Capítulo XXII
Já era noite quando Lumena estacionou em frente a casa de dois andares e fachada amarela, a cor preferida da mãe de Sarah.
- Graças a Deus chegamos. Minha bunda já estava ficando quadrada de tanto ficar sentada. - reclamou Penélope fazendo a maioria rir de seu comentário.
- O banco é macio. Deixa de reclamar. - ralhou Bia saindo do carro na frente da amiga que para variar saiu em resposta com outro comentário espirituoso.
- Essas duas nem parecem que são amigas. - comentou Sarah rindo enquanto desafivelava o cinto da cadeirinha de um Thomás agoniado para sair.
- Elas são assim mesmo.
- Calma, Tom.
Assim que soltou o filho, o garoto pulou para fora do carro. Logo em seguida a ele desceram Sarah e Juliette.
Enquanto encarava a fachada bonita e bem conservada da casa por longos segundos, Sarah buscava na mente lembranças de coisas ali vividas. Juliette havia lhe dito que viveu até seus dezoito anos naquela casa antes de se mudar para o Rio para cursar a faculdade. Infelizmente não lhe ocorreu de lembrar nada enquanto seus olhos verdes encaravam a casa, tampouco despertou-lhe nada estar diante do imóvel. Era como se estivesse olhando uma casa qualquer.
Postada ao lado da esposa, Juliette a observava atentamente e não deixou de perceber o olhar perdido da outra.
- Ei! Está tudo bem? - Juliette tocou carinhosamente o ombro da esposa.
Sarah olhou para a esposa e assentiu, forçando um sorriso. A loira voltou a encarar a casa.
- Vamos entrar?
A outra concordou.
Ao estar na sala do imóvel olhou cada canto daquele lugar, esforçando-se para lembrar de algo, no entanto mais uma vez não obteve sucesso. Isso lhe deixou outra vez frustrada.
- O que achou? - Juliette questionou ao parar ao lado da esposa enquanto os demais descarregavam suas coisas na sala. Desde que entraram, a mulher estava observando a esposa sem que a outra notasse. Havia um resquício de esperança na professora de que aquela casa despertasse ao menos uma mínima lembrança em Sarah.
- Bonita!
- Alguma lembrança daqui? - arriscou esperançosa.
- Não. Mas, só de estar aqui senti uma sensação forte de Déjàvú. E foi tão forte, que por um momento pensei que ia me lembrar de algo, mas infelizmente isso não foi possível.
A mulher deixou um suspiro de decepção escapar. Aquela situação era tão incômoda. Queria saber quando aquilo ia terminar. Quando ia lembrar de tudo. Não aguentava mais aquele branco sobre seu passado.
- O fato de ter tido essa sensação de déjàvu já me parece um bom sinal, Sarah. - Juliette se encheu de esperanças. Quem sabe, nem tudo estivesse perdido. - Ainda que não tenha se lembrado de nada agora, quem sabe amanhã ou depois isso não aconteça?
- Será?
- Claro! Essa casa é cheia de recordações somente suas e algumas nossas.
Sarah observou na estante uma foto em que estava abraçada com uma mulher mais velha com um sorriso bastante parecido com o seu, assim como os olhos que eram tão verdes quanto os seus.
- Essa era minha mãe, não era? - apanhou o porta retrato.
- Sim! - afirmou a esposa chegando bem mais perto de Sarah para olhar a foto que a esposa segurava.
- Temos a mesma cor dos olhos. - comentou, observando a foto.
- E o mesmo sorriso. Você se parece bastante com ela!
A loira olhou para a esposa e sorriu, devolvendo o retrato ao lugar.
Ao lado de onde estava esta fotografia, havia outra que trazia a economista com os filhos quando as crianças ainda eram menores. Há alguns centímetros de distância havia outra só dela com Juliette, onde elas estavam abraçadas tendo a praia como paisagem de fundo. Também haviam mais outras fotos por ali. Eram várias espalhadas pela estante e em todas elas, Sarah notou que seu sorriso era gigantesco e brilhante. Aquelas fotografias assim como as que tinha visto na outra casa só reforçavam o quanto Sarah era feliz com sua família antes do caos da amnésia vir e roubar esta felicidade deles.
Juliette resolveu deixar a esposa um pouco a sós enquanto a loira "explorava" a casa sozinha e foi se encarregar de organizar as coisas juntamente com Lumena. A morena pediu a Bia que ela e Penélope subissem para guardar seus pertences no quarto da filha, o qual as duas adolescentes dividiriam. Thomás dividiria seu quarto com Lumena para não dormir sozinho, já que naquela casa não tinha quem o fizesse dormir só no quarto.
Um bom tempo depois com as coisas arrumadas, o grupo jantava uma refeição leve e feita rapidamente por Lumena e Juliette. Depois do jantar não tardou muito para todos se recolherem e dormir, já que estavam cansados da viagem cansativa e a manhã pretendia descer cedo para praia.
