Magoei demais

Assim que vi a mesa posta pra um, estremeci temendo que ela tivesse partido. Mada, me contar que Júlia estava dormindo, me trouxe calmaria.

Entrei no quarto dela sem bater. Eu não queria acordá-la. A claridade me permitiu vê-la enquanto dormia. Mas foi por pouco tempo. Sei que notou minha presença apenas por sua tentativa em manter a respiração ritmada. Mesmo assim, fingi acreditar e aproveitei para continuar a admirando. Meu anjo é tão bela.

Minha vontade era tirar minha roupa e me deitar ao seu lado sentindo sua pele negra e macia de encontro ao meu peito. Queria alisar seus cabelos e ganhar seus sorrisos tímidos. Beijar seus lábios doces e poder apagar toda dor que lhe causei.

Fiquei distante por um tempo e ela mesma se entregou ao levantar para ir ao banheiro.

Seu ar inocente, não existia mais. E lamentei internamente por isso.

Ignorei sua postura de me manter distante e me sentei ao seu lado. Eu ansiava loucamente por seu toque.
Apenas quando Juliana mexeu, que ganhei um rápido sorriso. Rápido e encantador. Um sorriso que é somente dela.

Aproveitei todos os momentos para tocá-la e quase busquei seus lábios quando finalmente minha mão tocou seu ventre nu. Era torturante estar tão perto e ao mesmo tempo tão longe. Mas se era isso que ela me ofertava, era esses poucos contatos que eu agradecia.

Sai de seu quarto para tomar um banho e tentar digerir tudo que me foi dito. Eu a magoei demais e seus olhos não  escondiam isso, assim como suas palavras. Me assusta imaginar que ela realmente nunca vai me dar outra chance.

Todos os dias que estive sem ela, entrar em casa sozinho era uma tortura. Todos os cantos me remetiam aos seus sorrisos e curiosidades quanto ao sexo.
Inocente e extremamente sensual.

A água caí sobre meu corpo e lágrimas de pesar as seguem. Pesar por tudo que joguei fora por minha imaturidade e medo.

Andei impaciente pela casa, com Tom sempre atrás de mim. Já havia se passado mais de uma hora que deixei seu quarto.

Pedi a Mada que arrumasse nossos pratos e com o dela sobre a bandeja, entrei no quarto, após uma leve batida.

Seu olhar era de desânimo.

— Trouxe nosso almoço. Sei que não está com fome, mas precisa se alimentar direito. Por nossa filha Anjo.

— Não precisa se preocupar com isso. Cuidei bem de nos duas até hoje e vou continuar a fazê-lo. —Sua resposta ríspida, mexeu profundamente comigo.

— Sei que cuidou. Mas foi opção sua me manter no escuro. Não  pode me culpar por isso também.

— Eu não te culpo por nada. Sempre fui responsável por meus atos. —enquanto se sentava na cama, suas palavras saíram carregadas de rancor.

—Por que esta querendo brigar comigo? Não posso mudar a merda que fiz. Mas estou tentando ser melhor. Não precisa ficar sempre na defensiva Júlia  — me aproximei, colocando a bandeja sobre suas pernas. —Vou buscar meu prato e já volto. —Beijei sua testa.

Voltei trazendo meu prato e meu notebook.

Me sentei ao lado dela e comemos calados. Durante todo o processo, ela evitou meu olhar.

Quando terminamos, peguei seu prato. Seu olhar era triste e sem brilho. Essa visão, me quebrou em mil pedaços.

Deixei os pratos sobre o criado mudo e voltei pra cama. Sem pedir permissão, afastei levemente sua costa da cabeceira e a trouxe para meus braços.
Ela veio. Surpreendentemente sem reclamar. Encostou o rosto em meu peito quanto a abracei e beijei seus cabelos.
Me abraçou forte, segurando minha camisa na parte de trás e um soluço deixou seus lábios, enchendo meu coração de dor. Seu choro era sofrido. Continuei alisando seus cabelos enquanto ela chorava, me deixando apavorado e sem saber como agir.

Apavorado também, por ter ciência  que ela não pode se aborrecer neste período tão delicado. Realmente estou desnorteado. Mas continuo com o carinho.

— Se ficar perto de mim te causa tanta dor, vou contratar uma enfermeira para ficar com você aqui e me mudo para um flet — Ela balança a cabeça negando. — Você está triste com minha presença. Não posso te obrigar a conviver comigo meu amor, por mais que eu queira tanto isso. —Nem eu sei como consegui dizer tais palavras. Palavras que me rasgava por dentro.

Minutos depois, bem mais calma. Afastou o rosto de meu peito secando às lágrimas com a costa da mão.

— Se não é minha presença. O que te deixou tão triste.

