Estilhaços de 1940 (@illaanarah)

PARTE I

Acordei com o enorme barulho de motores de carro. Não sabia o que estava acontecendo. Corri ao quarto da mamãe que estava apegada ao seu terço. Marie ainda dormia como um pequeno anjo. Aproximei-me da mamãe.

— Que barulho foi esse, senhora minha mãe? — Pergunto, mas sai quase como um sussurro — Onde está o papai? Onde está o Knut?

— Eles estão aqui minha filha, eles estão aqui — Fala com temeridade em sua voz — Os alemães estão aqui.

— O papai.... — Depreendo olhando para o relógio pendurado na parede que marca 4:36 da manhã.

— Sim! Seu pai foi chamado! — mamãe fala com um ar de tristeza — Pode continuar a dormir...

Começa a falar, mas logo escutamos o primeiro tiro. Meu coração pulou, Marie acorda assustada e chorando.

— Minha princesa, não precisa chorar — Falo tentando acalma-la. Marie tinha 7 anos e era uma pequena bailarina, tão pequena e não fazia ideia do que estava acontecendo.

— Mia! Precisa ir à quitanda. Avise ao senhor Niel para trazer as crianças para cá, as esconderemos no porão. As coisas só começaram a acontecer e.... — Ela dá uma pequena pausa e suspira — tende a ficar pior, devemos protegê-las.

— Sim senhora! — Falo, agarrando o pequeno casaco, vestindo e indo até a porta. Olho novamente para o relógio, que marca 5:15 da manhã. Dpu um beijo na mamãe e então saio.

Eu conhecia as ruas de Copenhague como a palma da minha mão. Havia crescido entre aqueles becos e não era difícil chegar à quitanda no quarteirão vizinho sem ser vista... As ruas estavam um alvoroço de soldados dinamarqueses andando para todos os lados. Sabia que a situação só ficaria pior, e estava com medo. Afinal, Knut e o Pai estariam ali. Conseguiria vê-los de novo?

Meu pai era um oficial do exército e o meu irmão Knut era um militar. Knut estava com 19 anos e era o primogênito. Eu nasci cerca de três minutos depois, mas ainda assim ele era o primeiro filho. Ando ainda mais rápido, precisava checar algumas coisas.

— O que aconteceu? — Pergunto ao cruzar, na esquina, com um dos meninos que ficavam nas ruas.... eles sempre tinham respostas para tudo e sempre sabia de tudo o que acontecia.

— Os alemães! Disseram que vieram nos proteger. — ele fala com temor em sua voz.

— Nos proteger? De quem?

— Dos franceses e dos ingleses, foi o que ouvi dizer...

— Mas então... — começo a falar e sou interrompida.

— Mas ouvi dizer que na verdade não é isso... as tropas alemãs já tomaram metade da capital, foi o que ouvi... nossos irmãos estão tentando mantê-los afastados, mas está ficando difícil...

Antes que terminasse de falar, corro apressadamente.

— Desculpe!!! Mas eu... Eu preciso ir... preciso avisar a mamãe...
Corro por mais alguns metros e logo chego à quitanda do senhor Niel. Bato desesperadamente em sua porta e quem atende é uma das crianças. Entro e avisto o senhor Niel, que provavelmente já estava esperando.

— Iremos para a casa da professora? — Uma das crianças pergunta me olhando.

— Sim!!! Estarão todas indo para a casa da mamãe, irão brincar com a Marie — falo carinhosamente e viro-me para o senhor Niel — Levarei metade das crianças, volto para buscar o restante. Irei pelo beco ao norte, está deserto.

Ele assente e logo volto para casa com metade das crianças. Seu Niel era dono da quitanda e cuidava de 13 crianças, era um senhor que perdeu a esposa ainda cedo e nunca mais casou. Ela não havia lhe deixado filhos, então, após algum tempo, passou a cuidar das crianças necessitadas e quando se deu conta já havia adotado 13.

Deixo as crianças em casa, falo à mamãe o que está acontecendo e volto para pegar o restante das crianças. Assim que chego, já estão à espera.

— Voltarei para casa! Sigam a Mia e a obedeçam — o senhor Niel fala para as crianças — Logo estarei lá.

Sigo com as crianças novamente pelo beco ao norte, mas sinto meu coração gelar ao ver alguns corpos no chão. Estava um pouco distante, mas ainda assim era possível ver que eram soldados. Teria sido os alemães? O que estava acontecendo? Como chegaria em casa com as crianças?

— Crianças, esperem aqui um instante! — falo e ando cuidadosamente até os corpos.
Eram soldados dinamarqueses. A ficha finalmente havia caído, a guerra havia chegado em Copenhague. Olho um pouco mais e percebo dois soldados alemães vindo em direção ao beco, sinto o desespero correr pelo meu corpo. E se ... fizessem mal as crianças? — Crianças venham por aqui — falo, voltando rapidamente.

