Cansei
Entro em minha sala seguido por ele.
-Não sabia que o senhor iria participar da reunião. -paro ao lado da minha mesa e cruzo os braços
-Claro que vou, essa parceria é milionária.
-Engraçado o senhor estar tão feliz em firmar uma parceria com um homem negro.
-O dinheiro não tem cor Thomas. -que nojo.
-Verdade.
-A propósito, encontrei Vivian um dia desses.
-E eu com isso?
-Que bicho te mordeu?
-O que o senhor quer saber pai? Pergunte. -estou doido pra responder.
-Nada. Mas ela terminou o curso de administração e está largando a carreira de modelo.
-Que bom pra ela.
-Falei pra ela que pode vim trabalhar aqui com você.
-Não temos vaga
-Claro que temos. E só dispensar a neguinha e...
-Saia da minha sala agora.
-Está mesmo nervoso hoje.
-Não estava até você abrir essa boca pra falar desse jeito da Júlia. Pensa que não vejo como você a olha. Nem vem me dizer que é nojo pois sei que não é. Então qual é a sua? -mas também não acho que a desejo, parece ter algo nela que o incomoda e não e sua cor, não sei explicar, mas hoje isso foi nítido.
-Me respeite Thomas.
-Me respeite também. Faço tudo que o senhor pede. Procuro sempre estar ao seu lado mesmo gostando cada vez menos disso e mesmo assim o senhor quer vim se meter em...
-Essa empresa é minha. -Bate com a mão na mesa.
-Então sente-se em minha cadeira e faça bom proveito. Não vou ficar mais aqui se em tudo você quer se meter, estou de saco cheio de ver como olha pra Thiago, de saco cheio de ver como tenta mandar em Thales, de saco cheio de tentar me manipular, de saco cheio de ver como trata as pessoas com tanta falsidade. A lista e imensa. -me exalto.
-Sou seu pai.
-Será mesmo? -ele fica pálido. -Pensei que essa função tinha sido dada a Thales depois que mamae morreu foi ele quem cuidou de mim e Thiago.
-Seus olhos se enchem e ele abaixa rapidamente a cabeça.
-Eu estava sofrendo...
-E ainda está pai. Eu sei disso é sinto muito, apenas não destile suas frustrações em quem não merece. Quer mandar Júlia embora? Mande e eu saio junto com ela. -diminui meu tom e me sentei em minha cadeira.
Ele se senta de frente pra mim e me olha sem esconder seus olhos cheios. Isso me detona por dentro, nunca nesses meus vinte cinco anos, vi meu pai em tamanha fragilidade e me seguro pra não me desculpar.
-Você tem razão. Eu fui muito ausente mesmo. Mas te imploro que nunca mais duvide que sou seu pai. Eu te amo tanto meu filho.
-Também te amo pai, mas as vezes você é difícil de engolir.
-Eu sei, vou me afastar novamente. Dar espaço pra vocês.
-Não quero que se afaste mais, apenas que respeite nosso espaço e nossas escolhas.
-Vou indo -se levanta. -diga a seus irmãos que os amo muito. Vou viajar e na volta marcamos um almoço. Se você quiser. -fala da porta.
-Eu quero pai.
-Tchau filho!
-Tchau Pai.
Assim que sai da sala Julia me olhou e logo seu olhar de tornou preocupado. Mas não tínhamos tempo para conversar. Na reunião foi tudo acertado e logo o comercial seria lançado anunciando a chegada do maior frigorifico da cidade. Ele não participou da reunião e vi alívio no rosto de meia irmãos.
Em casa...
-Amor o que você tem?
-Nada anjo.
-Tem certeza? Vi seu pai sair de cabeça baixa e depois você tão triste, ele te falou algo pra te aborrecer?
-Nós brigamos e eu falei algumas coisas que estavam engasgadas em minha garganta, mas depois me senti mal por ver ele tão arrasado.
-Por que não liga e se desculpa.