— Saudade de um tempo onde seus braços me traziam segurança e me fazia se sentir especial. — agora era eu quem secava suas lágrimas.

— Eu estou aqui amor. Estou aqui. Eu te amo anjo.

— Eu te amo Thomas — eu sorri. —Mas não confio em você. Não consigo acreditar em nada que me diz ou que já tenha me dito. —Fechei meus olhos e tentei absorver apenas a parte em que ela disse que me ama.

— O tempo vai te provar que mudei anjo —Beijei a ponta do seu nariz. — confie em seu coração, que mesmo depois das merdas que fiz, continuou a me amar.

Ela se afasta, sentando-se na cama.

—Você não entende. Para o bem da nossa filha, o melhor é sermos apenas amigos.

— Toda criança merece ter os pais juntos.

— É por isso que está dizendo que me ama? Uma criança precisa de um lar sólido e muitas vezes...

— Eu te amo independente da sua gravides. Eu já te disse que não te esqueci nem um dia — respiro fundo. -— Desejei a morte de meu pai e me senti culpado quando ele apareceu doente. No mesmo dia que ele teve o AVC, eu tinha telefonado para ele e falado que ele quem deveria ter morrido no lugar da minha mãe. Depois ele mentiu e tentou casar Thales com a filha de Ivan — me levantei. —Ivan o chantagiava sobre minha paternidade e também por meu pai ter uma filha que Ivan sabia aonde estava. — Deus! Eu preciso contar que a filha é  ela. — Tudo piorou quando soube que ele não era meu pai e que cuidou de mim e me amou mesmo assim. Me senti um ingrato e me mantive ao lado dele tentando compensar as merdas que falei e tudo que fez por mim. Ainda mais quando soube que o canalha do Ivan é meu pai biológico e também porque Thales e Thiago haviam se afastado dele por causa de Becca e Grazi.

— Eles se afastaram por amor a...

— Eu também te amava, mas não  imaginei que fosse tanto. Não te afastei por falta de amor, mais por gratidão ao meu pai.

— Seu sentimento é fraco. Pode estar querendo ficar comigo por culpa ou até mesmo por achar que esse é o certo a se fazer. — Eu ia falar, mas ela levantou a mão, me impedindo. — Não sabe como me doeu e dói, saber que se eu tivesse uma posição social diferente... Talvez você não tivesse me afastado.

— Não Júlia. Aquilo não teve nada haver com dinheiro. Eu estava perdido. Agi por impulso. Já te expliquei isso. Fiz achando que te protegeria das grosserias dele e também por não entender bem o que realmente sentia por você.

— Exatamente. Meses atrás, você olhou em meus olhos e disse me amar. Disse que eu não estava só, que eu tinha você e formariamos uma família. Disse isso tudo sem saber se realmente me amava ou não. E provou que mentia quando me deu as costas sem olhar pra trás. Você nunca quis saber como eu estava. Somente me procurou quando precisou de alguem para desabafar.

— Porque confio em você.

— Como se sentiu quando não lhe dei colo? Foi conversar com seus irmãos? Imagina como me senti quando justo no dia que descubro estar grávida, você  me dispensa e aquele velho racista do seu pai, me esculacha, me chamando de oportunista e iludida, falando com nojo da minha raça. Eu não tinha ninguém e você sabia disso. Então não vem me dizer que fez para me proteger. Você  fez pra se proteger. — Ela nunca vai perdoar meu pai e nem a mim.

— Também. Já admiti que fui um covarde egoísta —Me sento na cama, de frente pra ela. — Se ainda me ama. Não seja uma covarde como eu fui. Nos dê mais uma chance Anjo.

— Eu tenho medo. —Fechou os olhos e demorou a abrir.

— Não tenha. Eu prometo não te desapontar novamente.

— Você mente.

— Não estou mentindo.

— Esta sim. Eu te vi com a Michele, filha do doutor Gilberto.

— Michele foi uma colega que me ouvia. Apenas isso. Nem mesmo beijei outra depois de você Júlia.

— Não acredito em você. E tem mais, não quero aquela racista perto da minha filha.

— O que ela te fez? Se ela te procurou...

— Não importa.

—Claro que importa.

— Não importa da mesma forma que não importou com seu pai.

— Meu Deus! Você nunca vai nos perdoar não é mesmo?

— Não a quero perto da Juliana Thomas. Apenas isso. Infelizmente não posso fazer o mesmo com seu pai. Mas se eu perceber uma sombra qualquer de racismo perto da minha filha. Entro na justiça e afasto ela de você.

— De mim?

— Lógico. Como pai, terá direito as visitas e saídas no fim de semana. Se você  deixar seu pai fazer...

