O fim

Becca

Após aquela noite posterior a que passei com meus pais, eu já sabia que não conseguiria simplesmente partir.
Estar com Thales é me sentir completa e plena. Muitas vezes me questionei se eu estava fantasiando, porém acho que ele realmente me ama também.

Cada dia cresce em mim a necessidade de me abrir com ele é tentar explicar que preciso resolver essa bagunça em minha vida, que  nunca abrirei mão de estar com ele. Porém o medo dele me odiar, fez com que eu prorrogasse ao máximo esse diálogo.

Encarar o homem que amo, sabendo que escondo algo me corrói e é difícil manter o olhar.

Liguei para Bruno e pedi que assim que ele retornasse ao Brasil, deveríamos nos encontrar sozinhos, independente do horário que ele chegasse.

Bruno foi para Portugual há quatro meses, cuidar pessoalmente do caso do tio que o criou e estava preso suspeito por tentar entrar com drogas no país.
Sabemos que a mala dele foi trocada no aeroporto, no entanto o problema era provar isso. Até tinha me oferecido para ir junto, porém Bruno falou que não adiantaria eu ir e que meu pai precisava saber que eu era capaz de gerir o escritório sozinha e que talvez essa seria minha única oportunidade.

Um dia antes do Baile de máscaras, Bruno me ligou e confirmou que em exato um mês ele retornaria e que a data para nosso casamento poderia ser mantida.
Isso somente aumentou meu desejo de saber como seria estar nos braços de Thales ao menos uma vez, e não pestanejei, no dia seguinte com o convite nas mãos, parti determinada a conseguir tal feito. Apesar da confusão eu não consigo nem por um milésimo de segundo me arrepender.

Bruno era o melhor amigo do meu irmão, sendo apenas dois anos mais velho, fiziam advocacia juntos e com a morte prematura de Robson, meus pais se apegaram a ele, talvez tentando aplacar a enorme dor.

O convívio constante com Bruno nós aproximou, ele se tornou praticamente o braço direito de papai, até eu me formar e ingressar no escritório, sair do curso de Marketing para direito foi penoso e difícil para mim, porém saber que meu pai estava feliz era o que me incentivava.

Bruno se tornou um amigo e parceiro e há quatro meses, antes de viajar, fui pega de surpresa com o seu pedido de casamento. Pois nunca passamos de apenas amigos.

O pedido foi feito no jantar de comemoração pelo aniversário de sessenta anos do meu pai. Ver nos olhos do meu pai que ele aprovava essa união, me fez aceitar sem questionar.

A prova veio em seguida, quando com a taça de champanhe ao alto, ele declarou que após meu casamento ele sairia de férias com minha mãe e passaria a empresa para mim.

Fiquei feliz por finalmente ele me ver como uma mulher capaz de gerir os negócios da família, eu sabia que devia isso a ele depois que seu sucessor havia partido. Sempre esteve nos planos do meu pai passar a empresa para Robson.

Meu comprometimento trouxe novamente leveza para o casamento deles e para mim isso não tinha preço.

Quando estávamos sozinhos, Bruno me pediu para não me preocupar, ele sabia que eu não o amava e que o sentimento dele era o mesmo. Que éramos uma dupla infalível e que somente fez o pedido depois que meu pai deixou claro que adoraria ter ele como genro.

Apenas um beijo foi trocado antes da sua partida, não posso ser hipócrita em dizer que não gostei. Como Bruno, eu já tinha beijado muitos e não seria sacrifício algum me juntar a ele.

Ele passou todo esse tempo longe e não conseguimos criar intimidade além da amizade.

Uma equipe muito requisitada estava cuidando de tudo e eu, assim como ele, deixei todo o preparativo nas mãos de terceiros.
Ganhei uma cobertura na Barra como presente de casamento e ver meus pais cada dia mais felizes não me permitia pensar que talvez eu devesse esperar um pouco mais.

Só que essa certeza mudou assim que saí do apartamento de Thales no dia seguinte ao baile, me enganando eu retornei para tentar me livrar do que eu não conseguia parar de sentir.

Ele me entregar as chaves, foi como ir aos céus e por um tempo eu fui capaz de esquecer tudo e todos a minha volta, para mim éramos somente eu e ele no mundo, mesmo o prazo correndo eu não quis me afastar. Acho até que eu nem conseguiria.

Quando ele saiu hoje para a empresa eu criei coragem e decidi que pela primeira vez eu seria egoísta. Eu não poderia perder o homem que amo, somente para ver meu pai satisfeito.
Eu sinto muito, porém não serei infeliz. Viver sem estar nos braços de Thales, com certeza me traria uma infelicidade sem fim.

Passei o dia ansiosa, e se não fosse o grande processo que eu tinha que avaliar, nem teria ido para o escritório.

