Punição
"Se as pessoas falam de você pelas costas, fique feliz que você está na frente".
Incomodada com o braço que envolvia sua cintura, Sophia aproveitou que chegaram à diretoria e delicadamente afastou-se do abraço.
A mesa de Patrícia tinha a sua frente seis cadeiras, sendo que quatro estavam ocupadas: Israel, pai de Yasmin, que era a sua perfeita versão masculina com direito a um longo cabelo loiro preso em um rabo de cavalo, sentado na ponta da direita, seguido pela filha, depois Marina e por fim, Melani, a senhora Limeira, uma loira de cabelo mediano e olhos semelhantes ao da filha. Nathan praticamente a escoltou para a cadeira da ponta e sentou entre ela e Melani, porém não antes de lançar as suas colegas um olhar cortante que incomodou até mesmo ela.
Após ser informada que Nathan representaria Tomás, Patrícia tomou a dianteira da reunião e narrou tudo o que sabia sobre os acontecimentos da sexta, mostrando por fim o vídeo que haviam deixado sobre sua mesa com um aviso de que tentaram envenenar Sophia.
Marina remexeu-se incomodada, sabia que seu destino seria selado naquela reunião, mas não era isso que a preocupava, ou o olhar assassino de Nathan, e sim a expressão magoada e sofrida de Sophia. Precisava convencer a amiga que dessa vez não participara do complô contra ela, só não sabia como com tantas provas contra si.
– Exijo a expulsão imediata delas – Nathan pronunciou quando Patrícia desligou o DVD Player.
Israel logo se opôs e com sua costumeira calma indicou seus motivos:
– Sem provas concretas de que foram elas que atentaram contra a Almeida, considero a expulsão um exagero que prejudicará o futuro de ambas. Uma mancha no currículo escolar que impedirá que ingressem em uma boa faculdade – completou perspicaz.
– Exagero? Minha prima foi levada ao hospital às pressas por culpa delas e esse vídeo prova isso.
– O vídeo foi claramente editado. Podemos leva-lo a um especialista para analise caso ache necessário – Ofereceu Israel.
– O vídeo sendo editado ou não, o fato é que elas prejudicaram a minha prima em diversas ocasiões. Negam? – questionou olhando inquisidor primeiro para Marina e depois para Yasmin.
Marina abaixou a cabeça, envergonhada por suas atitudes anteriores.
– Fiz muito do que disse no vídeo, mas não envenenei ninguém, foi a ordinária da Leona...
– Yasmin, fique em silêncio! – Israel ordenou segurando sua mão com força. Voltou-se para Patrícia. – Esse é o último ano delas, que possuem notas impecáveis e, antes desse incidente, um histórico de bom comportamento. Creio que podemos chegar a um acordo.
– Depois do que assisti, concordo com o Almeida e acho pouco uma expulsão – pronunciou-se Melani, para desespero de Marina, que começou a temer pelo pior, visto que sua própria mãe estava contra ela. – Porém, só aceito que minha filha irresponsável seja expulsa se todas as que foram citadas no vídeo, ou contribuíram nessa bobagem adolescente, sejam castigadas da mesma forma.
– Fora os que são citados no vídeo, não têm como saber sobre outros envolvidos.
– Ah, tem sim! – Yasmin retirou um caderno de capa preta com o símbolo do brasão Rodrigues de sua bolsa. – Guardo os nomes de todos que fazem parte do fã clube, juntamente com um pequeno cadastro e assinatura, são mais de duzentas pessoas segundo a última contagem, a maioria ajudou de alguma forma a boicotar a Sophia e devo ter citado umas vinte nesse vídeo.
– Duzentas?!
– Mais de duzentas.
– Não posso expulsar tantos alunos sem provas – disse pensando no escândalo que se seguiria caso fizesse. – Somente Yasmin, Marina e todos que foram citadas no vídeo. – Voltou-se para Sophia, que desde que entrara em sua sala se mantivera em completo silêncio. – É isso o que deseja Sophia? A expulsão de todos os envolvidos?
Sophia abriu a boca para responder, mas Nathan foi mais rápido.
– É lógico que ela quer a expulsão.
Sophia sentiu a vista escurecer momentaneamente, tamanha a raiva que a dominou diante da atitude de Nathan.
– Não é isso que desejo – garantiu ao levantar e, contrariada, encarar o primo. Estava farta de todos tomarem decisões em seu lugar, sem levar em consideração o que tinha a dizer. – Não preciso que esse assunto saia do colégio, que é o que vai acontecer caso tantos alunos sejam expulsos. Não preciso que mais pessoas me vejam como fracassada, inútil e delicada para sempre. Eu. Não. Preciso – frisou sem desviar seus olhos claros do primo. Fechou os olhos por alguns segundos, respirou fundo e aos reabri-los voltou-se para Patrícia. – Além disso, acredito que Yasmin está certa a respeito de Leona. Ela me ameaçou dias antes do meu ataque alérgico. Na mesma ocasião fiquei sabendo, tanto através da Leona quanto pela Marina, sobre o que o fã clube do Miguel fez contra mim. Perdoei a Marina e acredito na inocência dela. Quanto a Yasmin, não sei o que pensar, mas prefiro que ambas tenham outro tipo de punição – concluiu e voltou a sentar, sentindo o comum calor na face ao ser alvo de tantos olhares surpresos.
