Capítulo 10
⚠ Atenção ⚠
Esse capitulo contem temas, que podem ser sensíveis para algumas pessoas, como por exemplo: menção a morte, doença, abuso psicológico, e uso de drogas, por favor se responsável, se achares que tens alguma sensibilidade com esses temas citados acima por favor não leia.
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"Agora eu tenho esse sentimento novamente
Eu não posso te explicar,
você não entenderia,
não é assim que eu sou,
Eu me tornei confortavelmente ... insensivel"
—Pink Floyd
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Narra Sven
Sentado observo as paredes que já perderam a conta de quantas vezes me viram passar por essas portas, toda semana é a mesma merda, o que deveria me ajudar a melhorar, me debilita cada dia mais, sou uma bomba relógio prestes a explodir, olho a minha volta e as cadeiras ao meu lado estão todas vazias aparentemente serei só eu a receber tratamento
È assustador pensar que com somente dezenove anos tenha passado por tanta merda, lembro quando era apenas uma criança e acompanhava minha mãe aqui, nesse mesmo lugar, pensando por esse lado acredito que o hospital há sido mais minha casa que minha própria casa é irónico pensar assim, desde que minha mãe faleceu tenho vivido um verdadeiro inferno em vida, já que meu pai me culpa por sua morte e lembra o quão imprestável eu sou
Ela era a melhor mãe que poderia ter tido, tenho as melhores recordações, Dulce era seu nome, e ela fazia jus ao seu nome, não acredito que exista mulher mais doce e educada como ela, se fecho os olhos ainda posso sentir o seu toque acariciando meu rosto, o seu perfume cítrico e a melodia da sua voz, lembro quando acordava assustado e com medo, Dulce me embalava e cantava uma canção de ninar, passava a mão no meu cabelo até pegar no sono
A única pessoa que me amou sem querer nada em troca, já não está aqui para me proteger dos monstros que não estão mais nos meus sonhos, senão vivas em carne e osso, sinto um gosto salgado nos lábios, e rapidamente enxugo as lágrimas derramadas, mais elas parecem não ter fim caem sem controle como se fosse uma cachoeira, me sinto idiota por está chorando
—Eu não sou fraco—me repito mentalmente uma e duas vezes
—Sven—escuto chamarem meu nome
—Não, sou João—digo com sarcasmo e reviro os olhos
—Fico muito feliz que você tenha retomado o tratamento—me diz com um amplio sorriso
—Você deve ser a enfermeira mais chata que já conheci—digo tentando enxergar seu nome na placa de identificação—Payet
—Muito obrigado Sven, você é muito gentil—me diz com um sorriso falso
—De nada—digo retribuindo o sorriso
—Como você se sente hoje?—me pergunta já no seu papel de enfermeira
—Bem—digo rapidamente
E como se fosse uma piada, sinto como meu pulmões pedem por ar, sinto como se estivesse me afogando e ponho a mão que não tem a intravenosa no peito, em desespero, como se isso fosse me ajudar a respirar
—Sven você precisa se calmar—responde tranquila—Vamos inspira devagar você consegue
Tento seguir suas instruções mais o medo e a falta de ar não me deixam pensar com clareza
—Isso você está indo muito bem agora solta de devagar
Finalmente consigo controlar minha respiração e me sinto aliviado
—Você foi muito bem Sven
—Falta muito?—pergunto impaciente olhando para a medicação
—Você sabe a resposta—me responde Ellen girando os olhos
—Que patético—reclamo
—Então como vão indo as coisas em casa?—me pergunta curiosa
—Bem—respondo sem vontade de falar sobre isso
—Bem—repete com sarcasmo
E peço por todo para que ela não comece a falar disso, mas é inútil vejo como seus lábios se movem e não quero prestar atenção no que ela diz, começo a cantar uma música mentalmente, mais sou interrompido por um pequeno tapa no ombro
—Ei... estou falando com você—fala cruzando os braços—Sven—diz seriamente quando vê que continuo sem prestar atenção
