Capítulo 3

Era 23 de Junho e em casa, minha mãe preparava cachupa e bolo de milho para o almoço de amanhã que seria na casa da tia Lúcia, íamos comemorar o Dia de São João fora de casa. Francisco e o pai ainda estavam zangados um com o outro, as palavras proferidas pelo pai ainda cutucavam o cérebro do Francisco que agora passava mais tempo fora de casa e reduziu as coisas e dinheiro que trazia para a mãe. Nosso pai agora saia todas as noites de casa, ele dizia que ia ao bar com os amigos para esfriar a cabeça, mas quando voltava eu percebia que ele nunca cheirava a bebida alcoólica e sim a perfume feminino. Agora eu tinha a certeza que minha família estava acabando aos poucos, meu pai já não era o homem que eu conhecia, me preocupava se a mãe não sentia o cheiro de perfume feminino nas roupas dele, ou então, ela fingia que não suspeitava de nada para manter a imagem intacta da família.                                           Era 23 horas da noite, e eu estava no meu quarto ao pé da janela olhando a rua, as pessoas e os carros atravessando a estrada, um carro parou a frente de uma pensão que ficava ao lado e um pouco mais afastado da minha casa, tinha um homem de pele clara com os cabelos enrolados e um fato bem janota dentro olhando para frente enquanto o motorista tinha saído para pegar algumas malas do porta-malas. O homem saiu e eu não pude evitar minha curiosidade de aproximar mais um pouco meu rosto na janela para ver melhor, ele não era tão alto, mas parecia ter seus trinta e pouco anos de idade, a dona da pensão saiu para o cumprimentar com um simples aperto de mão, entraram e fecharam a porta, mas eu fiquei curiosa para saber quem era aquele homem, ele não parecia ser daqui.  

Na manhã seguinte acordei com os berros da minha mãe me chamando para levantar porque íamos nos preparar para ir a casa da tia Lúcia, era Dia de São João, e eu estava cheia de sono porque tinha dormido muito tarde para levantar às sete da manhã, despertei só quando ouvi um carro buzinar debaixo da janela, levantei aos pulos para verificar quem era, vi o carro do homem que ontem tinha visto, parou na frente da pensão, por um lado eu tinha pensado que era o motorista mas era o homem. Ele saiu do carro vestido uma calça preta e uma camisa de manga grande e na mão ele tinha uma bolça de plástico com algo dentro. Na luz do dia eu tinha conseguido enxergar seu rosto melhor, no momento que eu observava seu rosto minha mãe deu um grito que podia ouvir na rua                                                                                                                                      - MALENA- gritou minha mãe, e o homem virou seu rosto para ver de onde vinha o grito, voltou seus olhos para mim na janela e eu escondi atras da parede, não sei qual foi a reação dele, apenas corri para casa de banho para me preparar- a muito tempo estou cá a te berrar para apressares menina- minha mãe me reprendeu quando tinha saído do banho que não era chuveiro e sim de caneca. Vesti um vestido fresco e peguei algumas coisas necessárias para o dia a dia, António pegou o bolo de milho e meu pai a panela de cachupa e saímos de casa a caminho da casa da tia lúcia. 

- Eu acho que está muito cedo para começar a festejar o Dia de São João- eu disse para a mãe com o semblante de quem estava com vontade de dormir mais umas quatro horas.                              - Não senhora, temos que estar na casa a minha irmã o mais cedo possível para preparar os arranjos e as comidas porque a Lúcia terá visitas de pessoas de alta classe- dizia minha mãe toda empolgada enquanto eu só desejava dormir mais um pouco.                                                                 - Onde está o nosso pai- perguntava António olhando para trás procurando nosso pai                         - Ele não dormiu em casa, mas me prometam que não vão contar a minha irmã e nem outra pessoa que o vosso pai não dormiu em casa- minha mãe estava muito preocupada com a imagem da nossa família que podia ser alvo de intrigas pela sociedade, eu e meus irmãos prometemos sem nenhuma dificuldade, eu  sentia muita pena da minha mãe, ela engolia tudo sem reclamar, eu dizia no meu intimo que nunca sujeitaria a esse tipo de comportamento num casamento.

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