— Ei! Venham por aqui. — Escuto uma voz rouca falar. Olho para o lado e vejo um jovem. Era um soldado alemão.

Queria nos ajudar? E se tivéssemos entrando numa enrascada? Era pouco tempo para pensar, então resolvo seguir minha intuição. Agora ele era a melhor saída para as crianças e para mim. Não podia arriscar.

PARTE II

— Porque uma jovem tão bonita e essas crianças estão na rua? — Ele pergunta nos direcionando por um outro caminho — Agora podem ir tranquilas, mas sejam cuidadosas, há muitos soldados que não são como eu e....

— O que você pensa que está fazendo, senhor? Entram em nossa cidade, ousam matar os nossos cidadãos, os nossos soldados e acha que o verei como alguém benevolente? Não passam de ratos. — Falo bufando pelas narinas e consigo chegar em casa com o restante das crianças...

Não demora muito e começo a escutar o som de bombas e tiros, estávamos resistindo... Mas não saberia até quando... não sabia a real situação em que estava agora...

Sinto meu corpo tremer e as minhas mãos suarem. Estava com medo... quem não estaria diante de tal situação? Ninguém está pronto para uma guerra, ninguém a espera... por mais que tenham preparos quando ela chega, sempre será uma surpresa aterrorizante. Ter esses pensamentos me fazia ter os mais longos arrepios.

Finalmente a terça feira do dia 09 de abril estava chegando ao fim... Porém era o fim de um resquício de paz e o começo de um verdadeiro inferno, os alemães conseguiram, agora Copenhague estava sob os "cuidados" deles.

— Mãe!!!!! — Escuto a voz do Knut.

Ele estava em casa. Corri ao seu encontro e o abracei como não fazia há algum tempo. Mamãe veio ao seu encontro e lhe deu um beijo na testa.

— Como estão as coisas meu filho? — Pergunta com ar de preocupação.

— Nas ruas, agora só tem a tropa alemã. Estou com medo, mãe. Passei por um instante aqui... Mas terei que retornar ao amanhecer — Ele fala com uma tristeza depositada em sua voz.

— Vou preparar uma sopa quente para tomarem... — Mamãe começa a falar, mas logo escuta-se algumas batidas na porta.

— Eu atendo, mãe — Falo caminhando em direção à porta, mas quando percebo, ela já esta lá. Dou uma espiada, e a vejo receber algo, parecia ser alguém do governo.

Assim que o homem dá as costas, vejo a mamãe cair no chão em prantos. Corro ao seu encontro e vejo as coisas do papai numa caixa.

Não queria pensar em tal coisa. Não poderia imaginar a minha vida, sem meu pai.

A Marie estava no porão da casa junto com as outras crianças sob os cuidados do senhor Niel.

Mamãe não parava de chorar. A abraço e não me contenho, as lágrimas árduas escorrem pelo meu rosto... Choro até sentir os meus olhos se fecharem.

Sinto-me sendo carregada por Knut que me coloca na cama e levanta-se.

— Knut!!! — seguro em seu braço desesperada — Me promete que não vai morrer, que não vai me deixar e...e... deixar a mamãe.

— Descansa um pouco — Ele fala passando a mão sobre meus cabelos — Daremos um funeral digno ao papai.

Ele fala e sai.

O papai havia sido executado, foi o que a mamãe falou. Ele estava tentando resistir às forças alemãs, mas de alguma forma... acabou sendo morto... dentro do "próprio quartel".

Não deram muitas informações, foi o que a mamãe tinha deduzido, pois o corpo não havia sido liberado e poderíamos fazer um funeral (não entendi). Não poderíamos nos dar o luxo de ficar de luto... as coisas estavam ficando complicadas.

Precisávamos também comunicar a nossa pequena Marie...

PARTE III

Não conseguia acreditar que aquela era a última imagem do papai: deitado sobre uma caixa de madeira, com medalhas de honras. Olho para a sala da minha casa e vejo Knut em um canto, cabisbaixo. Talvez pensasse que aquele era o destino de todos... era um sobrevivente da guerra que mal havia começado ali, mas já havia levado o seu pai e dois grandes amigos. Do outro lado, vejo mamãe limpando as lágrimas do rosto. Marie está brincando, talvez por ser nova demais para entender o que está acontecendo. Vejo-a indo em encontro a mamãe, fala algo que a faz chorar grandemente, logo depois levanta-se e, com lágrimas nos olhos, começa a falar.