—Que?—digo irritado—Você não tem outros pacientes para importunar?—falo em suspiro cansado e passo a mão no rosto
—Já estou fazendo isso com você—me diz sorrindo e aperta minha bochecha
—Ai—reclamo passando a mão sobre a parte dolorida—Você é tão irritante
—Ele esteve aqui—fala em um susurro, como se tratasse de um segredo
Respiro fundo, por um instante não queria saber de quem ela estava se referindo, mais para minha desgraça, sei exatamente de quem está falando, e por um minuto queria ser outra pessoa, um adolescente normal, preocupado em tirar boas notas para entrar numa universidade, ter quem sabe uma namorada, e amigos que valham a pena, me sentir feliz por um mísero segundo, mas acredito que isso seria pedir muito, sou um viciado de merda, com um pai alcoólatra, psicologicamente ferrado e ainda por cima estou doente
—Não quero falar dele—digo bruscamente e levanto a cabeça olhando para o teto
—Eu sei que não, mas se você precisar de alguém quero que saiba que estou aqui para você—fala e da um ligeiro aperto na minha mão
Olho para ela, e aí está esse olhar que tanto odeio
—Não necessito que ninguém sinta pena por mim—digo com raiva
—Sven só estou tentando ajudar, não tenho pena de você—fala irritada—Conheci sua mãe e sei que ela queria que eu fizesse isso, me preocupo por você, e falo sério—responde e parece sincera com suas palavras
Sinto como meu peito aperta só com ouvir falar de mamãe, meus olhos cristalizam, e me recrimino imediatamente, não vou chorar na frente de um desconhecido, eu não sou um fraco, repito mentalmente até meus olhos pararem de picar escuto passos e abro os olhos Ellen está de costa caminha até a saída da sala e quando está a poucos passos de ultrapassar as portas
—Obrigado—digo em um sussurro e com a voz ronca
—De nada, quero que saiba que você não está sozinho, independentemente de ser da sua família ou não, quero que você saiba que você é importante e que estou aqui para você—responde com um sorriso—Sven você é muito forte, estou feliz que você tenha recapacitado e voltado com o tratamento, você parece minha filha—diz divertida e gira os olhos
—Não sabia que você tinha filha—digo curioso
—Sim, vocês são quase da mesma idade ela tem dezoito anos—fala toda animada com um brilho nos olhos que toda mãe tem quando fala dos seus filhos
Me pergunto se minha mãe estivesse viva se falaria de mim com o mesmo orgulho que a senhora Ellen fala da sua filha, que idiota claro que não, se minha mãe estivesse viva, muitas coisas teriam sido diferente, talvez não minha doença, mais pelo menos me sentiria feliz de saber que alguém me ama, e se preocupa se volto para casa no final do dia, a verdade é que sinto inveja pela filha da Ellen, isso é tão patético sentir invejar por alguém ter mãe
—Ela é bonita?—pergunto com um sorriso malicioso e levanto e abaixo as sobrancelhas divertido
—Sven—grita mas quando se lembra que estamos num hospital põe a mão na boca—Óbvio que é linda, é minha filha—responde convencida
—Você é mãe, opinião de mãe não conta—digo girando os olhos—Se for igual a você deve ser horrível—falo só para irritá-la
—Idiota—escuto ela dizer irritada e joga um almofada na minha direção
—Ei—digo sorrindo—Esse é o cuidado que vocês tem com os doentes do hospital, isso é absurdo, quero deixar uma reclamação, principalmente da enfermeira chefe—falo tentando soar sério
Vejo quando sai pela porta irritada, sem olhar para atrás
—Finalmente—penso e sorrio
Sei que ela já não volta até o maldito remédio acabar, a sala volta a ficar em silencio novamente e sinto sensação de frieza que me arrepia por completo, sinto como meu celular vibra no bolso da calça e levando em conta que tenho praticamente dois números registados, só pode ser meu pai ou Tom, um pouco desajeitado tento tirar o aparelho do bolso já que só tenho uma mão livre
—Estou
—Sven
—Tom?
—Claro que sou eu imbecil—me diz como se fosse obvio
—Por que raios você esta me ligando de um número desconhecido?
