A Conversa

Thales

Parei. Sem saber como reagir.

Eu só precisava de um abraço dela.

Mesmo sabendo ser errado, não me segurei e a touxe de encontro ao meu peito. Meu coração acelerado esperava angustiado ela me afastar.

Quando suas mãos me envolveram pela cintura, uma lágrima insistiu em deixar meus olhos.

A dor da perda era insuportavel e eu sabia que depois de hoje, nossos caminhos não mais se cruzariam, pois mesmo eu errando ela mentiu e escolheu o outro.

Eu queria fazer esse momento durar para sempre e quando ela se afastou, me senti imediatamente vazio.

Levantei seu rosto e pude ver as lágrimas que ali escorriam em silêncio. Como eu pude machucar tanto a mulher que amo? Não adianta eu mentir ou tentar negar. Eu a amo, mesmo a odiando.

Sequei suas lágrimas e um sorriso desconcertado brotou em seus lábios.

-Podemos conversar lá em cima? -Perguntei ainda com a mão em seu rosto.

-Eu preferiria conversar enquanto caminhamos.

-E você vai fazer isso de salto? -Argumentei, tentando convencê-la a subir comigo.

-Podemos então ir para minha casa? -Perguntou depois de um tempo.

Tive vontade de perguntar onde estaria o marido. Entretanto, por agora eu não queria saber.

-Podemos sim, vou pegar meu carro.

-Eu te espero aqui.

Subi as escadas de dois em dois degraus, em poucos minutos saindo da minha garagem a peguei.

Ela me passou seu endereço que ficava a menos de vinte minutos da minha casa em um dia sem transito como o de hoje.

Em meu carro o silêncio reinava.  Mesmo sabendo estar fazendo o certo, a dor da despedida me fazia querer desistir e sair dirigindo com ela ao meu lada, rumo a uma estrada sem fim.

Meus seguranças nos seguia de perto e também pude ver pelo retrovisor o Porsche branco fazer o mesmo.

Estacionei na calçada enfrente ao prédio que ela me indicou e até sorri, pois há oito meses, eu quase comprei a cobertura que estava à venda ali.

Calado e um pouco nervoso, à acompanhei para o elevador e seis andares depois, eu me encontrava parado em sua sala.

-Sente-se Thales.

Meus olhos foram de encontro aos seus lábios. Nunca alguém conseguiu fazer o simples fato de falar meu nome ser tão divino.

-Eu prefiro ficar de pé. -Falei sabendo ser impossível eu me sentar estando tão nervoso.

-Quer uma bebida?

-Aceito um vinho.

Enquanto ela pegava a bebida, meus olhos pela primeira vez passou pelo local, talvez procurando alguma coisa que me mostrasse como eles viviam e se ela estava feliz.

Me entregando a taça ela se sentou.

-Eu gostaria de saber o que fiz para você me odiar tanto e me tratar como uma puta? -Perguntou direta.

Cada vez que ela falava esta palavra meu peito doía.

-Além de ser noiva enquanto estava comigo? -ela me olhou por um tempo, na certa se perguntando como eu descobri.

-Se descobriu, porquê não me questionou?

-Quem deveria ter dito era você, não eu.

-Você está certo. Naquela sexta-feira eu ia te contar tudo.

-Ia me contar quando era tarde demais?

-Eu não imaginava ser tarde demais, mesmo assim não faria diferença nenhuma eu te contar, você já tinha sua opinião sobre mim formada. Então me diz porque mesmo assim me deixou ficar em seu apartamento me iludindo com seus carinhos.

-Eu não te iludi, eu realmente te amei.

-Amou e não foi capaz de me deixar explicar?

-Você teve um mês para isso. -Repondi tentando me controlar.

-Sim, um mês temendo te perder, temendo que no fim você pensasse exatamente isso de mim.

-O que acha que eu deveria pensar Becca?

-Não sei, talvez que você percebesse o quanto eu te amava, que aquela menininha do orfanato da Tia Helena tivesse nutrido por você sentimentos que somente cresceram.

-Tia Helena? Você morava no orfanato?

-Não Thales, minha mãe e a sua foram amigas e sua mãe frequentava minha casa.

-Quantos anos tem isso? -indaguei tentando entender.

-Quinze anos mais ou menos. -Ela me contou como foi aquele dia e todas as vezes que me viu, até mesmo seu desejo de me ter como seu príncipe em seus quinze anos. Terminou falando: -Eu me apaixonei por você e me mantive assim por muitos anos até o dia que vi você destratar umas meninas na praia do Leme, ali entendi que você era como seu pai e por isso me mantive longe e até evitando os lugares que você frequentava.

-Por que nunca me falou sobre isso? -Perguntei pensando em todo tempo perdido.

-Não achava importante, já que depois te vi na boate dando convites a duas negras para o tão famoso baile. Por esse motivo eu criei coragem e saí disposta a ter você nem que fosse uma única vez. Eu apenas não contava que meu amor estava adormecido e não morto. Eu tentei me afastar. Mas, meu amor por você sempre foi grande demais. -Falou evitando me olhar.

-Você era noiva de outro e quer dizer que me amava?

-Quando eu fiquei noiva eu pensei que este amor estava morto e mesmo se não estivesse eu nunca tive chances com você.

-Não teve chance? Eu te levei para morar comigo Becca, você foi a primeira mulher que dormiu em minha cama.

-Mas com certeza não à última, no domingo do mesmo fim de semana que você me descartou, sem me permitir explicar, outra já ocupava meu tão privilegiado lugar. -Falou com ironia.

