CAPÍTULO 1

— Bely!– Ouço minha mãe martelar na porta. – Filha, você está atrasada!

Olho para o relógio e o caos se instala: já são 8h45!

Meu Deus, como deixei chegar a esse ponto?!Deve ser por isso que meu telefone está tocando em algum canto obscuro deste quarto.

Depois de uma pequena busca arqueológica, encontro meu celular embaixo da cama (sério, como ele foi parar lá? Só Deus sabe). Atendo, e do outro lado da linha, ouço uma Malu possessa.

— Bely, cadê você, mulher? Não me diga que acabou de acordar!– Parece que minha melhor amiga acordou com o pé esquerdo e uma pitada de drama.

— Ai, amiga, se eu disser que sim, você promete não brigar comigo? – enfio uma sapatilha no pé e arrumo um coque que mais parece uma arte moderna.

— Não vou brigar, Isabely. Já percebi que discutir com você é uma missão impossível. Mas se puder, por favor, venha logo! O pastor Paulo vai começar a reunião e eu preciso de você aqui pra me dar uma força com o violão.

— Tô a caminho! – pego minha bíblia da escrivaninha enquanto escuto um "ótimo, não demore" antes da conversa acabar abruptamente.

Coloco meu violão no ombro e, como uma verdadeira atleta, desço as escadas a toda velocidade. No caminho, avisto minha mãe mergulhada em sua Bíblia, como se estivesse buscando a resposta para a vida.

— Bom dia, mãezinha! – deixo um beijo na bochecha dela, que ficou com cara de pêssego.

— Bom dia, meu amor. Você não vai tomar seu café da manhã?

— Mãe, se eu demorar mais um minuto, a Malu me mata – respondo rindo.

— Então é melhor você correr!

— É isso mesmo que estou fazendo!

Ainda bem que a casa da Malu é a dois passos da minha. Em passos rápidos, logo chego ao meu destino.

Sou recebida pela Tia Rute, mãe da Malu, com um beijo caloroso e, sem mais delongas, sigo direto para o quintal, onde alguns jovens da igreja estão reunidos com nosso pastor.

Toda semana, nos juntamos na casa de um jovem para orar uns pelos outros e aprender mais sobre a Bíblia. É sempre um momento incrível de comunhão e risadas!

— Senhor, fale conosco nesta reunião. Que possamos sentir o seu agir em nossas vidas. Em nome do seu Filho amado, Jesus. Amém! – O pastor já estava no clima da oração quando me posicionei ao lado da Malu, com meu violão nas mãos.

Adoramos a Deus com alguns louvores e então o pastor trouxe uma mensagem poderosa ao nosso coração:

— Romanos 8:28 diz: "Sabemos que tudo que nos acontece está operando para o nosso bem, se estivermos amando a Deus e ajustados ao seu plano."

Após o culto, a hora do almoço chegou e a Tia Rute nos convidou para comer, o que nos deixou super animados, porque, sério, ela é uma cozinheira de mão cheia!

Depois do festim, quando quase todos se foram, fui até a cozinha ajudar a Malu com as louças. Mas me arrependi amargamente assim que ela começou a falar:

— Olha, Bely, acho que você deveria colocar esse garoto para correr da sua vida. Até um cego consegue ver que esse namoro não é da vontade de Deus! – disparou, indignada, após eu contar sobre a última proposta do meu namorado.

— Amiga, você sabe que eu gosto dele e que ele é um namorado maravilhoso!

— Maravilhoso? Sério isso, Isabely? 

— Amiga, calma! Não é tudo isso que você está pensando.

— Não é tudo isso? É muito mais! Mas sabe o que eu estou pensando? Que, com certeza, você vai cair na lábia dele.

— Mas é claro que não!

— Acho bom mesmo! Até porque está na cara que ele não quer nada sério com você diante de Deus. E não adianta me olhar assim, porque você sabe que é verdade!

— Amiga, mas...

— Bely, sem "mas"! – ela me lança um olhar que poderia derreter o gelo da Antártida. — E só pra lembrá-la que tudo que começa errado geralmente termina em furada!

Inspirei profundamente e contei até dez.

Mas, claro que eu não vou cair na conversa fiada do meu namorado que insiste em me levar para a cama. Sou uma cristã, afinal de contas!

— Malu, você sabe que eu nunca aceitaria isso! Minha virgindade, meus princípios, tudo isso é inegociável para mim!

Ela me olha de canto de olho, como se estivesse avaliando um novo projeto.

— Eu não teria tanta certeza assim, amiga. – sua voz soa cansada. — Vocês estão em jugo desigual e, em algum momento, um dos dois terá que ceder. E eu oro para que não seja você! Sério, Bely, peço tanto a Deus que coloque juízo nessa sua cabeça de vento!– reviro os olhos, me sentindo mais dramática do que uma atriz de novela.

— Você fala como se eu fosse uma criança de oito anos.

— Mas é o que parece... – ela olha profundamente nos meus olhos. — Só Deus sabe o quanto fico angustiada em saber que você está se revoltando contra a vontade Dele ao namorar esse garoto.

Estava prestes a dizer a ela que estava tudo sob controle, que não precisava ficar tão preocupada, mas em vez disso, voltei minha atenção para a Vivi, uma de nossas amigas, que se aproximava com um sorriso radiante nos lábios.

— Oi, suas lindas! O que vocês estão falando de bom?– pergunta ela, animada.

— Na verdade, Vivi, estou aqui tentando colocar um pouco de juízo na cabeça de vento da Bely.

— Vê se eu aguento! Parece até a minha mãe!

— Vocês duas são uma comédia. Quem vê, pensa que são irmãs.

— Nem brinca! Eu não aguentaria a Malu 24 horas por dia no meu ouvido brigando comigo. Já basta ser melhor amiga dela!

— É, Vivi, se eu fosse irmã dessa mocinha, certamente seria presa por cárcere privado, porque eu trancaria ela dentro de casa metade do tempo para não sair por aí fazendo as burradas que faz!

— Ok, meninas. – Vivi ri. — Pelo visto, vocês realmente precisam esfriar um pouco a cabeça... – sorri e então sugere: — Que tal irmos ao boliche hoje à noite? Afinal, é sábado e já faz um tempinho que não saímos juntas. Acredito que vai fazer maravilhas para o ânimo de vocês duas!

— Adoraria!– disse Malu, empolgada.

— Eu também topo! – afirmei com um sorriso.

— Ótimo, meninas! Então vejo vocês às oito! Mas agora vou ali ajudar o Luca com aqueles copos e aquele refrigerante, porque estou prevendo um desastre a qualquer momento! E, por favor, tentem não se matar até lá, tá?

Não se matar até as oito. Ok, acho que consigo!

Olhei para a Malu, e ela me mirou com sua expressão dramática. Após um breve momento de silêncio carregado de emoções, ela começou a falar, agora bem mais calma e cheia de amor:

— Você sabe que eu digo essas coisas porque eu te amo, né? Não suporto ver você desperdiçando sua juventude com coisas que te afastam do Senhor. – Seu olhar singelo e genuíno me atingiu como uma flechinha daquelas de Cupido.

Eu não poderia responder nada além de um:

— Eu sei, amiga... Obrigada por se importar tanto comigo.

E foi assim, numa troca de sentimentos, que fizemos as pazes. Porque, apesar de todas as nossas brigas, eu não consigo viver sem a Malu. E, lá no fundo do meu coração, sabia que ela tinha razão. 

DEUS POR FAVOR,NÃO ME DEIXE CAIR EM TENTAÇÃO!



Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top