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um pequeno adendo rápido para quem possa não saber o que é uma recepção de funeral, é basicamente: algumas pessoas que podem querer se reunir para se apoiarem ou ainda homenagear mais uma vez o ente querido, normalmente é um grande evento preparado pela família de quem morreu.

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Não fui à recepção do funeral de Ning naquela noite.

Eu simplesmente não estava pronta para entrar naquela casa e me lembrar daquela noite horrível em que encontrei o corpo dela na banheira.

Em vez disso, decidi me encontrar com Jennifer e contar a ela sobre a mensagem de texto.

Não ousei contar a Sunghoon porque sabia que ele me repreenderia e me colocaria em prisão domiciliar. E provavelmente era isso que o assassino queria.

Se eu estivesse assustada o suficiente para ficar em casa, havia uma boa chance de quebrarem a fechadura, e então eu estaria de bruços em uma banheira cheia do meu próprio sangue com a garganta aberta.

Eu não podia deixar isso acontecer.

Aeri havia combinado de se encontrar comigo e com Jennifer. Fiquei surpresa por ela ter agido de forma tão cooperativa, mas, por outro lado, a sua vida também estava em perigo.

Eu já estava no restaurante com Huh e a agente Minatozaki.

O agente Nakamoto não estava presente.

Como Sana e Jennifer estavam sentadas uma ao lado da outra, não tive escolha a não ser sentar ao lado de Aeri.

Foi estranho, pois passamos metade do ano nos odiando e, de repente, fomos obrigados a nos aliar.

— Chae, sinto muito por sua amiga. — disse Jennifer com sinceridade.

Assenti com a cabeça.

Ela continuou. — Você queria me dizer uma coisa.

Olhei para Aeri e depois para Sana.

— Pensei em lhe contar em particular. É algo que não quero revelar na frente de todo mundo.

O olhar de Jennifer desviou para Aeri e voltou para mim.

Ela sabia do que estava falando. — Bem. — se levantou e deixou o seu assento. — Se você não se importa, gostaria de conversar com Chaewon em particular. Sem ofensa.

— De jeito nenhum. — Minatozaki respondeu.

Jennifer me levou mais longe.

Viramos a esquina, peguei meu celular e mostrei a mensagem para Jennifer. — Recebi essa mensagem logo após o funeral.

Huh olhou para o telefone, mas não reagiu.

Era difícil decifrar o que ela realmente estava pensando porque era impossível ler as suas expressões.

— Acho que o assassino está tentando nos colocar no caminho errado, Chaewon.

— Então você acha que a mensagem é uma farsa?

— Não se trata exatamente de uma farsa, mas de uma distração. O assassino quer que nós, a polícia e os agentes nos concentremos em você para que ele possa pegar outra pessoa como vítima.

Eu não tinha pensado nisso!

— De qualquer forma, não podemos nos arriscar a pensar que ele não irá atrás de você. Há cinquenta por cento de chance de que seja verdade e cinquenta por cento de chance de que não seja.

Eu me abracei. — Acho que ele está vindo atrás de mim.

Jennifer segurou os meus ombros, olhando diretamente nos olhos. — Chae, nunca deixarei que ele te machuque, eu prometo. Sei que se Yunjin estivesse acordada, ela iria querer protegê-la e estou aqui para fazer isso por ela.

— Não tenho medo, Jennifer.

— Posso ver por que minha irmã se apaixonou por você.

Eu corei. — Espero que ela acorde logo.

— Eu também, mas sei que quando ela o fizer, haverá um caos. Ela será interrogada pelo assassinato de Taecyeon e poderá ser o próximo alvo do assassino, pois conhece a identidade dele.

Então a melhor opção de Yunjin era permanecer em coma?

Huh colocou a mão em meu ombro. — Vamos voltar para os nossos lugares.

Aeri contou a elas a mesma história que havia me contado sobre como Hanni havia se desculpado na noite em que Ning foi morta e foi vista mais tarde limpando os sapatos sujos de lama na secção trancada do hospital.

