Eu não deveria (Becca)
Não sei ser má, e nunca resisto mesmo.😊😉.
Ter quase ouvido Thales dizer que me amava, foi como um sonho, do qual eu não desejava acordar. A vontade de dizer o que eu sentia, foi quase impossível de segurar.
Deitada aqui ao lado dele que agora dorme sereno, lembro claramente da primeira vez que eu o vi, sei que era coisa de menina, porém naquele dia eu com a minha inocência, o desejei para mim.
Ele tinha uns doze anos e eu somente nove, era Janeiro época das férias escolares e minha mãe me levou para um dia de colônia de férias no orfanato que tia Helena e ela ajudavam. Tia Helena sempre foi amiga da mamãe.
Meu encantamento infantil aumentou no mesmo dia, quando eu fiquei sabendo que ele era filho da tia Helena e dei graças a Deus por ela não ser minha tia de verdade.
Passamos o dia brincando no orfanato junto com as outras crianças, eu não tirava os olhos dele e ele pouco me dava atenção, até que na brincadeira da cadeira nos dois tentamos sentar na mesma e ambos caímos, um para cada lado, rimos muito. Ele levantou primeiro e segurou minha mão para me ajudar a levantar, na hora meu coração acelerou e ele olhando dentro dos meus olhos voltou e a sorrir. Pronto! Aqueles olhos azuis me encantaram de vez. Ali me apaixonei.
Lembro-me que nessa hora o pai dele chegou bravo e brigando com ele, o tirou da brincadeira.
Até eu completar quatorze anos eu ia ao orfanato nas férias com a esperança de vê-lo novamente.
Meus cadernos eram cheios de coraçãozinho com meu nome e o dele.
Minha mãe me olhava preocupada e quando pedi que ela falasse com tia Helena para ele ser meu príncipe na minha festa de quinze anos. E isso porque já tinha mais de seis anos que eu não o via. Ela me contou que o pai dele não gostava de negros e que por isso tia Helena não levava os filhos quando ia nos visitar, mesmo as visitas sendo raras, já que minha mãe vivia viajando.
Somente neste dia eu fiquei sabendo o porquê do pai dele ter brigado com ele anos atrás.
Com as viagens internacionais de mamãe, eu ia junto, desde dos meus dez anos e Robson ficava com meu pai. O casamento dos meus pais sempre foi discreto, tanto para nós proteger da mídia como também para não atrapalhar a carreira da minha mãe. Mesmo assim era uma maravilha, papai sempre foi loucamente apaixonado por mamãe e ela igualmente por ele. O tipo de amor que sonhei para mim e nunca teria.
Quando tia Helena faleceu, estávamos em Portugal e meu pai aconselhou mamãe a não vir para o enterro, que era melhor guardar a imagem feliz de tia Helena e também porque Theodoro era um nojento racista e na certa a maltrataria. Meu pai o odeia.
Depois dos dezessete anos, fiquei de vez no Brasil para assim prestar vestibular.
Uma noite já com meus dezoito anos fui convidada por uma amiga para ir a uma danceteria badalada de Copacabana e sem ao mesmo vê-lo chegar, senti minhas pernas fraquejarem. Ali depois de mais de oito anos, estava meu sonho, o rapaz que me fazia sonhar acordada.
Eu até queria me aproximar, porém naquela noite ele estava com amigos e logo ficou rodeado de mulheres lindas que pareciam sair da capa de uma revista assim como mamãe. Mesmo sem sorrir ele continuava lindo. Do jeito que eu sempre via no Orkut. Pois sempre fuçava sua rede social.
Eu já dava uns beijinhos por aí mesmo nunca o tendo esquecido de verdade e acabei saindo sem me aproximar.
Mais de um ano depois, eu estava em um trailer na praia do Leme quando ele passou só de sunga com uns amigos, sorri cheia de coragem para enfim falar com ele, porém o vi esconder a carteira quando três meninas negra como eu passaram por ele, meu coração sangrou naquele dia, ali entendi que nunca poderíamos ser nem mesmo amigos. Me entristeci em constatar que ele parecia com o pai e não com tia Helena.
Aos dezenove, eu perdi minha virgindade com um carinha da faculdade, Ficamos juntos quase um ano, até que descobri que eu não era a única na vida dele e a partir daí passei a ficar com vários negros gatos.
Muitas vezes cruzei com Thales em boates, e sempre sai do local assim que eu o via chegar. Para mim meu amor parecia ter se acabado, restando apenas uma lembrança de uma paixonite infantil.
Uma vez também o encontrei com a família em um restaurante, ele estava de costa para nossa mesa. Nesse dia o pai dele, fez um escândalo com a garçonete porque a menina não o chamou de senhor, naquele dia achava que suas ofensas eram dirigidas diretamente para mim, senti na pele mesmo ele não tendo falado sobre minha raça, percebi que seu show ridículo era por ela ser negra. E mamãe teve que ser dura com papai para que ele não intervir.
