Entendo sua dor.

Acordo super atrasado e mesmo assim relaxo ao sentir ela sobre meu peito.

O cheiro de café imunda o ambiente, deixando claro que Ruth já chegou, com muito cuidado saio da cama e vou ao banheiro.

Na cozinha Ruth me olha sorrindo feito uma boba e sem nada dizer me entrega uma bandeja com café para dois.

De volta ao quarto encontro ela saindo do banheiro e ao me ver seu lindo sorriso se abre, aquecendo assim meu coração.

Não sei bem como lhe dar com isso, nunca senti tais emoções, sempre fui muito educado e conquistador, falando tudo que uma mulher gosta de ouvir na cama. No entanto com ela vem de dentro de um lugar que eu nem sabia existir.

-Bom dia linda! Fico feliz em ver que acordou bem. -Falo beijando suavemente seus lábios.

-Bom dia gato! Me desculpe se atrapalhei seu começo de dia.

-Não atrapalhou nada, vem! Vamos tomar café na varanda.

Ela passa na minha frente abrindo a porta da varanda e se sentando em uma das cadeiras que tenho ali em volta de uma pequena mesa.

Sorrindo nos serve e depois de pousar suavemente a xícara de café sobre os lábios, Me olha e diz:

-Muito obrigada por me suportar ontem à noite.

-Para com isso Becca, você não deu trabalho algum, a propósito posso te pedir uma coisa?

-Pedir você pode, só não garanto te atender.

-Quando se sentir como ontem, me liga e vem pra cá. -Arrisquei.

-Não quero atrapalhar sua rotina, ontem foi uma exceção.

-Se quiser desabafar fique à vontade, e se não desejar, tudo bem também.

-Ontem fez seis anos que perdi minha metade, ele era meu mundo.

Suas palavras me machucam, no entanto logo afasto tais sentimentos, ela está sofrendo e eu aqui com ciúmes. Porra! Eu estou com ciúmes?

-Ele te deixou? -Pergunto sem me conter.

-Sim, me deixou sozinha e desprotegida. Tudo por sua teimosia em tentar me agradar.

Então esse cara está por aí, pronto para tirá-la de mim.

-Sinto muito. -Falo mesmo não sentindo.

-Éramos gêmeos, meu irmão era tudo pra mim, a morte dele devastou nossa família, tive que ser forte para não deixar ela se destruir.

Por um segundo senti alívio e logo em seguida veio a vontade enorme de pegá-la no colo.

-Ontem faríamos vinte sete anos. Ele foi assaltado em um sinal, os bandidos eram jovens e afoitos, quando ele foi retirar o cinto atiraram no meu irmão. -Relata com os olhos cheios.

Me levanto e a trago para meu peito, aliso e beijo seus cabelos.

-Sinto muito mesmo Rebeca, sei bem como uma perda pode devastar nossas almas.

Ela não chora. Porém fica ali em pé agarrada comigo.
Depois ela mesmo se afasta sorrindo.

-Chega, já passou. Sei que ele jamais gostaria de me ver triste.

Nem eu. Penso sentindo uma necessidade de deixá-la melhor, convido.

-Vamos dar um passeio hoje, vamos ao cinema, teatro ou praia. Melhor vamos dar uma volta de lancha.

Mal termino meu convite e Ruth bate na porta do meu quarto.
Vou atendê-la e ela com o telefone residencial nas mãos, me entrega o aparelho, informando ser Thomas do outro lado.

-Fala irmão.

-Não é nada demais, somente fiquei preocupado porque você não apareceu e nem atende o celular.

-Desculpa, hoje não vou para a empresa, daria para vocês segurarem as pontas aí para mim?

-Está com ela?

-Sim.

-Porra! Está gamadinho mesmo! Você nunca faltou ao serviço, nem mesmo em caso de doença.

-É somente desta vez, vou levar o celular, qualquer dúvida só me ligar.

-Não sei onde vai, porém divirta-se.

-Obrigado.

-Nada, mande um beijo pra minha cunhadinha.

-Tá fodido. -Grita Thiago do outro lado próximo ao telefone.

Ignoro e me despeço de Thomas.

Cunhadinha, essa é boa!

Na volta para a varanda encontro ela ao telefone também.
Ela se despede, dizendo que estará aguardando, em seguida desliga totalmente o aparelho.

Me sentei novamente ao seu lado e juntos acabamos de tomar nosso café da manhã, estamos em Junho e mesmo sendo inverno hoje o dia amanheceu quente com um lindo sol nos aquecendo a alma.

Mesmo morrendo de vontade de tomar banho com ela, deixei que o fizesse sozinha, me aproveitando do momento para dar alguns telefonemas.

Saiu do banho linda e com um frescor que é somente dela.

A chamei para a sala e lhe apresentei Ruth, que sorriu encantada com a simpatia de Becca, que em vez de lhe apertar a mão, surpreendeu Ruth com um carinhoso abraço. Pronto definitivamente Becca acabou de conquistar uma fã.
Deixei as duas em um animado papo na cozinha e fui tomar meu banho.

Durante o banho escutei o interfone tocar, estranhei já que eu não estava esperando por ninguém. Porém logo me lembrei que quem tem o costume de aparecer sem avisar é meu pai e eu não ter ido a empresa deve tê-lo feito vir aqui. Tomado por um medo que não sei explicar, sai rapidamente enrolado na toalha e cheguei na sala pronto para brigar.

Ruth abriu a porta dando passagem a um homem branco, o mesmo que trouxe Becca na semana passada. Com um desconforto permaneci no mesmo lugar, enquanto ela abraçava o tal homem que em seguida lhe entregou sorrindo uma sacola. Talvez percebendo meu incômodo, ela se voltou para mim com um sorriso lindo no rosto e isso foi o suficiente para eu respirar melhor.

