Capítulo Extra

N/A: Salve, salve, gente boa!

Uma coisinha importante sobre este capítulo é que ele não existe originalmente na fic da qual venho adaptando. Mas acabei achando oportuno cria-lo e trouxe junto para este uma lembrança da Juliette que só viria daqui alguns capítulos e que casou muito bem com as outras inseridas aqui.

Espero que curtam.

Boa leitura.

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Ao estar dentro da sala de paredes cinzas com alguns quadros de arte abstrata enfeitando-as, e mobiliário em tons escuros, Juliette inspirou fundo sentindo no ambiente o perfume marcante da esposa.

Seus olhos passearam pelo local onde Sarah passava maior parte de suas horas do dia e que de umas semanas para cá,vinha passando bem mais do que seu habitual. A economista vinha trabalhando intensamente para deixar as coisas ajeitadas antes de tirar suas férias. Juliette até alertou a esposa algumas vezes sobre seu excesso de trabalho nos últimos dias, mas Sarah dizia que estava tudo bem, que estava dando conta de tudo.

Sua esposa amava trabalhar e principalmente, ali. Involuntariamente sorriu ao lembrar do quão empolgada e feliz, Sarah chegou no antigo apartamento que moravam, contando que tinha conseguido passar na época para a vaga de Auxiliar Financeiro daquela grande multinacional do ramo automobilístico.

"Ju... Ju... cadê você, minha vida?" - ela praticamente berrava enquanto entrava toda esbaforida no apartamento, carregando um sorriso gigantesco no rosto.

"Meu Deus, Sarah! Onde é o incêndio?!"

A morena apareceu na sala com Bia em seu colo enquanto lhe dava uma mamadeira de suco.

"Eu consegui, Ju!... A vaga na multinacional é minha!" - contou se desfazendo do blazer bonito para ir até a esposa. Abraçou Juliette e Bia de uma única vez. A bebê de dois anos logo reclamou do aperto, fazendo Sarah largá-las e pegar a pequena do colo da esposa.

"Parabéns, amor!" - Juliette beijou a esposa. Estava tão eufórica quanto Sarah.

"Obrigada!... Quase não acreditei quando disseram que eu fui a selecionada." - comentou após dar alguns beijos no rosto bochechudo da filha.

Com o ótimo salário que aquele emprego ia render, Sarah já fazia planos para futuramente comprar a tão desejada casa delas, já que aquele apartamento em que viviam era alugado.

"Viu só, eu falei que essa vaga seria sua, garota dos números." - Juliette bateu no braço da loira com a fralda da filha.

Sarah sorriu ao ouvir a esposa lhe chamar pelo apelido que lhe deu na época da faculdade. Fazia tempos que Juliette não lhe chamava assim.

"É, você falou mesmo, garota dos romances!"

- Juliette... Oi!

O chamado um tanto mais alto de uma voz feminina reverberando atrás de si, tirou a morena rapidamente de seu devaneio.

- Oi, Karol! - com um sorriso forçado, cumprimentou a outra ao se virar e dar de cara com a secretária de Sarah.

- Que surpresa você aqui. Cadê a Sarah?

- Ficou em casa. Não vem hoje e nem virá pelos próximos quarenta e cinco dias. Dilson adiantou as férias dela por motivo de saúde.

- Ela está doente?

Juliette contou a secretária o problema da esposa e viu o choque estampado na face da outra mulher ao ter conhecimento do ocorrido.

- O pessoal já sabe? - Karol se referia aos amigos mais próximos de sua chefe ali na empresa.


- Não. Só o Dilson e agora você. Gostaria de pedir que ainda não comentasse com ninguém daqui sobre isso. Eu chamei o pessoal para ir lá em casa hoje, porque pretendo contar sobre isso a eles.

- Pode ficar tranquila que não vou comentar nada.

- E quero te pedir mais outra coisa.

- Pode pedir.