Às seis horas da noite, Bruno me mandou uma mensagem avisando que tinha chegado, imediatamente o pedi para me encontrar em um restaurante. Ele me pediu para ir em sua casa, concordei. Entretanto, ele me ligou novamente dizendo que às nove ele teria um encontro com um cliente e já que não poderia descansar, era para eu o encontrar no restaurante mesmo.

Ele marcou as sete e meia, eu acabei me atrasando por causa de um acidente de trânsito, estava nervosa porém feliz, pois após esse jantar que eu esperava não ser tão difícil eu poderia finalmente amar meu homem em paz e me entregar totalmente a felicidade que já me consumia.

Quando desci do carro me senti estranha, uma sensação de perda apertava meu peito, na certa era por saber que eu estava indo em direção ao que traria decepção ao meu pai. Também não seria tão simples explicar a Bruno que eu o trai.
Ignorei os obstáculos e com um sorriso no rosto fui iniciar o meu processo de libertação.

Ver Bruno sorrindo do mesmo jeito de sempre, me prova que nosso sentimento não havia mudado, ele me olhava com a mesma ternura, uma coisa quase como de irmãos, em seus olhos nunca ouve paixão.

Encontrar Joel, que foi meu professor tão querido de direito e ver a animação dele com o meu suposto casamento me deixava sem graça e somente quando ele se retirou eu pude iniciar minha conversa com Bruno.

Depois de abrir meu coração a ele e dizer que eu estava amando alguém e até pedir perdão por minha traição, o sorriso dele se alargou e sorrindo me ele me falou:

-Becca, que bom que isso acabou, não nego que acho até que estou um pouco aliviado, me deixei levar pela empolgação do tio Igor em nos unir, porém esse tempo longe dele me fez ver que apesar da nossa amizade, não temos a química necessária para manter um casamento, você é linda e beija bem, -sorriu. -no entanto eu te amo quase como uma irmãzinha e saiba que estou disposto a tudo para te proteger.

-Obrigada Bruno, tinha medo de você me odiar.

-Vai na paz Becca, amanhã converso com o tio e digo que pensei melhor.

-Não Bruno, faremos isso juntos. Podemos fazer isso no domingo?

-Se for na hora do almoço tudo bem.
Boa sorte! Se ele está te esperando vá logo.

Beijei seu rosto e saí dali quase saltitando, mesmo sabendo que domingo teria que enfrentar meu pai.

A ansiedade e felicidade média espaço dentro de mim.

Já no apartamento dele às horas iam passando e a insegurança foi me dominando, depois um medo me paralisou, será que tinha acontecido alguma coisa com ele.

Já era mais de onze é meia da noite quando eu peguei meu celular e liguei para ele, chamou até cair na caixa postal, meus olhos se encheram e o desespero tomou conta do meu peito. Tremendo liguei novamente.

-Alô. -Ele atendeu e eu enfim respirei.

-Amor você está bem? - Perguntei aliviada, no fundo uma música animada tocava.

-Estou ótimo. -Respondeu desligando o celular.

Sem entender liguei outra vez, e a ligação caiu direto na caixa postal, tentei por mais quatro vezes e nada.

Passei horas olhando pro nada e tentando entender o que já me era tão evidente.

Ele estava comemorando sua liberdade? Se não me queria porquê me manteve aqui?
Que idiota eu fui, meu amor me cegou não me permitindo ver que eu era somente mais uma em sua cama, na certa todo aquele papo de que eu era a única a ter vindo aqui era uma mentira. Ele deve ser como o Thomas que namorou minha colega e em três meses a largou falando que tinha acabado e fez o mesmo com uma conhecida. Isso deve ser a marca dos irmãos Parker.

Com uma dor dilacerante arrumei minhas malas, mesmo assim não tive forças para partir de imediato, fiquei ali na esperança dele chegar e me dizer o que estava acontecendo.
Às cinco da manhã, com lágrimas nos olhos pedi a Renan para subir e pegar minhas malas.

Renan ou Adriano sempre estavam por perto e desde que vim morar aqui eles se revezavam durante à noite fazendo minha segurança de dentro de um carro prata com vidros escuros, que ficava estacionado discretamente aos arredores do prédio.

Dor era a única palavra que me definia. Depois de Renan sair separei as chaves e com lágrimas teimosas tive forças para deixar em um pequeno bilhete o que eu sentia.
Antes de sair andei por todo o apartamento, em todo lugar eu tinha algo bom para lembrar, passando pela sala vi as rosas brancas no vaso e chorando tirei uma de lá, beijei levemente suas pétalas e a deitei suavemente sobre meu bilhete de despedida.
Sei que se ele quiser, ele pode me encontrar, pensando assim parti.

O dia nublado está de acordo comigo, aqui do alto dessa cobertura olho para o horizonte tentando sorrir pela oportunidade que tive de ter estado mesmo que por tão pouco tempo, nos braços do homem que amo.

O sorriso não se manteve e me entreguei ao choro.

                             🌸🌸🌸

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💋Beijos da Aline💋💋.

Volto no domingo.
Ou antes kkk.

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