Capítulo X
Assim que descobriu o quão febril estava Juliette, Sarah sentou-se atrás das costas da esposa e começou a chamá-la devagar. Foi só após o terceiro chamado que Juliette acordou e virou-se para a esposa.
- Sarah? - a voz anasalada estava mais evidente agora. - O que foi?
- Você está com febre. E ao que parece, muita febre, Juliette. Me diz o que está sentindo?
A outra mulher tentou dissipar a preocupação da esposa, forçando um sorriso e dizendo a ela para não se preocupar que estava bem apesar da febre. Mas Sarah não se convenceu e insistiu para que Juliette dissesse o que sentia. Sem outra escolha, a morena acabou por falar a verdade.
- Minha cabeça, meu corpo e minha garganta estão doendo demais.
Ouviu a outra suspirar pesadamente quando contou. E antes que pudesse lhe dizer algo foi tomada por uma crise de tosse, que só fez Sarah se preocupar mais ainda com seu estado de saúde.
- Céus! Olha só no que deu, ter vindo naquela chuva toda ontem, Juliette!
Era mais um lamento do que uma reclamação.
- É só um resfriado, Sarah, logo passa. - outra vez tentou dissipar a preocupação que via na esposa. Mas a julgar pela cara dela enquanto lhe olhava, não havia conseguido de novo ser bem sucedida na ação.
Lumena apareceu na porta do quarto. Preocupada com a demora de Sarah em voltar para a cozinha, por isso a outra mulher subiu para saber o que tinha acontecido.
- O que houve dona Sarah?
- Ela está com muita febre, Lumena. - informou, olhando por cima dos ombros na direção da mulher parada na porta do quarto.
Assim que ouviu isso de Sarah, Lumena entrou no quarto depressa e chegou perto de Juliette. Tocou em sua testa com as costas da mão esquerda e se assustou ao sentir o quão febril a patroa estava.
- Minha nossa, está fervendo!
- Eu acho que estão exagerando. Só estou com um pouco de febre.
- Não está não, Juliette. Você está muito febril! ... Lumena tem algum remédio pra darmos a ela pra baixar essa febre?
- Tem sim. Vou buscar agora mesmo! - Lumena saiu as pressas do quarto para buscar o medicamento e um copo de água.
- Detesto tomar remédio! - Juliette reclamou de olhos fechados.
- Bom... Mas você vai ter que tomar senão como vai melhorar? - havia agora um tom calmo e sereno na voz de Sarah ao falar.
Juliette abriu os olhos e encarou a esposa com uma das sobrancelhas erguidas. Sarah simplesmente tinha acabado de usar as mesmas palavras que costumava lhe dizer, quando ela ficava doente e se recusava a tomar remédio, como agora.
- O que foi? Disse algo de errado? - Sarah olhava confusa para Juliette.
A morena não teve oportunidade de responder, já que Lumena retornou ao quarto naquele instante munida de um comprimido e um copo de água.
- Aqui o remédio. - Lumena entregou a Sarah.
A loira repassou o comprimido e a água para Juliette após ela se sentar na cama. A contragosto a morena tomou a medicação e fez uma careta após engolir o comprimido.
- É amargo isso! - reclamou, entregando o copo de água a Lumena.
- Mas é um excelente remédio, senhora. - Lumena falou, pegando o copo. - Agora tem que se cobrir toda pra que soe e assim a medicação faça efeito.
- Lumena está certa. Você tem que se cobrir.
Sarah puxou o cobertor sobre Juliette após ela deitar novamente, cobrindo-a com cuidado. A morena estava gostando daquela atenção e preocupação toda que a esposa demonstrava com ela.
Lumena que havia sido a 'causadora' daquilo ao contar a Sarah sobre o estado da esposa, resolveu sair dali para deixar as duas sozinhos.
- Eu vou descer pra cuidar do serviço. Se precisar de algo é só me chamar, dona Sarah.
- Tudo bem. Ah, e se quiser tirar a mesa do café pode fazer isso. Vou ficar um pouco aqui com Juliette, depois desço e como qualquer coisa.
- Sim, senhora.
- Ainda não tomou café?
Juliette indagou a loira após Lumena ter saído do quarto, deixando-as sozinhas.
- Não. Ia fazer isso quando a Lumena me contou que você não estava bem. Então resolvi vim aqui pra ver como estava após sugestão da Lumena
- Eu pedi a ela que não contasse nada a você pra justamente não te preocupar, mas acho que falei grego e ela não me entendeu, porque simplesmente não fez o que pedi.
