Família

Cheguei na empresa às 9:00 horas. Cumprimentei sorrindo a todos que encontrei pelo caminho.

Liguei para casa e Mada me garantiu que Júlia estava na cama. Eu ficaria na empresa até o meio-dia e depois voltaria para ficar com ela. Eu contava os minutos pra isso.

Entrei depois de uma leve batida na sala de Thales e me surpreendi em ver que meu pai também estava ali.

-Parabéns Donzela! Parece estar fazendo o certo finalmente. -Thales foi o primeiro a falar, me abraçando.

-Parabéns irmão! Fabiano tem nos mantido informado e apenas por isso nos afastamos um pouquinho. -Thiago foi o segundo.

-Parabéns meu filho! Parece que cresceu bastante nesses dois dias. -disse meu pai ao me dar também um abraço.

-Obrigado! Vocês não fazem ideia da felicidade que estou sentindo. Hoje de manhã pude vê-la ao acordar. Pareceu que voltei no tempo. –Expliquei me sentando com eles.

-Mas não voltou! Cansamos de te avisar para ir atrás dela e você não nos deu ouvido. Agora quer pagar de arrependido. Será que realmente a ama? - me questionou Thales.

-Não acredito que duvidem disso.

-Se você duvidou, por que nós não podemos? -perguntou Thiago ironicamente.

-Meu filho, sei que tive minha parcela de culpa e somente Deus poderá me ajudar a obter esse perdão. Não preciso estar presente na vida dela. No entanto, preciso ter certeza que finalmente ela vai ser feliz e estará amparada. -interveio meu pai.

-Nossa mãe suspeitou da existência de um irmão, ou irmã. Ela deixou 10% da empresa para Júlia, Mas sem saber ser ela -Thales se levantou e eu e Thiago o olhavamos surpresos. -Júlia foi o motivo de mamãe assumir o orfanato. Eu era pequeno, mas lembro-me bem de ver amor todas as vezes que mamãe olhava pra ela. Por muito pouco Júlia não cresceu ao nosso lado e isso devemos agradecer ao nosso querido pai. Que agora parece tão arrependido. -ironizou Thales no final.

-Realmente estou.

-É fácil se arrepender quando estamos falando da sua filha. E se Júlia não fosse? Estaria agora incentivando Thomas a ir atrás dela ou ainda estaria fazendo o seu famoso e nogento discurso que lugar de negros e na senzala? -desafia Thales.

-Estou sendo bem assistido por uma psicóloga. Grazi e Malu também me ajudam muito. Não entendem, mas passei anos achando que tudo que perdi de importante era culpa de negras ou negros. Até mesmo sua mãe, que me deixou antes de falecer assassinada por um negro. Meu racismo a afastou e eu culpei a raça e não a mim. Almerinda foi minha babá, praticamente minha mãe, na verdade, melhor que ela. Cresci ao lado daquela adolescente que na epoca não tinha nem dezoito anos. Ela era minha confidente, amiga e porto seguro. porém, aos dez anos tudo mudou. Meu pai saiu de casa a levando com ele como amante. Eu o odiei, mas logo minha mãe desviou meu ódio para Almerinda, a negra suja que destruiu nosso família. Meu ódio cresceu por anos. Não por ela ter ido com ele, mas por ela ter me deixado pra trás. -se levanta com um pouco de dificuldade. -quando fiz dezessete, minha mãe se matou culpando a negra por sua desgraça. Antes disso, eu via meu pai duas vezes ao ano, no Natal e no meu aniversário. Ele sempre vinha sozinho. Quando minha mãe partiu, eu não quis morar com eles, eu já os odiava. Ele por me tirar ela e ela por trer me abandonado. Depois tudo que não andava do jeito que eu planejava, tinha um negro ou negra envolvido. Seja em uma briga de trânsito, ou em eu querer beber até cair, sempre aparecia um, tentando me impedir. Igor era meu único e melhor amigo. Logo Luíza, a linda modelo negra; Me tirou ele também. Ao menos era assim que minha mente funcionava. -Se calou, olhando intensamente pra nós.

-Não vou te julgar, pois sei o que a má influencia de um dos pais pode fazer. E talvez o que tenha impedido o seu sucesso total conosco, tenha sido o grande amor que mamãe destinou a nós. mas mesmo assim o senhor conseguiu por um tempo me tornar prisioneiro usando minha culpa. sei bem tudo o que eu lhe disse naquele fatídico dia e demorei perceber seu jogo...

-Não culpe somente a mim por suas fraquesas filho...

-Não estou fazendo isso. Estou apenas desabafando como o senhor. Eu me senti um monstro por desejar mais de uma vez que fosse o senhor a morrer e não minha mãe -meus irmãos me olharam tentando disfarçar a surpresa. -me senti pior ainda em saber que nem teu sangue eu tinha e mesmo assim cuidou de mim e me amou. Eu sentia que lhe devia isso. Deveria ficar ao seu lado independente de qualquer coisa e ser grato por tudo que fez por mim. Sei que agiu pensando fazer o certo. Cometi o mesmo erro com o senhor e principalmente com Júlia. Perdi minha mulher achando que o destino se encarregaria de tudo e com isso perdi tudo em sua gestação. A fiz sofrer e passar por dificuldades que ela jamais deveria ter passado.