Ela também não estava presente no funeral, portanto, onde exatamente estava a Dra. Hanni Pham?

— Você já tentou ligar para o celular dela? — perguntou Sana.

— Eu não. — respondeu Aeri.

— A equipe forense procurou em todos os cantos da casa, verificou se havia impressões digitais ou uma amostra de DNA e não encontrou nenhuma, exceto as impressões digitais de Chaewon em certas áreas — concluiu Sana, pegando o cardápio e folheando-o casualmente.

— Está suspeitando de mim? — perguntei.

— Não. Estou apenas apresentando os fatos.

Ela estava desconfiada.

— O assassino é muito cuidadoso. Quanto a Hanni Pham, ainda não temos muitas evidências contra ela para acusá-la de assassina, precisamos de provas sólidas. Por mais decepcionante que pareça, Dra. Uchinaga, não podemos acreditar em sua palavra e acusá-la.

— Eu entendo, agente Minatozaki. — disse Aeri. — Eu também ia mencionar...-

— Prontas para pedir? — a garçonete interrompeu nossa conversa, ela estava mais animada do que o normal e seus olhos permaneceram em Jennifer por mais tempo do que o necessário.

— Dois sanduíches de queijo grelhado, dois cheeseburgers, batatas fritas com queijo extra, asas de frango mergulhadas em molho picante, um milkshake de mirtilo e um refrigerante, por favor.

— Isso é tudo. — disse Sana fechando o cardápio.

Jennifer olhou para ela com confusão.

— Acho que isso seria suficiente para nós quatro. — Minatozaki falou.

Huh negou com a cabeça. — Esse é o meu pedido. E eu não compartilho.

Aeri olhou para Jennifer com a boca aberta de surpresa.

A garçonete estava tão confusa quanto todas nós na mesa.

Sana disse rapidamente. — Bem, nesse caso, vou querer um cheeseburger clássico e uma Coca-Cola. Dra. Uchinaga? Chaewon?

— Uh... Vou querer uma salada Caesar e um chá gelado.

Jennifer deu uma risadinha. — Talvez você queira substituir uma refeição saudável por algo não saudável, pelo menos uma vez — acrescentou. — Considerando a situação, talvez você não viva o suficiente para comer o que realmente deseja. Deve-se morrer sem arrependimentos.

— Pode fingir que não ouviu isso, Dra. Uchinaga. Jennifer tem um senso de humor muito... estranho. — Sana falou.

Eu ri.

Foi uma risada, mas todos se viraram para me olhar com admiração.

Acho que há muito tempo elas não me ouviam rir ou me viam sorrir.

Jennifer estava obviamente provocando Aeri e tentando esclarecer a situação, mas o que ela havia dito era verdade e Aeri sabia disso.

Pode ser sua última refeição, ou até mesmo a minha.

Jennifer e Sana poderiam perder suas vidas lutando contra isso.

Aeri limpou a garganta. — Gostaria de mudar meu pedido. Gostaria de dois sanduíches de frango grelhado, um pedido de chili e tortilha de cheddar com uma salsicha à parte. Pão de ló de cenoura e sorvete de chocolate.

Jennifer deu um sorriso de óbvio triunfo.

Não pude deixar de sorrir de volta.

— E o que deseja, senhorita? — perguntou a garçonete, anotando o pedido em seu caderno.

— Quero o mesmo que Sana. — disse, levando a minha mão em direção à agente.

— Tenho tudo, então. — a garçonete sorriu, obviamente de bom humor. Ela voltou para a cozinha, balançando os quadris.

— Chaewon, arrisque. — Jennifer zombou.

— Nem tente. Não vou cair na sua armadilha. Vocês são monstros para comer assim. — eu disse.

— Bem, não somos todos? — perguntou Jennifer, virando o saleiro sobre a mesa. — Todos têm um monstro dentro de si. É apenas uma questão de escolha quando uma pessoa decide liberá-lo.

— Palavras sábias. — a agente falou.

Uma velha jukebox no canto estava tocando músicas dos anos oitenta. Estava tocando Take On Me, da banda a-ha.