Ia se lembrar de chamar a atenção de sua ajudante por isso. Se bem que se ela não tivesse lhe contrariado, não estaria sendo 'cuidada e paparicada' pela esposa daquele jeito.
- E ainda bem que ela não fez mesmo o que você pediu, porque senão nós não descobriríamos que estava ardendo em febre.
- Isso é só um resfriado que logo irá passar, vai ver. Não precisa ficar preocupada comigo.
- Mas eu fico!
As três palavras eram para ter ficado somente em seu pensamento, mas quando viu Sarah já as tinha externado a meia voz, mas ainda assim audível aos ouvidos de Juliette.
Com isso o quarto caiu em um silêncio enquanto um par de olhos castanhos encarava com surpresa um par de olhos verdes assustados pelo que disse.
Juliette não esperava ouvir o que ouviu de Sarah. Confissões como aquelas eram típicas da sua Sarah, o seu amor e não da Sarah desmemoriada.
Já Sarah estava assustada por ter dito o que disse com tamanha naturalidade para a esposa, tendo em vista a situação complicada que viviam pela sua falta de memória.
A cabeça podia não lembrar... Mas a preocupação com a esposa estava ali... Dentro dela, gritando escondida no vazio de uma mente em branco.
- Eu... Acho que seria bom você dormir um pouco para o remédio... Fazer efeito mais rápido. - Sarah se pronunciou, quebrando o silêncio entre elas, e desviando o olhar de Juliette. Sentia que os olhos da outra lhe intimidavam de um modo que não sabia explicar.
Juliette percebeu o desconforto da esposa, mas decidiu não dizer nada a respeito daquilo para não deixá-la mais desconfortável ainda.
- Tem razão. Vou fazer o que disse.
- E eu vou ficar aqui do seu lado pra caso precise de algo.
- Sarah não há necessidade. - ela deu um meio sorriso.
Pelo visto sua esposa estava mesmo preocupada com ela e aquilo era lindo de ver. Parecia até a sua Sarah de sempre cuidando dela como habitualmente fazia em situações dessas.
- Não quer que eu fique aqui?
Um misto de decepção com ressentimento se fez presente em sua voz ao imaginar que sua presença ali estivesse incomodando Juliette e que por isso, ela estava lhe dispensando.
- Não é isso. - Juliette esticou a mão e tocou a de Sarah que descansava sobre o colchão. - Você pode ficar se quiser, mas... Olha, eu vou dormir, por que não aproveita e desce pra tomar seu café? Aí, depois se você quiser, volta e fica aqui. Eu vou ficar bem. Já tomei o remédio e logo essa febre baixa mesmo.
- Tudo bem então. Vou descer pra tomar meu café, mas depois volto.
- Está bem! - ela lhe sorriu.
- Não demoro.
Juliette apenas assentiu.
Sarah saiu do quarto e com pressa foi rumo a cozinha tomar seu café como combinado com Juliette.
- E a dona Juliette? - Lumena quis saber ao notar a entrada de Sarah na cozinha.
- Disse que ia dormir e me pediu pra vir tomar café. Depois eu volto para ficar com ela no quarto.
- É bom mesmo que fique lá com ela para a dona Juliette não ficar sozinha. - Sarah assentiu. - Vou pôr a mesa de novo.
- Não precisa. Você está ocupada aí, lavando louça. Só me diz onde ficam as coisas que eu pego.
Lumena foi indicando onde estavam todas as coisas e Sarah foi pegando o necessário para o seu café. Enquanto fazia a refeição conversava com Lumena sobre trivialidades.
Quinze minutos depois já estava de volta ao quarto, acomodada do outro lado vazio da cama e observando tão compenetrada Juliette dormindo, que levou um pequeno susto ao escutar um celular tocar atrás de si, sobre o móvel ao lado. Mais que depressa pegou o aparelho e atendeu a chamada de qualquer jeito antes que o som vindo do celular acordasse Juliette.
- Alô! - disse em tom baixo e saindo da cama com cuidado para não acordar Juliette.
- Sarah!... Oi! - uma voz feminina cumprimentou-a do outro lado da linha.
- Oi. Quem está falando? - por cima dos ombros, Sarah lançou um olhar na direção de Juliette que se remexeu na cama e resmungou algo, que a loira não entendeu por estar distante da esposa.