—Então por isso liguei—me diz duvidoso—Eu estou numa casa com uma garota
—Tchau—interrompo sua frase
—É serio preciso de ajuda, é caso de vida ou morte, eu não sei onde estou ou onde deixei o carro, e do nada ela simplesmente me expulsou do quarto
Começo a sorrir pela situação ridícula que meu amigo se encontra
—Merda Poe estou falando serio—me grita do outro lado—Estou de cueca na rua atras de um arbusto
—Que não me diga Poe estupido—reclamo com raiva
—Então, você vem me buscar? —me pergunta esperançoso
—Não—digo rotundamente
—POOORfa—fala desajeitado, e já sei que esta bêbado
—Estou no hospital—falo para ele parar de insistir, e me arrependo logo em seguida
—Alguém pode me levar no hospital, meu amigo esta morrendo—grita para alguém do outro lado da linha
—Que? —pergunto surpreso—Eu não estou morrendo idiota—digo bruscamente
—Ok, tecnicamente todos vamos morrer algum dia, mais não estou morrendo nesse exato momento—penso
—Por favor essas podem ser suas ultimas palavr...—fala ainda gritando
—Me passa a localização por mensagem—digo impaciente e desligo a chamada
Olho para o medicamento e ainda esta pela metade, suspiro cansado e começo a pensar em qualquer coisa aleatória para desviar minha atenção da conta gotas, mais falho terrivelmente, e quando vejo como demoram a cair, tiro o cateter do braço e pressiono alguns segundos por conta do sangue, me levanto e começo andar, mais não consigo ir muito longe, quando me ataca uma vertigem, e começo a transpirar como se tivesse corrido cem quilómetros, sinto uma vontade enorme de vomitar, corro em direção a primeira porta que vejo, por sorte é um banheiro, me ponho de joelhos com a cabeça dentro da sanita.
Deixo ali toda a comida que tinha no meu estomago, ou isso creio já que não me alimento desde ontem, depois de uns minutos nessa posição desconfortável, me sentindo um pouco melhor, caminho ao lavatório de mãos, jogo agua gelada no rosto, me olho no espelho e minha aparência é lamentável pareço mais pálido que o comum, me apoio na parede e ponho a mão nos bolsos procurando a carteira, quando encontro procuro algum doce, acho um chiclete entre um cartão e uma camisinha abro a embalagem e ponho conteúdo na boca, fecho os olhos quando o chiclete entra em contato com minha papila gustativa, sinto sabor de menta e respiro aliviado com a sensação de bem estar que me provoca.
—Sven—escuto uma voz preocupada nas minhas costas
—Hm...—respondo abrindo os olhos me virando em direção a voz feminina
—O eu você pensa que esta fazendo? —me pergunta furiosa e pega no meu braço na tentativa de me levar e aplicar o remédio novamente
—Preciso ir—digo tranquilamente e solto meu braço
—Que? —me diz surpreendida—Nem pensar—fala me olhando severamente
—Eu não estou pedindo permissão—falo como se fosse obvio
—Sven não estou brincando, se trata da sua saúde—fala cruzando os braços—Faz meses desde a ultima vez que você veio fazer o tratamento, isso não é assim, você sabe que o relógio é seu pior inimigo, não seja idiota e sente na maldita cadeira—diz com raiva
—Prometo que não será como das outras vezes—digo sincero
—Por que? Você sentiu alguma coisa diferente? —me olha desconfiada e sinto como me analisa e isso me deixa nervoso
—Que? Não...claro que não—digo rapidamente—Tenho que ir Ellen se cuida—falo e começo a andar antes que ela me pergunte mais alguma coisa
—Você vai volta para escola também? —me pergunta curiosa
—Escola? —pergunto incrédulo—Eu estou doente por que passaria o que talvez seja meus últimos dias numa maldita escola cheio de adolescentes mimados
—Você também é um adolescente—responde girando os olhos—Para de falar como se você fosse morrer, sei que vai dar tudo certo—fala positiva
—Você não pode dizer isso—digo bruscamente
Odeio como as pessoas gostam de vender ilusões quando outra se encontra desesperançada, e quando menos se espera acontece algo ruim, dizem que isso é ser pessimista, eu gosto de pensar que é ser realista, isso aqui não é conto de fadas, muito menos um filme onde os heróis sempre vencem o vilão, as pessoas precisam abrir os olhos e entender que coisas horríveis acontecem todo dia, debaixo dos nossos olhos
—Sim você esta certo—fala com um suspiro e passa a mão no rosto—É...eu só quero que você pense nisso, nem tudo é cem por cento desgraça Sven, você precisa retomar sua vida, voltar para escola, conhecer pessoas, e principalmente não abandonar o tratamento como você fez, quero te ver—faz uma pausa como se estivesse pensando em que dizer—Feliz—fala e olha nos meus olhos