-Me senti mal, mas não arrependido. Na verdade eu queria ter falado muito mais. Sei que ele sofre a perda da mamãe, eu também ainda sofro por isso.
-E difícil mesmo. Eu não me lembro da minha. Tenho apenas algumas fotos dela quando era bem jovem. -ela fica triste. Eu reclamando da falta de minha mãe e ela não tem nem pai ou irmãos.
-Vem aqui amor! Sabe que te amo muito não sabe?
-Agora eu sei e um dia vamos encher esse apartamento com nossos filhos e vamos ficar de cabelos brancos pelas artes deles.
-Será que eu conseguirei ser um bom pai?
-Nós seremos sim meu amor.
Mesmo tendo Júlia ao meu lado eu não consegui dormir direito e acabei saindo da cama para não acordá-la.
Pensei em Thales e Thiago. Senti por ser descaradamente o filho que meu pai mais procura e que talvez eu seja o que vai lhe causar um infarto quando anunciar que pretendo um dia me casar com Julia. Hoje eu desejei tanto que ele me questionasse sobre meu real relacionamento com Julia. Minha boca quer tanto lhe contar o que meu coração está cheio e isso me deixa maluco por saber que ele nunca vai aprovar. No fundo eu sei que ele sabe é impossível não vê a forma como olho pra ela e duvido muito que Vivian não tenho lhe contado.
*
No sábado à tarde, Julia foi pra casa de Paula lhe ajudar a embalar a mudança. Roberto conseguiu ser transferido novamente e eles irão embora pra Manaus. Eles viajam na segunda à tarde e por isso falei pra Júlia passar a segunda com eles. Eu sabia que ela desejava isso. A levei até o prédio de Paula e acabei aceitando seu convite pra subir um pouco. Enzo e um bebê lindo e sorriu com dois dentinhos pra Júlia assim que a viu. No meio do papo fiquei sabendo que Cesar já estava em Manaus e isso me deixou um tanto aliviado. Nada de ex rondando no fim de semana. Amém por isso.
Acabei ajudando Roberto a desmontar um Guarda roupa e o questionei se valia a pena fazer uma mudança pra Tão longe.
-Não, a maioria vai pra amigos. Vamos levar o necessário. A empresa nos fornece um apartamento mobilado.
-Legal cara, vai alugar esse?
-Esse não é nosso. Por isso estou me desfazendo dos móveis. Júlia vai ficar com o guarda roupa e o sofá, o dela está muito ruim. -acabei de me sentir um lixo.
-Entendo.
Acabei deixando a hora passar e não recusei quando Júlia me chamou para dormir em seu apartamento.
Entrei com ela pedindo para eu não reparar na bagunça.
Tudo estava em perfeita ordem com exceção do sofá que tinha um buraco disfarçado com uma almofada e o guarda roupa com duas gavetas quebradas. Sua cama de solteiro nos acomodou bem, graças ao ar condicionado. Ela ficou preocupada com Tom, mas depois lembrou-se que o bichano roubava a ração quando bem queria na área de serviço e tinha água suficiente pra ele até amanhã de manhã.
Pensei em lhe comprar um sofá novo, um Guarda roupa e uma cama de casal. Mas depois desisti. Primeiro que ela poderia se sentir ofendida e segundo, que em sem Paula no Rio, ela deve ficar muito mais tempo comigo e pode até alugar esse apartamento futuramente.
Acordei com o barulho da descarga. Já era de manhã. Entrei no banho com ela é nos amamos no box, do mesmo jeitinho que fazíamos em casa. Tomamos café na rua e a deixei com Paula voltando pra casa.
Passei o dia com a imagem triste de meu pai em minha mente. Na verdade a falta de Júlia me deixou perdido e acabei saindo à tarde. Vi mas uma vez Viviam com suas amigas e ela passou fingindo não me ver. Achei ótimo!
A noite conversei com Júlia pelo telefone e acabei indo pra casa dela novamente. Na segunda sai de lá direto pra empresa e assim que cheguei meu pai me ligou.
-Fala pai!