- Preciso de uma caixa para colocar os pertences da Sarah para levar pra casar.

- Vou providenciar isso agora mesmo.

- Obrigada.

Karol se retirou da sala, deixando Juliette sozinha. A esposa de Sarah caminhou até a mesa da economista. No comprido móvel  de madeira havia: ao centro um branco computador de mesa, ao lado direito do mesmo o telefone sem fio e um porta canetas, de fronte a ele uma pequena pilha de papéis com um peso de papel descansando sobre eles, a esquerda uma luminária bonita e por fim dois porta-retratos posicionados um em cada extremidade da mesa. Em um retrato a foto de Sarah abraçada a Juliette, ambas vestidas de noivas. Já no outro retrato a economista estava na companhia dos filhos na piscina de casa, o trio ostentava caretas engraçadas para a lente da câmera.

A mulher morena sorriu, apanhando o retrato da esposa com os filhos enquanto se acomodava a cadeira giratória que havia atrás da mesa. Sarah adorava tirar fotos assim com os filhos. Juliette já perdeu as contas de quantas fotografias aqueles três já tiraram fazendo caretas hilárias ou mostrando a língua para as lentes da câmera.

- Ai, Sarah... - deixou que um suspiro lhe escapasse enquanto deslizava o dedo polegar pelo rosto da esposa impresso naquela foto. - Só tem um dia que você perdeu a memória e eu já sinto tanta saudade da Sarah que você era.

Tudo o que ela mais torcia era para que a outra Sarah não demorasse muito para voltar a encher sua vida com seu jeito expansivo, solar e apaixonado. 

Devolvendo o retrato para o seu devido lugar, Juliette pegou o outro com a foto delas e teve sua mente invadida por lembranças felizes daquele dia em que renovaram os votos de casamento.

Toda a pompa que nem de longe houve no casamento de catorze anos atrás, sobrou na comemoração da renovação dos votos. Sarah bateu o pé que elas mereciam uma festa valendo, já que a comemoração simples no quintal da casa de Vitória apesar de ter sido bonita não foi nem de longe como ela queria, devido aos poucos recursos financeiros que duas universitárias - uma tendo recentemente ganho bebê e desempregada, e a outra apenas fazendo estágio - na época possuíam. O que já não era mais o caso dez anos depois, com ambas muito bem empregadas e tendo uma situação financeira ótima.

A celebração ocorrida em um salão de festa decorado com diversas fotografias de momentos especiais que contavam a história do casal ao longo de uma década de casamento, teve a presença da mãe de Sarah e dos amigos da época da faculdade, além dos outros que foram surgindo ao longo dos anos de relacionamento do casal; um buffet maravilhoso; DJ; e bebida... Muita bebida. Tanto que Sarah acabou passando da conta e terminou a festa bêbada.

"Juliette... Você é o amor... da minha vida!" - cantarolava em tom de voz arrastado e lento, aquela frase que ela nunca cansaria de dizer a esposa.

"Você também é o amor da minha vida, Sarah. Agora deixa eu te livrar desse vestido pra você dormir, amor." - pediu a outra com um sorriso, tentando manter a esposa parada no lugar.

"Não quero dormir. Eu quero..." - segurando na cintura da esposa e aproximando os lábios da orelha da morena, Sarah lhe sussurrou: "Transar com você, Ju!"

"Nesse estado deplorável em que se encontra, dúvido que consiga transar, Sarah." - zombou a mulher. 

"Pois vou te provar... que consigo sim!"

Apesar da dificuldade motivada pelo seu estado nada sóbrio, ainda assim ela provou a esposa que era capaz de transar bêbada, proporcionando uma noite memorável a Juliette.

O som da porta da sala se abrindo deu o alerta a Juliette que Karol havia retornado com a caixa que pediu.

- Está aqui, Juliette. Esse tamanho está bom?

A caixa de tamanho médio lhe pareceu adequada.

- Está ótimo. Obrigada, Karol. - agradeceu, pegando das mãos da mulher a caixa com tampa.