Eu realmente gostava muito dessa música.

A lanchonete tinha um charmoso visual retrô, como se tivesse entrado no passado. A comida nos foi servida aproximadamente vinte minutos depois. Duas mesas tiveram que ser unidas para acomodar a quantidade de comida que havíamos pedido.

Era como um banquete.

A proprietária do restaurante, uma senhora idosa e gentil, veio até nossa mesa e nos perguntou se gostávamos da comida e quais eram as receitas de sua falecida sogra. Ela então explicou que seus netos estavam tentando modernizar a cozinha para atender aos padrões dos jovens.

— Que bobagem. Eu prefiro a receita original, Sra. Danbury, porque essas asas? — Jennifer suspirou, seus dedos pingando molho e queijo — Divinas. Melhor que sexo.

Os olhos da idosa se arregalaram. — Quantos anos você tem, minha querida?

— Vinte e sete. — respondeu Jennifer obedientemente.

A Sra. Danbury sorriu de forma bem-humorada. — Se eu fosse apenas quarenta anos mais jovem...

Jennifer fez beicinho. — Se tivesse alguém tão bonito quanto você e cozinhasse assim, eu me divorciaria agora mesmo.

— Você nem sequer é casada. — Sana disse.

— Ei, mostre algum respeito, por favor. Tecnicamente, eu sou sua chefe.

Sana revirou os olhos e isso me fez rir.

— Vovó, precisamos de você na cozinha, se já terminou de flertar! — gritou da porta da cozinha uma garota bonita que parecia uma versão mais jovem da Sra. Danbury.

— Minha Anne não é casada. Ela tem apenas vinte e quatro anos e as pessoas dizem que ela parece e cozinha exatamente como eu.

— Vovó! — gritou a garota, com o rosto vermelho.

Quando a Sra. Danbury saiu da mesa, Aeri falou. — Essa é a quantidade normal de comida que você come todos os dias, Agente Huh?

— Você tem algum problema com isso?

— Estou falando das calorias! — acrescentou Aeri, nervosa.

— Jennifer não viverá tempo suficiente para que o assassino a mate. A comida a matará primeiro. — Minatozaki brincou.

— Concordo. — eu disse.

O dedo médio de Jennifer começou a subir lentamente na direção de Sana, que franziu a testa para ela.

Depois de terminarmos nossas refeições, foi servida uma torta de maçã caseira.

Jennifer impressionou a Sra. Danbury com sua conversa doce, o que era muito típico das gêmeas Huh.

Eu não conseguia acreditar no quanto eu estava infeliz até esta manhã, e agora tudo parecia tão normal.

Os assassinatos não estavam acontecendo, como se o assassino não estivesse à solta, como se minha vida não estivesse tão bagunçada.

Aeri passou um guardanapo na boca e seu telefone começou a tocar. Ela olhou para ele. — Agentes, se vocês já me fizeram todas as perguntas que queriam, gostaria de voltar ao trabalho. Recebi uma ligação do hospital.

— Obrigada pelo seu tempo, Dra. Uchinaga. Se vir algo remotamente suspeito, presumo que venha até à delegacia para nos informar. — Jennifer disse.

— Com certeza eu irei. — respondeu, tirando algumas notas do bolso para cobrir sua parte na refeição, mas Jennifer recusou.

— Obrigada por tudo. — Aeri apertou a mão das duas agentes.

Ela olhou para mim. — Se cuide, Kim. Vejo você por aí.

— Adeus.

Nós a observamos da janela enquanto ela se sentava em seu Toyota SUV e saía do estacionamento com um guincho, quase com fúria.

— O que você acha, Minatozaki, Aeri está nos contando a verdade?

— Ela não me parece ser alguém que mataria pessoas. Ela é um pouco estranha, é claro, mas uma assassina? Não sei.

— Chaewon?

— É difícil dizer. Tudo aponta para Hanni. Ela atendeu sua ligação? — perguntei.

