Capítulo 2

"Não há nenhuma prisão em nenhum mundo na qual o Amor não possa forçar a entrada."

—Oscar Wilde
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Ouço um pequeno ruído ao longe, más não consigo identificá-lo, sinto como o vento balança o meu cabelo que está solto, me sinto eufórica e cansada ao mesmo tempo, talvez a culpa esteja nesse copo transparente que tenho na mão, dentro há um liquido com três cores diferentes, não tenho a mínima ideia do que se trata, sinto um pequeno escalafrio que me arrepia toda a pele, e me abraço instintivamente, olho para baixo e percebo que estou vestida apenas com um biquíni preto, que tem um formato de triângulo nos seios, e a calcinha é de amarração lateral, por cima dela estou com um pequeno short, e levo os óculos em cima da cabeça.

Olho ao meu redor e não consigo reconhecer onde estou, à primeira vista estou no meio de um jardim qualquer, dou umas três voltas tentando encontrar uma saída, mas isso parece um maldito labirinto que não tem fim, percebo risadinhas nas minhas costas e isso me enfurece ainda mais, olho por cima do ombro e vejo duas pessoas, mas não consigo distingui-las, pois tenho a visão completamente turva.

—Que? —pergunto enfurecida

—A saída é por ali— responde um deles, apontando a suposta direção que devo seguir

—Isso já sei —digo irritada—Por acaso não vê que já estou indo nesta direção

—Claro, isso tinha visto— disse em tom divertido

—Puff— suspiro cansada

Me sentindo enjoada e envergonhada tento seguir meu caminho, querendo que um raio me atinja nesse instante, que estupida estava andando em círculos todo esse tempo, sabe lá Deus quantas pessoas me viram passar ridículo, giro a cabeça negando o que me acaba de acontecer, e finalmente começo a andar na direção correta

—Obrigado—gritam nas minhas costas

Levanto a mão desocupada e faço um gesto indiferente ao desconhecido, e sigo meu caminho, agora estou mais próximo a uma casa, e quando finalmente estou frente a ela percebo o quanto a casa é enorme, tem quatro pisos, e a fachada tem o formato em L, de arquitetura moderna e design rustico, casa é praticamente toda de vidro, e suas paredes e portas são todas de madeira escura.

Se vê de longe que é uma casa caríssima e que seus donos nadam em dinheiro, vou entrando na residência, e tem mais um pequeno jardim que dá a uma piscina enorme, de formato retangular onde tem pessoas nadando e brincando com uma bola, o som está no último volume tocando alguma música da moda, olho por todos os lados em busca de algum conhecido, mas não encontro nada, a uns poucos metros há uma aglomeração de pessoas e tento me aproximar a elas, mais a massa de corpos  ao meu redor me dificultam o passo, estou a poucos passos de chegar ao meu objetivo quando escuto a voz da Louise me chamando

— Ellie—grita —Ellie— repete e olho por todos os lados para encontrá-la, mas não a vejo por lado nenhum

—Louise—respondo e sinto como me empurram de um lado a outro

—Ellie se levanta agora—escuto e sinto um comichão no meu braço

—Aí —grito e me sento automaticamente na cama —Por que raios você me beliscou? —digo enfurecida passando a mão no lado dolorido

—Estou te chamando a seculos—fala entediada e gira os olhos— E você não me deu a mínima, se não foi por bem foi por mal—responde a idiota entre sorrisos

—Te odeio—digo enfurecida— O que você faz aqui? — falo e estico o braço para alcançar o telefone

—Não sei —diz pensativa— Carona, escola, se arrumar isso te lembra alguma coisa? —fala impaciente— Você é um maldito desastre

—Mas que merda Ise—grito exasperada— São as seis da manhã, o que você faz me acordando a essa hora—digo a ponte da histeria, e pego o cobertor para me cobrir novamente

—Nem pense— diz pegando outra parte do cobertor e me destapa

—Estas louca mulher vai se tratar— digo esbravejando

Estamos as duas brigando pelo controle do cobertor quando meu quarto é invadido por uma terceira pessoa com a cara inchada e vestida de pijamas

—Vocês podem parar com essa gritaria tem gente que tenta dormir—fala minha mãe também gritando

—Não estamos gritando

—Não estamos gritando—dissemos as duas ao mesmo tempo, com um pedaço da coberta em mãos

—Me dá isso aqui—diz minha mãe irritada tomando o cobertor de nossas mãos

—Ei, isso é meu— digo e cruzo os braços como uma criança emburrada

—Isso quem pagou foi eu, portanto isso é meu—disse minha mãe com ar vitoriosa—Ellie banho agora, e Louise desce agora tomar o pequeno-almoço—fala e caminha em direção a porta

