11°| Planos e Promessas Arriscadas

P E T E R

   _ Talvez funcione. - diz a rainha, os olhos brilham de esperança, um brilho que apaga segundos depois - Mas é muito arriscado, não posso deixar que faça isso.

   _ Sei que não sou da nobreza e que meu sangue não é puro, mas o sangue dos poderosos correm em minhas veias e isso pode ser alguma vantagem. - refurto.

   É de fato arriscado e talvez até impossível, mas ser um guardião me torna um dos poderosos, o que, em outra palavras, significa que suporto a morte por mais tempo. A rainha olha para Klaus e pela primeira vez ele não possui aquele ar de "sabe-tudo", na verdade os ombros estão caídos como se os braços pensassem toneladas e o pescoço nem ao menos parecia suportar o peso da cabeça. Pigarreio: - Eu não preciso drenar todo o poder, mas se o distribuíssemos, talvez se torne possível quebrar o ciclo e salvar a nós dois.

   _ Você quer enganar uma das forças mais antigas e poderosas desse mundo? - a rainha ergue a sobrancelha, mas sua expressão endurece ao ver que eu falo sério. Ela balançou a cabeça em negação, o cabelo azul se desprendeu do coque e caiu em seus ombros - É suicídio. Poderia causar um caos descomunal em todo o mundo.

   _ Talvez seja, mas eu estou disposto a me arriscar. Eu estou disposto a morrer por ela, mas vocês têm que me deixar tentar. - imploro. A expressão da rainha não pareceu nada melhor quando ela se levantou da cadeira.

   _ A resposta é não...

   _ Mas é sua filha! - grito sem pensar. A rainha estreita os olhos e por um momento penso que eu me tornarei  uma estátua de gelo para sua coleção. Ela encurta a distância entre nós e sua beleza gentil e doce se tornou fria e odiosa.

   _ Eu sei quem ela é e não preciso d que ninguém me lembre do que está em jogo. A questão aqui envolve mais do que a vida de Lor Anihí, envolve todo um reino, todo um mundo. Porque se Brand conseguir colocar as mãos naquele poder, não haverá um ser vivente nessas terras. Se eu precisar sacrificar a minha própria filha pra salvar várias, então assim será feito. Antes de mãe, eu sou rainha e a minha ordem para você é não. Não, você não pode entrar no lugar dela e não, você não irá mais na viagem até Hellige. - ela não gritou, mas sua voz calculista é pior do que ter as entranhas comidas por homem-urso.

   Sem dizer mais nada, ela sai tempestuosamente do cômodo. Flocos de neve voam ao seu redor como quando acontecia com Elle. Klaus faz um aceno de cabeça para mim e corre atrás dela, me deixando sozinho.

.  .  .

   _ Você não vai desistir, não é? - Krisa pergunta. Coloco a mochila nas costas É evito olhar em seus olhos.

   _ Não posso.

   Krisa suspira.

   _ Não vai nem ao menos se despedir de  nossos pais? Nossos irmãos? Da vovó?

   _ Ainda me vêem como uma vergonha, Krisa. - não é mentira, mas também não é o real motivo. Vê-los só tornará tudo mais difícil, para todos - Você não pode contar para eles até que tenha certeza de que estou vivo... ou morto. Nem para Nanda. Não quero preocupá-los.

   _ Não irei. Mas você sabe que não é uma vergonha para nós - Krisa insiste - Alguns acontecimentos não podem ser evitados, ainda mais quando falamos de profecias. De certa forma, todos estavam esperando que algo assim fosse acontecer, não foi culpa sua. Todos lá em casa sentem sua falta, até mesmo o chato do Henriksen.

   Sorrio pra ela e a abraço forte. Meu coração está apertado, mas seguro as emoções. Os ombros dela, por outro lado, começam a tremer em um choro silencioso. Ambos sabemos que essa pode ser a última vez que nos vemos, a última despedida. Krisa se afasta e limpa as lágrimas com um sorriso amarelo.

   _ Sempre chorona. - brinco. Ela empurra meu ombro de leve e me chama de bobo.

