🌲 CAPÍTULO I 🌲
ESPECIAL DE NATAL
O inverno havia chegado com força total, cobrindo as ruas da pequena cidade de Garven com um manto branco e gelado. As luzes natalinas começavam a iluminar cada esquina, e as vitrines das lojas exibiam decorações que prometiam reviver o espírito natalino, mesmo nos corações mais endurecidos.
Jimin estacionou o carro em frente à casa de sua avó, com o coração dividido entre nostalgia e desconforto. Ele não pisava ali há mais de dez anos, desde que decidiu deixar tudo para trás e buscar um novo começo em outra cidade. Agora, com sua avó insistindo para que ele passasse o Natal com ela, não havia como recusar.
Ele carregava uma mala pequena e sua câmera – sua fiel companheira. Mesmo relutante, o ar fresco e o aroma de pinheiros recém-cortados começaram a aquecer algo dentro dele. Talvez não fosse tão ruim estar de volta.
Após se instalar e passar algumas horas ouvindo as histórias calorosas da avó, Jimin resolveu explorar o centro da cidade. As ruas decoradas e a música natalina que saía de algumas lojas o transportaram de volta à infância.
Foi quando uma loja chamou sua atenção: “Relíquias do Tempo”. Uma vitrine simples, mas acolhedora, exibia enfeites de Natal antigos e bem trabalhados. Pequenas figuras de madeira, globos de neve e castiçais reluzentes compunham a decoração. A curiosidade o fez entrar.
Ao abrir a porta, um sininho anunciou sua chegada. Lá dentro, o cheiro de madeira e canela o envolveu. Ele não teve tempo de explorar o ambiente, porque foi recebido por uma voz calorosa.
— Bem-vindo! Precisa de algo especial ou está apenas explorando?
Jimin levantou os olhos e viu um homem que parecia ter saído de uma pintura. Jungkook tinha um sorriso gentil, e seu rosto expressava uma mistura de cansaço e paixão pelo que fazia. Ele usava um suéter grosso e uma jaqueta que parecia tão confortável quanto o ambiente da loja.
— Ah… Estou só olhando — respondeu Jimin, um pouco desconcertado. — A loja é sua?
Jungkook deu um sorriso leve e assentiu.
— É, embora eu tenha herdado de minha mãe. Tento mantê-la viva, sabe? Especialmente nessa época do ano.
Algo no tom de Jungkook chamou a atenção de Jimin. Ele não estava apenas falando sobre a loja, mas sobre algo maior, mais profundo.
Jimin começou a andar pelos corredores apertados da loja, observando cada item com cuidado. Havia algo reconfortante naquele lugar, como se o tempo tivesse parado. Ele notou um pequeno globo de neve com uma cena de patinação e o pegou.
— Esse é especial — disse Jungkook, aproximando-se. — Minha mãe dizia que ele trazia sorte para quem o levasse para casa.
Jimin soltou uma risada suave.
— Eu poderia usar um pouco de sorte.
— E quem não poderia? — Jungkook sorriu, cruzando os braços. — Posso ajudar em algo específico? Talvez um presente?
Jimin pensou por um momento antes de responder.
— Na verdade, estou tentando encontrar algo especial para minha avó. Algo que traga boas memórias.
Os olhos de Jungkook se iluminaram.
— Acho que sei exatamente o que você precisa!
Enquanto Jungkook desaparecia atrás do balcão, Jimin olhou ao redor, absorvendo o calor daquele lugar. Algo nele dizia que aquela loja, e talvez aquele homem, trariam mais mudanças para seu Natal do que ele imaginava.
Jungkook reapareceu com uma pequena caixa nas mãos, revestida em veludo vermelho. Ele a colocou sobre o balcão com cuidado, como se o conteúdo fosse um verdadeiro tesouro.
— Aqui está — disse, sorrindo de forma quase tímida. — Este pertenceu a uma das primeiras famílias da cidade. Dizem que foi o presente de Natal mais especial de uma avó para sua neta.
Jimin aproximou-se, inclinando-se sobre o balcão para olhar melhor. Dentro da caixa havia um delicado pingente de prata em forma de estrela, com pequenos cristais que brilhavam sob a luz da loja. Ele parecia ter sido feito para capturar a magia do Natal.
— É lindo… — murmurou, quase sem fôlego.
— E tem história — Jungkook completou. — Quando a avó faleceu, a neta trouxe o pingente para cá e pediu para que ele encontrasse outro lar que valorizasse o espírito natalino tanto quanto elas.
Jimin sentiu um aperto no peito. Era exatamente o tipo de presente que sua avó amaria. Algo que carregava tradição e sentimentos. Ele tocou o pingente com cuidado, sentindo o metal frio contra os dedos.
— Vou levar — disse, sem hesitar.