-Thales esse é meu amigo Renan. -disse ela, se aproximando com o tal homem.

Olhei o sujeito nos olhos, talvez querendo intimidá-lo com minha postura de macho alfa. Em resposta o abusado sorriu e me estendeu a mão. Que eu apertei com firmeza.

-E um prazer conhecer o homem por trás dos sorrisos fáceis da Becca, essa menina vale ouro meu rapaz. Bom, foi realmente um prazer, porém tenho que ir. -ele se virou para ela. -Que horas venho te buscar?

Não falei nada.

-Eu te ligo, obrigada Renan. -Disse já o conduzindo para a saída.

Depois de mais um abraço ele partiu, ele aparenta ter quase quarenta anos, alto, loiro e de boa aparência. Fato que inexplicavelmente me deixou muito inseguro.

Ela me sorriu e eu continuei de cara fechada. É muito abuso mesmo receber o cara na minha casa e achar que pode simplesmente dizer que é um amigo. Mesmo tentando me controlar, não resisti, e assim que Ruth saiu da sala sorrindo, eu perguntei:

-Quem é esse homem, que importância ele tem na sua vida?

-Ciúmes Thales? -Perguntou com deboche.

-E se for? -Falei já não querendo esconder como me sinto.

Seus olhos que antes me desafiavam mudou de foco, agora ela olhava para meu peito e depois de respirar pesado voltou a me encarar.

-Ele é meu amigo. Sei que dormi com você em nossa primeira noite, sei também que dizer que nunca fiz isso antes vai parecer mentira. No entanto, é a verdade. Não precisa pensar que todo homem que se aproxima me tem na cama.

-Me desculpe! Porém, você é cheia de mistérios, não sei onde mora, não sei o que temos, nem ao menos por quanto tempo temos.

-Não tenho grandes mistérios, só não curto sair por aí falando sobre mim pra qualquer um.

Agora doeu mesmo.

-Entendi, eu sou qualquer um. No entanto, para transar eu sirvo.
-Retruquei tentando controlar o timbre da minha voz.

-Não coloque palavras em minha boca...

-Não coloquei, foi o que você disse.

-Então me desculpe se me expressei mal, e que não nos conhecemos direito.

-E do jeito que se fecha, acho que isso nunca vai mudar.

-Não é verdade, hoje eu falei sobre meu irmão, saiba que nunca falo dele com ninguém.

Puta que pariu! É verdade, pela primeira vez ela se abriu e eu já estou cobrando mais.

-Você tem razão Becca, me desculpe, mas estar diante de um homem que parece te conhecer tão bem mexeu comigo.

-Thales, não se apaixone por mim, em menos de um mês isso vai chegar ao fim.

-Eu não estou apaixonado, porém também não quero ser qualquer um. -Menti.

-Você não é, se você fosse eu nem mesmo estaria parada aqui ouvindo suas cobranças.

-Cobranças? Você pensa que tenho que me calar e aceita as migalhas que você resolve me dar.

-Eu não sabia que você se sentia assim, você sempre foi um homem sem apegos, tendo mulheres diferentes em sua cama a cada noite.

-O que você sabre de mim? De onde me conhece?

-De algumas vezes que nos cruzamos por aí, sempre com você tendo uma loira fatal ao lado ou em um restaurante com seu pai destratando os menos favorecidos.

-Eu não destrato ninguém.

-Quem cala consente Thales.

-Se é assim que me enxerga, porquê ainda está aqui? -Perguntei sem medir minhas palavras e me arrependemos em seguida.

-Era porque como eu te disse, você para mim é alguém, alguém que eu tinha que manter longe e burra me aproximei. Pensei que uma noite apenas bastaria para me fazer parar de desejar você.

De tudo que ela disse eu só registrei...

-Você me desejava?

-A distância sim. Fui aquele baile determinada a te seduzir, usei todo o poder de atração que eu poderia dispor e mesmo quando você desistiu eu facilitei pra você, fazendo aquela cena ridícula de deixar minha bolsa cair.

Então foi tudo armado por ela. Cansado de discutir e com medo dela desistir, me aproximei olhando em seus olhos.

-Obrigado por não desistir. -Falei puxando ela para meu peito e em seguida beijando seus lábios.

-Não sei se foi uma boa ideia, nosso tempo é curto. -Falou afastando nossos lábios e olhando para mim.

-Você está doente? -Perguntei temeroso.

-Não, mais tenho obrigações, e de verdade, se vamos continuar prefiro não falar sobre isso.

-Tudo bem Becca, quando vence meu prazo?

-Nosso prazo vence em vinte dois dias. Não pense é que fácil para mim, só te peço para não complicar mais as coisas.

-Vou tentar, vou terminar meu banho e depois vamos passear. -Falei dando um beijo mais exigente e me retirando.

No banheiro decidi não pressionar, já que não quero mesmo um amor pra vida inteira, vou curtir o que temos e do jeito que temos.
Quantas vezes nos cruzamos e eu nunca reparei? Quanto tempo perdi podendo tê-la em meus braços?
E o principal! que porra de prazo e esse?

Até lá muita coisa pode mudar, meus sentimentos podem acabar ou o dela aumentar. Com esse pensamento sai do banheiro renovado e pronto para jogar pesado.

Ela só vai me deixar quando eu estiver pronto para deixá-la ir. Nem um segundo antes.

                             🌸🌸🌸

🌹Por favor não esqueçam de votar e comentem à vontade.

💋Beijos da Aline💋💋.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top