Israel, Marina e Yasmin respiraram aliviados.
– Compreendo... E que tipo de punição merecem?
Sophia deu de ombros, não tinha a menor ideia do que dizer.
Rápido, Israel retirou um documento da pasta de couro marrom, que deixara ao lado da cadeira que ocupava, e o colocou sobre a mesa.
– Pensando na possibilidade de entrarmos em um acordo que agrade ambas as partes, redigi esse documento, que espero que aprovem e assinem.
– Do que se trata? – quis saber Patrícia pegando o documento e lendo a primeira folha.
– É um contrato em que nós, os responsáveis, concordamos que Marina e Yasmin ficaram a cargo de trabalhos manuais do colégio, limpeza, jardinagem, qualquer serviço que possam fazer nos intervalos e algumas horas após as aulas, até o fim desse ano. Também há especificações do que ocorrerá caso faltemos com a palavra, entre elas que, caso uma delas não cumpra o compromisso fixado, será imediatamente expulsa do colégio sem direito a qualquer tipo de represaria por parte da aluna e de seus pais.
– É legal, válido? – perguntou uma surpresa Patrícia com a velocidade de ação de Israel.
– Após nossas assinaturas e reconhecimento de firma, será totalmente legal e inviolável. Podem ler antes de tomarem uma decisão – respondeu com o corpo relaxado contra a cadeira, transpirando confiança, até sua filha voluntariosa se queixar:
– Limpeza? Isso destruirá as minhas unhas.
O olhar feroz de seu pai teve o efeito de recorda-la do que lhe dissera após contar o motivo que teriam de comparecer na diretoria naquele dia:
– O que fez ao permitir que suas colegas perseguissem, implicassem e isolassem sua colega repetidamente tem nome: Bullying. Mesmo que seja inocente na crise alérgica, tudo o que fez antes pode render um processo, tanto para você quanto para o colégio, caso a família da sua colega decida agir. Em que pensou? Provavelmente não nas consequências de seus atos, ou nas suas unhas.
Ele podia ajuda-la a escapar da expulsão, mas não estava satisfeito em fazê-lo e suas unhas não teriam misericórdia.
– Creio que as garotas podem assistir às aulas enquanto nós, os responsáveis, lemos todas as cláusulas e entramos em um consenso.
Patrícia assentiu e permitiu que as alunas saíssem.
– Seu pai foi rápido, Yasmin – Marina comentou ainda impressionada com o que acontecera na sala da diretora.
– É, mas agora teremos de limpar o colégio – resmungou.
Marina voltou-se para Sophia, que andava ao seu lado.
– Soph... Juro que sou inocente, mesmo quando desejava vingança, jamais pensei em ir tão longe... – Deixou os ombros caírem cansados. – Essa armação pode ter custado o meu namoro.
Sophia parou de repente, o olhar colérico.
– O seu namoro? E o meu namoro? – Marina a encarou sem entender nada. – Miguel decidiu acabar com o nosso namoro por causa de vocês.
– Pode ficar zangada o quando quiser Almeida, mas não temos culpa dessa vez – defendeu-se Yasmin. – Faz dias que desisti do Miguel, e estava ficando com outro rapaz quando aquela palhaçada de vídeo veio à tona. Estamos no mesmo barco agora e, se queremos recuperar nossos relacionamentos, teremos que nos unir.
– Sem essa Yasmin. Você é louca pelo Miguel, quase me fuzilou quando decidi sair do seu plano idiota.
Yasmin revirou os olhos.
– O mundo gira, as pessoas mudam e eu posso desejar outro cara, não posso?
– Quem? – Marina quis saber, ainda duvidando, e ao ouvir a resposta acreditou ainda menos no que a colega declarava.
– Leonardo?!
Sophia se unira ao coro de surpresa, impressionada com a revelação. Yasmin não fazia o tipo de Leonardo. Não que tivesse visto o amigo com alguém romanticamente, sequer o imaginava namorando, mas sempre imaginara que ele escolheria alguém discreta, o que Yasmin estava longe de ser.
– Exatamente. Portanto, imagina o quanto ele está feliz comigo agora por tentar matar sua adorada amiga – comentou irônica e ressentida. – Olhe, vocês têm todas as razões do mundo para duvidar, mas podemos nos ajudar mutuamente para reconquistar nossos amores.
– Não sei... – murmurou Marina desconfiada.
– Estou sendo sincera e, dessa vez, tenho as melhores intenções do mundo – garantiu.
Sophia analisou suas opções, que não eram muitas, e se deu conta de que precisaria de toda a ajuda possível caso não conseguisse convencer Miguel a reconsiderar sua decisão.
– Tudo bem. Falarei com Leonardo a seu favor – prometeu.
– Ótimo! – Alegrou-se Yasmin batendo palminhas. – Chega de pessimismo e tristeza, dessa vez tudo var dar certo.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top