Contos de um estranho

    Então finalmente nos encontramos, não é? É interessante o fato de estarmos interagindo agora, digo, você fez história há eras atrás e me parece que não se lembra disso, mas eu estou aqui para refrescar a sua memória.
    O ano era 867, o auge da idade média, tempos difíceis ao menos para nós, digo, para você. Uma pequena criança nascida de uma pessoa humilde, de fato eu não sei o seu nome agora mas naquela época você se chamava Mateo, sim, o pequeno Mateo, caminhando pelas estradas desalmadas da era das trevas, se alimentando de restos estragados que um dia foi uma deliciosa refeição de um nobre. "Tempos difíceis criam momentos difíceis, momentos difíceis criam homens fortes." Palavras daquela que um dia esteve viva o suficiente para lhe aconselhar, sua mãe. Você cresceu sozinho, sua mãe não foi forte o suficiente para aguentar o fardo de ser uma marcada, e seu pai? Você nunca conheceu o seu pai.
    Ao auge de seus 17 anos de idade, nada havia mudado e isso estava sinceramente incomodando você, não o fato de sempre estar sozinho ou não ter moedas o suficiente para tomar um bom banho quente em uma água termal ou poder se alimentar como um nobre, e sim com os outros. "Por quê todos são assim? Me olham com desgosto, gravam minha face como um demônio, se afastam como se eu estivesse doente e nunca houve um pingo de empatia." Você dizia pra si mesmo, enquanto chorava naquela floresta totalmente escura, aonde se escutava apenas o som dos grilos e se via apenas o brilho daquela noite melancólica.
    Na serenata dos insetos junto ao brilho intenso da lua era possível se escutar folhas estalando, algo estava próximo e por incrível que pareça, você já sabia o que era.

— Criatura frágil, o mundo lhe quebrou e aos poucos as pessoas o mastigaram como um lindo banquete. — Dizia um homem, saindo de trás de uma árvore.

— Eu estou bem, saia daqui. — Você dizia, abaixando novamente sua cabeça enquanto desfocava sua visão.

— Você não quer que eu vá embora, garoto. As leis precisam ser restauradas, você não acha?

— O que quer dizer com isso? — Você parecia confuso.

— Não pense que eu não escutei, seus gritos enquanto ansiava por uma noite comum, sua fome enquanto se esgueirava pelos becos dessa maldita vila, eu entendo você e sei o que quer. — O homem dizia, enquanto erguia seu rosto, mostrando uma expressão de pena para você com aqueles malditos olhos vermelhos.

— Você não sabe nada sobre mim, eu já disse para sumir daqui, não sou fraco o suficiente para me render a você, diabo. — Ao dizer tais palavras, o homem se impressionava ainda mais com você, ele tinha bons planos.

— Você me verá de novo, minha oferta estará a sua disposição, Mateo. — Assim o diabo desaparecia, gargalhando em um tom que fazia folhas caírem.

    Você foi embora, aquela floresta não era o local adequado para descansar, às 04:27 você permanecia acordado e um tanto pensativo quanto ao que o diabo disse, mas você queria fazer as coisas do seu modo. Um garoto de 17 anos que ansiava por mudança, qual a forma mais viável de mudar o mundo? Fazendo-os acreditarem que não se deve machucar os fracos?Fazendo-os pensar que suas atitudes estão erradas? Não, era óbvio na sua cabeça, você queria revolucionar o mundo, do seu modo, se as coisas não estavam funcionando daquela maneira o mais viável era os fazerem lhe obedecer, mas como? Com sua palavra confiante? Com sua generosidade? Não, com a sua ira.
    Me parecia um cenário divertido de se olhar de canto, uma criancinha que se rebelou e se tornou o mais poderoso rei, você queria os quebrar e os reconstruir usando sua força, moldar a sociedade a base de seus princípios e isso me divertiu como nunca! O plano era planejar um golpe de estado, massacrar metade de sua vila e os deixarem desordenados, novamente, na sua cabeça isso parecia fácil e eu confesso que também achei que seria, mas não foi. Em uma casa afastada daquele maldito lugar, você planejava seu golpe, duas pessoas estavam dispostas a lhe ajudar, Júlia e Frank, um pouco mais velhos mas sem tanta capacidade cognitiva, pessoas perfeitas a serem manipuladas.

— Começaremos com os trabalhadores, o golpe deve acontecer às 23:00 horas, eles estarão cansados e prontos para irem embora, a vila não é tão grande apesar de sua grande influência com o reino de Graffit por conta da produção de carvão excessiva. — Você dizia, apertando a mão na ponta do banquinho.

— E se não conseguirmos manter a descrição? Digo, são muitos trabalhadores e duvido muito que consigamos lidar com todos. — Frank parecia assustado com tal plano.

— Concordo, não quero morrer antes dessa revolução começar, as coisas estão difíceis e precisamos agir. — Júlia completava batendo a mão na mesa.

— Não sejam tolos, todos os trabalhadores são marcados, eles vivem como nós, a diferença é que farão parte de algo maior. — Você parecia confiante.

— O que quer dizer com isso? — Frank perguntava.

— Ninguém nessa vila ligaria se um ou dois trabalhadores morressem queimados por acidente na produção de carvão. — Boa jogada a sua, eu diria.

— Um ou dois não é nada comparado a quase trinta, isso não vai rolar! — Frank novamente parecia assustado.

— Cala a porra da boca, imundo! Eu dito as regras e você só as segue de boca calada, se você está com tanto medo de iniciar isso tudo, por quê me seguiu? — Você se irritou, quebrando o banquinho na parede.

— Sinto muito, Mateo... — Frank abaixava sua cabeça enquanto Júlia evitava falar algo.

— Logo após os trabalhadores, continuaremos com os outros moradores, fogo em suas casas, antes que possam fugir, e caso fujam, um círculo de fogo rodeará toda a vila, os incapacitando de fugir. — Você realmente havia pensado em tudo. — Iremos com lanças banhadas no sangue de um bruxo, qualquer ferida é letal a um humano comum, os que sobrarem, mataremos a sangue frio até sobrar apenas uma pessoa.

— Mas por quê deixaremos um sobrevivente? — Júlia perguntava.

— Mas é óbvio, o reino de Graffit precisará receber a notícia de que toda a vila foi massacrada, e que eles serão os próximos em nome de Mateo.

    Você estava pronto, sua revolução começaria ali, e isso lhe deixava ansioso, você estava pronto para se banhar com sangue de inocentes a troco de um mundo melhor, esse era seu propósito, esse era você, Mateo.

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