- É a Vitória. Sou amiga da Juliette... Como você vai, Sarah? - perguntou com certa hesitação. Juliette havia lhe dito sobre Sarah não se sentir confortável sobre outras pessoas saberem sobre seu problema. Deste modo, Vitória achou melhor não questionar diretamente sobre a amnésia da outra mulher.
- Bem... Na medida do possível.
- Que bom!
Para Vitória estava sendo tão estranho aquele modo de conversar com Sarah. Em outras tempos a esposa de sua amiga já estaria lhe dirigindo algum comentário provocativo e Vitória estaria lhe respondendo a provocação a altura. Esse era o jeito delas se falarem, trocando provocações com respeito e de forma saudável.
- Eu preciso falar com a Juliette. Poderia passar o telefone a ela?
Sarah lançou outro olhar a esposa adormecida. Uma mecha escura de seu cabelo cobria parcialmente o rosto dela.
- É que a Juliette está dormindo. - informou. - Ontem ela pegou chuva e hoje quando acordou não estava muito bem. Provavelmente um resfriado. Tomou um remédio e dormiu.
- Ou! Melhoras pra ela então. Se é assim, mais tarde, eu ligo para falar com ela. Pode avisar que liguei?
- Claro!
Elas se despediram e a ligação foi finalizada.
Voltando para perto da cama, Sarah devolveu o celular para seu lugar, mas antes não deixou de ficar encarando por alguns segundos a foto na tela enorme do aparelho. Era uma selfie de Juliette e ela com os lábios colados em um beijo, ao fundo uma praia e um belo pôr-do-sol.
"Parecemos tão apaixonada!"
Tirando os olhos da imagem no celular e repousando o olhar agora na figura da esposa dormindo, que aquela altura já possuía algumas gotículas de suor formando-se em sua testa, sinal de que o remédio estava começando a fazer seu efeito. Sarah se questionou se caso suas memórias não voltassem, ela seria capaz de um dia amar aquela mulher de maneira tão apaixonada quanto as fotografias que já viu delas transmitiam.
Talvez não fosse tão difícil disso acontecer, já que em poucos dias Juliette já deu mostras de ser uma pessoa cativante e encantadora. Mas e se não acontecesse?
"Se eu não conseguir me apaixonar e te amar da mesma maneira de antes, Juliette?"
Como aquele casamento delas se sustentará?
Como as coisas irão ficar?
Ela não tinha a menor ideia, porque o futuro era uma incógnita cruel, plantando dúvidas, gerando incertezas e trazendo medo... Muito medo, ao menos para Sarah.
A loira ainda permaneceu no quarto com Juliette se remoendo em questionamentos enquanto estava atenta a qualquer movimento da esposa, por um período razoável até resolver sair, deixando Juliette a sono mais que profundo.
Sem vontade para ficar sozinha em seu quarto se martirizando com perguntas das quais ainda não sabia as respostas, Sarah voltou para a cozinha e ficou lá conversando com Lumena enquanto ela preparava o almoço. Volta e meia ia lá no quarto de Juliette ver como ela estava, se sua febre já tinha passado ou se a mulher havia acordado.
❤️❤️❤️
- Deve ser a Bia e o Tom que chegaram da escola. - Lumena comentou com Sarah ao escutar a buzina conhecida da van soar baixa, vindo lá da frente da casa.
Uns segundos depois elas viram os dois irmãos entrarem pela outra porta da cozinha que dava acesso para os fundos da casa.
- Tia Lu, eu já tô de férias! - Thomás falou todo empolgado e indo abraçar a mulher que logo o carregou.
- É por isso que está contente desse jeito?
- Um pouquinho! - o garoto respondeu com um sorriso travesso.
- Um pouquinho? - Bia falou rindo. - Tia Lu, ele veio falando o caminho todo dentro da van que estava de férias. - a jovem contou ainda rindo.
- Pensei que gostasse de ir a escola Tom?
- Eu gosto, tia, mas é que agora vou poder acordar tarde.
Ele tinha dificuldades para acordar cedo. Tanto que Juliette tinha todo um jeito especial de acorda-lo para que não houvesse birra ou manha de sua parte.
- Ah, sim!