Jungkook sorriu, satisfeito.
— Ótima escolha. Vou embrulhá-lo para presente.
Enquanto Jungkook preparava o pacote, Jimin deixou o olhar vagar pela loja mais uma vez. Agora que estava ali, começava a perceber os detalhes: as fotos antigas em molduras desgastadas, os pequenos brinquedos de madeira com marcas do tempo, e as mensagens carinhosas escritas à mão em alguns itens. Era como se cada pedaço daquela loja tivesse uma história para contar.
— Você faz isso sozinho? — perguntou, voltando-se para Jungkook.
Jungkook assentiu, ainda concentrado no embrulho.
— É. Minha mãe cuidava da loja comigo, mas… — Ele parou por um instante, sua expressão ficando distante. — Ela faleceu há alguns anos. Desde então, é só eu.
— Sinto muito — disse Jimin, genuinamente.
— Obrigado. — Jungkook ergueu o olhar e deu um sorriso pequeno, mas sincero. — Ela adorava o Natal. E acho que manter a loja viva é a minha forma de mantê-la por perto, sabe?
Jimin entendeu aquele sentimento mais do que gostaria. Ele também havia perdido pessoas importantes e sabia como era difícil deixar o passado para trás.
— Acho que você está fazendo um bom trabalho — disse, tentando transmitir um pouco de conforto.
Jungkook terminou de embrulhar o presente e entregou a Jimin.
— Aqui está. Espero que sua avó goste.
— Tenho certeza de que vai.
Enquanto Jimin se dirigia à porta, Jungkook sentiu um impulso estranho, uma sensação de que não deveria apenas deixar ele ir embora. O chamou antes de sair.
— Você sabe patinar no gelo? — perguntou abruptamente, surpreendendo até a si mesmo.
Jimin piscou, confuso com a pergunta inesperada.
— Sei, por quê?
Jungkook deu de ombros, fingindo desinteresse.
— A pista no parque é bem divertida…
— Ela ainda funciona… mas por quê diz isso? — Jimin perguntou, agora com um sorriso curioso.
— Não sei… Talvez eu passe por lá. Quem sabe a gente se encontre.
Jimin riu suavemente, cruzando os braços.
— Quem sabe?
Jimin continuou a sorrir, sentindo o frio do lado de fora da loja atingir seu rosto quando a porta se fechou. Mas, estranhamente, ele não se sentia tão frio por dentro. Algo estava diferente, e ele não conseguia evitar a sensação de que aquele Natal seria maravilhoso.
O frio da noite parecia menos intenso quando Jimin caminhava pelas ruas iluminadas de Garven. Com o pequeno pacote nas mãos, ele não conseguia tirar a conversa com Jungkook da cabeça. Algo sobre o jeito tranquilo e caloroso do rapaz o havia tocado de forma inesperada.
A pista de patinação, situada no centro do parque da cidade, era cercada por árvores decoradas com luzes que piscavam em sincronia com a música natalina ao fundo. Famílias, casais e crianças deslizavam pelo gelo, rindo e tropeçando. O ar cheirava a chocolate quente e biscoitos recém-assados, vindos de uma barraca próxima.
Jimin hesitou por um momento antes de se aproximar. Fazia anos que ele não patinava, e a ideia de encontrar Jungkook ali, mesmo que improvável, o deixava inquieto. Ele caminhou até a borda da pista, observando o movimento.
— Não vai entrar? — Uma voz familiar ecoou ao seu lado, fazendo-o virar rapidamente.
Jungkook estava ali, segurando um par de patins pendurado no ombro e um copo de chocolate quente na mão. Seu rosto estava ligeiramente vermelho por causa do frio, mas o sorriso que carregava era acolhedor.
— Não achei que você realmente viria — Jimin admitiu, tentando disfarçar o nervosismo.
— Você parece alguém que cumpre promessas — respondeu Jungkook com um tom brincalhão. — E, além disso, o chocolate quente aqui é o melhor da cidade.
Jimin riu, sentindo-se um pouco mais à vontade.
— Faz anos que eu não faço isso… Se eu cair, você promete que não vai rir?
Jungkook ergueu uma sobrancelha, claramente achando graça.
— Não posso prometer isso.
Alguns minutos depois, ambos estavam na pista. Jimin deslizou lentamente no início, tentando encontrar o equilíbrio enquanto Jungkook o observava com paciência.
— Relaxe, não é tão difícil assim. — Jungkook aproximou-se, estendendo uma mão. — Confia em mim.
Jimin hesitou, mas acabou aceitando a ajuda. Os dedos de Jungkook estavam quentes, mesmo através das luvas, e ele segurou firme enquanto o guiava.
— Você é muito bom nisso — Jimin comentou, tentando não tropeçar.