— Droga Júlia, não vim aqui pra discutir e deixar você nervosa. Eu queria apenas escolher umas coisas pra ela na Internet junto com você. —Nem fodendo, que vou ver ela e minha filha  apenas nos fins de semana

— Isso não foi uma discussão. Estamos conversando e colocando as coisas no lugar.

— Por falar em lugar. Estou pensando em transformar esse quarto em um quarto temporário para ela. O que você acha? — temporário  porque agora tenho motivos pra construir no terreno que Thales negociou. Achei prudente mudar de assunto.

— Parece uma boa idéia.

— assim que ela nascer, mando pintar enquanto estiverem no hospital.

— Pode começar em cinco dias se quiser. Tia Cida vai chegar e vou voltar pra minha casa.

— Não faz isso anjo. Fica aqui comigo. —Implorei.

— Thomas, eu só vim pra cá porque não podia ficar sozinha.

— Eu sei. Mas é tão bom ter vocês aqui.

— Mas eu não...

— Tudo bem. Não vamos brigar por isso. Desde que eu possa passar todos os dias pra ver vocês.  —Concordo acreditando que em cinco dias possa fazê-la mudar de idéia.

Passamos duas horas escolhendo os móveis e a cor da tinta. Paramos pro lanche e depois, mais uma comprando roupinhas. Eu queria ter saído com ela para fazermos isso pessoalmente, mas seu estado delicado não permitia.
*
Nos cinco dias, almoçamos e jantamos juntos no quarto dela. Pude alisar sua barriga à vontade e a maioria das vezes foi sem ter um pedaço de pano no caminho. Todos eles resisti firmemente para não tomar seus lábios. Meus beijos em seu ventre lhe deixava claramente balançada. Assim como eu.

No terceiro dia Fabiano veio fazer uma visita. Chegou antes de mim. E quando entrei no quatro, tive que ser sábio e nao surtar de ciúmes. Ele estava alisando sua barriga e falando com minha filha. Para completar, disse que as amava e julia respondeu que elas também amavam ele demais. Sei que são amigos, mas isso não impediu meu ciúme. Mesmo quando notaram minha presença, continuaram na melação.
Que só parou por Fabiano reparar em minha cara de ciumento. O mesmo depois veio me chamar pra conversar e tentar me deixar tranqüilo quanto a amizade dos dois. Lhe expliquei que não duvidava que era apenas amizade, mas que mesmo assim sentia. Principalmente por tudo que eles passaram juntos durante a grávides dela. Isso porque ela mesma já havia me contado que Fabiano a acompanhava ao médico e estava ao seu lado quando descobriram o sexo da minha anjinha.  Perder tudo isso fodia comigo.

No quarto dia, recebemos a visita de meus irmãos e cunhadas. Mesmo com ela na cama, a visita foi boa. Tiramos muitas fotos juntos. No entanto, quando meu pai chegou no final da tarde, ela disse que estava cansada e queria dormir. Ele entendeu o recado e se retirou. Senti um aperto no peito com sua tristeza. Porém, eu não podia fazer nada.

Hoje no quinto dia. Tia Cida chegou. E contra todas as minhas orações. Júlia  ira pra casa dela amanhã. Eu mesmo a levarei quando voltar da empresa na hora do almoço.

*

Todos os dias passo na casa dela. Tia Cida é uma senhora encantadora e sempre me recebe bem. Os dias que Júlia ficou em minha casa. Aumentei a equipe que reformava seu atual lar. Mesmo ela protestando, ontem mandei entregar os móveis que comprei na casa dela. Juliana teria quartos bem parecidos nos seus dois lares.

Michele me ligou e percebi que esqueci de lhe mandar a bolsa. Resolvi o caso com um telefonema e não aceitei seu convite pra jantar. Até porque, continuo almoçando e jantando com às  mulheres da minha vida. Chego na hora do almoço e saio às nove da noite. Mas por duas vezes ela me deixou dormir no sofá. Depois me proibiu, alegando não dormir bem porque ficava preocupada com minha coluna. Até tentei dormir em sua cama, mas ela não deixou. Ainda.
Mada está trabalhando lá e ficará  até o resguardo de Júlia acabar. Falta apenas 12 dias para nossa filha nascer e eu já estou quase morrendo de ansiedade e felicidade. Júlia aprendeu a cuidar de sua empresa pela internet e todo dia pela manhã, sua equipe invade seu quarto para uma rápida reunião.  Os exames que fez, graças a Deus deram normais.

Amanhã será a primeira vez que não vou almoçar sem elas. Tenho uma reunião em São Paulo e retorno no dia seguinte.

Talvez por estar chovendo, Júlia me deixou ficar essa noite.

🌸🌸🌸

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Me perdoem pelos erros. Amando todos os comentários.

💋Beijos da Aline💋💋.

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