Amendoim
"Se nem eu me entendo, quem é você para ousar saber o que sinto?"
Rosane Brito
Yasmin tocou a campainha e ajeitou o curto vestido amarelo com listras pretas enquanto aguardava que alguém aparecesse. A porta foi aberta e Yasmin moldou seus lábios pintados de vermelho com um belo, e carregado de falsidade, sorriso.
– Bom dia, senhor Moreira! Sou Yasmin, amiga do Leo – informou para o pai de Leonardo, um moreno homem alto, de óculos e com bigode, que vira muitas vezes nas festas do colégio, mas com quem nunca trocara sequer uma palavra até aquele dia. — Posso falar com ele?
– Entre! – pediu o Moreira lhe dando passagem.
Entrou na casa, toda mobiliada com móveis antigos, e admirou os diversos quadros com borboletas multicoloridas acima da grande lareira da sala. Distraiu-se admirando os quadros e não notou a aproximação de Leonardo até ouvir a voz do jovem a suas costas.
– Porque está aqui?
– Oi pra você também! – retrucou incomodada pelo Moreira demonstrar que sua presença não era bem vinda. – Ao que parece vim te ver.
Sentou-se no sofá marrom e cruzou as pernas, o que fez o vestido subir um pouco dando ao Moreira uma bela visão de suas pernas.
— Diga logo porque venho aqui, Ortiz.
Com um suspiro sentido, Yasmin se levantou, aproximou-se de Leonardo e deslizou um dedo pelo peito largo do rapaz.
– Pensei que poderíamos nos conhecer melhor. – Apoiou as mãos nos ombros de Leonardo, se ergueu um pouco e o beijou no queixo. – Até coloquei esse vestido "abelhesco" em sua homenagem. Gostou?
Ele ajeitou os óculos e Yasmin se perguntou se seria para ocultar a vergonha, pois tinha certeza que atingira o Moreira. Ninguém resistia ao seu charme. Com essa certeza em sua mente, Yasmin se ergueu um pouco mais e entreabriu os lábios para que o Moreira a beijasse, mas, em vez de fazer isso, Leonardo a segurou pelos braços e a afastou.
– Não sou como seus amigos, Yasmin. Por quê? Porque não me deixo manipular.
Yasmin o fitou confusa. Quem aquele esquisito pensava que era para rejeita-la?
– Seja lá o que planeja, não vai funcionar. Não permitirei que continue a prejudicar a Soph.
– Soph? Quanta intimidade – cuspiu desdenhosa. – Pelo jeito também tem uma queda pela Almeida.
– Ela é minha melhor amiga, assim como Davi. Deve ser difícil pra você entender isso. Por quê? Porque você vive cercada de gente falsa, que usa uma as outras pra alcançar o que quer.
– Vai se arrepender por esse dia, "Insecto-MAN", herói das mocinhas tímidas e inocentes. Por quê? Porque ninguém me ofende e sai impune — avisou imitando o colega antes de sair da casa dos Moreira pisando fundo.
Nunca fora tão humilhada. E tudo por culpa da Almeida. O que aquela garota sem graça tinha? Açúcar?
*S2*
Com um braço possessivo a envolver a cintura da namorada, Miguel ouvia entediado as mil e uma histórias fúteis que Marina contava para Sophia enquanto aguardava André comprar os ingressos.
Desejava ter ido comprar os ingressos, mas só em pensar em deixar sua namorada e o vestido ultracurto desprotegidos, se forçava a continuar no mesmo lugar. Mesmo com ele deixando óbvio que estavam juntos, sempre abraçando Sophia pela cintura ou pelos ombros, alguns engraçadinhos se atreviam a seca-la com os olhos ou faziam algum comentário pervertido quando passavam. Esforçava-se para não quebrar a cara dos abusados, mas somente porque temia deixar à namorada "pacifista" zangada com ele.
