A festa


Se eu estou nervoso? Provavelmente bastante.
Ontem minha princesinha fez 3 anos e a festa será hoje mais tarde no jardim da casa do meu pai, que por quase um ano e meio, também se tornou o lar da Júlia e juliana.

Não sei se Júlia tem um namorado, não sei se ela ainda se lembra de nós. Mas sei que seja como for, o importante é ela estar bem e eu também. Mesmo ainda tendo um vazio no meu peito.

Minha terapeuta conversou muito comigo e chamou novamente meu papai na semana passada. Foi a minha chance de explicar o que eu consegui entender ser responsável por minha mudança doentia. Não guardei mágoas nenhuma de Julia. Ao contrário, preciso até agradecer por ela ter sido capaz de enxergar e se afastar antes que eu tivesse perdido totalmente o controle. Ela me salvou sem saber. Ou talvez o fez sabendo.

Saí para cortar o cabelo e aparar a barba. Na volta, Thales estava me esperando na minha casa. Casa que voltei a morar recentemente. Fiquei em meu apartamentos um ano, me negando a viver sozinho em um lar construído para abrigar uma família feliz que não existia mais.

— Como está donzela? — Pergunta Thales bagunçando meus cabelos.

— Ansioso, mas bem.

— Que bom meu irmão. Vim para saber se quer ir jogar golfe.

— Cara, você está muito esnobe. Prefiro esperar o futebol de quarta-feira.

— Está mesmo tranquilo para ver Júlia hoje? Sei que você melhorou e voltou a ser a donzela maravilhosa de antes... mas me preocupo com esse encontro. Ela pode não estar sozinha. 

— Seria loucura pensar que ela esteja. Júlia é tão encantadora que certamente achou alguém muito mais digno de seu amor.

— Você é um homem digno meu irmão. Vacilou. Mas, também vacilamos com você naquela noite.

— Já falamos sobre isso, fizeram o certo justamente por me conhecerem. Enxergaram o que eu teria feito se não tivesse sido parado. Os socos foram bem dados. Mereci cada um deles e talvez até mais.

Sim, meus irmãos enxergaram que naquela noite, eu teria ofendido suas esposas e possivelmente agredido fisicamente Júlia. Me baterem para eu não bater em meu anjo. Eu teria buscado a morte se eu o tivesse feito por um momento insano da minha mente, na época doente. Só tenho mesmo à agradecer.

— Não quer ir mesmo?

— Não, papai vai trazer Juliana e vamos ao shopping. Júlia pediu para ele passear com Juju, enquanto ela arruma as coisas da festa. Depois vou trazer minha filha para um soninho e mais tarde vamos juntos para festa.

— Pensei que ia apenas ele e as meninas.

— Meninas?

— Helena, Malu e Maria estão esperando por ele.

— Deus! Hoje fico careca.

— Fica nada, vou passar no Thiago para ver nossos afilhados e vou com vocês também. Becca vai ajudar à Ju.

— Vou no Thiago com você. Vou só ligar e avisar a papai que estaremos lá.

Os gêmeos nasceram em abril e estão com 3 meses. Thiago é sem dúvida, o pai mais babão do planeta. Grazi falta pouco pirar com tanto chamego. Todo dia de manhã, ele passeia pelo condomínio com os meninos. Malu e Maria reclamam de andar, mas também não desgrudam dos irmãos.

Por falar em Thiago. Ele está doidinho porque antes do final do ano, Fabiano vai se muda pra cá com os entiados. Cátia é ligada, e eles estão no processo de adoção de Fabiana. Uma menininha linda de dois aninhos. O nome foi pura coincidência, ou como diz vó Cidinha, destino.

Quando surtei, tive ciúmes até mesmo de Fabiano. Foi difícil confessar isso para ele e me desculpar. Ele e Júlia são  bem chegados, sempre foram. Acabo sorrindo sozinho enquanto andamos para a casa de Thiago. Júlia que não tinha ninguém, hoje tem uma grande família e é amada por todos.

Chegamos enquanto Grazi amamentava Theo, e Thiago tentava fazer o Júnior dormir. Ficamos pouco e para não atrapalhar levamos as meninas para buscar Helena e esperamos papai na entrada do condomínio.

Juju continua tendo o mesmo amor comigo. Ainda deita a cabeça em meu peito e me da a mãozinha para eu beijar. Ela é bem falante com os que conhece e tímida como a mãe, quando está perto de "estranhos".

Papai e extravagante e nem precisamos sair em dois carros, saímos em uma limusine rosa, decorada por dentro com a garota Supersábia. (Uma super heroína negra.) Representatividade é tudo! - Palavras de Grazi.