—Não prometo nada, mais vou pensar—digo girando os olhos por sua insistência e coloco as mãos nos bolsos da calça
—Está certo, isso é mais que suficiente para mim—me diz com um amplio sorriso
Caminho em direção a saída dessas paredes frias, sinto como meu celular não para de vibrar, olho e são mensagens do Antoni, giro os olhos por ele ser tão insuportável, chego no estacionamento e sinto nostalgia toda vez que lembro da dona do automóvel, entro no carro e ponho a direção que devo ir no GPS, estou a trinta minutos de distância, sinto como minha cabeça esta a ponto de explodir, e procuro por um paquete de cigarro no porta luvas
—Você não deveria fumar—reprimi minha consciência
Depois de vinte minutos chego no local que me foi indicado, ligo para o estupido do meu amigo, mas não teve jeito dele atender, tentei o número desconhecido, e advinha não me atenderam também, como vão ouvir a merda do celular com o volume da musica nestas alturas, maldigo o Antoni por ter me feito vir aqui, e ainda por cima ter que descer para procura-lo, bato com a mão no volante com raiva, e desligo o carro, caminho por um jardim que termina na entrada da casa
—Como esse bastardo veio parar numa festa de gente rica? —penso
Vou caminhando entre os zumbis adolescentes, e vejo várias caras conhecidas, "são meus companheiros de classe" como diz a senhora Jones, passo por uma piscina onde tem gente brincando e dançando, mais nada do Tom por aqui
—Desculpa, você vio o Antoni? —pergunto distraído a um desconhecido
—Sven?— me pergunta e olho para pessoa
—Matthew—falo com desgosto
—Pensei que você já não viesse a lugares assim—diz apontando ao nosso redor
—E não vou—digo querendo encerrar a conversa
Mais claro que o idiota não iria parar por aí
—Claro, claro ainda mais depois daquilo—me olha malicioso—De verdade que fiquei preocupado por você—diz com desdém
—Hm...sim de facto agradeço pelas flores e chocolates que você me enviou—digo com sarcasmo
Ele fala alguma coisa, mais não escuto já que dei as costas para ele, passo por uma casa grande toda de madeira, vejo umas pessoas saindo de um caminho que parecem dar a um jardim, quando estou na metade do percurso, sinto meu celular vibrar, e juro que se for o Tom vou matá-lo
—Que? —digo com raiva
—Onde merda, estas?— gritam do outro lado
—Juro por Deus que se você não aparecer em cinco minutos vou embora, estou num maldito jardim—digo com raiva e desligo a ligação
Caminho até uma fonte de água e me escoro em uma parede, olho a hora no celular e conto os minutos, se der os cinco minutos e ele não estiver aqui, me importa uma merda que tenha que andar de cueca até chegar em casa, procuro entre os bolsos um acendedor, e quando vou acender o cigarro, vejo como me arrebatam da boca
—Obrigado—diz e me faz um sinal para que o acenda
—Idiota—digo acendendo o cigarro
Ponho outro cigarro na boca, e acendo dou o primeiro trago sinto como meu corpo relaxa, como se eu estivesse flutuando, olho para meu amigo, e me escapa um risota
—Estas ridículo—digo sorrindo
—Era isso ou andar de cueca—diz elevando um pouco os ombros dando pouca importância, e olha para o vestido que tem posto
Olho para frente e vejo como uma garota da há volta como pela sexta vez pela maldita fonte
—Isso é um ritual ou algo assim? —grito sorrindo na sua direção
—Que? — me responde a desconhecida
—A saída é por ali—respondo
—Isso já sei —diz irritada—Por acaso não vê que já estou indo nesta direção
—Claro, isso tinha visto— digo divertido
—Puff— suspira
Observo como ela para de andar, provavelmente deu algum pane no sistema
—Será que ela esta bem?—pergunta o Tom preocupado
—Provavelmente—digo elevando os ombro dando pouca importancia a situação
Vejo como ela anda toda envergonhada, deve ter percebido que passou vergonha na frente de pessoas conhecidas, olho ao nosso redor e as pessoas tem seus telefones na mão, ela não parece notar que foi gravada, sorrio com malicia ela acaba de me dar um motivo para voltar para escola
—Obrigado—grito a vendo ja um pouco distante
E ela me faz um gesto indiferente com a mão
—Você vai para escola? —pergunto ao Tom
—Se eu sempre vou—me pergunta confuso e me olha como se eu estivesse louco
—Agora eu também—digo com um sorriso malicioso.
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