Respirou com alívio ao ver que faltava apenas mais uma pessoa para André enfim comprar os malditos ingressos do filme escolhido por Marina. Isso até uma garota ruiva acompanhada por outra loira e um rapaz com cara de poucos amigos sair de uma sessão suspirando e rindo. As garotas coraram ao parar de frente ao pôster do filme "Lua Nova".
– Ah, Jacob é tudo! – declarou a garota com um suspiro, enquanto deslizava um dedo pela face do cara bronzeado retratado no pôster.
– E sem camisa é ainda melhor. — Riu a amiga com a face levemente corada.
– Ah, queria que todos os filmes tivessem um homem gostoso como ele.
– Com o corpo maravilhoso do Jacob é impossível – disse outra garota soltando um risinho, que Miguel definiu como irritante.
– Não vi a menor graça nesse... serzinho, que parece não saber a utilidade da camisa.
– Ah, querido. Embora hoje vá sonhar com o Jacob é você que amo – disse a garota beijando a face do rapaz que bufou irritado.
Miguel, estreitou os olhos, olhou para o pôster com desconfiança, depois para os três jovens que se afastavam ainda discutindo sobre músculos maravilhosos e semelhantes e depois para André estendendo o dinheiro para pagar o ingresso do filme escolhido.
– Que filme você disse que quer assistir, Marina? – perguntou interrompendo a conversa das garotas.
– Ah, é um que aguardei dias para assistir...
– Fala logo a porcaria do nome. – Praticamente gritou assustando a namorada e a jovem, que respondeu prontamente:
– Lua Nova.
– Miguel...? – murmurou Sophia quando Miguel soltou sua cintura e correu até onde André estava.
– O que houve? – Marina perguntou para Sophia.
– Não sei.
Observaram Miguel falar algo com André, que as encarou com os olhos arregalados, e depois com o rapaz que vendia os bilhetes. Em poucos instantes ambos tinham dois ingressos em uma das mãos e retornavam para perto das namoradas.
– Porque não me disse que tem homem nu naquele filme? – André questionou visivelmente irritado.
– Que? De onde tirou essa ideia?
– Foi o... Ai, imbecil! Tirou o dia pra me bater? – perguntou reclamando do chute que o amigo dera em sua canela.
– Deixe de falar besteiras e vamos comprar a pipoca, o filme começa em quinze minutos, seu idiota – comunicou Miguel escoltando a namorada pra longe do amigo boca grande.
– Vamos comprar pipoca!— Se empolgou André puxando a namorada para seguirem o casal de amigos.
Os quatro fizeram quase o mesmo pedido, porém Marina apontou um chocolate qualquer que André, feliz por não ser o dinheiro dele, pagou.
– Você quer uma mordida, Soph? – Marina ofereceu estendendo a barra bem próxima à boca da Almeida.
– Obrigada, Marina...
Antes que Sophia pudesse morder a barra, Miguel deu um tapa violento na mão de Marina fazendo o chocolate voar e cair bem longe de onde estavam.
– Ei, porque fez isso? – André segurou a mão da namorada entre as suas e encarou o amigo com raiva. — Dói?
– É claro que dói, André – queixou-se a jovem sentindo a mão formigar.
– Sophia é alérgica a amendoim. Já comi esse chocolate que a Marina escolheu, por isso sei que tem amendoim, então só queria evitar que a louca da sua namorada envenenasse a minha – esclareceu como se não tivesse feito nada demais.
– Verdade, Soph? – perguntou Marina esquecida por um instante do tapa que levara.
– Sim... Como sabe disso Miguel?
– Ouvi em algum lugar – disse dando de ombros antes de mudar de assunto. – Pegue outro pra ela, André. E pegue um pra Sophia também, sem ser de amendoim claro.
– Você bem que podia ter falado em vez de tacar o chocolate no chão – reclamou André comentando em seguida. — Não se pode jogar comida fora! Ai, Marina! – Massageou a cabeça no local em que a namorada o golpeara. — O que eu fiz?
– Ainda pergunta? Pensei que estava preocupado comigo.