❤️❤️❤️
Sarah acordou pela manhã e sem surpresa notou a ausência da esposa na cama, já que quase sempre a outra acordava primeiro que ela. Se espreguiçou e ainda levou alguns minutos enrolando antes de por fim se levantar. Fez sua higiene matinal e desceu para encontrar Juliette que com certeza já devia estar na cozinha com Lumena preparando o café. Ao chegar lá não encontrou ninguém e a mesa nem sequer estava posta. A loira estranhou. Saiu da cozinha e chamou pela esposa, pelos filhos e por último por Lumena, mas ninguém respondeu. Preocupou-se.
"Será que saíram?", Pensou parada no meio da sala com as mãos na cintura. Juliette não sairia sem avisá-la. Sem chance!
Lembrou do quintal e ia rumar para lá quando avistou um bilhete sobre a mesinha ao lado do sofá. Em três passadas já estava ao lado do móvel e apanhando o papel.
"Sarah, eu sinto muito, mas cansei dessa situação. Essa foi a minha última tentativa de fazê-la se lembrar de algo, só que assim como as outras todas não foi bem sucedida. Então decidi parar por aqui. Não posso mais suportar o fato de você não se lembrar de mim, dos nossos filhos, da nossa vida e principalmente, do nosso amor. Estou indo embora e levando junto comigo Bia e Thomás. A partir de agora você está por sua conta. Espero que um dia se recupere de verdade.
Adeus,
Juliette."
Ela sentiu como se o chão não existisse mais sob seus pés. Cambaleou e só não caiu no chão porque se apoiou ao braço do sofá.
Aquilo não podia estar acontecendo!
Juliette não pode tê-la abandonado desse jeito e ainda por cima, ter levado os filhos delas junto.
- Não!... Não!... NÃO! - gritou em desespero.
Sarah acordou em um sobressalto e se sentou assustada na cama. Soada, com o coração que parecia querer saltar pela boca e a respiração ofegante. A economista levou uma das mãos ao peito, fechou os olhos e respirou fundo, buscando se acalmar.
Foi só um pesadelo, um terrível pesadelo.
Pior que pareceu tão real que por um momento lhe fez acreditar que fosse verdade. Tão real que ela sentiu um medo e também uma dor profunda na alma de que aquilo pudesse vir a acontecer num futuro não tão distante.
Não fazia idéia de como seria sua vida se um dia, por ventura, Juliette se cansasse da sua situação e resolvesse lhe abandonar como fez no pesadelo que acabou de ter.
"Eu morreria se isso acontecesse!", Pensou.
Ela abriu os olhos e só então percebeu a ausência da esposa na cama. Olhou em imediato para o rodapé da porta do banheiro para ver se a fresta denunciava algum fecho de luz que deixasse evidente a presença de Juliette por ali, talvez, vomitando o jantar, mas nada, a luz estava apagada.
"Não pense besteira. Talvez ela tenha ido a outro banheiro!", Uma voz soprou ao ouvido da economista.
Ultimamente para não lhe acordar durante a madrugada enquanto vomitava, Juliette pegou o costume de ir a outro banheiro que não fosse o que fica anexo ao quarto em que dormiam.
Sarah se levantou, calçou seus chinelos, vestiu o robe por cima do pijama e saiu do quarto sem saber ao certo para onde ir. Ela não conhecia aquela casa direito ainda. Mesmo assim se aventurou em procurar a esposa altas horas da madrugada pela casa desconhecida.
Indo por um corredor, encontrou um banheiro no fim dele só que nada de Juliette estar ali. Começou a se preocupar com aquilo. E inevitavelmente pensou no pesadelo.
Não. Ela não faria isso. Foi só no pesadelo!, Repetiu a si mesmo enquanto caminhava.
Resolveu ir até a cozinha, quem sabe ela não tenha ido beber água como às vezes fazia. Desceu e ao passar pela sala não resistiu em olhar na mesinha. Nada de bilhete. Graças a Deus! Seguiu pelo corredor que levaria à cozinha, quando já estava se aproximando da porta do cômodo ouviu a voz da esposa e também a da filha.
- Nossa, Bia, isso está delicioso. - a garota riu com gosto, vendo a mãe "devorar" o brigadeiro que tinha feito para ela momentos atrás. - Só sua mãe e você sabem fazer isso divinamente.
- E olha que fiz morta de sono. - a garota coçou os olhos.
Juliette olhou com remorso para a filha por tê-la acordado no meio da madrugada para vir lhe preparar aquele doce.
- Desculpa ter te tirado da cama em plena madrugada para fazer isso para mim, meu amor. Se sua mãe não estivesse com amnésia, ela mesma teria vindo satisfazer o meu desejo de grávida. - ela falou com certa tristeza na voz.
- Não fica assim, mãe. - a adolescente deu a volta na mesa e abraçou Juliette pelos ombros, e beijou seu rosto. - A mãe vai ficar boa logo!... E olha, enquanto ela estiver assim sem poder realizar seu desejo por brigadeiro, pode me acordar quantas vezes precisar que eu vou fazer isso pra senhora sem problema algum, certo?
- Obrigada, meu amor... Amo você! - beijou o rosto da filha.
- Eu também amo a senhora!
Escorada a parede ao lado da porta, Sarah ouviu aquele diálogo e sentiu-se mal, porque por causa dessa sua maldita amnésia não podia nem satisfazer o desejo da esposa e pior, ainda havia esquecido toda sua vida.
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