales.

-Eu estava em Vegas tentando levantar um dinheiro e acabei perdendo até o que eu não tinha. O médico falou que foi estresse e por motivos óbvios eu não pude retornar até ser liberado por ele, somente voltei porque ele designou uma equipe para me acompanhar.

-Se não tinha dinheiro, como voltou? Por que não me ligou pai? -continua Thales, eu não consigo abrir a boca e aparentemente Thomas está do mesmo jeito.

-Meus cartões ainda não foram cortados, aluguei um jatinho bem equipado, que já retornou com a equipe que me acompanhou, apenas uma enfermeira ficou e foi ela quem me trouxe até aqui.

-Então o senhor tem que descansar e não fazer uma reunião...

-Me deixe terminar. Eu estou bem, ao menos por enquanto. -Mesmo debilitado ele continuava autoritário.

-Desculpe.

-Estou devendo gente barra pesada em Vegas e eles virão atrás de mim.

-Fala quanto é que eu pago. -propõe Thales.

-Amanhã no almoço falaremos sobre isso.

-Pai, vou marcar uma consulta para o senhor.

-Que seja.

Ele se retirou com à ajuda de uma bengala. Assisti todo o diálogo como se eu estivesse vendo um filme do outro lado da tela. Aquele homem, mesmo com sua ausência era meu referencial de força e me deparar com ele tão incapacitado mexeu muito comigo. Eu não tinha nada a dizer e muito menos sabia como agir.

-Vai ficar tudo bem, vamos resolver tudo isso. - falou Thales.

-Quanto será que ele deve? -Quetionei, ainda em transe e até mesmo sem saber o que falar.

-Para marcar uma reunião, deve ser muito. -Respondeu.

-Enquanto estávamos nos divertindo ele passava por tudo isso sozinho, desde o baile que mudamos com ele, passamos a evitá-lo por saber que ele nunca aprovaria nossas escolhas. -Desabafa Thomas, me fazendo refletir e internamente concordar com suas palavras.

-Podemos até ter mudado. Entretanto, não temos culpa dos vícios de jogo dele. Ele joga antes mesmo de mamãe falecer. -Esclarece Thales.

-Cara, eu me sinto tão culpado. -Admito.

-Não temos culpa e já falei que vou resolver isso tudo.

Uma batida na porta interrompe nossa conversa. Após liberar a entrada. Júlia aparece sorrindo e congela com no olhar frio de Thomas.

-Não faz merda cara. -Sussurra Thales.

-Júlia vamos para minha sala. -Anunciou Thomas, se retirando e levando ela com ele.

Eu não me movi. Thales me abraça e como um menino perdido, choro em seus braços enquanto ele tenta me acalmar. Eu perdi minha mãe e não me sentia pronto para perder também meu pai. Eu ainda tenho esperanças de um dia poder ser o filho que ele admira.

Saio dos braços de Thales e ele diz que vai desmarcar com Becca.

-Você sempre foi nosso pilar, sempre esteve conosco. Agora você tem ela, que é a responsável por seus sorrisos bobos. Hoje mais que nunca você precisa estar com ela. -Aconselhei, desejando ter Grazi ao meu lado naquele momento.

-E você? Vai ficar com quem?

-Eu estou bem irmão, já passou e se você ficar comigo em vez de ficar com ela, vou ficar mau com isso. -Declarei, mostrando uma força que eu não tinha.

-Tem certeza cara?

-Tenho sim donzela. Amanhã nos vemos na casa do velho. -O abracei novamente e saí. Eu precisava de ar.
*
Parei na praia e saí do carro descalço. Eu precisava sentir algo em meus pés para saber que eu não me encontrava em mais um pesadelo. Terei minha camisa e peguei meu celular.

Eu não imaginava o que iria dizer; mas eu desejava ouvir ao menos a sua voz. Cinco toques e três tentativas. Todas me levaram até a caixa de mensagem. Eu não tinha uma mensagem para deixar. O quê eu poderia dizer para uma merda de gravação?