-Mandei Vivian enviar o Currículo dela hoje. Não se preocupe que a vaga da sua queridinha está segura. Viviam vai trabalhar com Thiago.
-Ele aceitou isso?
-Ele não precisa aceitar. Esta com medo de não resistir em ter aquela beldade tão pertinho de você todos os dias meu filho?
-É esse seu jogo pai? Eu só tenho olhos pra uma mulher
-Essa mulher te enfeitiçou não é mesmo?
-Amém por isso. Satisfeito? Sei que você sabe quem dorme comigo, não me importo se isso te incomoda e não vou ser um filho da puta de um covarde novamente deixando que você fale dela o que bem quer.
-Prefere ela a mim.
-São casos diferentes, mas sim.
-Sua mãe...
-Minha mãe teria vergonha de você, assim como eu tenho agora.
-Você não pode estar falando sério. Aquela neguinha...
-Estou. Permaneça aonde está e nos deixe em paz pelo amor de tudo e que é mais sagrado. Eu não aguento nem mas olhar pra sua cara. A negra linda que trabalha comigo é minha mulher e você vai ter que se conformar com isso de uma vez por todas.
-Prefiro à morte.
— Então morra caralho! Deus não foi justo em levar minha mãe e deixar você. Não foi mesmo.
-Meu filho...
-Estou farto inojado de ter que ouvir tanta merda que saí dessa sua boca nojenta. Estou farto de esconder minha felicidade pra não ter problemas com você e mesmo assim você não liga, joga indiretas pra me ferir e humilhar minha mulher: nem liga se eu estou bem justamente por estar com ela.
-Ela não é sua mulher.
-Vai a merda e entenda que estou feliz.
-Me respeita.
-Já te respeitei demais e você nem ao menos fez por merecer isso. -desligo o telefone em sua cara e soco a mesa algumas vezes.
A reunião transcorreu bem, apesar de eu estar disperso. Thiago recebeu um telefonema e saiu, Thales que não conseguia esconder sua tristeza me chamou pra um passeio na praia. Aceitei, eu precisava es parecer, não me arrependi do que falei com meu pai, mas também não me sentia tão bem com isso.
Lá vimos mais um caso nojento de racismo e até fiz graça tentando animar a ele é a mim, dizendo que no futuro mandaria Thiago convidar o mesmo grupo para um desafio e assim eles saberiam o que estavam os sentindo.
Falei sobre defender nossas filhas de babacas como aqueles e me repreendi por não ter sido sensível com a dor de meu irmão.
Quando cheguei em casa, fui agraciado com um aroma delicioso de comida fresquinha. Na cozinha descalça, Júlia fazia arroz e cantava baixinho acompanhada de perto por Tom. Que esperava qualquer coisa cair do fogão.
Cheguei de mansinho e a abraçei por trás. Toda a angústia do dia se foi quando ela se virou e me beijou.
-Eu te amo. -falei desligando o fogo e a pegando no colo.
-Amor deixa eu terminar o jantar.
-Nada disso. Estou com saudades da minha mulher.
-Você me viu hoje de manhã. -falou, enquanto a levava pro nosso quarto.
-Mas passei um dia de cão sem você pra me acalmar com seus sorrisos.
-O que aconteceu? -questionou quando a coloquei na cama.
-Nada que valha a pena estragar nosso momento. -subi na cama e a beijei apaixonadamente.
-Te amo Thomas.
-Hoje eu realmente precisava ouvir isso. -entrego tirando lentamente suas roupas.
*
Depois de me afundar em seus braços, a convenci a tomarmos um banho e ir jantar no restaurante que tem aqui perto. No restaurante vi os pais de Vivian que fecharam a cara quando viram Júlia ao meu lado de mãos dadas. Puxei a cadeira pra ela é beijei sua testa antes me sentar ao seu lado e beijar suavemente seus lábios.
Julia hoje pareceu mais ligada a sua volta e notei seu pequeno desconforto com alguns olhares dirigidos a nós. Depois que pedi a conta ela foi a toalete.