   _ Você deve ir. - ela anuncia olhando para o mar lá embaixo, onde o navio da rainha está - O livro está dentro da bolsa, eu marquei as partes importantes. Quando chegar lá embaixo, um... amigo meu, estará esperando.

   Ergo as sobrancelhas ao ver suas bochechas ficarem cor de rosa e a pupila dos olhos verdes aumentar praticamente três vezes o seu tamanho.

   _ Amigos seu, é? - todo o sangue de Krisa parece subir para a cabeça, a deixando ainda mais vermelha.

   _ Vai logo, Peterson. Tome cuidado.

E L L E

   Eu posso sentir o olhar de Thomas queimando minha pele, mas o ignoro. Não por vontade própria. Dentro de mim eu estou agitada, como se duas partes de mim lutassem uma contra a outra. Há a parte que quer chorar e sentir tudo, e a parte que parece endurecer meu coração. É assustador, porque eu sinto qual é a parte que está ganhando.

   _ Eu e Diana estávamos indo para a escola quando aconteceu. - Thomas disse na cela ao lado. Não me mexo um milímetro, mas meus ouvidos estão atentos - No meu pescoço estava seu colar, que você deixou cair na piscina de natação antes de sair correndo. Diana o reconheceu e começou a me fazer perguntas irritantes e eu fiquei com raiva. Raiva por ela estar sendo intrometida, mas no fundo eu sabia que era porque você havia ido embora. Então o arranquei do pescoço e entreguei para Diana fazer o que quisesse com ele, mas algo estranho aconteceu porque ele começou a brilhar. Fechei os olhos e senti estar flutuando e depois girando, como se eu estivesse em uma montanha-russa sem o sinto de segurança, mas quando abri os olhos, Califórnia havia sumido. Estávamos eu e Diana parados no meio de uma floresta com árvores cor-de-rosa e coisas estranhamente belas. Andamos perdidos sem perceber que quanto mais longe íamos, mais a floresta parecia morrer. Sentíamos o perigo à espreita, mas nada ousou se aproximar... Sei que é loucura, mas pareciam ter respeito e até mesmo medo. Enfim, andamos até que avistamos a entrada de uma caverna e pensamos que seria um bom abrigo, mas não era uma caverna e sim a entrada do que parecia ser o interior de um vulcão.

   Soa como mentira. Thomas e Diana entrando tão facilmente em Ternes, sendo que nem a Guarda Branca conseguiu? Thomas e Diana nem ao menos possuíam poderes para se defenderem dos monstros...

   Minha mente vagou para o dia em que Parius, o Luzente, veio para um terrível e estranho jantar na Corte Escarlate. As imagem das sombras ondulando ao redor de Diana me causa um aperto no coração, como se ssignificasse algo muito, muito ruim.

   _ Eu e Diana estávamos assustados, todos olhavam para nós. Os monstros pareciam querer nos devorar, mas eles apenas desviaram os olhos e se afastaram. Foi quando Brand apareceu em uma nuvem de fumaça e nos acusou de sermos espiões e invasores. Então ela me jogou na prisão. - ele finaliza dando de ombros.

   _ Mas então porque Diana não está aqui?

   _ Ela nunca chegou a passar uma noite aqui.

   _ Mentiroso! - acuso, as palavras fluem soltas. Thomas arregala os olhos para mim.

   _ Não estou mentindo, Elle. Por que eu mentiria? - ele parece chateado.

   _ Não sei, Thomas, talvez pelo fato de que vocês chegaram até aqui ilesos, sem nenhum arranhão. Monstros se afastarem, com medo? Sério? É patético o quão ruim você inventou toda essa história. Se não queria me falar, era melhor não ter ficado calado do que contar mentiras como essa!

   Eu estou furiosa. Quem ele pensa que é? Insultando a herdeira do trono Deesh com essas mentiras? Eu deveria transformá-lo em uma estátua de gelo e... Thomas faz um barulho sufocado ao meu lado. Seu corpo está sendo coberto por um monte de neve que parece ter vida própria, o cobrindo ainda. Tudo o que eu consigo ver é seu rosto virado para cima, enquanto ele luta por ar. Meu interior vibra e eu me levanto assustada. Não é possível... Eu... Eu...