Fiquei ali, perdendo a noção da hora. Cada som do meu telefone. Era uma esperança de falar com ela. Ao mesmo tempo, me questionava com o que eu poderia dizer. Os planos de viajar no dia seguinte parecia distante. Como correr atrás da minha felicidade, se meu pai parecia tão doente, infeliz e cheio de problemas.

Ainda sem rumo, dirijo para casa do meu pai. Fui atendido por sua enfermeira, que deixou claro, que meu pai não queria visitas.
Mesmo assim, me sentei no sofá de sua sala e olhei todo ao redor. Muitas vezes esse cenário foi testemunha de nossas discussões sem fim. Muitas eu somente queria que ele me abraçasse e dissesse que me amava. Desejo nunca realizado e agora me questiono se valeu apena tanta briga por quase nada. Nossas brigas não nos aproximou, ao contrário, ela nos afastou muito mais.

Perdido em lembranças doidas, ignorei o toque insistente do meu aparelho. Eu estava tão mal que minha voz, talvez nem sairia.

Claro que pensei em invadir seus aposentos e ver como ele estava. Mas eu sabia, que isso apenas o irritaria.

Me levantei para partir e novamente meu celular tocou. Na tela, o nome dela.

-Thiago, tudo bem? -Sua voz aflita me fez refletir. Eu não tinha o direito de tirar seu sossego com meus problemas. Não quando eu sabia, que em breve ela se apresentaria em um dos seus shows.

-Está pequena, apareceram uns probleminhas e provavelmente não vou poder viajar amanhã. -expliquei com minha melhor voz.

-Tem certeza que não é nada grave? Insistiu preocupada.

No corredor escuro, uma sombra, e pelo porte eu sabia ser meu pai.

-Tenho. Bom trabalho. Tenho que desligar. Depois nos falamos.

-Tá bom, beijos lindo.

-Tchau! -encerrei apressado, andando em direção ao meu pai.

-Pai!

-Amanhã Thiago. Eu deixei isso bem claro. -Suas palavras rudes não deixavam margens para questionamentos.

-Se precisar de...

-Vai pra sua casa. -ordenou virando-se.

Saí dali como na adolescência. Com os olhos marejados dirigi para um bar e de lá, para um show de rock. Eu estava a mil e quando uma ponta me foi passada. Puxei e prendi em busca de calmaria.
*

Acordei acompanhado em um hotel barato de beira de estrada. Aquele corpo e aqueles cabelos não pertenciam a Grazi e eu me senti um lixo humano. Busquei na memória e não consegui me lembrar de estar com aquela mulher.

Meu celular toca e ela acorda. Recuso a ligação de Grazi para esconder minha vergonha. A culpa me faz digitar que estou muito ocupado e devo permanecer assim por um bom tempo. Eu não conseguiria falar com ela nem tão cedo. Mesmo distante eu não conseguiria mentir, não para ela.
Ela apenas me respondeu com okay.

Entrei no banheiro e debaixo de uma ducha fria com nos olhos fechados, senti uma mão tocar minhas costas rígidas. Me virei e suas mãos foram para o meu peito.

-Podemos terminar o que começamos? -Questionou à mulher desconhecida.

-O que começamos? -Inquiri tentanto obter informações e tirando sua mão do meu corpo.

-Não acredito que não se lembre gato. -falou tentando soar sedutora.

-Me deixe terminar meu banho por favor. -ordenei com grosseria.

Ela saiu fazendo bico e eu soquei a parede com ódio de mim. Meu relógio me mostrava que logo daria meio-dia, eu precisava ir à casa de meu pai e minha mente rodava em busca de esclarecimento. Eu nunca tive perca de memória antes; mesmo muitas vezes tendo buscado por isso.
Saí do banheiro pensando em questionar aquela mulher, porém, ela não estava mais lá.