—Mas ainda é cedo—digo querendo voltar a dormir

—E eu não tenho fome—rebate a Ise

—Agora—grita e fecha a porta com tanta força que sinto as paredes vibrarem

E meu quarto fica novamente em silencio, olho a pequena criatura que esta na minha frente, e me imagino mantando-a de todas as formas possíveis, lembro que tenho uma pequena tesoura em cima da escrivaninha e penso como posso cortar esse cabelo perfeitamente penteado, a Louise vê meu sorriso maligno e olha na direção que estou olhando, e percebe a minha intenção, e se levanta rapidamente da cama, e sai disparada do quarto, imito seu gesto e caminho rápido em sua direção, ela quando percebe que me estou aproximando corre e alcança a escada primeiro e salta os degraus de dois em dois, quando esta na metade da escada grito

—Medica-te cobra peçonhenta—digo e escuto sua gargalhada

Marcho em direção ao banheiro, e quando entro, olho meu reflexo no espelho, e me sinto horrível tenho os olhos e a cara inchada, passo a mão no rosto cansada e penso "como meu dia já começou ótimo" notem o sarcasmo, abro o registo do chuveiro e começo a me desvestir minha pele se arrepia inteira ao sentir a frieza do pequeno ambiente, entro no box e vou para debaixo do chuveiro, dou um pequeno grito quando sinto a água gelada cair na minha pele, e saio de imediato, rapidamente abro o outro registro com água quente antes de ter uma hipotermia, espero uns segundos antes de por o braço em baixo da torrente de água, e percebo que já esta aquecida e entro recebendo a maravilhosa sensação que é estar debaixo dagua.

Depois de banhada passo um creme corporal, que é muito cheiroso por sinal e caminho em direção ao quarto, quando entro vou direto ao guarda-roupas e procuro entre as peças uma roupa que seja confortável para passar o dia, opto por um suéter bege folgado, com umas listras horizontais na cor caramelo, uma calça preta justa de cintura alta que tem uns rasgos na altura do joelho, e um velho adidas branco, levo o cabelo solto já que esta húmido, pego a mochila que se encontra no piso do quarto e saio, vou em direção a escada, já em baixo me dirijo para cozinha onde encontro minha mãe e a Louise conversando.

Quando entro na cozinha vejo a dona Ellen que esta em pé, com uma xicara na mão que acredito que seja café preto, Louise esta sentada num banco alto que tem na ilha, na sua frente tem um prato de panquecas com mel, me sento ao seu lado e prontamente minha mãe me serve uma xicara de café, sou do time das pessoas que não conseguem comer nada pela manhã, estamos cada uma com seus próprios pensamentos, quando Louise faz um sonoro barulho com a garganta chamando nossa atenção, e imediatamente os quatros pares de olhos vão em sua direção.

—É ajam—pigarreia e continua—Estas pronta? —me pergunta duvidosa

—Pensei que isso já fosse obvio—digo, olhando para ela impaciente

—Que—diz em grito sufocado—Não penso sair contigo assim—fala e parece pensar no que vai dizer a seguir— Parecendo uma... é.... uma... mendiga—conclui sua fala

—O que tem de mal na minha roupa? —pergunto me olhando, e olho para minha mãe que também esta sem entender aonde a Louise quer chegar

—Primeiro estas usando um suéter que é o dobro do teu tamanho, e ainda por cima tem esse cabelo lambido de água, se você quiser eu posso—interrompo sua fala

—Puff—suspiro pesadamente e digo—Cala a boca Louise que já estou até o limite contigo hoje

—Então deixa ao menos passar um corretivo nessas olheiras, se um panda estivesse aqui não saberíamos quem era Ellie e quem era o panda—diz e começa a sorrir, olho para ela com cara de poucos amigos e ela passa os dedos na boca com se estivesse cerrando

—Melhor—digo e reviro os olhos, e escuto minha mãe sorrir

—Vocês parecem duas crianças—diz e revira os olhos

Retornamos nossos a fazeres antes de sermos interrompidas, por Ise e suas loucuras aproveito para observá-la melhor, e entender porque se queixa tanto do meu outfit, esta com uma maquiagem bem natural que realça o tom verde de seus olhos, seu cabelo a parte de cima esta presa num rabo de cavalo e o restante vai solto, veste um pequeno vestido xadrez, na cor cinza claro que tem uma gola redonda na cor branca, por cima do vestido há um blazer preto com quatro botões dourados, dois em cada lado, este chega no meio de suas pernas, uma bota vinho de tecido cano alto, e o toque final esta numa pequena bolsa de veludo que vai a par com suas botas, que custa quase o preço de um carro, olho para ela e mal posso acreditar que vai vestida assim, perto dela dizer que sou um mendigo é ficar muito curto, quem raios se arruma tanto para ir para a escola, o máximo que peço é que meus colegas de classe façam sua higiene básica pela manhã e nada mais.

