Capítulo XXV

N/A: Salve, salve, minha gente!

Chegay com esse tão aguardado capítulo.

Simbora ler.

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- Por que me trouxe para passear aqui?

A professora lançou um olhar curioso à esposa enquanto andavam lado a lado e há uns bons minutos em silêncio pela orla à beira mar da Praia da Armação.

O calçadão muito bem iluminado, feito de pedras, tinha de um lado vegetação em algumas partes do percurso, em outras havia movimentados estabelecimentos como restaurantes e bares, e do outro lado havia a praia onde barquinhos coloridos e iluminados, flutuavam no mar tranquilo, dando aquela sensação de que a vida pode ser perfeita.

Logo que estacionou no início da orla após instrução da esposa, Juliette estranhou. Um passeio ali era algo que ela, certamente faria com a "sua Sarah" e não com a sua esposa desmemoriada, porém não comentou nada na ocasião.

- Um passarinho me contou que... - Sarah começou a falar enfiando as mãos nos bolsos da calça jeans enquanto observava um ponto qualquer a frente delas. - ... Esse é o lugar que sempre costumamos passear quando estamos aqui em Búzios.

Juliette sorriu, balançando a cabeça devagar, pois o que a esposa disse, era uma grande verdade!

Toda vez que vinham passar uns dias em Búzios, as duas mulheres davam um jeito de passear sozinhas por aquela orla à noite como faziam agora ou então um pouco mais cedo, mais precisamente ao fim do dia, para apreciar o belo pôr-do-sol que ali era espetacular.

- Aposto que esse passarinho que te contou atende pelo nome de Lumena, não é?

- Exatamente! - confirmou a outra mulher sorrindo e vendo a esposa abrir um largo e belo sorriso.

De tudo de encantador que Sarah foi redescobrindo em Juliette nesses meses de convivência, o sorriso da esposa era o que mais lhe encantava. Juliette tinha o sorriso mais lindo que já viu. Sarah passaria horas facilmente observando seu sorriso e ainda assim, não cansaria. Sem contar que ainda havia o som da sua risada. Era o som mais agradável e a melodia perfeita para seus ouvidos. Amava seu sorriso. Amava Juliette. E precisava criar coragem de dizer isso a ela.

- Vamos sentar um pouco? - a professora apontou em direção a um banquinho desocupado mais adiante.

- Claro!

As duas seguiram em silêncio até a direção apontada por Juliette. Com a ajuda de Sarah, a professora se acomodou ao banco, tendo a esposa se sentando ao seu lado logo em seguida. As duas mulheres ficaram por um breve instante em silêncio enquanto observavam os barquinhos se movimentarem suavemente com o balanço da maré.

- Gosto muito de vir aqui... - confessou Juliette em determinado momento. - É calmo e ótimo pra observar as estrelas! - ergueu o rosto para o céu. Ao seu lado Sarah lhe imitou.

- Está um céu bonito! - comentou a loira admirando o céu estrelado que ainda contava com uma bela e prateada lua. Sarah então ouviu a esposa suspirar alto. Desviando o olhar do céu, a mulher encarou o perfil bonito do rosto da morena.

- Sabe... Quando eu era menina... - começou a falar a professora sem deixar de encarar o céu estrelado enquanto que sua esposa não deixava de encara-la. - Antes de dormir, costumava ir com meu pai todas as noites para o quintal de casa para observarmos as estrelas. - inevitavelmente um sorriso saudosista lhe escapou pela bonita lembrança de tempos que,  infelizmente não voltam mais. - Nós deitávamos sobre a grama verdinha e ficávamos por um longo tempo somente olhando para o céu. Lembro que ele me falava o nome das constelações e me contava muitas histórias a respeito delas.

- Parecia ser divertido.

- E era! Nós tínhamos a mania de brincar de encontrar formas geométricas ou desenhos aleatórios que as estrelas formavam, enquanto estávamos juntos admirando o céu. Fizemos isso por quase três anos, mas... depois paramos.

Sarah pode ver os olhos da esposa ficarem marejados enquanto ela não os tirava do céu.

- Por que tiveram que parar? - a economista não resistiu em indagar.

- Porque meu pai morreu. - contou com tristeza.

Ela só tinha nove anos quando Afonso perdeu a vida por imprudência de um motorista inconsequente, que dirigia uma camionete. O sujeito avançou o sinal em um cruzamento e acabou atingindo em cheio ao pai de Juliette que não teve nem poder de reação, vindo a morrer na hora. 