Do banco do outro lado do balcão ilha, Sarah observava calada aos filhos falarem alegremente com Lumena. Eles pareciam gostar muito da mulher pelo que ela percebeu. E Lumena também gostava muito deles, segundo a ajudante lhe contou em um dos vários assuntos que conversaram ali na cozinha, aqueles dois ali se tornaram seus filhos postiços.
Lumena percebendo que Sarah não tirava os olhos dos dois filhos com ela, chamou a atenção das crianças, que nem haviam falado com a mãe até agora.
- Ei, não vão falar com a mãe de vocês não? Ela está bem aqui, sabia? - com o rosto, Lumena apontou Sarah a frente deles.
- Oi, mamãe! - os dois apenas disseram juntos.
Em outros tempos, eles fariam a volta no balcão ilha e iriam até Sarah abraçar a mãe e certamente, ganhariam beijos e abraços apertados dela. Mas a amnésia de Sarah roubou esse momento de carinho tanto dos pequenos quanto da loira.
- Oi! - ela saudou os dois de maneira simples como foi saudada pelos filhos.
- Cadê a mãe?
- Está dormindo, príncipe. - Lumena respondeu. - Ela tomou um remédio porque não estava se sentindo bem por conta da chuva que pegou ontem.
- Bem que imaginei que fosse isso. Ela não parecia nada bem de manhã enquanto preparava o café. - recordou-se Bia. - Perguntei o que tinha, mas ela mentiu, dizendo que estava bem.
- Típico dela para não preocupar ninguém. - Lumena resmungou com um balançar de cabeça.
- A mãe tá dodói?
- Está, meu príncipe.
- Eu quero ir lá com ela.
- Depois, Tom. - Lumena falou aquietando o garoto em seu colo. - É melhor deixar sua mãe repousar senão o remédio não vai fazer efeito. Depois, quando ela acordar, você vai lá ao quarto vê-la.
- Tia Lu tem razão, Tom. Deixa a mãe descansar pra ficar boa.
- Ela vai ficar boa logo, não é Bia?
- Vai sim.
- Então eu vou esperar que ela acorde pra ir lá no quarto.
- Isso mesmo. Agora você e sua irmã subindo para seus quartos, tirar essa roupa.
Lumena desceu Tom de seu colo e o colocou no chão.
- Bia ajuda seu irmão a tirar o uniforme dele pra mim, por favor, querida?
- Ajudo, sim tia. Vem Tom! - a garota segurou na mão do irmão.
- Depois desçam pra almoçar certo?
- Certo! - os dois responderam juntos.
Sarah observou os filhos saírem da cozinha de mãos dadas e conversando sobre a mãe doente.
- Eles são bastante obedientes, não é?
- Sim!
Alguns instantes depois Sarah e os filhos estavam almoçando em silêncio. Enquanto eles comiam, Lumena subiu até o quarto de Juliette para levar algo para patroa almoçar. Entrou no cômodo e encontrou Juliette sentada à beira da cama.
- Fiz uma sopa pra senhora. - ela mostrou a bandeja em suas mãos.
- Obrigada, Lumena, mas estou sem um pingo de fome.
- Mas tem que comer nem que seja um pouco, dona Juliette. Não pode ficar sem nada no estômago.
- Eu sei, só que...
Lumena viu Juliette ficar de pé, cambalear um pouco e voltar a se sentar na cama com tudo. Mais que depressa a outra mulher largou a bandeja em cima da cômoda e foi até a patroa.
- O que foi dona Juliette? - agachou-se preocupada em frente a ela.
- Uma tontura. - disse de olhos fechados tendo uma das mãos sobre a testa.
No momento em que ficou de pé, ela viu tudo ao seu redor começar a girar, as pernas perderam a força e mais que de pressa, resolveu se sentar de novo na cama para não cair no chão.
- Essa tontura deve ser porque não comeu nada até agora. Faça um esforço e coma só um pouco.
Mesmo ciente que não estava com fome alguma, Juliette acatou aquele pedido de Lumena.
- Tudo bem, eu vou comer, mas antes preciso ir ao banheiro.
- Eu ajudo a chegar até a porta.
Com o auxílio de Lumena que lhe amparava pela cintura, Juliette foi ao banheiro. Fez suas necessidades, jogou água no rosto e voltou para se acomodar a cama, tendo outra vez o auxílio de Lumena nisso. A ajudante ajeitou a bandeja com pés sobre as coxas de Juliette e de colherada em colherada, a mulher foi comendo sem um pingo de vontade.