— Minha mãe me ensinou. Ela costumava me trazer aqui todo Natal — explicou Jungkook, um brilho nostálgico em seus olhos.
A conversa fluiu naturalmente enquanto eles patinavam lado a lado. Jimin contou sobre seu trabalho como fotógrafo e as viagens que fazia, enquanto Jungkook falava sobre a loja e sua paixão por preservar memórias através dos objetos que vendia.
— Então você tira fotos para capturar momentos? — perguntou Jungkook, genuinamente interessado.
— Exatamente. Acho que é a minha forma de guardar histórias — respondeu Jimin, sorrindo.
— Parece que temos algo em comum, então — disse Jungkook, olhando para ele com uma expressão suave.
Eles continuaram patinando até que a música mudou para uma melodia mais lenta e suave. O parque parecia mais calmo, com menos pessoas ao redor. Jungkook parou, ainda segurando a mão de Jimin, e olhou ao redor.
— Eu amo esse lugar — ele disse, mais para si mesmo do que para Jimin.
Jimin observou o rosto de Jungkook por um momento, notando a mistura de melancolia e gratidão em seus olhos. Ele sentiu uma onda de calor inesperada, algo que ele não experimentava há muito tempo.
— Acho que é fácil entender por quê — respondeu, com um sorriso suave.
Naquele instante, sob as luzes cintilantes e o som distante de risadas, Jimin percebeu que talvez aquele Natal realmente tivesse algo especial reservado para ele.
Depois de um tempo, Jungkook puxou Jimin para fora da pista. Os dois estavam rindo, ambos com as bochechas vermelhas – um misto de frio e vergonha pelas quedas de Jimin.
— Ok, vou admitir, você não riu tanto assim das minhas quedas — brincou Jimin, tirando os patins com dificuldade.
Jungkook se inclinou contra a grade da pista, ainda segurando o copo vazio de chocolate quente.
— Eu tentei me segurar, mas, honestamente, você parecia um pinguim desajeitado.
Jimin lançou um olhar fingidamente indignado.
— Pinguim? Você sabe que eu posso te fotografar de um ângulo horrível e te deixar marcado para sempre, certo?
Jungkook gargalhou, jogando a cabeça para trás.
— Tudo bem, você ganhou. Não sou páreo para um fotógrafo.
O clima entre eles era leve e descontraído. Jimin percebeu que não se sentia assim há muito tempo – talvez desde antes de deixar Garven.
Enquanto devolviam os patins, Jungkook olhou para o relógio.
— A loja ainda vai estar aberta amanhã, se você quiser passar lá de novo.
Jimin arqueou uma sobrancelha.
— Está me convidando ou tentando aumentar suas vendas?
Jungkook fingiu pensar por um momento.
— Talvez os dois?
Jimin riu, balançando a cabeça.
— Pode ser que eu apareça.
— E se eu prometer te mostrar um enfeite especial que ainda não está na vitrine? — provocou Jungkook.
— Você sabe como fazer uma boa oferta.
Eles começaram a caminhar lado a lado pelas ruas tranquilas da cidade. As luzes das árvores iluminavam o caminho, criando um cenário quase mágico. O silêncio entre eles não era desconfortável – pelo contrário, era acolhedor.
Quando chegaram à praça central, onde as decorações de Natal eram mais elaboradas, Jungkook parou. Ele olhou para Jimin, como se quisesse dizer algo, mas hesitou.
— O que foi? — perguntou Jimin, notando o olhar.
Jungkook deu de ombros, enfiando as mãos nos bolsos do casaco.
— Só… é bom ter alguém para compartilhar isso.
Jimin sentiu o coração acelerar por um momento. Ele não sabia se era o frio ou algo na forma como Jungkook havia dito aquilo, mas havia uma sinceridade ali que o desarmava.
— Eu entendo — respondeu simplesmente.
Os dois ficaram ali por mais alguns minutos, apenas observando as luzes piscarem e ouvindo o som distante de uma melodia natalina. Finalmente, Jungkook se virou para Jimin.
— Bom, eu preciso voltar para a loja. Mas, sério, passe lá amanhã.
Jimin assentiu, sentindo um leve sorriso formar em seus lábios.
— Estarei lá.
Jungkook deu um último sorriso antes de se afastar, desaparecendo entre as ruas decoradas. Jimin ficou parado por um momento, respirando fundo e observando a fumaça que saía de sua boca no ar frio. Algo naquela noite o fez acreditar que, talvez, voltar para Garven fosse mais do que apenas uma promessa à avó.
Enquanto voltava para casa, ele não conseguia tirar a imagem de Jungkook de sua mente. Aquele sorriso caloroso, o brilho nos olhos ao falar de coisas simples… Pela primeira vez em muito tempo, Jimin sentiu que o Natal realmente tinha algo de mágico.
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