Capítulo XXX

- Até que ela é bonita. - avaliou Lumena com os olhos presos na figura de uma Viviane aos risos com um grupo de pessoas.

- Bonita? A filha da mãe é linda, isso sim. Olha aquele cabelo, aquela pele, aquele sorriso, sem contar o corpo sarado que ela saiu desfilando daqui quando voltou pra mesa dela.

Lumena riu da resposta de Juliette. Estavam só as duas a mesa, já que Sarah foi ficar um pouco com Tom na água. O menino depois que soube que a bóia de orca era sua não queria mais sair da água. Já Bia e Penélope foram jogar vôlei com algumas garotas que acabaram fazendo amizade.

- Será que ela é casada ou tem alguém?

- Não vi aliança no dedo dela. E acho que ela não tem ninguém, porque a Sarah não comentou nada comigo.

- Mas a senhora chegou a perguntar?

- Não.

As duas ficaram mudas só observando a interação da ex de Sarah com seus acompanhantes. Ela parecia estar se divertindo bastante na companhia do grupo, pois ria a todo instante com eles.
 
- Até agora ainda não acredito que a senhora conseguiu ficar zen e não fazer uma cena igual ou até mais escancarada que a da dona Sarah ontem. Que foi? Resolveram mudar. A senhora passou a ser a ciumenta comedida e ela a mais escancarada é? - zombou Lumena.

- Vou me reservar o direito de nem te responder, Lumena.

Mais risadas vieram da parte da outra mulher, fazendo Juliette balançar a cabeça e sorrir de modo discreto.

❤️❤️❤️

A noite a família, juntamente com Penélope e Lumena foram curtir um passeio pelo centro da cidade. O lugar se encontrava bastante movimentado por conta de uma festividade local. Diversas barraquinhas montadas se espalhavam pela Rua das Pedras, principal rua do centro. E foi passando, justamente em frente a uma de tiro ao alvo, que Thomás avistou em meio aos grandes ursos de pelúcias que estavam na barraca, um avião grande. O modelo um 14Bis era idêntico a um modelo pequeno que o garoto tinha. Os olhinhos do menino ficaram encantados com o brinquedo grande e na mesma hora, Tom chamou a atenção das mães para a barraca, dizendo que queria o avião.

- Filho, ele não está à venda.

Juliette falou após o garoto lhe pedir para comprar o avião.

- Eu quero o avião grandão, mamãe! - o menino choramingou, escondendo o rosto na curva do pescoço de Sarah que o tinha em seu colo.

A mulher loira olhou para a esposa. Pelo seu olhar, Juliette soube na hora que Sarah  iria tentar ganhar o avião de qualquer jeito para não ver o filho triste.

- Meu menino... - Sarah chamou Thomás. O garoto ergueu o rosto do pescoço dela e olhou-a segundos depois. Sua cara tristonha cortou o coração de Sarah. - Olha, a mamãe vai tentar ganhar o avião pra você, mas tem que me prometer que se eu não conseguir ganhar, você não vai chorar ou ficar triste, está bem? - o menino após a fala da mãe exibiu um pequeno sorriso e com a cabeça concordou com o que foi dito por ela. - Ótimo! Então, agora você vai para o colo da tia Lu enquanto eu tento ganhar o brinquedo pra você.

Sarah passou o menino para Lumena que estava ao lado de Juliette. A esposa de Sarah sorriu e balançou a cabeça. Sua mulher não tinha jeito mesmo. Ela podia estar desmemoriada, mas ainda assim não deixava de ser a mesma mãe boba, que tentava satisfazer todas as vontades dos filhos, quando um deles lhe pedia algo.

Sarah se aproximou mais perto da barraca e perguntou ao rapaz que trabalhava nela, qual era a pontuação que tinha que fazer para ganhar o avião que tanto o filho queria.

- Esse brinquedo é um dos que estão entre a pontuação máxima, senhora. Tem que acertar todos os cinco tiros bem no alvo, pra conseguir aquela belezinha ali. - o rapaz que mascava chiclete, apontou para o avião.

- Acho bom o Thomás ir se contentando em ganhar outra coisa, porque acertar no alvo é difícil e acertar cinco tiros seguidos, é mais difícil ainda. - Penélope cochichou em tom de brincadeira a Bia que estava ao seu lado.

- Você tá por fora. A mamãe é muito boa no tiro ao alvo. - gabou-se a outra.

- Pois essa eu quero ver.

- Tenho que acertar todos os cinco tiros no centro do alvo? - certificou-se Sarah com o atendente da barraquinha.

- Exatamente, senhora!