- Eu vou voltar pra minha mesa. Qualquer coisa que precise é só me chamar.

A morena assentiu e após a saída da outra, começou a recolher e guardar os pertences pessoais de Sarah. O estojo com os óculos de leitura, os dois porta-retratos e mais outros que haviam na bancada posicionada atrás da cadeira giratória, além do notebook pessoal da loira, alguns livros e o vaso com mini cactos.

"Olha o que eu comprei de presente pra pôr lá na sua sala."

Sarah ergueu os olhos da tela do notebook onde analisava os balancetes com o desempenho financeiro e econômico da empresa no último trimestre, e franziu a testa ao ver o presente que a esposa tinha nas mãos.

"Um vaso com cactos, Juliette?" - com uma expressão confusa a mulher indagou a esposa, levantando o óculos do rosto até deixá-lo descansando sobre o topo de sua cabeça.

"Mini cactos, Sarah." - corrigiu a outra com um sorriso empolgado. "São pra dar um toque de verde na sua sala e também um charme a mais no lugar."

"Mais charme ainda? Já não basta o meu que é enorme?!"

"Tão enorme quanto esse seu convencimento, né Andrade?"

A outra apenas caiu na gargalhada.

De posse da caixa com os pertences da esposa, Juliette saiu da sala após dar uma última olhada no lugar com a esperança de que muito em breve Sarah esteja ali de volta ao seu posto.

- Vou indo, Karol. Já peguei as coisas da Sarah. Se caso eu tiver esquecido algo, você guarda, por favor.

- Com certeza. E, Juliette... vou ficar na torcida e rezando para a Sarah se recuperar o quanto antes.

- Obrigada.

Elas se despediram e momentos depois, Juliette já estava guiando seu carro não rumo a sua casa, mas sim para outro lugar. Precisava de um momento a sós para espairecer e tentar pôr as coisas de sua cabeça em ordem. E o lugar escolhido para fazer isso foi um que era especial tanto para ela quanto para a esposa.

❤️❤️❤️

Do terraço do palacete do Parque Lage, ela admirava a bela vista dos jardins. Tinha naquele belo e incrível lugar ótimas lembranças de momentos especiais tanto com Sarah quanto com a família que juntas construíram ao longo dos anos. E se pudesse eleger três desses momentos especiais e marcantes, ela não tinha dúvida de quais escolher.

Em terceiro estaria o primeiro piquenique que fizeram com a família toda, quando Thomás estava com seus quatros meses de nascido. Em segundo lugar estava o primeiro encontro no qual rolou o primeiro beijo delas, fato este que aconteceu bem exatamente naquele mesmo terraço.

"Gostei desse lugar. Ele é lindo!... Acredita que está sendo a primeira vez que venho aqui?"

"Jura?" - Sarah encarava o perfil do rosto bonito de Juliette que admirava a paisagem de fim de tarde, que tinham dali de cima do terraço

"Sim! A partir de hoje vou passar a vir com frequência aqui."

"Alguma chance de eu vir a ser sua companhia nas próximas vezes que vier? Porque eu adoraria vir passear por aqui outras vezes mais com você, Juliette!"

Sarah viu a outra garota desviar o olhar da vista diante de si para lhe encarar.

"Eu também vou adorar que me acompanhe nas próximas vezes em que eu vier aqui." - admitiu com um sorriso.

"Já te disseram que você tem um sorriso lindo?"

"Ultimamente uma garota loira que esbarrou em mim semana passada na faculdade, e com quem desde então venho me encontrando e conversado bastante, tem repetido sucessivas vezes que meu sorriso é lindo." - Sarah sorriu. "Inclusive, tô muito desconfiada dela, porque ela é muito legal."

"Ah, ela é muito legal, é?"

"É!"

"Você acha que ela é muito legal?"

"Acho! E também acho que ela tem um sorriso lindo... O mais lindo que eu já vi!"