- Ele foi atropelado quando voltava do serviço pra casa

Sarah observou a esposa derramar uma lágrima ao lhe partilhar aquilo. Sentiu-se mal por ter feito Juliette trazer à tona uma lembrança dolorosa como aquela.

- Sinto muito, Ju.

Ela assentiu, enxugando a lágrima que corria por seu rosto.

- Depois da morte dele - a professora voltou a se pronunciar. - Eu não quis mais observar as estrelas. Perdi completamente a vontade e o interesse de fazer isso. Durante alguns anos, eu sequer tive coragem de olhar para o céu a noite, porque isso me lembrava do meu pai e de que eu não tinha mais a companhia dele para admirar as estrelas. Só voltei a olhar para o céu a noite e voltar às estrelas, depois que você e eu começamos a namorar.

Juliette finalizou, olhando para Sarah e encontrando os olhos coloridos da esposa fixos nela.

- Lembro-me perfeitamente da noite em que isso aconteceu. - sorriu ao se recordar de tal momento especial. - Era sábado. Nós tínhamos ido ao cinema e depois fomos comer uma pizza. Na volta para casa, você disse que queria me mostrar um lugar e me levou até o Mirante Dona Marta e lá me confessou que gostava muito de ir aquele lugar, porque adorava observar as estrelas. Inevitavelmente lembrei de mim e do meu pai, e lhe contei sobre a gente e que já tinha anos que eu não olhava para as estrelas por conta da morte dele. Aí, você de um jeito tão fofo me perguntou se eu te aceitava como companhia para olhar as estrelas a partir daquela noite.

Sarah observou a esposa sorrir tão lindamente que seu coração chegou a dar uma cambalhota dentro do peito. Precisava confessar aquele amor que já sentia por ela. Precisava o quanto antes. Não podia mais omitir aquele sentimento da esposa.

- Eu fiquei surpresa na hora e quase cheguei a recusar a proposta, mas fiquei sem coragem alguma disso e acabei cedendo. Depois de anos consegui olhar para o céu novamente e admirar as estrelas sem me sentir triste, porque você estava lá do meu lado. - Juliette olhou de relance para a esposa com um sorriso lindo nos lábios rosados e os olhos marejados de emoção. - E daquela noite em diante, em todas as outras que me pus a admirar o céu estrelado ao longo desses mais de quinze anos que estamos juntas, você esteve comigo em casa ocasião.

- Queria poder me lembrar dessa noite há mais de quinze anos e de todas as outras que vieram depois dela. - sussurrou Sarah tão baixinho que Juliette sequer escutou.

- A lembrança dessa noite no Mirante Dona Marta é umas das muitas lindas lembranças que guardo nossas. - proferiu a professora. - Uma pena que você não a tem mais em sua memória. Mas tenho esperanças que você vai recuperá-la e aí voltará a lembrar de todos os momentos lindos e importantes da nossa vida. E principalmente, vai voltar a lembrar que me ama.

- Eu não preciso mais recuperar a memória pra me lembrar do nosso amor! - declarou Sarah.

No mesmo instante os olhos castanhos encontram-se com os verdes e Sarah teve mais certeza de que não podia mais esconder seus sentimentos pela esposa. Tinha que declarar seu amor pela mulher ao seu lado. Seu coração pedia aos berros por isto.

- Amo você, Ju!... E nem foi preciso recuperar a memória pra me lembrar disso!

A boca da professora se abriu e fechou-se umas três vezes e em nenhuma saiu qualquer palavra.

- Não aguentava mais guardar esse sentimento só pra mim. - prosseguiu Sarah diante do mutismo da outra. - Dia após dia você foi me conquistando. Eu fui vendo a mulher especial, a mãe amorosa e a esposa atenciosa e dedicada que você é, e... simplesmente... me apaixonei!... Me apaixonei perdidamente por você, Juliette.

Aquela altura, a professora mantinha os olhos fixos na esposa, sequer piscava. Juliette tinha medo de que se fizesse isso tudo ali desaparecesse e ela acabasse, descobrindo que a declaração de amor de Sarah não passava de um delírio.

- Eu te amo! - confessou, tomando o rosto da outra entre suas mãos e olhando bem no fundo daqueles olhos castanhos, que no momento se encontravam envolto em lágrimas.