Meus pais sempre evitaram os lugares frequentados por Theodoro.
Todos os anos os convites para o Baile chegavam, isso desde a época da tia Helena, creio que o fato de nunca comparecermos, fez Theodoro não se importar em cancelá-los.
A morte de meu irmão, no auge dos nossos vinte um anos, mudou minha vida, eu quase não saia, nem mesmo quando meu corpo pedia. Nunca mais eu cruzei com ele. Renan e Adriano eram meus seguranças e amigos, já que passei a conviver noite e dia com eles.
Em Maio fui a uma boate na Lapa e lá estava ele, lindo com seus músculos e cabelos compridos. Dispensando algumas mulheres e sorrindo lindamente para outras, meu coração acelerou quando eu o vi dar convites para duas negras lindas que ali estavam, de onde eu estava ele não conseguia me ver. Antes de sair em um golpe do destino, sei lá! Fui ao banheiro e ouvi as meninas falando animadas sobre o baile. Sai em seguida, porém não deixei de reparar que ele até aquela hora estava sozinho com sua famosa água com gás e limão.
Com meu prazo vencendo eu me enchi de coragem e arrisquei tentar matar aquela chaminha que voltou a se ascender em meu peito. Peguei o convite para o baile e saí escondida decidida a tê-lo, nem que fosse uma única vez.
Minha mãe sempre dizia que quando olhamos muito alguém a pessoa sente.
investi pesado assim que ele chegou delicioso naquele smoking e com coragem, resolvi testar a tese.
De longe pude perceber que isso parecia funcionar, quando ele virava o pescoço em várias direções tentando saber que sensação era aquela.
Me mantive distante e ainda assim as vezes eu focava nele.
Surpreendida por ver ele dispensar muitas mulheres, achei que eu não teria chance.
Já era tarde quando ele entrou em um corredor que dava acesso a garagem e ao toalhete. Arriscando tudo eu fui atrás, fiz a cena da bolsa no chão e com o coração acelerado o agradeci. Me decepcionei com sua falta de atitude, saí do banheiro pronta para partir, porém sorri com vontade quando vi que ele ainda estava ali.
Agarrei aquela última chance e quase não acreditei quando ele disse que queria me beijar e me beijou. Meu corpo entrou em combustão e por muito pouco não me entreguei a ele ali mesmo.
Quase desisti quando ele me chamou para um lugar mais íntimo. Era tudo ou nada e eu escolhi o tudo.
Cada minuto que passava minha coragem ia sumindo, eu sabia que estava fazendo algo errado e depois de dois hotéis sem vaga achei que era um sinal para que eu parasse.
Até que ele sugeriu seu apartamento e a minha coragem voltou, eu resolvi aproveitar para exorcizar de uma vez por todas esse sentimento.
Ledo engano, à noite foi incrível e meu amor renasceu.
Mantive a máscara por medo dele se lembrar daquela menininha da colônia de férias. Que besteira a minha.
Fugi ao amanhecer e sai me condenando por minha fraqueza. Porém, durante a semana meu corpo, minha mente e alma, pediam por ele. Na sexta eu não resisti. Sendo bem ousada lhe mandei flores e me auto convidei.
Cheguei temerosa, mais logo percebi que ele nem imaginava quem eu era.
Comprei um chip somente para ele, caso ele resolvesse pedir outra vez meu número. Eu somente ativo o chip depois de deixar o escritório de advocacia e quando estou com ele.
Ainda morava com meus pais, já que a casa e imensa, depois da perda de Robson a segurança foi redobrada. No entanto, ganhei uma cobertura de presente e foi difícil justificar minha saída antes do tempo.
Minha mãe estava desconfiada, mesmo assim não tive coragem de contar. Meu pai só quer saber se estou bem e pronta para assumir os negócios.
Ontem fui jantar com eles e me enchi de coragem, estava pronta para dizer que eu desistiria de tudo. Entretanto quando cheguei os encontrei discutindo e para não decepcioná-los prometi que no prazo eu estaria pronta. Isso encerrou a discursão.
Para mantê-los bem, vou abrir mão da minha felicidade. Os documentos já estão prontos.
Depois da morte de Robson, tudo o que tenho feito é tentar suprir a lacuna que ele deixou, desisti da minha agência de Marketing e encarei a advocacia, mesmo sendo ótima no que faço me sinto incompleta. Entretanto, fico muito orgulhosa com os elogios do meu pai
Olho para Thales e um sorriso triste se forma em meus lábios.
Só Deus sabe o quanto amo este homem e como difícil vai ser a vida depois de ter vivido esses momentos mágicos ao lado dele. Eu tinha que ter sido forte e me afastado, no entanto esses olhos e sorrisos me prenderam.
Sei que quando chegar a hora de partir ele vai me odiar, por isso nada vai adiantar agora dizer que eu o amo e que sempre o amei.
🌸🌸🌸
🌹 Façam suas apostas, creio que muitas vão acertar.
O maior segredo dela não é esse.
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