A verdade

Theles me parecia bem estranho durante a semana. Óbvio que sei que ele não deixou Becca e isso me deixa feliz e preocupado. Mesmo sabendo que Becca é mais forte que Júlia, enfrentará a meu pai de for preciso e sem se abater.
*
Estranhei Thales me ligar à noite marcando pra amanhã de manhã irmos a casa dos pais de Becca. Nem bem desligo o telefone e meu pai entra na sala.

-Como tem passado filho?

-Quer mesmo saber pai?

-Vivian vem jantar conosco amanhã.

-Comigo não. Já arrumou uma esposa pra Thales, dê-se por satisfeito.

-Um dia me agradecerão por isso.

-Pelo quê. Por obrigar meu irmão a casar com uma mimada idiota.

-Mas bem que você ficou de olho nela. -fecho os punhos.

-Não fiquei, eu apenas tentei poupar meu irmão de outro sacrifício por nós.

-Onde que se casar com aquela belezinha é um sacrifício?

-É. A partir do momento que se ama outra e não a noiva de araque.

-Ama nada! Logo isso passa e voltaremos a ser uma familia feliz.

-Família feliz? Que piada pai.

-Eu sei que fui ausente, mas agora estou aqui e vou fazer tudo diferente.

-Não somos mais adolescentes, na época que precisávamos do senhor, o senhor nos deixou.

-Nunca deixei vocês.

-É verdade. Não em corpo presente, mas de resto.

-Vou corrigir meus erros filho.

-Começou bem, me dê licença que vou me trocar e sair.

-Vai aonde? -apenas o olhei e subi as escadas.

Deitei naquela cama e meus olhos se encheram com a saudade que sinto dela. Tom pareceu perceber e subiu em cima de mim e começou a lamber minha mão pedindo carinho. Acho que ele também sofre a falta dela.

Até pensei em mandar investigar pra onde ela foi, mas com certeza deve de estar em Manaus, na casa da amiga. O que me consola é saber que Paula a tem como uma irmã e deve estar cuidando bem do meu anjo.

Uma batida na porta, me tira de meus pensamentos.

-Entre.

-O que será que Thales quer fazer?

-Não sei Thiago.

-Vai atrás dela Thomas.

-Ainda não, morando aqui isso é impossível.

-Júlia é uma menina tão doce...

-Sei que ela é. Mas também é ingênua, pura e frágil

-Júlia é guerreira cara. Pode até ser ingênua e pura, mas ela não é frágil. Aquela garota esta acostumada...

-Você vai atrás de Grazi? -o interrompo.

-Fiz merda! Não vou ter coragem de encará-la. Entendeu?

-O que fez?

-Esquece. Vamos logo que quero voltar cedo.

Fomos a um barzinho, na tentativa de nos distrair. Foi em vão e logo retornamos pra casa. Mais uma noite que eu pouco dormi.
*

Dentro do carro, Thales nos conta o que descobriu sobre nosso pai e suas mentiras. Fico aborrecido e apreensivo com o que Luíza e Igor podem nos revelar.

Ver Becca ao lado de Thales me trás um pouco de paz e acabo sentindo um pouco de inveja, por querer Júlia também comigo.

Quando Luíza, nos conta sobre o testamento, eu fico em choque por imaginar que nosso pai estava nos roubando e que teve a capacidade de trair minha mãe.

Apenas desejo que essa reunião acabe logo para eu procurar Júlia e ficar com ela onde quer que ela esteja.

Mas derrepente, Luiza me olha de uma forma diferente...

-Ivan, nesta separaçao ficou ao lado de Helena. A enchendo de elogios e se mostrando um grande amigo. Mesmo forte ela estava fragilizada e em uma noite, depois que o pai de vocês os levou para o primeiro fim de semana com ele, ela se rendeu as investidas sutis de Ivan -fico em alerta. -Na manhã seguinte ela se arrependeu e entendeu que somente estava querendo punir Theodoro. Chorou em dobro por sua tolice e foi assim que Theodoro a encontrou de manhã, ao retornar porque vocês não dormiram bem longe da mãe. A culpa, um tempo depois. À fez perdoá-lo e eles voltaram. -novamente ela para e agora se ajoelha de frente pra mim. -Aquela noite com Ivan. Trouxe você Thomas -fiquei em choque e paralisei. -Theodoro não é seu pai e você se tornou o filho mais amado... -eu ouvia tudo bem distante.

Lágrimas rolavam em meu rosto e eu respirei fundo voltando minha atenção para ela.

Ela se levanta e volta a falar. Abaixo minha cabeça na tentativa de me recompor. Contou sobre meu pai ter obrigado à empregada a fazer um aborto e que se eu fosse negro, ele talvez não tivesse me aceitado. Na mesma hora duvidei, pois meu pai me ama demais. Meu pai. Meu pai não é meu pai.

-Uma criança os uniu e negar o nascimento da outro os separou. -ouvi o fim de seu relato.