-Júlia é forte irmão. -Thales tenta me fazer sentir bem.

-Eu sei que ela é. Até isso eu duvidei achando que a afastando, estaria a protegendo das palavras duras que o senhor diria pai. Tive tanto medo que a machucasse, que não percebi que quem fazia isso era eu.

-Ela ainda te ama donzela. - Thiago fala sorrindo.

-Queria poder acreditar nisso, porém mesmo que ela ainda me ame, preciso que ela nunca mais duvide do amor que eu tenho por ela. Como vou reconquistar minha mulher se ela acredita que não sou confiável? Como fazê-lá entender que fui um idiota mimado que não soube reconhecer o amor que estava o tempo todo diante dos meus olhos?

-Com amor, paciência e perceverança. Não quero você com Júlia por ela ser minha filha ou estar esperando minha neta. Quero vocês juntos porque se amam e podem ser mais felizes do que antes. Me neguei a ver a felicidade dos três durante meses, me neguei a admitir o bem que essas mulheres faziam a vocês. Vi Thales mais leve com seus sorrisos bobos, Vi Thiago sorrir como nunca e percebi que já dormia melhor. Vi você se voltar contra mim, para defender quem ama e assim crescer como homem -ele suspira. -e foram esses fatos que me assustaram tanto. Para mim, era apenas mais uma negra me tirando... Me tirando vocês.

-O que mudou pai? -Questiona Thales desconfiado, assim com eu.

-Grazi tem me mostrado que não perdi nada. Ao contrário, estou ganhando. Essas mulheres são responsáveis por me dar quatro netas. Me assusta um pouco. Não soube lhe dar com meninos, imagina com meninas! Sei que Becca, Grazi e principalmente Júlia. Não irão permitir que eu erre novamente. Não perdi meus filhos. Ganhei filhas dignas. Só preciso me acostumar um pouco mais com isso e poder ser um avô presente. Já não tenho tanto medo. -Meu pai rasgou a alma, assim como eu.

Durante um tempo. Talvez para melhorar o clima. Thales relatou as vezes que viu Júlia e tudo que sabia sobre ela. Nos contou da primeira família abusiva e como por muito pouco ela não foi morar conosco. Se lembrou de como ela havia lhe chamado a atenção e até mesmo nos surpreendeu ao se lembrar que eu tinha ciúmes deles com ela quando éramos criança. Não havia sido somente um encontro. Longe disso. Íamos diariamente ao orfanato apenas para vê-la e ficarmos com ela.

Nos contou até mesmo que a mãe dela não morreu de pneumonia e sim de overdose e que Ivan estava ao lado dela e mexeu os pausinhos para mudar o atestado de óbito por medo de pegar alguma coisa pra ele. Nos contou que sua entrega as drogas foi por causa de abusos que sofria em um prostibulo a qual a mesma começou a trabalhar quando Júlia nasceu. Esse foi o motivo real da sua troca de sobrenome. Ela não queria se jeito nenhum que a mãe descobrisse. Vi nos olhos de meu pai a culpa por não ter investigado se ela realmente tinha feito o aborto. A culpa por ter sido ausente e não ter ao menos a ajudado financeiramente. Assim evitando tudo aquele sofrimento que Júlia foi obrigada a passar ainda criança, quase um bebê. Eu sabia que era isso que seus olhos mostravam, porque o mesmo estava nos meus. Meus irmãos também notaram e pela primeira vez um abraço em família foi dado. Um abraço verdadeiro. Mesmo ainda faltando Júlia conosco.

-Cuide bem da sua mulher irmão, ela é nossa irmã Donzela -sorriu. -Acho que isso ficou meio bizarro. -acrescentou Thiago gargalhando.

-Cuidarei Thiago ‐suspiro. -Quando poderei contar à ela sobre tudo? Sei não ser um bom momento, mas não quero esconder nada dela.

-Não falará isso sozinho Thomas. Falaremos em familia assim que Juliana nascer. -foi Thales quem me respondeu.

-Bem vindo ao nosso mundo Thomas. -acrescentou Thiago me dando mais um abraço e Thales se juntou a nós.

Meu pai, que ainda estava de pé, se dirigiu pra porta e antes de sair, nos olhou com os olhos cheios e um sorriso no rosto. No entanto, isso não escondia todo o seu arrependimento.

Trabalhei até dez para o meio-dia. Antes dàs onze, eu havia ligado e sabia que ela estava bem e vendo televisão no quarto. Tive que resistir para não pedir pra falar com ela é atrapalhar sua marotona.

Em casa, a mesa estava posta apenas pra um.

🌺🌺🌺

Vou sumir por uns dias, meu celular está horrível. A bateria não passa de 5% e tive que escrever esse capítulo várias vezes por perder partes. O aparelho desliga e não salva tudo antes de fazê-lo. Comprei outro hoje pela internet. Prazo de quinze dias pra chegar. Espero que chegue antes.
Vou tentar postar algo mais assim mesmo. Mas não sei se o bonito vai aguentar.
Obs: Amando os comentários.

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💋Beijos da Aline💋💋.

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