Jennifer negou. — Direto para o correio de voz. Eu tenho uma ideia — então, em uma imitação muito precisa da voz de Jigsaw, ela perguntou. — Você quer jogar um jogo?

Sana parecia entediada, mas eu sabia que ela estava se divertindo. — Claro, se isso não envolver quebrar alguma parte do meu corpo...

De volta à sua voz normal, Jennifer continuou. — Você e Nakamoto contra um lobo solitário. Duas equipes — ela apontou para si mesma. — A primeira equipe a chegar ao assassino vence.

— Bem, eu nunca desisto de um desafio. Qual é o grande prêmio?

— Falei com o chefe do escritório e ele tem um cargo em Washington DC — sorriu. — Esse é um caso difícil. Resolva-o e você será promovida ao DSAC. — Jennifer sorriu.

Sana olhou para ela como se ela tivesse falado em chinês. — O quê?

— Agente Especial Adjunto Responsável.

— Eu sei o que isso significa. O chefe me falou sobre isso. — as mãos de Sana se fecharam em punhos. — E ele nunca me ofereceu nada. O chefe quer que você vá para Washington assumir esse cargo. É óbvio, Jennifer, que você é a favorita dele. Essa é uma das razões pelas quais ele concordou em colocá-la nesse caso, apesar de sua irmã ser uma criminosa condenada. Eu nem entendo por que está me contando isso.

— Porque eu quero que isso seja justo. — Jennifer respondeu enquanto mordia sua torta de maçã. — Se eu chegar ao assassino primeiro, vou para Washington, e se você chegar, bem, eu sei o que isso significaria para você.

— E se eu pegar o assassino e você perder? O que está reservado para você? — perguntou.

— Há outro caso esperando por mim. Estou mais interessada nele. Não sou o cachorrinho de colo do chefe. Faço minhas próprias coisas. Não preciso de um escritório. O campo precisa de mim. — Jennifer tinha uma expressão presunçosa no rosto.

— Você quer que eu ganhe, não quer? — Sana sorriu.

— Sim.

— Não estou entendendo, Jennifer. Seu pai é dono de uma empresa milionária, por que você precisa desse emprego? — Fiz a ela a pergunta que sempre quis fazer.

— Gosto do entusiasmo. Este trabalho me dá uma razão para viver, Chae. Novas tarefas significam novos lugares, riscos e aventuras. Não fui feita para dirigir uma empresa. Quero fazer as minhas próprias coisas. A Yunjin é mais voltada para os negócios. Ela é inteligente e pode ser dona de uma grande empresa algum dia.

— Algum dia?

— Quando ela sair do coma e tiver resolvido o seu problema. — lembrou. — Agora, Chae, sugiro que você pare de trabalhar por um tempo.

— Mas...

— Essa é a melhor opção se você não quiser ser morta. — disse Sana. — Estabelecemos o fato de que o assassino pode estar fazendo exatamente o oposto do que lhe disse, mas não podemos ter certeza. Talvez ele saiba o que estamos pensando e decida nos provocar.

— Um policial ficará do lado de fora de seu apartamento o tempo todo.

Eu não tinha escolha.

Tive que seguir as instruções de Jennifer.

[...]

Eu estava tendo dificuldade para dormir, como nas noites anteriores.

Esta noite, eu me lembrei de Ning em seu caixão. Ela parecia ter adormecido.

Tentei travar esses pensamentos e minha mente se voltou para Yunjin.

Quando me dei conta, ao abrir os olhos, eu não estava em casa.

Estava deitada em um campo.

Um campo cheio de rosas.

Eu não sabia onde estava, mas estava em algum lugar longe de casa.

O céu estava em um tom escuro de azul.

Uma mansão se erguia à distância.

E lá estava ela, segurando uma única rosa.

Yunjin.

Seus cabelos loiros estavam soltos, ela virou a cabeça para mim, com os olhos fixos em mim.

Ela sorriu.

Eu estava esperando por você, Chae.

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estamos entrando na reta final da fanfic, se preparem para mais confusões🕺🏻

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