—Que—me pergunta na defensiva, quando percebe que a estou olhando

—Nada—digo rapidamente, desviando a vista e voltando a tomar meu café

—Esquisita— me diz e revira os olhos

— Me lembra porque sou tua amiga mesmo? — digo pensativa

—Por que sou a única que te suporta—responde como se fosse obvio, e olho para ela com cara de poucos amigos

Minha mãe, esta nos observando por cima da xicara que esta entre seus lábios, nos olha como se fosse uma partida de ténis com uma expressão divertida, que dia de merda penso e giro os olhos, ao perceber que não tenho nenhuma defesa de sua parte termino meu café e caminho em direção ao lava louça e lavo minha xícara e coloco no escorredor de pratos, terminado minha pequena tarefa subo as escadas e vou no banheiro escovar os dentes, aproveito e passo no quarto pego meu celular que estava carregando e vejo que tem a bateria completa volto ao piso inferior, já na sala pego a bolsa que esta no sofá e ponho apoiada no ombro direito e vou gritando da sala a cozinha

— Mãe já vou —digo ofegante

Louise se levanta da banqueta nos pedindo um minuto, e caminhamos juntas a sala, a Ise vai em direção a escada e a vejo desaparecer no topo aguardamos seu retorno na sala em silencio quando minha mãe fala

—Hoje é minha folga, poderíamos fazer alguma coisa quando você chegar—me sugere

—Talvez—digo e levanto os ombros dando pouca importância ao que ela diz

—Estou falando sério—me diz impaciente

—Eu também—digo cruzando os braços lembrando que ela não me defendeu da Louise, mas cedo

—Isso é sério—me diz sorrindo entendendo minha atitude e negando com a cabeça

—Não sei do que você está falando—digo tentando parecer chateada

Ela caminha na minha direção para na minha frente, põe as mãos em cada lado da minha cara e me ataca com doces beijos

—Para—digo entre risos—Mulher teu amor está me sufocando—falo tentando soar seria mais ela não se detém

— Você sabe que é minha filha preferida—me fala ainda com as mãos apoiadas em meu rosto

—Isso é obvio—digo revirando os olhos—sou tua única filha

— Espera— diz e me cheira— Isso é meu creme corporal?— me diz fingindo estar surpresa— Pensei que você não gostasse me lembro quando comprei e você disse que ele era fedido

—E continua sendo—minto e reviro os olhos

—Não faz isso com os olhos—diz impaciente e aperta minhas bochechas— Além do mais acho você extremamente linda, e essa beleza você puxou a mim—continua e levanta e abaixa as sobrancelhas de forma engraçada

Tiro suas mãos da minha cara, e ponho as minhas sobre as maças do meu rosto, que estão vermelhas como um tomate por conta do contacto a poucos segundos, minha mãe que se nega a estar longe me puxa para perto dela e me abraça e quando vai depositar um pequeno beijo na minha testa escutamos um pequeno fungado, olhamos em direção ao ruido e vemos a Louise no meio das escadas enxugando o rosto

—Droga—diz e limpa os mucos nasais—Por que tem que ser tão lindas—nos diz, abrindo a bolsa e tirando um pequeno espelho— Puff...agora tenho que arrumar esse desastre—fala apontando a sua cara

—Vem aqui pirralha—diz minha mãe e ela não pensa duas vezes e corre para seus braços me deixando de lado

—Ei, eu estava aqui primeiro—digo reclamando, e minha mãe abre um espaço para caber todas juntas

—Mamãe Ellen sempre terá espaço para as duas—nos diz com amor

—Te amo tia—diz Louise emocionada

—Te amo mãe—digo na minha vez

Minha mãe responde nos abraçando mais fortes, a Ise sempre teve espaço nessa casa, e isso não é de hoje essa historia é antiga, ela sabe que minha mãe é honesta em suas palavras, elas se adoram para minha mãe a ise é filha gerada no coração, ela completa nosso time de garotas, e não tenho nenhum ciúmes da relação que elas criaram, sei que ela também precisa de amor materno já que a ligação que tem com sua própria mãe não é para nada amistosa, e por conta disso as discussões fazem parte da rotina, e quando isso acontece só existe um colo a quem ela pode recorrer, e depois de sermos acordadas varias vezes durante a madrugada por uma ise totalmente desconsolada, minha mãe resolveu dar-lhe as chaves daqui de casa, para que se sentisse a vontade para vir quando queira.