Juliette balançou a cabeça. Sua mulher antes da perda de memória costumava ser muito boa no tiro ao alvo. Será que ainda continuava tão boa assim? Era torcer para que sim, pois tinha certeza que mesmo Thomás tendo prometido para a mãe não chora caso o avião não viesse, Juliette quase podia apostar em um pequeno chorôro do caçula.

- Vai, mamãe! - Tom gritou do colo de Lumena.

Por cima dos ombros Sarah deu uma olhada para trás na direção do menino e sorriu para Tom enquanto esperava o rapaz da barraquinha trazer as "munições" de festim para a espingarda em suas mãos. Tinha que conseguir ganhar aquilo para seu o menino. Por mais que tenha dito a ele para não ficar triste caso não ganhasse aquilo, desconfiava que Tom ficaria e por isso, tentaria acertar e dar a seu garoto o que ele queria.

Instante depois, com a arma carregada com a munição e o alvo mais adiante, Sarah fez sua mira e arriscou seu primeiro tiro, acertando bem no centro do alvo. Mais quatro tiros depois, ela recebia o tão desejado prêmio que seu filho queria.

- Aqui, filho, seu avião! - mostrou a caixa com o brinquedo para o menino.

- Mas eu queria aquele. - apontou o que estava na prateleira montado.

- É o mesmo, amor. Só que aquele está montado e esse ainda têm que montar. - Explicou Juliette ao garoto.

- Amanhã a gente monta quando chegar da praia, está bem? - propôs Sarah.

- Hãham!

- Tia Sah preciso lhe dizer que a senhora arrasou no tiro ao alvo. - comentou Penélope enquanto o grupo se afastava da barraquinha de tiro ao alvo. - Confesso que não botava muita fé que a senhora ia conseguir.

- Eu falei pra você que a mamãe era boa.

- Verdade. Ela falou. Mas mesmo assim fiquei com o pé atrás. E a senhora, tia Ju, botava fé na tia Sah?

- Tinha minhas desconfianças.

- Juliette! - protestou, vendo a esposa rir.

- Desculpa, amor, mas é a verdade.

A risada foi geral.

O grupo ainda deu mais algumas voltas pelo centro antes de fazerem uma parada para comer pizza. Depois foram para casa.

❤️❤️❤️

- Esses dias aqui estão sendo os melhores dias que já tive desde que acordei desmemoriada. - Sarah compartilhou com Juliette enquanto se acomodava ao lado da esposa na cama.

- Que bom. Pra mim também estão sendo dias perfeitos.  - Juliette tocou com a mão em concha o rosto da esposa.

- Pena que depois de amanhã acaba e a gente volta pro Rio.

A professora notou um ar preocupado tomar conta da expressão da esposa.

- Você não quer voltar pro Rio, Sarah?

A outra suspirou.

- Não exatamente. É só que voltar pra lá, me lembra que eu tenho a operação na cabeça para fazer.

- Você não quer fazer, não é?

- Sinceramente? - a professora assentiu. - Não, Ju!

- Mas ouviu o que pode lhe acontecer caso não a fizer.

- Eu sei. E isso me deixa apavorada. Perder a memória outra vez ou pior sofre um AVC. Ambas as consequências são terríveis.

- Então?

- Só que ainda sim fico com medo de fazer esse procedimento. Uma operação na cabeça é complicada.

- A Camilla disse que não há grandes riscos pra você.

- Mesmo assim. E se, de repente algo der errado e...

- Nem complete essa sua frase. - Juliette interrompeu a esposa, colocando dois dedos sobre os lábios dela. - Vai dar tudo certo, Sarah, acredite!

Com delicadeza, Sarah beijou os dedos da esposa que ainda permaneciam sobre seus lábios. Era tão bom tê-la ao seu lado com seu jeito sempre positivo de ver as coisas. Com ela tudo parece ser tão mais fácil e leve.

- Se você está dizendo, eu acredito então! - sorriu para ela.

Era incrível como ela lhe passava a confiança e a força necessária para enfrentar as coisas que viessem pela frente. Certeza de que se não fosse por Juliette estar ali ao seu lado, ela não tivesse se readaptado a sua nova condição de desmemoriada.

- Acho que nas últimas horas ainda não disse que te amo, ou disse? - questionou Sarah, roçando o polegar pelos lábios de Juliette.

- Hum... Que eu me lembre não!

- Pois então, eu te digo nesse instante que... Eu... - beijou a testa da esposa após a fala. - Te... - agora beijou o nariz, fazendo Juliette sorrir. - Amo... - passou reto pela boca para beijar seu queixo. -... minha vida! - sussurrou antes de beijar enfim os lábios da outra, sem lhe dar espaço para retribuir as palavras de amor.

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