Me lembrei de imediato da mulher que encontrei no bistrô.

-Ela não dormiu lá.

-Entendi, então as festinhas no apartamento eram somente fodas, apenas eu pude acordar ao seu lado?
-Perguntou se colocando de pé.

-Não inverta os papéis, eu fui o enganado aqui e não o contrário.

-Eu aceitei ficar noiva porque achei que esta decisão deixaria meu pai feliz. Bruno viajou no dia do nosso noivado e somente retornou naquela sexta-feira. Sei que agi errado, mais eu precisava falar com ele antes de te contar.

-E ele te perdoou?

-Sim, ele me ama como uma irmã e eu a ele como um amigo fiel.

-Por isso você sai com outras pessoas?

-Tinha anos que eu não saia com ninguém, desde a morte do meu irmão eu raramente saia para me divertir.

-Então você somente o traiu comigo?

-Sim.

-Ele sabe o que aconteceu recentemente conosco.

-Não, aquele dia me traz vergonha e eu nunca falei sobre ele com ninguém.

-Por que você não me escolheu Becca? Eu te amava tanto.

-Não foi uma escolha Thales, foi uma certeza, a certeza de que eu não poderia ser infeliz para agradar ao meu pai.

-Mesmo assim você casou com ele. -falei sem esconder minha mágoa.

-Quê? Eu não me casei com ninguém.
Naquela noite eu conversei com ele e desfizemos o noivado, fui para sua casa sem me conter de tenta felicidade por finalmente poder ser livre e te amar sem culpa.

-Como não casou? -Perguntei sem esconder o choque.

-Eu não podia me casar e te perder, por isso doeu tanto quando você nem ao menos voltou para casa e ainda estava em uma festa.

-Eu não estava em festa nenhuma, eu estava na praia com as minhas dores, nesse dia que você foi falar com ele em um restaurante aqui perto, eu vi vocês e antes ele já havia falado que esperava a noiva.

-Por que ele disse isso a você?

-Não foi para mim, foi para um senhor, eu estava sentado próximo a eles.

-Meu antigo professor. Foi por isso que não voltou para casa então?

-Foi sim, eu estava com raiva e tive medo até de te agredir. Quando voltei você havia partido.

-Eu te esperei até às cinco da manhã, voltei no sábado e também no domingo. Mesmo sendo óbvio para mim, eu não conseguia aceitar, somente aceitei quando te vi na varanda com três mulheres. Ali vi o quanto eu fui ridícula.

-Ridícula?

-Sofrer por alguém que nunca me quis, acreditar que um sonho infantil havia se tornado real. -Falou se sentando.

Me sentei sobre a mesinha de centro, ficando de frente para ela que agora me olhava com os olhos cheios.

-Eu pensei que você tivesse se casado, eu quis sim te machucar, eu tentei tirar você da minha mente, do meu corpo e do meu coração. Eu te odiei e me odiei por ainda te amar.

-Você não me amou, você apenas reagiu ao orgulho ferido.

-Você realmente acha que eu não te amei Becca?

-Acho.

-Então você também nunca me amou, você não confiou em mim, viveu comigo mantendo mistérios.

-Por medo de te perder Thales.

-Te peço desculpas por meus atos e palavras que tão somente era minha dor em ser trocado e o pensamento que se não fosse comigo, teria sido qualquer outro.

-Ao contrário de você, eu não deixei ninguém me tocar, diz que me amou e passou inúmeras noites com várias mulheres diferentes.

-Querendo tirar você de mim.

-Espero que tenha conseguido Thales, palavras e atos machucam demais, ainda mais um amor frágil como o nosso. -Falou se levantando outra vez

-Eu não consegui Becca, arrependimento e alegria brigam dentro do meu peito. -falei me levantando e parando de frente para ela. -Eu estou aqui recebendo suas críticas e mesmo assim na esperança de ter novamente a mulher que amo ao meu lado.

-Críticas? Voce me negou o direito de defesa e me condenou. Me machucou e me humilhou. -Falou andando de um lado para o outro

-Eu não te machuquei.

-Todas as vezes que você estava com alguém você me machucava, quando fodeu comigo e depois me tratou daquele jeito você...

-Eu não fodi com você.

-Aquilo foi o que então? Fez tudo para me ferir e acha que isso é amor? Não Thales, isso não pode ser amor. Amor era o que eu sentia sofrendo a sua falta, mentindo para mim mesma, dizendo que eu estava saindo para me divertir, quando na verdade, eu somente queria poder te ver. -Parou novamente de frente para mim, cruzou os braço. -Quanto tempo demorou até você por facilmente outra em meu lugar?

-Nunca coloquei alguém em seu lugar. Passei este tempo me odiando por te amar, eu tentava sim te esquecer e tirar você de dentro de mim. Eu errei Becca, fui imaturo porque tinha me sentido usado. Porém, quando estávamos juntos eu fui verdadeiro com você, eu me entreguei de corpo e alma sem medo de ser feliz ao seu lado.

-Eu também me entreguei Thales, ao seu lado nada mais importava...

-Você já não me ama mais?

-Você acha que um amor morre assim? Ele adormece.

-Então me deixa acordá-lo. -Pedi, me aproximando.

Levantei seu queixo e temeroso aproximei meus lábios dos dela.

                        🌸🌸🌸

🌹As vezes a solução e somente um diálogo. Ou não.

🌹🌹Por favor não esqueçam de votar e comentem à vontade.

💋Beijos da Aline💋💋.

Volto domingo, ou antes😘😘.

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