No shopping foi engraçado o olhar das pessoas para três homens quase transparentes de tão sem cor, acompanhando as nossas princesas. A parada foi na praça de alimentação com direito à lanche com brinde, batata frita, hambúrguer e refrigerante. Depois fomos ao parquinho.
Levamos algumas cantadas indiscretas pelo caminho, nem papai escapou.
*
As meninas se arrumaram na minha casa, Eliane e vó Cidinha vieram ajudar.
Quando elas chegaram as meninas estavam dormindo. Eliane as acordou e foram pro banho. Malu e Maria, são maiores e se arrumaram sozinhas. Mas com supervisão.

Fui de carro com Thales e as meninas de limousine, com papai e companhia.

Minhas mãos suavam quando ele estacionou dentro do terreno da mansão. Senti um frio no estômago e quase me deu dor de barriga.

— Respira irmãozinho. Você é um bom homem.

— Estou respirando donzela.

Thiago estacionou ao nosso lado e logo depois a limusine rosa chegou. Estávamos parados esperando as meninas descerem.

Maria e Malu descerem primeiro e foram abraçar a mãe, Becca já estava ao lado de Thales e sorrui quando Helena correu para ela.

Em câmera lenta, assisti Júlia se aproximar usando um vestido curto e decotado coral, nos pés um salto discreto, nos lábios, um batom quase da cor do vestido. Os cabelos cachiados, soltos e mais longos, completavam sua perfeição. Linda!

Apenas me toquei que prendia o ar e que ninguém falava nada, quando Juju pulou no colo dela e ela sorriu finalmente olhando para mim. Viajei e voltei para o dia que ela foi fazer a entrevista na empresa. Desejei como muitas vezes ter o poder de voltar no tempo e refazer nossa história.

— Oi Júlia! Obrigado pelo convite. — consegui dizer sem gaguejar.

— Oi Thomas! Obrigada por ter vindo. Nossa pequena está falando a semana inteira da festa e principalmente sobre sua presença.

— Obrigado mesmo por não ter me afastado dela.

— O mesmo vale para você. Continuou sendo um excelente pai. Ela te ama e isso é muito importante —se aproxima com juju no colo. —Fico feliz de te ver bem. — beijou meu rosto e fechei os olhos para aproveitar melhor seu suave toque. Por aquele segundo, não pareceu que estamos à tanto tempo separados.

— Vamos entrar crianças, a festa é lá trás. — sugere papai, com um enorme sorriso no rosto.

Juju foi colocada no chão e deu a mão para Malu. Helena fez o mesmo pegando a mão de Maria. Vó Cidinha, seguiu entre as quatro.

Todos começamos a caminhar.

Grazi estava com Júnior no colo; Thiago com Theo; Thales de mãos dadas com Becca; meu pai abraçado com Eliane. Eu e Júlia, um ao lado do outro. E minha dor de barriga aumentando.

— Como tem passado Thomas?

— Estou bem Julia. Tenho trabalhado bastante e continuo com a terapia.

— Que bom!

— E você?

— Trabalhando também. Não tanto como antes, agora fico mais tempo em casa, vou na fábrica duas vezes na semana e tiro um dia para visitar as lojas.

— Isso é bom, fico feliz que esteja tirando mais tempo para si.

— Segui os conselhos do Velho e viajei bastante. Levei Juju algumas vezes, em outras aproveitei que ela estava passando o fim de semana com você.

— Quando precisar, pode deixá-la mais tempo comigo. Sei que tem lugares que um fim de semana é pouco.

— Obrigada!

— Não por isso — minhas mãos estavam geladas. —Júlia — paro de frente para ela. — Me desculpe por toda infelicidade que te causei. Eu sinto muito por ter te deixado com medo e ter te sufocado com meu descontrole.

— O importante é que você entendeu isso e procurou ajuda. Nossa filha merece o melhor e o melhor para ela é um pai sadio. Melhor para vocês dois.

— Tem razão. Obrigado pelo que fez.

— Fico feliz que tenha entendido.

— Entendi sim Júlia.

Já estávamos embaixo da grande tenda de circo quando ela se afastou para receber alguns convidados. Me sentei na mesa da família, que era enorme e fiquei olhando as crianças brincando. Depois fui com Thiago buscar os carrinhos dos gêmeos.

— Tranquilo donzela? — Questionou enquanto tirava os carrinhos do porta malas

— Sabe bem que eu não era um maluco inseguro antes, voltei a ser o que sempre fui.

— Tá  certo! Vamos antes que Grazi mande a polícia atrás de mim.

Sorri tranquilo e segui ele.

Na pista de dança, Júlia dançava uma música infantil com juju. As duas sorriam se olhando e eu senti verdadeiramente não fazer parte daquele momento.