As três palavras que tanto a professora ansiava ouvir de Sarah, mas que erroneamente pensava que só fosse voltar a escutá-las quando esta se recuperasse, acabavam de ser proferidas pela loira com uma verdade que estava explícita em seus esverdeados olhos.

- Me ama? - ela precisava ter certeza de que tinha sido realmente aquilo que ouviu, que não era um sonho ou alucinação da sua cabeça.

- Como diz aquele personagem do filme que o Tom tanto adora assistir... Ao infinito...

- E além! - completou Juliette rindo e deixando rolar por seu rosto as lágrimas que haviam se acumulado em seus olhos.

- É exatamente assim que eu amo você: ao infinito e além, Ju. - confirmou, enxugando com os polegares as lágrimas da esposa.

- Eu também te amo, exatamente assim, Sarah. - acariciou o rosto da outra. - Você e nossos filhos são tudo pra mim!

- Vocês também se tornaram tudo pra mim. Amo vocês três! Ops... Cinco com os dois que estão na sua barriga.

Ambas sorriram em uma genuína alegria e felicidade pelo momento. Mas assim que o riso cessou poucos instantes depois, e os olhares se desviaram por uma fração de segundos apenas para encarar os lábios uma da outra, para então se reencontrarem. A vontade de selar aquele momento com um beijo, estava ali explícita e refletida em seus olhos, como se fossem dois espelhos.

Partiu de Juliette a iniciativa de aproximar lentamente seu rosto do de Sarah. Quando já estava bem pertinho de seus lábios, fitou por um segundo apenas os olhos verdes, e logo depois, juntou sua boca a da esposa em um beijo que de início não passou de um singelo tocar de lábios tímidos.

Sem pressa e timidamente, as bocas foram se abrindo e se ajustando até se encaixarem perfeitamente uma a outra como costumava ser em um passado não tão distante. E quando as línguas se tocaram, foi como se o tempo parasse para que elas não tivessem qualquer distração enquanto estavam tendo seu segundo "primeiro beijo".

Juliette desliza as mãos pelos braços de Sarah e agarra a outra enquanto suas línguas se acariciam e se saboreiam.

Um gemido abafado escapou do fundo da garganta de ambas ao serem tomadas pelas mesmas sensações e emoções de quinze anos atrás, com a ressalva de que agora estavam sendo mais intensas do que foi no passado ao darem o primeiro beijo.

- Céus! - deixou escapar a loira, descansando suas testa a da esposa ao final do beijo. - Acho que nunca senti o coração batendo tão acelerado assim desde que acordei desmemoriada. - compartilhou  com a respiração desregulada.

- Nem eu. - sorriu a professora.

- É tão bom beijar você.

Ela beija os olhos de Juliette, uma pálpebra de cada vez, para então seus lábios buscarem pela segunda vez os da esposa, provando e explorando sua boca, colocando no beijo todo seu amor e ânsia no ato, ao que Juliette retribui da mesma forma e intensidade.

Depois desse novo beijo ainda vieram outros mais ao longo dos minutos que permaneceram naquele banco namorando alheias ao mundo a sua volta. Então, elas retomaram o passeio. De mãos dadas seguiram o passeio pela orla trocando conversas e alguns beijos apaixonados. 

Ao final do passeio, elas se encontravam no píer do centro onde havia um número razoável de pessoas e famílias por ali, aproveitando o lugar para bater fotos, apreciar a vista ou namorar, no caso dos casais como elas.

- Me diz que eu não tô sonhando? - sussurra a professora após um novo beijo trocado com a esposa.

- Você não está sonhando. - ajeitou atrás da orelha da outra uma mecha castanha de seu cabelo que caiu sobre seu rosto.

Sarah beija Juliette de novo, tentando afastar seus lábios com a língua e encontra a ponta da língua da outra.

Um gemido saí do fundo da garganta de ambas e seus corpos são tomados pelo tesão.

Uma vida se passou desde que seus lábios se uniram até se separarem e suas testas se juntarem. As respirações bastantes ofegante e os corações batendo descompasadamente. Um vendaval de sensações e um desejo enorme de ir além do que o beijo.

- Vamos pra casa? Quero ficar sozinha com você! - foi tudo o que a loira conseguiu murmurar após recuperar o fôlego.

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