"Augusto amava deveras e pela primeira vez; e o amor, mais forte que seu espírito, exercia nele um poder absoluto e invencível." 

(A Moreninha - Joaquim Manuel de Macedo)

Cara Srta. Violeta,

Sei que esta carta nunca chegara até vosmecê, pois estou escrevendo-a apenas com o intuito de aliviar meus devaneios. Estou solitário em meu quarto, com apenas a luz de uma vela para me fazer companhia.

É tarde da noite, a casa esta silenciosa e é nesses momentos, em que eu deveria dormir, que a sua voz sempre vem aos meus pensamentos e seu rosto invade meus sonhos. Por Deus, que ninguém ache esses meus registros! Não posso estragar minha reputação como Don Juan! Mas creio que seja tarde demais para isso. Já tentei, mas temo que meu coração não consiga mais se encantar com a noite como antes. O brilho das estrelas não chega nem perto do que existe em seus olhos.

Átila disse que eu não deveria me sentir envergonhado por estar assim, pois, segundo ele, amar é um sentimento nobre. Mas sinto que estou enlouquecendo e estou totalmente fora de mim, já que nunca havia passado antes por tal situação! Veja bem: É a primeira moça que consegue me dominar por inteiro, como o mar que naufraga o marinheiro e o deixa perdido, sem conseguir ter alguma chance de encontrar o caminho de casa.

Não creio que consiga escapar de vosmecê, que é como uma sereia das muitas historias que leio e me levou para tão fundo que não consigo mais voltar. E sabe o que é mais estranho? Estou me sentindo eufórico, confuso e sozinho neste instante. Mas ao mesmo tempo, livre! É como se tivesse passado a vida inteira procurando por um tesouro valioso e finalmente tivesse o achado. Sabe que gosto de aventuras e pensando bem, talvez essa seja a aventura que me faltava, me levando rumo a este sentimento, antes desconhecido por mim. Estou até conseguindo escrever melhor!

Se soubesse o quanto penso em ti a cada hora do dia, poderia descrevê-la desde as flores que usa em seus cabelos até a teimosia que a deixa com um jeito valente que me encanta. Me pego imaginando o que se passa por sua cabeça quando ouve meu nome. Talvez todos estivessem errados sobre eu não saber colocar o que sinto no papel. A verdade é que antes, não escrevia palavras verdadeiras como agora. O que me faltava era a sua inspiração, que espero, nunca vá para longe de mim.

Seu admirador,

Tomás.