Como previ, eu realmente estava em uma espelunca e meu carro sem rodas do lado de fora provava isso. Todo castigo era pouco. Foda-se as rodas, foda-se o carro. Eu era a porra de um desgraçado e como previ, eu não conseguiria ser fiel e Grazi não merecia isso.

A piranha roubou meu dinheiro, mas ao menos deixou meus cartões e celular. Pedi um táxi e ainda desnorteado encontrei Thomas na entrada da casa de nosso pai. Thomas estava sentado no carro com os vidros fechados e os olhos perdidos. Bati no vidro e ele tomou um susto.

Saiu do carro e me abraçou forte.  Sussurrou que estava com medo de perder nosso pai, assim como perdemos nossa mãe.
Apenas lhe disse que tudo ficaria bem e que logo saberíamos como agir.

Da varanda liguei para Thales. Sua voz parecia bem e era bom saber que ao menos alguém estava.
Aguardamos calados Thales chegar. O tempo todo eu tentava lembrar e fleches somente me mostrava, eu chamando por Grazi deitado olhando para um teto com um ventilador quase despencando.

A chegada de Thales trouxe a sensação que tudo ficaria bem desde que estivéssemos unidos. Entramos na casa e tudo a seguir parecia surreal.

Meu pai perdeu tudo. O homem que eu admirava, agora era um viciado em jogos doente. Um fracassado.

Quando abriu a boca para dizer que Thales teria que se casar, meu sangue esquentou. Quantas vezes meu irmão ficou de lado para nós apoiar e cuidar. Thomas foi o primeiro a se oferecer para se casar em seu lugar. Mas eu já tinha ferrado a porra toda com Grazi e não me importaria com nada, já que com ela eu não poderia ficar, Thomas ainda teria Júlia e tudo era pouco para evitar que meu irmão perdesse, assim como eu, a mulher que ele ama.

-Não, você é o mais novo, eu caso com essa pilantra. - anunciei, tirando de vez Thomas daquela jogada suja.

Deixei claro para Thales que ele não precisava se casar com a tal Erika e o apoiamos quando ele se negou a participar daquele jogo nojento, e sem problemas resolvemos recomeçar. No entanto, meu pai não entrou naquele jogo para perder no final.

Papai ousou falar que estávamos nos divertindo na senzala e Thales explodiu. Papai passou mal. No hospital senti o pânico me dominar. Depois que nossa mãe partiu eu nunca mais entrei em um lugar assim. Fiquei encostado na parede tentando me imaginar em outro lugar, mais nada parecia funcionar.

Três horas depois...

No quarto do meu pai, seus olhos evitavam os meus. Thales se rendeu pela culpa e aceitou sua proposta insana. Que Deus me defenda, mas nequele momento desejei a morte do meu progenitor.

Ali vi um homem ausente que sempre ordenou. Vi o cara que nunca me amou. Tentei entender como minha amada mãe foi capaz de amar aquele homem sem escrúpulos e me senti mal em imaginar que eu, provavelmente era o mais parecido com ele e mais uma vez percebi que Grazi merecia alguém melhor. Muito melhor que eu.

Cheguei em casa me sentindo morto e fechei meus olhos para buscar os sorrisos de Grazi, mas a dor que eu sentia por meu irmão não permitiu a minha mente encontrá-la.

Me deitei no escuro e fiquei horas olhando pro nada. Depois de duas doses de whisky, relaxei um pouco e finalmente consegui ver os sorrisos dela. Passei a madrugada na internet paquerando suas fotos. Salvei algumas no meu celular e acabei deixando uma como capa. Eu tinha que ficar longe. Eu não à mereço e meus atos provaram isso.

Porém, eu nunca permitiria ao meu coração, esquecer alguém tão especial como ela.

                          🌻🌻🌻

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💋Beijos da Aline💋💋.

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