Depois de vários minutos de silêncio, Thales, questiona:

-Então, será que me casar com a filha do Ivan era um meio para manter isso em segredo? -ele continua segurando minha mão e Thiago alisando meus cabelos.

-Isso somente quem pode te responder é seu pai.

Seguimos mudos dentro do carro. Meu peito doía. Mesmo com meus irmãos ao meu lado, me senti perdido e sozinho

Parados no Calçadão de Copacabana...
Chorei solto enquanto me lembrava das tardes com meu pai quando eu ainda era criança. Me lembrei dos passeios de barco e até quando ele mesmo me ensinou a andar de bicicleta. Olhei para meus irmãos e percebi que eles ainda eram meus irmãos e sendo assim, meu pai era meu pai e pronto.

Agora estamos parados em frente ao quarto dele e eu me sento feito menino sem saber como agir. A verdade foi revelada e o homem que eu ousei desejar à morte, me amou como um filho, mesmo eu não sendo.
Me ensinou a nadar, me carregou na costa e muitas vezes entrou em meu quarto de madrugada, apenas para deixar um beijo em minha testa, me protegeu tanto e apenas se perdeu quando minha mãe partiu. Mas mesmo assim, ele continuou me amando e mesmo por telefone, procurava saber como eu estava e se colocava ao dispor para me ajudar e eu por pirraça fui morar com Thales quando ele por preocupação, quis me proteger. Mas não nego que toda essa mentira me magoa.

Quando entramos, ele estava sentado na cama encostado na cabeceira, com o jornal dobrado ao lado. Temeroso, me aproximei e o abracei, me senti aliviado por ele retribuir. Depois me sentei ao seu lado na cama.

Thales não escondia sua raiva e Thiago estava bem magoado...

O clima estava muito tenso e foi claro pra mim, que meu pai cedia as chantagens de Ivan para me proteger.

Foi dificil ouvir meu pai falar das mulheres negras daquela forma, mas eu sabia que Thiago em breve iria atrás de Grazi e Thales estava com Becca.
Era a hora de eu tentar fazer um pouco por ele, que sempre fez tanto por mim, mesmo que às vezes de maneira errada.

Quando ele me abraçou pela segunda vez, percebi o quanto ele estava assustado e tentava esconder. Suas mãos estavam geladas e seu corpo parecia tremer levemente. Uma parte de mim, me mandava ir atrás de Júlia imediatamente, mas a outra me deixava consciente que meu pai precisava de cuidados, ao menos por enquanto.

Quando Thales me mandou procurar por ela, meu peito perdeu uma batida e foi difícil resistir.

Meus. irmãos saíram e eu fiquei ali ao lado dele. Ficamos calados por um bom tempo.

-Vai me abandonar também? Você também me odeia? -seus olhos não escondiam seu medo.

-Não pai, vou ficar ao seu lado.

-Sei que fiz muita besteira meu filho. -abaixou a cabeça.

Era foda, ver um homem tão altivo como ele, estar tão frágil.

-Aos poucos o senhor vai consertando tudo. Amanhã vou te acompanhar na consulta e vamos saber como anda sua saúde.

-Eu estou melhorando mesmo, não menti.

-Que bom pai. Tenta descansar um pouco que a tarde foi braba. Vou sair mas não me demoro. -me despedi com um beijo em sua testa.

Peguei Tom nos braços e fui para Ramos. Lá questionei os vizinhos e logo um deles me indicou o rapaz que levou a mudança de Júlia em uma Kombi. Me surpreendi com seu novo endereço.

Saí dali direto pro Flamengo e na entrada do prédio, uma senhora simpatica me abordou.

-Bom dia rapaz!

-Bom dia senhora!

-Está procurando alguém? Posso lhe ajudar. -ela podia, já que eu não sabia o número do apartamento de Júlia.

-A senhora conhece uma moradora que se chama Júlia e se mudou recentemente?

-O que você é dela?

-Namorado.

-É mesmo, então veio para levá-la para à apresentar ao seu pai como tal? -Fiquei mudo. -se não veio por isso, a deixe em paz que o destino se encarrega do resto enquanto você amadurece. Não demore muito.

-Quero falar com ela. -insisto sem paciência.

-Pra quê? Para magoá-la novamente com suas propostas vazias e jurar um amor fraco.

-Meu amor não é fraco.

-É sim, assim como você. A chamou de infantil, mas a criança mimada aqui é você.

-Meu pai...

-Não me interessa o seu pai, só a procure quando resolver sua vida. Espero sinceramente que não demore muito ou você sairá perdendo.

-Só vou sair daqui quando eu falar com ela.

-Apartamento 503, mas se ela abrir pra você, eu vou junto.

-Por que a senhora não inter dona e subimos juntos.

-Meu Deus! Você é um covarde mesmo.

-Senhora...

-A verdade dói não é mesmo?

Com raiva, aperto no 503. Ela atende, mas ao invés de me deixar subir, avisa que vai descer.

Fico nervoso à esperando, enquanto a senhora ao meu lado fica me observando.

Cinquenta minutos depois, o portão é aberto...

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💋Aline Victal💋💋





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