- Esse resfriado lhe derrubou mesmo não é?
- É... - ela tossiu um pouco e isso fez sua cabeça latejar, além de sentir o corpo doer. - E a Bia e o Tom? - perguntou depois de cessar a tosse e antes de leva outra colher de sopa a boca.
- Almoçando com a dona Sarah.
- Hum... - Juliette apenas resmungou.
Será que a esposa tinha voltado ao quarto depois do café? Se voltou não ficou muito, porque por duas vezes Juliette acordou por alguns segundos e procurou com os olhos por ela, só que estava sozinha no quarto. Mas mal teve tempo de se frustrar com isso, já que o cansaço e o sono não lhe deixaram.
- Por falar na sua esposa, tinha que ver como ela ficou preocupada com a senhora. Ficou um tempo por aqui depois de tomar café.
- Ela voltou e ficou aqui?
- Sim. Depois desceu e ficou lá na cozinha comigo. Mas de vez em quando vinha aqui se certificar se sua febre já havia passado. Parecia até uma enfermeira mais que dedicada. - brincou Lumena fazendo Juliette sorrir um pouco. Então ela tinha vindo. Uma pena ter despertado nas vezes em que ela não estava ali. - Quem sabe esse seu resfriado não faça sua esposa criar mais proximidade com a senhora, hein?
Juliette desfez o sorriso e suspirou.
- Eu não quero apenas a proximidade dela, Lumena. Eu quero a Sarah sendo a mesma de antes.
Queria a sua Sarah apaixonada, alegre, brincalhona e tagarela, preenchendo o silêncio que agora fazia parte da rotina da casa.
- Paciência, senhora. Logo, ela volta a ser a mesma, vai ver!
O restante do dia Juliette ainda teve febre só mais uma vez. Sua "enfermeira" foi substituída por dois, no caso os filhos. Os dois passaram à tarde cuidando dela, lhe paparicando e fazendo companhia no quarto. Sarah também esteve por perto, só que não mais tão próxima quanto havia sido pela manhã, mas permaneceu sob as vistas da esposa, que gostou disso.
No fim da tarde Juliette conversou com Vitória que ligou outra vez para saber como estava. A loira lhe contou sobre a conversa breve que trocou com Sarah quado ligou a primeira vez, ligação esta que a esposa havia lhe contado horas atrás. As duas amigas ficaram por quase algum tempo de papo sobre os mais diversos assuntos. Até Viih anunciar que precisava desligar, mas antes de se despedir da amiga, acertou com Juliette de ir sábado almoçar na casa da amiga para matar as saudades dos sobrinhos que não via desde que partiu para os EUA.
❤️❤️❤️
Já era quase dez da noite e Juliette estava na companhia de Thomás e Sarah em seu quarto vendo TV. Bia minutos atrás estava ali com o trio, mas foi para seu quarto conversar com uma amiga pelo celular para não atrapalhar os demais assistindo a televisão. Quando o programa que assistiam acabou, Juliette avisou ao filho que já estava na hora dele ir para seu quarto dormir. Apesar de amanhã ele já não ter mais aula, ela não gostava que o filho fosse dormir muito tarde. Manhoso o menino perguntou se não podia dormir com ela hoje.
- Meu amor outro dia você dorme aqui. É que a mamãe está assim gripada e se você ficar muito perto de mim vai acabar gripado também e eu não quero isso.
- É que eu queria ficar aqui pra cuidar de você. - disse com uma voz baixa.
Juliette sorriu e tocou o rosto do filho acomodado no lado da cama o qual Sarah dormia.
Zelo!
Seu menino puxou a Sarah naquilo. Thomás apesar da pouca idade era muito zeloso com as mães e a irmã.
- Mas a mamãe já está melhor, meu amor. - tentou despreocupá-lo.
- E se você ficar dodói de novo como a gente vai saber?
- A mamãe já tomou remédio para não ficar dodói de novo.
- Mas...
Da poltrona onde estava acomodada, Sarah resolveu intervir naquela conversa dando uma sugestão.
- Thomás... - chamou o menino que olhou para ela no mesmo instante. - Por que não fazemos assim... você vai dormir no seu quarto e eu fico aqui cuidando da sua mãe pra você. O que acha?
- Vai dormir aqui pra cuidar dela? - olhou com desconfiança para a mãe.
A mulher lançou um rápido olhar para Juliette antes de confirmar que ficaria.
