Mãe - Parte 1
Coisas de mãe: da minha mãe
Eu sempre penso que minha mãe nasceu na época errada. Ela não pôde vivenciar muitas facilidades que os dias de hoje oferecem. Vaidosa ao extremo como era, com certeza, estaria aproveitando ou aprontando muito.
Às vezes, me pego pensando em algumas histórias dela e rindo sozinha ou compartilhando com alguém. Hoje resolvi contar para vocês.
Certa vez ela decidiu que iria depilar a virilha. Mas resolveu fazer isto sozinha. E pior, com cera fria.
Eu estava na casa dela e conversávamos em uma área após a cozinha com mais algumas pessoas. De repente ela sumiu, tinha essa mania, deixava as visitas e ia fazer outra coisa. Passou um tempo e nada dela voltar. Olhei em direção a janela de seu quarto e avistei os seus olhos azuis suplicantes em minha direção. Firmei minha vista para entender o significado daquele olhar e a sua mão apareceu me fazendo um chamado disfarçado. Levantei e saí em direção ao seu quarto, bem discreta.
A porta trancada, em primeiro momento, me causou mais curiosidade. Bati. Ela abriu devagar, olhou para fora e abriu um pouco mais a porta apenas para minha passagem. Assim que o fiz, ela fechou novamente e rápido. Olhei em seu rosto que parecia com sofrimento. Então perguntei:
— O que foi? O que está acontecendo? – ela estava vestida com um roupão.
— Preciso de ajuda.
Sentei em sua cama e muito atenta, e mais, preocupada, fiquei esperando que ela falasse.
— Eu fui fazer um 'trem', mas não deu muito certo.
— Fale mãe! Estou ficando nervosa.
Ela abriu o roupão mostrando-se nua, e por baixo algo estava pendurado. Afirmei o olhar para entender o que meus olhos viam. Um plástico pendurado, ou melhor, colado na sua virilha.
— O que é isso?
— Tentei depilar — essa foi sua primeira frase e que saiu num tom mais baixo —, mas não consigo puxar. Dói demais essa porcaria.
Olhei aquilo e não consegui segurar o riso. Ela sentou do meu lado totalmente derrotada e riu junto. Depois perguntou:
— Vai me ajudar?
Claro que ajudei. Como não ajudar uma mãe com uma cera grudada na pele. Depois foi muita risada.
Outra vez, minha sobrinha queria fazer mais um furo na orelha e minha irmã não queria autorizar e nem pagar para que ela o fizesse. Minha mãe entrou na discussão a favor da minha sobrinha. Depois longe da minha irmã ela falou:
— Se você quiser traga o brinco que furo para você, não dói nada!
Assim durante a semana minha sobrinha apareceu com um furo a mais na orelha e depois de três dias mais um e depois outro. E como se não bastasse a minha mãe apareceu com três novos na orelha direita e mais um na esquerda. Uma jovem senhora de quase 70 anos.
Essa é minha mãe.
Lena Rossi
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