"O mais lindo?"

"Sim!" - confirmou, fechando os olhos ao toque de uma das mãos de Sarah em seu rosto. A pele arrepiou na mesma hora e o coração acelerou em uma fração de segundos.

Fazia tempo que nenhuma garota lhe causava aquelas sensações que Sarah causava. E pensar que quando a garota esbarrou nela, lhe derrubando livros e apostilas, Juliette tinha uma enxurrada de xingamentos na ponta da língua a dizê-lo. Porém os insultos morreram no exato instante em que olhou para até então desconhecida que lhe pedia desculpas.

"Quero te beijar!"

A fala de sussurrada de Sarah fez com que Juliette abrisse os olhos e se desse conta do quão próximo a outra garota agora estava dela.

"E o que te impede de fazer isso?"

Juliette viu os lábios de Sarah se esticarem em um sorriso espetacularmente lindo.

"Nada mais agora!"

O beijo aconteceu delicado, lento e tímido."

E em primeiríssimo lugar, estava o momento mais especial de todos para Juliette, o dia que Sarah lhe pediu em casamento.

"Fazia uma tarde bonita com um pôr-de-sol igualmente lindo. Juliette e Sarah estavam diante do chafariz e a morena não entendia porque raios sua namorada parecia tão nervosa a ponto de seu nervosismo àquela altura já ter contaminado Juliette.

- Sarah dá pra me dizer o que houve, por que me trouxe aqui e está tão nervosa?

Seu nervosismo já dava sinais claros de impaciência e irritabilidade.

Desde que saíram do estágio de Juliette o qual Sarah foi lhe buscar no carro da mãe, que a loira não dizia muita coisa a namorada só frases vagas que foram deixando Juliette a princípio apreensiva o caminho todo até chegarem aquele lugar, onde já tinham vindo algumas vezes. Mas a apreensão, logo deu lugar ao nervosismo e agora a irritação. 

- Juliette... - começou a falar a loira em total nervoso. -... Você sabe que não sou muito boa com as palavras, meu lance são os números. - sorriu em puro nervoso enquanto a outra tinha o cenho franzido e os olhos semiaberto. - Mas neste momento, vou tentar ser boa na sua área só não garanto conseguir, espero que sim!

Há um ano Sarah havia sido pedida em casamento por namorada que tinha desde os catorze anos, porém meses depois a garota foi embora do país para estudar em uma faculdade conceituada de Londres. Depois desse episódio, Sarah achou que tão cedo não fosse voltar a se apaixonar, muito menos ouvir sair de sua boca a palavra casamento. Mas cá estava ela totalmente apaixonada e prestes a fazer um pedido de casamento a namorada. Seria a primeira vez na sua vida que faria aquele pedido a alguém e não era qualquer alguém... Era Juliette, a 'garota dos romances' que lhe arrebatou o coração assim que esbarrou nela. Estava muita nervosa e apreensiva quanto ao que sua amada namorada diria quando ouvisse a proposta de casamento. Talvez, ela até achasse precipitado tudo aquilo e vai ver, que fosse mesmo precipitado. Só que depois dela ter lhe dado uma demonstração de seu grande amor ao pedir que lhe deixasse ser junto com ela a mãe do bebê que carregava, dando seu sobrenome a criança... Sarah não teve qualquer dúvida - não que antes houvesse - de que queria passar o resto da sua vida ao lado daquela garota.

Tomando fôlego, a loira respirou fundo e retomou a palavra, enquanto Juliette só a observava sem ainda fazer idéia ou sequer entender o que elas faziam ali e do porquê Sarah está tão nervosa quanto aparentava.

- Eu te trouxe aqui nesse lugar onde tivemos o nosso primeiro beijo, com uma única intenção que é de te fazer um pedido muito especial, Ju.

- Pedido? Que pedido?

Sarah tomou as mãos de Juliete entre as suas e sem entremeios ou floreios, disparou:

- Casa comigo?