- Assim fico de olho nela pra você, que tal? - explicou estendendo a mão para o menino.
Juliette mal acreditava no que ouvia. Sarah ia dormir ali com ela? No mesmo quarto e na mesma cama?
Seria mesmo verdade aquilo ou ela só falou da boca para fora na intenção de convencer o filho a ir dormir no quarto dele?
- Hum... Se for assim eu durmo no meu quarto. - o garoto respondeu apertando a mão da mãe, que piscou a ele.
- Ótimo. Então dê um beijo de "boa noite" na sua mãe que eu te levo para o quarto. - largou a mão do garoto e se pôs de pé.
- Vai me colocar pra dormir como fazia antes de esquecer da gente? - os olhinhos arregalados do garoto até brilharam de alegria e surpresa, pois desde que sua mãe havia ficado sem memória, que não o colocava mais para dormir.
- Sim! Vamos lá?
Foi nítido para Sarah a alegria do filho ao ouvir sua afirmativa.
- Boa noite, mãe! - com rapidez o pequeno beijou o rosto de Juliette e pulou da cama todo feliz para ir com Sarah. Gostava muito quando a mãe lhe colocava para dormir.
- Boa noite, meu amor! - sorrindo Juliette acenou para o garoto por ver a alegria do filho segurando todo feliz a mão de Sarah. Vê-lo assim era a melhor coisa para a morena. E que bom que Sarah estava de fato tentando se aproximar dos filhos. Ela e as crianças agradeciam por isso.
De mãos dadas mãe e filho saíram do quarto sob o olhar emocionado de Juliette.
Ao entrar no cômodo onde Thomás dormia, Sarah ficou admirada por ver a decoração do quarto, já que aquela era a primeira vez que adentrava ali.
- Puxa, seu quarto é bonito! - a mulher olhava tudo aquilo extasiada. Se sentia no próprio espaço cercado de planetas, estrelas, a lua e tudo mais.
- Foi a senhora que fez pra mim! - contou Thomás largando a mão da mãe e correndo para sua cama.
Sarah suspirou triste por não se lembrar daquilo e de tantas outras coisa mais.
"Até quando vou ficar assim no "escuro", sem me lembrar da minha família e tudo mais."
- Mamãe!
O chamado de Thomás lhe fez sair do transe o qual mergulhou.
Algo dentro de si balançou ao ouvir a voz do filho lhe chamando daquela forma doce e carinhosa. "Mamãe" começava a ser uma palavra que lhe dava uma sensação boa e conhecida, só não conseguia ainda lembrar qual era.
- Oi! - ela caminhou até a cama do garoto e sentou ao lado de Thomás.
- Você passa a mão na minha cabeça até eu dormir?
Um pedido daqueles era impossível de se recusar a atender.
- Passo!
O menino se deitou de bruços e Sarah começou a deslizar a mão pelos cabelos finos e claros do filho pequeno.
- Eu gosto quando faz isso.
- É?
- Uhum
- Eu sempre fazia isso, Thomás? - sondou.
- Sim!
Ele sorriu para a mãe, mas logo depois seu sorriso sumiu e o pequeno ficou apenas olhando para Sarah de um jeito triste que incomodou a mulher.
- O que houve?
- Ainda vai demorar muito pra se lembrar da gente?
Quisera ela saber a resposta para aquela pergunta. Se dependesse só dela já teria se lembrado daquelas pessoas, mas infelizmente não era assim. Não conseguia lembrar, por mais esforço que fizesse para aquilo.
- Thomás... - suspirou. - Eu não sei quando vou me lembrar de vocês... - ela viu o filho baixar os olhos e parar de fitá-la. - Mas, ó, prometo que vou me esforçar pra isso acontecer o mais breve possível, está bem?
O menino voltou a olhar para ela e só balançou a cabeça positivamente.
- Agora, feche os olhos pra dormir já está tarde.
- Tá, mas antes você desliga a luz e acende a luminária?
- Onde fica?
- Ali. - ele apontou para a mesinha perto do guarda-roupa onde estava a luminária.
Sarah foi até lá, ligou a luminária e desligou a luz do quarto.
- Pronto! - voltou a se sentar perto do filho. - Acho que agora pode dormir.
- Uhum... Boa noite, mamãe! - o menino disse depois de um bocejo e já de olhos fechados.
- Boa noite, Thomás!