– E estou amorzinho!
– Amorzinho nada! Onde já se viu, em vez de reclamar que ele bateu em mim, reclama pelo chocolate! Que absurdo!
– Mas, Marina...
Sophia observou a discussão do casal com um sorriso. Mesmo brigando era óbvio que se amavam, do jeito deles, mas se amavam.
– Qual o motivo do sorriso? — quis saber Miguel com o tom de voz frio.
Ter consciência de que Sophia amava André já não o agradava, porém era ainda pior ver a Almeida olhar toda alegrinha para o Marinho.
– Eles são um belo casal, não acha?
Miguel observou Sophia com atenção em busca de algum sinal de que se tratava de alguma brincadeira, mentira ou fantasia da sua parte, que as palavras iam contra o que pensava, no entanto percebeu que fora sincera, que não olhava para André e sim para o casal que agora trocava desculpas e carinho. O sorriso doce não tinha o menor traço de falsidade ou inveja. Sophia realmente estava feliz com o fato de André namorar Marina.
– Acho que somos mais.
Só se deu conta de que falara alto quando Sophia o encarou por alguns instantes com surpresa.
– Concordo – ela sussurrou e voltou a sorrir.
Miguel ficou fascinado, tanto com a concordância da Almeida quanto com o doce sorriso que parecia se estender até os olhos de mel, iluminando a face alva com bochechas levemente coradas.
– Hey, Miguel! Já comprei os chocolates e o filme vai começar daqui a pouquinho – avisou André batendo nas costas do Rodrigues com força.
Miguel segurou a vontade de esmurrar o amigo, pelo menos em frente às testemunhas, e seguiu André para a bendita sessão juntamente com Sophia e Marina.
Sentou na fileira do meio, André em uma das pontas, seguido da esquerda para a direita por Marina, Sophia e Miguel na ponta direita. Algumas luzes se apagaram e os trailers começaram. Um pacote de pipoca no colo de Marina e outro no de Sophia.
– Qual filme vocês escolheram? – Marina quis saber levando um pouco de pipoca a boca.
– Pra falar a verdade nem reparei na escolha do teme.
– "Atividade Paranormal" – Miguel informou lembrando-se da escolha que fizera para evitar ver Sophia suspirando pelo tal de "Jacob".
Marina engasgou com a pipoca, encarou André e depois se voltou irada para Miguel.
– Não tinha nada menos tenso pra escolher não? O André vai ter um treco. Sabe muito bem que ele tem pavor de assombração.
– Assombração? – André olhou apavorado para tudo ao seu redor. — Onde?
– Relaxa, o fantasma é só no filme, seu idiota!
As luzes se apagaram totalmente naquele momento e Miguel ouviu André gemer baixinho, imaginava que o loiro estava encolhido contra o estofado, morrendo de medo de um filme bobo. Voltou-se para a namorada e reparou que Sophia tremia e, pela primeira vez, se arrependeu pela escolha aleatória.
– Não precisa ter medo.
– Não tenho medo...
– Mas está tremendo.
– É que me esqueci de pegar uma blusa de frio – lamentou Sophia estremecendo por causa do ar condicionado da sala de cinema.
Com um sorriso de canto, Miguel tirou o braço direito da manga de sua jaqueta azul e se aproximou um pouco mais.
– Coloque o braço dentro da manga – pediu envolvendo a cintura da namorada. – Assim ficamos os dois aquecidos.
Sophia fez como Miguel instruíra.
– O-obrigada, Miguel!
– Não agradeça. Que tipo de namorado eu seria se te deixasse passar frio? – Roçou os lábios na face quente da Almeida e com um sorriso malicioso comentou. – Tem algo que pode te esquentar um pouco mais.
– O-o que?
Quando os lábios de Miguel começaram a se mover sobre a pele de seu pescoço, face em direção aos seus lábios para captura-los em um beijo ardente, Sophia sentiu o corpo em chamas e, esquecida do filme, se deixou levar pelos beijos do namorado.
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