   _ Elle... - Thomas geme com dificuldade.

   Eu não faço ideia de como fazer parar. Me concentro e movo a mão para o lado. Parte da neve se afasta de Thomas e segue o comando, atravessando as grades da cela e seguindo na direção em que apontei. Não parece adiantar, pois mais neve aparece para enterrar Thomas. Movo a mão diversas vezes, mas nada parece causar um bom resultado.

   _ Para! PARA! - grito em desespero e, em um piscar de olhos, a neve derrete, deixando Thomas caído em uma enorme poça de água fria.

   Ele está roxo e tremendo, parece morto. Grito desesperada por ajuda, torcendo para que alguém apareça. Thomas resmunga algo que interpreto como "frio" e eu sei que se ninguém aparecer, ele não sobreviverá. Chamo por Brand a todos os pulmões e quando estou quase sem voz, escuto seus passos se aproximando calmamente na nossa direção.

   _ Eu sabia que uma hora ou outra isso iria acontecer. - ela zomba analisando a situação com escárnio. Ela está usando um roupão preto por cima de uma camisola de seda - Poderia ter esperado até o amanhecer, não acha?

   _ Você precisa ajudar ele! - choramingo - Por favor!

   _ Por quê eu deveria? Um problema a menos.

   _ Não pode deixar que morra, Brand!

   _ Ah, criança! Já está grandinha o suficiente para arrumar sua própria bagunça.

   _ Salve a vida dele, liberte-o e eu não irei mais resistir. - na cela ao lado, Tommy faz um barulho estranho em protesto. Brand me estuda com os olhos vermelhos.

   _ Como saberei que vai cumprir sua palavra?

   _ Não vou resistir! - garanto - Salve-o, liberte-o e me terás por completo. É uma promessa.

   _ Ponha a mão direita sobre meu coração - ela ordena se aproximando da cela. Temerosa, obedeço - Agora diga...

   _ Eliva Promessis. - as palavras saem sem que eu perceba. Uma luz dourada revestiu minha mão por alguns segundos e então se apagou. Minha palavra estava selada - Agora faça sua parte.

    Com um acenar de mão, fogo consume Thomas. Me afasto abruptamente e minhas costas vão de encontro com a grade ferro do outro lado da minha cela. Meus olhos se enchem de lágrimas quando vejo Thomas agoniar em dor.

   _ Está matando ele! - protesto. Brand me ignora, os olhos parecem se deliciar na dor que ela causa em Thomas.

   Tento convocar meus poderes novamente, para anular o fogo, mas toda a minha energia parece ter sido sugada e eu estou sem meus poderes novamente. Mais uma vez vulnerável. Mas não paro de tentar. Me aproximo de sua cela, o calor das chamas queima meu rosto, mas estico o braço e... não dói. Olho perplexa para Brand, depois para Thomas ainda em chamas. Mas as chamas não me machucam. A iluminação da prisão diminui e o fogo se apaga. Thomas está inerte, a pele coberta por fuligem.

   _ T-Thomas? - gaguejo. Por um momento não obtenho resposta, mas então ele puxa o ar como se tivesse sufocado.

   _ Trabalho feito. - Brand avisa. Sua mão se ergue novamente e os guardas aparecem, abrindo a cela de Tommy.

   _ Como? Ele... Ele... Ele estava em chamas! Eu vi ele... em chamas, morrendo... - minha mente tenta entender o que aconteceu segundos atrás. Os guardas agarram Thomas pelos braços e o arrastam pra fora.

   _ Nem tudo que é fogo, queima é destrói - Brand diz - Mas agora, temos uma viagem para fazer.

Olá, Flocos de Neve!!!

O que acharam do capítulo? Acham que o plano de Peter vai dar certo ou ele realmente vai morrer? E Elle, acham que a promessa que ela fez foi um pouco... Arriscada? Ah, e parece que Krisa fez um amigo, o que acham sobre isso?

Como compensação pela demora, fiz esse capítulo um pouco maior. Espero que tenham gostado.

Votem, comentem e não se esqueçam:

Você é incrível!

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