Sarah voltou a passar a mão pelos cabelos do filho até vê-lo pegar no sono. Assim que se certificou que isso tinha acontecido, parou com o carinho e ficou velando o sono do menino por mais um tempo razoável até decidir se levantar e sair do cômodo. Voltou ao quarto de Juliette, onde a encontrou quase cochilando.
- Ei, pelo jeito ele não demorou tanto para dormir. - ela comentou ao se mexer na cama e abrir os olhos, notando a presença de Sarah entrando no quarto.
- Ele costuma demorar pra dormir?
- Geralmente quando é você quem vai colocá-lo na cama, sim. Vocês ficam conversando e conversando que ele custa a dormir.
- Bom... desta vez não conversamos muito... Só um pouco.
As duas mulheres ficaram se olhando em silêncio por um breve instante.
"Será mesmo que ela vai dormir aqui?",
"Será que ela aceita que eu volte a dormir aqui?"
Cada uma tinha sua dúvida e receio. E coube a Sarah tomar a iniciativa.
- Bem, eu vou ao meu quarto pegar meu travesseiro pra poder dormir aqui.
- Você vai dormir aqui mesmo? - ela não escondeu sua surpresa em ver que de fato Sarah tinha pretensão de dormir ali. Até uns dias atrás, sua esposa saiu dali e foi para o quarto de hóspedes, alegando que não queria dormir com ela, porque não se sentia confortável. Aí, agora vai voltar a dividir a cama com ela.
- Sim. Disse ao Thomás que faria isso pra cuidar de você e é o que farei. A não ser que se incomode com a minha presença e não queria que eu fique. - arriscou receosa de que Juliette confirmasse que não a queria de companhia no quarto. Mas foi totalmente o contrário que Juliette fez.
- Sua presença nunca vai me incomodar, Sarah, muito pelo contrário, ela só me faz bem. - Juliette observou a esposa balançar a cabeça e muito sem jeito desviar o olhar dela. - E é claro, que pode dormir aqui. Esse é seu quarto também. Pode ficar aqui quando e quanto quiser.
Sarah ergueu os olhos de volta ao rosto da esposa e sorriu com discrição, contente por Juliette não rejeitar sua companhia depois de dias atrás a loira ter feito isso em relação a esposa, logo que havia perdido a memória.
- Então vou lá no quarto de hóspedes e já volto. - disse apontando a porta atrás de si.
- Okay. Te aguardo voltar. - bocejou Juliette.
Se a decisão de Sarah em passar a noite ali com ela, foi só para satisfazer a preocupação do filho, para Juliette não importava muito no momento. Ela já estava feliz com a ideia de pelo menos ter a esposa dormindo novamente com ela nem que fosse apenas por aquela noite.
- Já volto!
Juliette observou a esposa sair do quarto e retornar poucos minutos depois, vestida já em seu pijama e segurando seu travesseiro. Com um sorriso e um leve movimento com a cabeça, a morena indicou o lado vazio da cama para Sarah.
Um tanto acanhada, a loira seguiu para o lado o qual costumava dormir. Sarah se ajeitou de frente para Juliette e de lado na cama, mantendo uma pequena distância entre seus corpos.
- Acho que ainda vou demorar a dormir. - comentou Sarah. Ela se encontrava ainda sem um pingo de sono.
- Eu adoraria ficar mais um pouco acordada com você... - bocejou Juliette. - Mas o analgésico já está me deixando sonolenta. - outro bocejou. - Se importa de ficar acordada sozinha?
- Não! Melhor você não brigar contra o sono e dormir, Juliette.
- Não brigar contra o sono, Juliette. - ela repetiu de olhos fechados e não viu Sarah sorrir do modo engraçado como falou.
- Qualquer coisa que sentir é só me chame, está bem? - Sarah avisou.
- Humrum!
- Boa noite, Juliette!
- Boa noite, Sarah!
Em minutos Juliette já estava dormindo a sono profundo. Preocupada e sem sono, Sarah ainda demorou um bocado para dormir. Ficou até altas horas da noite de olho na esposa para caso ela tivesse febre, depois acabou vencida pelo sono.
E quando foi na madrugada adentro, inconscientes pelo sono, seus corpos se buscaram no espaço daquela cama e as duas mulheres acabaram se abraçando e dormindo agarradas uma ao outra como sempre costumava ser antes de Sarah perder suas lembranças.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top