5°|Traídores Queimam
Minha cabeça vai explodir. Minhas mãos estão amarradas na cabeceira da cama onde todas as noites tenho um pesadelo no qual Brand me transforma em uma tocha humana e ri de mim enquanto eu agonizo em dor. Mãos, corpo, mente e espírito, todos aprisionados dentro das paredes do "meu quarto". A única coisa que possuo livre, é um par de pernas que uso para chutar pra longe a comida que me dispunham duas vezes ao dia. Faz uma semana desde a minha tentativa ridícula de fuga.
_ Eu realmente tentei, Elle. - Brand se lamenta, sentada na poltrona que colocou em frente a minha cama, saboreando o gosto da vitória. Mais uma vez. - Te transformei em minha convidada e você foi burra o suficiente para transformar a si própria na minha inimiga. Inimigos da coroa não possuem tratamento de luxo, pequena assassina.
_ Eu. Vou. Te. Matar! - digo em ronronar de ódio. Ela solta uma meia risada.
_ Primeiro terá que se livrar das correntes, querida. - seus olhos brilham. É um desafio e uma armadilha. Tentar usar meus poderes, será uma confirmação de que eu os perdi.
_ Fala como se fosse me deixar aqui pra sempre - comento desdenhosa. Sua sobrancelha arquea em curiosidade - Você não pode impedir que o relógio bata à meia-noite.
Um tiro no escuro. Eu não faço ideia do que do fato acontecerá à meia-noite, mas parece causar um leve desconforto em Brand.
_ Tem razão, não posso impedir certos acontecimentos, mas posso te fazer sofrer o suficiente até lá. - diz se levantando da poltrona e se sentando na ponta da cama.
_ Vai fazer comigo o que faz com Thomas? - é quando surpresa transforma as feições de Brand que percebo a besteira que falei.
_ Diana, sua ratinha linguaruda... - Brand diz para si mesma, rindo admirada. Seus olhos voltam a olhar pra mim - Então quer dizer que seus passeios pelo castelo também envolviam a prisão? Sua criança apressada, é ainda melhor saber que você já se familiarizou com seu novo ambiente.
_ Não machuque Diana. - peço, minha voz sai estrangulada.
_ Veremos. - diz se levantando, seus olhos me encaram mais uma vez e um sorriso largo aparece em seu rosto - Você quis o monstro, aqui está o monstro.
Nesse momento a porta do quarto é aberta e Eyra é empurrada para dentro por Lila. Meu coração perde uma batida e o ar foge dos meus pulmões quando seu rosto encontra a luz, completamente exposto sem a máscara e há uma queimadura enorme no formato de uma mão na lateral esquerda. O cabelo longo e bonito fora raspado. Eyra não me encara quando Lila vem atrás dela, segurando a corrente que está envolta do pescoço fino da amiga. Os olhos de Lila se encontram com os meus e tudo o que vejo é uma chama ardente de ira.
Tento me livrar das minhas próprias corrente e correr até Eyra, abraçá-la e dizer a ela que somos amigas. Eu não tenho mais dúvidas. Eu confiava inteiramente e cegamente nela, assim como ela fez comigo. Eu a desapontei e agora ela paga pelo meu erro. A queimadura em formato de mão e o cabelo raspado significava a pior da humilhação e não era preciso ser necessariamente desse mundo para entender isso. Eu a condenei.
_ Traição não é tolerada na minha Corte, Elle. E esse é o preço que se paga. - Brand fala com a voz completamente calma, mas ao mesmo tempo carregada de rancor. Não tento conter as lágrimas, pois quero que Eyra saiba que eu sinto muitíssimo... - Aquela marca em seu rosto é muito mais do que um símbolo. É a marca da rejeição e um passe livre para as criaturas lá embaixo fazerem o que quiserem com ela. Mas você, querida Eyra - os dedos de Brand acariciaram o topo da cabeça dela. Uma lágrima escorreu dos olhos verdes antes tão cheios de vida - Você é um caso especial. Você merece queimar!