No mesmo instante Juliette arregalou os olhos atrás das lentes de seu óculos de grau. Podia imaginar qualquer pedido vindo da namorada menos aquele.

- Ju, eu sei que estamos namorando há pouco tempo. - Sarah se apressou ao ver a cara de surpresa da namorada. - Porém quero que saiba, que esse pouco tempo em que estamos juntas e o fato de você ter pedido pra assumir esse bebê comigo já são o bastante para eu ter mais certeza do que eu já tinha antes, de que você é o amor da minha vida, com quem quero dividir e viver o resto dos meus dias. E é por isso que estou aqui te pedindo em casamento... Você aceita casar comigo assim que o nosso filho ou filha nascer, Juliette?


A morena parecia ainda em estado de choque com aquele pedido. Aquilo só podia ser um sonho, o melhor sonho que já tivera em sua vida!

De repente era como se o mundo ao redor não existisse e só houvesse ela e sua namorada ali naquele bonito lugar.

As palavras não conseguiam sair da boca da garota e seu coração batia acelerado feito um trem sem freio. Mas ela precisava falar, tinha que dar uma resposta a linda proposta lhe feita.

- Sarah, eu... - ela começou a falar, mas travou logo em seguida para a apreensão de Sarah.

A loira logo deduziu que Juliette estivesse ponderando que fosse cedo demais para assumirem um compromisso tão sério como casamento. E em virtude disso, Sarah tentou tranquilizá-la, dizendo:

- Se você achar que é muito cedo pra nos casarmos depois do nascimento do bebê... eu posso esperar. Não tem problema nenhum pra mim isso. Podemos esperar o nosso bebê ter seis meses, um ano, sei lá. Por você, eu espero o tempo que for preciso, pois... Você é o amor da minha vida!

Os olhos de Juliette se encheram de água e um sorriso largo e infinitamente bonito surgiu nós lábios da garota de cabelos castanhos ante aquela linda declaração de amor da namorada.

- Eu aceito seu pedido, Sarará. Me caso com você depois que o nosso bebê nascer. - ela disse ainda sorrindo."

O toque estridente de seu celular guardado na bolsa que carregava, trouxe Juliette de volta a realidade. Enxugando as lágrimas que sem ela se dar conta havia deixado escapar em meio as recordações que vieram a cabeça, a mulher pegou o aparelho de dentro da bolsa e atendeu a ligação com um sorriso ao ler o nome conhecido piscando na tela.

- Quem é vivo sempre aparece, né dona Vitória? - brincou.

- Desculpa, Ju. Eu sei que dei uma sumida nesses últimos meses, mas é que as coisas andaram difíceis, amiga. Nem te conto! Ou melhor, conto sim porque foi por isso que liguei.

Juliette sorriu das palavras da amiga.

- Eu também tenho algo pra te contar.

A ligação de Vitória não poderia ter sido mais oportuna. Precisava desabafar e nada melhor do que fazer isso com sua velha amiga.

- Ótimo! Então vamos pôr a conversa em dia. Você está na UFRJ?

- Não! Estou de férias de lá.

- Perfeito. Estou indo pra sua casa agora.

- O quê? Você está no Brasil?

- Sim! Cheguei ontem a noite. E em alguns minutos tô chegando aí.

- Eu não estou em casa.

- E onde você está?

- No Parque Lage.

- Ah, estou perto daí. Mas você está sozinha ou com a Sarah e as crianças?

- Sozinha!

- Então chego em minutos. Me aguarda.

- Vou está te esperando no restaurante Plage Café.

- Beleza!

Assim que finalizou a ligação, Juliette seguiu para o restaurante situado dentro do palacete do parque.

Acomodada sob a sombra de um guarda sol da mesa próxima a piscina, ela ainda aguardou por volta de quinze minutos até avistar uma mulher de cabelos escuro a qual levou alguns segundos para reconhecer como sendo a sua melhor amiga. Acenou para ela que ao vê-la, caminhou em sua direção a passos apressados.