Fiquei muito feliz quando ela me chamou para tirar foto ao lado delas. A primeira foi com juju em cima de uma cadeira entre nós dois. A segunda com juju em seu colo e eu ao seu lado. Porém, a melhor, foi com Juju no meu colo e ela com a mão em minha cintura. Meu sorriso mostrava todos os meus dentes da frente nas duas primeiras, mas acho que na última, mostrei até os de trás. Tiramos muitas outras com a família, casal por casal e família completa, incluindo Fabiano, Cátia e os filhos.
Depois tiramos no meio das crianças do orfanato. Até mesmo no orfanato nossas visitas eram em dias diferentes. Durante o ano, fiquei de fora de alguns eventos para deixá-la à vontade. Não impor minha presença fazia parte do meu processo de cura.

Minha terapeuta, disse que eu podia tentar conversar com Júlia quando me sentisse pronto. Estou pronto. Mas não sei se desejo fazer isso hoje e nem apenas com ela.

Depois do parabéns, dois ônibus vieram buscar as crianças do orfanato e as quatro tias. Júlia já havia tirado os saltos e segurava a mão de Juju, que brincava no pula-pula junto com Helena, que estava segurando a mão do pai. Fiquei distante admirando a cena.

— Crianças, vamos entrar e deixar o pessoal trabalhar, o quarto de vocês  estão prontos, mas vamos desacelerar na sala um pouco. — Anunciou papai assim que todos convidados se foram.

— Vou chamar um taxi, eu não sabia que iam ficar. Vim com Thales.

—Não vai chamar nada filho. O que não falta nessa casa é quarto. Vamos, você dormirá no quarto da Cidinha. Ela vai dormir com Júlia. Te empresto um pijama transado. — Acabei sorrindo com o transado.

Me afastei do pessoal e fui até o pula-pula, enquanto Thales tirava Helena do brinquedo.

— Deixa que eu tiro ela. —falei ao me aproximar delas.

Peguei a outra mão de Juju, mas a sapeca se soltou e foi parar o meio do brinquedo.
Corri, subi no mesmo e acabei pulando junto com Juju.
Durante meus pequenos pulos, voltei a sentir a leveza que tinha antes e sorri vendo os sorrisos de Júlia.

— Chama a mamãe pra pular com a gente filha. — Júlia negou sorrindo.

— Vem mamãe. Por favorzinho. — pediu Juju, fazendo biquinho.

— Tá bom, vou apenas um pouquinho, você tem que tomar banho pra dormir meu anjinho.

E assim ela fez. Subiu no brinquedo e pulamos juntos com uma Juju sorridente segurando a mão de nós dois.

— Agora chega filha, mamãe também está cansada. — encerrou a brincadeira e Juju aceitou de boa.

Somente quando peguei Juju no colo, que vi todos nos olhando. Desci na frente e dei a mão para Júlia descer. Seu shortinho preto estava aparente e seu vestido quase na cintura. Não sou de ferro e senti na mesma hora algo que a muito tempo não sentia. Desviei rapidamente o olhar e tenho certeza que fiquei vermelho pedindo a Deus que minha calça jeans estivesse disfarçando bem minha quase ereção.

Júlia pegou Juju ainda sorrindo.

— Julia meu pai me convidou para passar à noite. Mas se preferir eu posso perfeitamente ir para casa. Ainda é cedo...

🌸🌸🌸

Obrigada pelo carinho de todxs vocês! Me emocionei com todos s comentários e estarei sempre aqui para um diálogo direto e sincero.  Todos temos algo a dizer não é mesmo? 

21 98402-5517 (meu zap)

*Esclarecimento:

Me perguntaram no PV. Se ele me batia. Nunca bateu. Mas algumas palavras machucavam demais. Dormi no banheiro porque depois que ele falava as merdas, não aceitava de jeito nenhum dormir separado. Não voltei para a casa dos meus pais durante a separação. Primeiro que meu orgulho besta não permitia. Já que meu pai consentiu  dizendo que eu logo voltaria para casa e segundo, que fui morar sozinha em uma casa que meu irmão tinha em Magé. Depois de duas tentativas ele prometeu me dar espaço. O agradecimento de Thomas. Foi a primeira coisa que o pai da minha filha falou quando nos reencontramos. Me agradeceu por deixá-lo e que somente assim percebeu que precisava de ajuda. Minha história de vida não é segredo para ninguém. Nunca finji que ele era diferente. Apenas mantive meu sorriso no processo.

🌸

Tive que dividir o capítulo porque ficou muito grande. Amanhã posto a outra parte.

Por favor! Não esqueçam de votar e comentem à vontade.

💋Beijos da Aline💋💋

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