Voltou e saiu calada ao meu lado.
-O que foi amor?
-Acho que agora entendo o que quis dizer sobre as pessoas serem crueis. -paro na mesma hora.
-O que aconteceu?
-Uma mulher me parou no banheiro e perguntou se você era garoto de programa e quanto você me cobrou para desfilar comigo.
-Quem foi? Vamos voltar lá agora.
-Não importa, falei a ela que sua agenda estava cheia por um ano no mínimo e ela saiu resmungando dizendo que somente com dinheiro um homem como você permaneceria tanto tempo ao meu lado.
-Quem foi Júlia? -me exaltei.
-Não importa Thomas. Achei até graça já que quem tem dinheiro é você, e não eu. -sorriu.
-Isso não é engraçado anjo.
-Mas e gostoso saber que realmente está comigo por me amar, não tenho nada pra te oferecer além do meu amor príncipe.
-É o que me basta Júlia. Seu amor é a única coisa que importa pra mim. Deveria ter falado pra mal amada, que sou rico e louco por você.
-Eu não, deixa ela pensar que você é garoto de programa. -gargalhou e voltou a andar.
-E o que a madame vai querer hoje? -parei em sua frente.
-Serviço completo e não vou pagar extra. -pulou no meu colo e me envolveu com suas pernas e braços.
-Olha que vou cobrar o serviço completo.
-Tarado, vive de olho no meu rabo. -Gargalhei com ela no meu colo.
-Relaxa pretinha, nunca tentarei fazer algo que você não quer.
-Então! Eu estava lendo que tem que preparar o terreno primeiro é isso leva tempo. -Ri mais ainda lhe dando beijinhos.
-Andou lendo onde amor?
-No google.
-Se quiser preparo seu terreno hoje mesmo.
-As pessoas falam que isso não se pede. Se conquista. -gargalho novamente por ver sua bochechas levemente avermelhadas.
-Entendi o recado, a partir de hoje vou começar a conquistar esse cuzinho.
-Credo Thomas. -bateu de leve em meu braço.
-Você vai adorar quando eu estiver todo enterrado no seu rabo.
-Meu Deus! Cala a boca e vamos pra casa. Você está me matando de vergonha.
-Vou te matar de prazer minha safadinha. -desci ela do meu colo e a beijei demoradamente.
Depois mandei ela subir na minha costa dizendo que o transporte estava incluso no preço. Na rua algumas pessoas nos olhava sorrindo junto com a nossa felicidade, outras olhavam abismados connosco. Mais nada disso importava enquanto estávamos felizes em nossa bolha.
***
Theodoro
As palavras de Thomas me fizeram sentir uma dor de cabeça forte e meu braço esquerdo estava formigando.
Levanto meio tonto e minha perna não me obedeçe, um garson me ampara preocupado e outro vem ajudar. eles param comigo na saída do cassino, quando uma garçonete põe um bilhete em minha mão. Abri curioso mesmo com a vista embaçando.
Sua cria trabalha dentro de sua empresa e se dá super bem com os irmãos. Assim que voltar ao Brasil te conto o que quero para lhe revelar quem é. Volte logo Theodoro o tempo está correndo e não é a seu favor.
Eu preciso voltar, preciso encontrar meu filho, preciso de seu perdão... Minha vista escurece.
*
Acordei no hospital com o soro entrando em meu braço direito e uma máscara me ajudando a respirar. Assim que dei por mim, minha mente varria cada setor da empresa tentando saber quem seria meu filho. Será que irei morrer antes de conhecê-lo? Antes de lhe pedir perdão?
Fiquei agitado e a enfermeira que estava entrando percebeu e saiu para chamar o médico. Ele falou pouco comigo, me explicou que tive um AVC hemorragico provavelmente devido a um aumento da minha pressão arterial. Minha fala não sumiu, mais eu tinha que fazer um certo esforço. Meu lado esquerdo foi um pouco afetado é eu tinha que permanecer em observação. Eu preciso voltar ao Brasil.
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