- Meu Deus, Viih!... Levei alguns segundos pra te reconhecer nesse visual moreno. - disparou Juliette enquanto trocava um longo e apertado abraço com a amiga a quem não via há três longos anos, desde que a pediatra se mudou com o marido Bruno para Nova York depois que se casaram.

- Ficou bom meu cabelo dessa cor? - indagou ao desfazerem o abraço e se acomodarem em suas cadeiras posicionadas uma de frente para a outra.

- Ficou ótimo, amiga! Você mudou por esses tempos em que ficamos sem nos falarmos né?

- Sim. Há dois meses que mudei. Já estava enjoada de ficar loira e voltei ao meu natural, castanho escuro. Pensei antes em ficar ruiva.

- Nossa! Você ia ficar um escândalo de linda ruiva. Lembra daquela vez quando estávamos na faculdade e você pintou meu cabelo de ruivo num tom mais claro, e não naquele mais vivo?

- Lembro. - Vitória caiu na risada e acenou para um garçom do local. - A Sarah ficou putaça comigo, porque disse que estraguei seu cabelo. E ainda brigou com você depois por isso.

O sorriso que Juliette até então ostentava, foi morrendo com a menção do nome da esposa.

- Foi a nossa primeira briga. E por um motivo fútil, diga-se de passagem.

Viih percebeu a mudança brusca na expressão da amiga, mas não teve tempo para indagar a esse respeito porque o garçom apareceu para tomar nota dos pedidos dela. Enquanto Vitória foi de capuccino acompanhado de Tarte Tatin de maçã, Juliette optou por café e bolo de chocolate com creme inglês.

- Me conta as novidades. - pediu Juliette tão logo o garçom saiu para ir buscar os pedidos que fizeram.

- A primeira delas é esta. - Viih ergueu a mão esquerda onde a ausência da aliança foi notada de cara por Juliette.

- Cadê sua aliança, Vitória?

- Joguei pela janela do apartamento que vivia com Bruno.

- Como assim? O que houve?

Vitória contou que havia se separado do marido há algumas semanas após descobrir que ele mantinha um caso com uma colega de trabalho, que Viih jamais desconfiou porque a mulher além de se fazer de sua amiga e frequentar sua casa, ainda era casada e ao que aparentava era feliz com o marido.

- Eu comecei a notar que ele já não era o mesmo. Cada vez chegando mais tarde do serviço. Andava distante de mim. Até frio as vezes.

Nesse instante o garçom chegou com os pedidos e as duas mulheres ficaram caladas. Só depois que o homem foi embora que Vitória retomou sua fala.

- Sexo, se não fosse eu para procurá-lo, ele não me procurava pra gente transar. Obviamente, eu imaginei que tinha outra na jogada, Ju. De início desconfiei da pobre da secretária, porque ela trabalha diretamente com ele.

- Não te julgo, porque no seu lugar também desconfiaria logo da secretária. Mas como descobriu que era a colega de trabalho dele?

Vitória revelou entre um gole de café e um pedaço de sua Tarte, que havia marcado um almoço com o marido para justamente confronta-lo sobre ter outra. Mas uma hora antes do horário que marcaram, Bruno ligou para o consultório da esposa e desmarcou o almoço, alegando que tinha surgido de última hora um compromisso de trabalho. O homem trabalhava em um conceituado escritório de advocacia, e segundo ele ia se encontrar com um cliente para acertar detalhes sobre um processo o qual representava.

- Eu suspeitei que ele desmarcou para se encontrar com a outra. E pensei: hoje eu descubro quem é essa vagabunda. Mandei minha secretária desmarcar meus pacientes e fui bater lá no escritório. De dentro do carro parado há certa distância da entrada do escritório, eu vi quando ele saiu na companhia da Estela e eles entraram no carro aos risos. Por um segundo, Ju, eu achei que ele tinha dito a verdade e que estava indo encontrar um cliente na companhia da colega dele. Cheguei a me sentir uma idiota por desconfiar dele aquele respeito. Cogitei nem segui-lo mais.