—Isso está muito bom muito bonito, mas já esta na hora de irem para a escola—diz se desfazendo do abraço de urso

—Não—diz Louise

—Não—concordo me negando a sair do abraço

—Para isso vocês concordam né—diz minha mãe sem nos entender

—Sim—respondo

—Concordo—responde a ise

Finalmente, depois de todo o drama nos despedimos e estamos em frente de casa caminhando em direção ao carro da Ise que esta na frente da garagem, seu carro parece de outro mundo de tão moderno e bonito que é, embora não faça meu estilo.

Seu carro é nada mais nada menos que uma Bugatti, ganhou de presente de aniversário do seu pai e o modelo escolhido custa uma bagatela de três milhões e meio de euros, é toda preta e tem uma faixa na cor verde na parte de cima que começa no capo e termina na mala, por dentro o acabamento é todo premium, tanto os estofados como o painel são na cor preta com uma fina linha na cor verde.

Subimos nos assentos correspondentes, e me apresso a ligar o radio estou passando as estações até encontra uma música conhecida quando sinto um tapa na minha mão

—O que? —pergunto com raiva

—Tira essas mãos gordurosas do meu radio—diz impaciente limpando a marca de dedo que ficou no painel do carro

—Mas só estou tentando por uma música—digo cruzando os braços—Não tenho culpa se esta lata velha é toda Touchscreen—digo e ela freia o carro bruscamente e quase quebro o nariz no porta-luvas

—Que disseste? —grita histérica—Desce—me diz jogando minha bolsa no colo

—Nem morta—rebato—Quase me partes o nariz puta louca—digo tocando a ponta do nariz

—Pede desculpa agora—me diz com ar vitoriosa

—Não—digo enfadada—Vamos chegar atrasadas por tua culpa—digo olhando a hora

—Por mim esta tudo bem — diz cruzando os braços e desligando o carro— Quem tiver pressa que caminhe—me diz com um sorriso malicioso

—Vai a merda Ise—digo com raiva, e penso em descer do carro, mas desisto de imediato quando lembro que vou ter que andar uns minutos já que estamos longe e não tenho a mínima vontade de caminha, imagino como seria satisfatório bater essa cara no volante

Ficamos uns dez minutos paradas e em total silencio, estava realmente decidida a não ceder a seus caprichos, enquanto a descarada olhava suas unhas perfeitamente pintadas e afeitadas estamos tão alheios do que passa a nossa volta que damos um pulo nos assentos quando meu telefone toca do nada com a música Scooby-doo de Pinguini Tattici Nucleari

—Isso é o toque do teu celular? —me pergunta Louise com cara de nojo

—Sim, essa banda é muito boa além de que pratico meu italiano—digo orgulhosa e atendo a ligação—Sim

—Oi, é Ellie?

—Sim esse é meu número ne—falo como se fosse obvio

—Não tens meu número salvo? —me pergunta ofendida

—Claro que sim—digo com a voz fina e escuto a Ise sorrir do meu lado

—E por qu...

—Mãe foco—digo interrompendo ela—Em que posso ser útil neste momento?

—Porque esta tão silenciosa a escola—fala pausadamente e pensativa—Espera por acaso vocês não estão na escola, senhorita Lorelai—me grita tão alto que tenho que afastar o aparato do ouvido e vejo a Ise colocando a mão na boca tentando abafar suas gargalhadas

—Que, não me chame por essa coisa—dou grito abafado—Não, estamos a caminho da escola, mas—digo e olho em direção Louise que já deixou de sorrir e me observa cuidadosamente e com um sorriso malicioso digo— Mas a Louise quer faltar a escola desligou o carro e estamos paradas no meio do nada—concluo vitoriosa

—Que—grita minha mãe do outro lado—Passe o telefone a ela agora—me giro em direção a ela com o maior sorriso do mundo e entrego o celular na mão dela que recebe de má vontade

Escuto minha mãe gritar no telefone com ela e vejo seus dedos tocando nervosamente no volante

—Mas tia eu fu...—não consegue terminar de falar já que minha mãe a interrompe e depois de cinco minutos ouvindo reclamações me joga o celular e liga o carro—Sua mãe perguntou se você levou dinheiro para comer—fala com raiva

—Sim—digo

Minutos depois estamos na carreteira em direção a escola, e com ar vitorioso ligo o radio e coloco uma canção muito boa vibra e deixo no último volume sinto olhos raivosos na minha direção, mais sigo com o meu, e quando chega o refrão canto a todo pulmão minutos depois a Ise freia bruscamente num sinal que acaba de fechar esperando me ver bater no porta-luvas novamente me olha com um sorriso malicioso que vai se desfazendo quando me ver com a correia negra na mão e meu sorriso largo

—Segurança em primeiro lugar, certo irmãzinha—digo sarcástica

—Puff...te odeio—me diz e eu toco no ombro dela e falo

—Você e mais umas quantas, entra na fila querida—digo e pisco para ela

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