O grito de Eyra perfurou meus ossos. Algo dentro de mim quebrou quando nossos olhares se encontraram pela primeira vez e eu tenho certeza que Eyra arrancou um pedaço de mim apenas com aquele olhar. Não havia acusação ou mágoa, apenas a angústia de lhe ter sido tirada a chance de viver. Mas não foi apenas seus olhos, mas seus lábios que se abriram para dizer um "eu te perdoo" sem som, mas que me acertou tão forte como um tiro no peito. Nosso contato visual se quebrou quando uma chorosa Lila marchou até mim, os cabelos pegando fogo.
Seus joelhos afundaram na cama e eu não tive tempo para raciocinar quando seu soco quente acertou meu rosto em cheio. E depois outro. E outro. Não tento impedir, pois sei que mereço e é por isso que suporto a dor. A dor que não chegava nem perto da que eu sentia dentro de mim. Pontos pretos começaram a pintar em minha visão quando Brand declarou um basta e o calor de Lila se afastou, os punhos pingando sangue. O meu sangue.
_ Ah, Lila! Que estrago! - escarneceu Brand - Como pôde estragar um rostinho bonito desse?
_ Ela deveria queimar! - Lila gritou furiosa.
_ Não, não. - Brand nega - Meus planos pra ela são outros. No entanto, pode visitá-la sempre que quiser na prisão. Tem carta branca para isso. - termina com uma piscadela - Guardas!
E então arrastam Eyra para longe de mim. As garras de Brand são a última coisa que vejo antes de tudo mergulhar na escuridão.
_ Elle...
_ Elle...
Abro os olhos com dificuldade. Respirar dói. Me mover dói, então levantar minhas pálpebras é o máximo que consigo. Da posição em que estou, meus olhos encontram parte do rosto de um preocupado Thomas. Tento abrir minha boca e dizer algo, mas então a escuridão me puxa novamente.
_ Sua estúpida! Quase me morre por nada!
É Diana, tenho certeza. Sinto partes do meu corpo ser tocada por algo úmido e pelo jeito que minhas feridas ardem, tenho certeza que ela está cuidando dos meus machucados. Dói muito, muito mesmo...
Finalmente, me sinto bem o bastante para permanecer mais do que dois minutos consciente. Minha visão turva tenta focar algo e logo meu cérebro liga as peças. Eu levei uma bela surra antes de ser jogada na cela e não falo dos socos de Lila. A prisão não tem janelas então não faço ideia das horas que são, mas a julgar pelo silêncio dos outros, creio ser noite. Agarro minhas pernas e me encosto no canto da cela, a linha vermelha da qual Diana sempre me disse para não atravessar era a distância de mim para Thomas. Se esticarmos nossos braços, talvez a ponta de nossos dedos possam se tocar. Observo o meu cubículo, não há chuveiro ou qualquer água corrente, algo que parece um balde está no canto mais afastado e eu deduzo ser um "vaso sanitário". As barras de ferro escuro não me dão nenhuma privacidade. Olho para o lado e encaro a cela de Tom, ele está com a cabeça apoiada na barra, o corpo recostado na pedra quente da prisão, o cabelo castanho já grande escondendo boa parte do rosto. Até mesmo uma barba começa a tomar forma, embora desregular e falha em algumas partes. Sua cabeça se vira pra mim e seus olhos piscam sonolentos. Sinto a bochecha queimar por ter sido pega encarando.
_ Você acordou... - sussurra ele, agarrando as barras da própria cela - Como se sente?
_ Doída. - respondo no mesmo tom baixo. Não por discrição, mas porque falar parece exigir muito esforço no momento.
_ Você levou uma bela de uma surra - Thomas diz com um sorriso brincalhão e eu arrisco sorrir de volta, mas todos os meus músculos faciais contraem em protesto - Tudo bem, não faça esforço. Vou te deixar descansar...
_ Eu a matei, Tommy. - sussurro sem conseguir olhar em seu olhos escuros - Ela morreu e a culpa é toda minha.
ME SEGURA PORQUE ESTOU TREMENDO!!!
Gente, a Eyra... Eu realmente gostava dessa personagem e ela realmente tinha virado uma amiga para Elle. O que vocês acharam? Estão tristes também? A Elle está se sentindo tão culpada... Com motivo ou não?
Não se esqueça de deixar a estrelinha e o comentário.
Você é incrível!
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