- Mas você acabou seguindo!

- Sim. - confirmou com os olhos marejados. - Uma coisa dentro de mim gritava que eu seguisse e eu segui. Sabe onde o carro dele entrou?

- Um motel?

Viih confirmou com a cabeça.

- O mais caro da cidade. O mesmo que uma vez pedi pra ele me levar e o canalha se negou, alegando que não curtia motéis.

- Bastardo idiota!

Vitória ainda contou que não sabe como conseguiu dirigir até seu apartamento sem sofrer algum acidente pelo percurso, já que ela chorava bastante ao volante a ponto de enxergar tudo embaçado. Mas que assim que entrou em casa foi direto para o quarto. De ódio pegou várias peças de roupas de Bruno e rasgou, e as poucas que sobraram colocou dentro de uma sacola de papel. Quando foi a noite que ele chegou, teve início uma discussão intensa com acusações e xingamentos de ambas a partes. O fim do casamento foi gritado a plenos pulmões por Viih que atirou pela janela da sala a aliança de ouro e mandou Bruno sair do apartamento.

- Amiga, eu sinto muito por você está tendo que passar por uma merda dessas.

- Ele poderia ter sido honesto. Se não queria mais continuar, falasse e não me enfeitasse a testa.

- Quando o cabra não tem caráter e, ainda por cima, é covarde, ele faz isso, Viih. Mas olha, amiga... Sei que agora dói tudo isso, mas vai passar. No fim das contas, você saiu ganhando por ter se livrado de um escroto como esse cara. Enquanto ele saiu perdendo uma mulher incrível como você. Tenho certeza que logo você vai encontrar um cabra bom, que te mereça de verdade e saiba te respeitar, como esse Bruno não soube.

- Obrigada, Ju. - Vitória segurou a mão da amiga e apertou de leve. - Por isso que resolvi voltar e passar uma temporada no Brasil, porque eu precisava de você e da minha mãe perto de mim pra me darem força pra levantar a cabeça e não me atirar no abismo.

- Vitória, você é forte, muito forte. Deus me livre se Sarah fizesse uma coisa dessas comigo, eu acho que morreria de desgosto na mesma hora que descobrisse.

- Ju esse risco você não corre. Tenho certa que a Sarah jamais faria isso com você, porque aquela lá é louca de pedra por você, amiga. E por falar nela... Como anda essa chata?

Juliette suspirou e baixou os olhos para sua xícara onde só restava um pouco de café. Levou cerca de mais ou menos quinze segundos para ela revelar a amiga a situação atual da esposa. Vitória levou as mãos a boca ao saber da súbita amnésia que acometeu a esposa de sua melhor amiga. E o mesmo questionamento era feito: como isso era possível ter acontecido? A resposta para tal pergunta ainda era uma incógnita para todos. Talvez só um médico mesmo possa saber a razão de tal fato.

- Ela dormiu no quarto de hóspedes, porque disse que não ia se sentir bem dormindo comigo, Viih.

- Ai, Ju do céu! Por mais que eu tente imaginar o quão terrível deva estar sendo pra você tudo isso, tenho certeza que não chego nem perto dos seus reais sentimentos.

- Eu tenho fé que essa situação não vá durar tanto tempo, porque do contrário não tenho ideia de como ficará meu casamento, amiga.

- Se durar mais tempo, amiga, você terá que reconquistar sua esposa. Ou você pretende abrir mão dela?

- Claro que não. Jamais abriria mão do amor da minha vida. Se tiver que reconquista-la, eu reconquisto. O problema é se eu não conseguir. Se ela não me amar mais, Vitória?

- Ju... Tenho pra mim que com memória ou sem, aquela convencida da Sarah... Vai sempre te amar!

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