Capítulo 05

No domingo após o encontro com os rapazes, Julia insistiu que fossemos até um parque local, aproveitar o dia ensolarado e assim fizemos.

Por horas Fernando e ela tocavam violão e cantavam, acompanhados por minha animada mas também péssima voz. As músicas variavam de Legião Urbana, banda favorita de Fernando, até Fresno, uma das minhas favoritas. Gustavo apenas mexia a boca, fingindo cantar, ainda com a ideia de fingir ser quem não era para me agradar.

Voltei para casa com a sensação de que não deveria ter deixado aquilo acontecer, ele não fazia meu tipo, era evidente, mas eu estava a tanto tempo sem namorar que é difícil não se envolver com qualquer pessoa que lhe dê um pouco de atenção.

No dia seguinte, o dia da tortura havia chegado e eu estava uma pilha de nervos. Tirei folga do trabalho e torci para dar tudo certo. Como estava bastante apreensiva, chamei meu sobrinho adolescente Nick para me fazer companhia, já que Julia estava trabalhando naquele horário e lá fomos nós.

Ao adentrar o estúdio, fomos atendidos por um rapaz extremamente simpático e atencioso, era sem dúvidas o mesmo de quem eu me recordava da época dos piercings.

Escolhi o local onde a tatuagem iria ser feita, no antebraço, pouco abaixo da articulação do cotovelo e colamos o molde. Entre um breve assunto sobre eu ter uma estrela, nada bonita, tatuada no pulso e ela ter doído pra caramba, começamos a marcar minha pele.

— E ele não teve vontade de fazer tattoo ainda? — me perguntou, enquanto contornava o primeiro traço em meu braço.

Olhei para o Nick e ele riu timidamente, como era de seu feitio — Vontade acho que até tem, mas o problema é os pais. Ele só tem 15 anos.

— Ah, então não aconselho mesmo — sorriu — Tá tudo tranquilo por enquanto? — questionou-me sobre a dor que a agulha poderia estar me causando.

Assenti e seguimos a conversa. Naquele momento, dadas as circunstâncias, eu apenas sentia uma leve queimação, bem diferente da primeira experiência com tatuagens que tivera.

— Promessa feita é promessa cumprida — comentei e ele riu outra vez — Quinze anos de espera, mas valeu a pena.

Suas mãos se encontravam devidamente protegidas por luvas e o rosto coberto com uma máscara, mas mesmo assim, eu não conseguia desviar o olhar dele, era como se algo magnético me atraísse diretamente para os seus olhos amendoados, que se mantinham concentrados no trabalho.

— Eu sou colorado, mas não sou fanático pelo Internacional não — levantou o olhar rapidamente, molhando a agulha no batoque com tinta e se voltou para meu braço outra vez — Gosto mais de zoar meu sobrinho quando o time perde. Ele sim é fanático.

— Esse aqui — apontei para o Nick sentado ao lado, focado em seu jogo — Também não curte muito futebol, o negócio dele é Lol.

— Tenho outro sobrinho que também é viciado nesse tipo de jogo e entende tudo de informática — comentou ele — Sempre que tenho algum problema com o computador peço pra ele dar uma olhada.

— Eu confesso que também faço o mesmo.

Rimos juntos dessa vez, enquanto nossos olhares se cruzavam e borboletas acordavam e dançavam por meu estômago. Que sensação estranha era aquela? Eu sentia como se já nos conhecessemos a anos.

— Eu gosto bastante de séries — iniciei outra conversa e esse duraria até o final da sessão.

— Sabe que eu também? — a parte da escrita estava sendo finalizada e agora faltava apenas o coração tricolor — Gosto muito de The Big Bang Theory, Two and a Half Men, Supernatural...

Enquanto ele listava suas séries favoritas, eu ficava cada vez mais surpresa, pois eram, em sua grande maioria, as mesma que eu também assistia.

Nos aprofundamos bastante em uma delas em particular e claro que eu fiz minhas indicações, já que esse é meu assunto favorito na vida.

Foram menos de uma hora de trabalho, mas o assunto entre nós parecia não ter fim. Depois de falarmos sobre nossas séries favoritas, sobre família, sobre  relacionamentos passados e tudo mais que podia ser dito em tão pouco tempo juntos, era hora de nos despedirmos.

Minha tatuagem havia ficado incrível, como eu disse, quase não senti dor e saí do estúdio com a sensação de dever cumprido. Mais do que isso, a satisfação de olhar para algo tão delicado e ao mesmo tempo tão significativo, foi maravilhoso.

Nick e eu voltamos para casa e ao chegar fui direto para o banho. Depois de me refrescar, já que estava fazendo um calor infernal, fui para o meu quarto, liguei o ar condicionado, escolhi uma série e me joguei sobre a cama. Com uma bolsa de gelo sobre o local do meu novo adereço permanente, eu não conseguia tirar Jonas de minha cabeça.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top