— A pequena Marie tem um desejo — Ela fala e se dirige à vitrola, pega um disco de vinil e, ao som de "Quebra nozes tchaikovsky", ela faz a última apresentação para o papai... Aquela era a mais linda despedida que o papai poderia ter...

Enquanto Marie rodopiava sobre a ponta dos seus pés, nos despedíamos do papai. Seriam tempos difíceis sem ele por perto.

— Mãe, preciso voltar — Knut fala ao dar-lhe um beijo na testa e virar-se para mim — Não ande de forma tão leviana. Agora eles estão por toda a parte e eles não são nossos amigos.

— Se cuide, irmão! — Falo, lhe dando um abraço. Ele estaria ao nosso lado, mas as circunstâncias em que estávamos eram difíceis. Talvez ele voltasse para casa na manhã seguinte com alguns biscoitos, ou em uma caixa de madeira. — Irei me cuidar também.

— Cuide da nossa pequena bailarina, e as crianças ficarão mais seguras por aqui... — Ele fala e sai.

Os dias passam, e a cada dia vejo mais e mais os soldados alemães nas ruas de Copenhague. Era difícil até mesmo andar pelos becos, sempre havia um soldado. Eram demônios em forma humana.

Fomos proibidas de sair. Tínhamos que ter a permissão do encarregado alemão para qualquer coisa que fôssemos fazer. Eu era a filha do homem que resistiu à entrada deles, aos olhos daqueles seres repudiantes, eu poderia até fornecer ou receber informações indevidas. Knut passou a ser monitorado em suas visitas a nossa casa...

O inverno finalmente estava chegando ao fim, e Knut, então, passou a ser monitorado mais de perto. Era fim de tarde, e a pequena Marie rodopiava de um lado para o outro. Para ela, não havia felicidade maior. Finalmente iria dançar e mostrar a sua arte. Para mim e a mamãe era a maior tortura que fizeram... O homem a quem estava na frente de tudo estaria passando por Copenhague em uma semana.... dariam um espetáculo para recebê-lo. Disseram "A guerra não é a única arte que ele aprecia".

Em alguns dias, nossa pequena Marie estaria rodopiando para aquele maldito... Era o maior insulto que o papai teria, mas não tínhamos escolhas.

— Mãe!!!!! — Knut entra pela porta chamando por mamãe e corro para abraça-lo.

— Nossa!!! Fazem semanas desde que esteve em casa — Falo e percebo que há alguém ao seu lado.

Olho para as botas e o analiso vagarosamente. Era um alemão. Aquela bandeira repugnante estava em cada partícula da sua roupa.
Viro-me e chamo Knut discretamente.

— O que ele faz aqui? Por que o trouxe para dentro da nossa casa? Você enlouqueceu? — Falo me sentindo traída pelo Knut. Vejo-o ficar próximo.

— É apenas conversa entre dois irmãos que não se vê a algum tempo — Knut fala e fico ainda mais furiosa.

— Por que não nos deixa em paz? Quem te convidou aqui? Por que está aqui? Já não basta ter invadido o nosso país e estar fazendo o nosso povo sofrer, quer invadir nossa privacidade e nossas casas também? — falo quase sem respirar. Quando finalmente o encaro, lembro-me do seu rosto. Sabia que já o tinha visto em algum lugar.

— Olá, senhorita! Então é aqui que se domicilia? Por um bom tempo pensei que fosse alguma espécie de miragem.

— Mas... você.... Quem é você? — o olho atentamente e lembro-me do soldado que me ajudou com as crianças... — Você.

Falo por fim, confirmando o ter visto.

— Senhor Knut, na verdade, só gostaria que me guiasse até as instalações sanitárias. — Ele fala e o olho novamente.

PARTE IV

— Filha! Seu irmão não tem culpa alguma — Mamãe fala enquanto Knut está com o alemão nas instalações sanitárias. — Se quiser ver seu irmão em casa, terá que se acostumar com a presença de tais. Agora coloca a Marie para dormir, vou preparar uma sopa.

Não demora muito e o rapaz volta e desta vez cumprimenta a mamãe.

— Sou o Jordan! — Fala sem muita cerimônia e logo saio. Ainda chegando ao quarto, escuto a mamãe dizer "Espero que perdoe a grosseria dela".

Me revolto, e sem perceber já estou na sala do jantar, bradando e com os olhos ardendo como fogo, as lágrimas escorrendo sobre o meu rosto.

— O papai morreu por causa de pessoas como vocês. — falo o olhando sem medo algum — e espera que eu o aceite? Na nossa casa? Não posso fazer isso, deveria se envergonhar Knut, mamãe....

— Assim como o seu irmão está cumprindo o dever dele com o seu país, estou cumprindo o meu dever. Sinto muito, senhorita, mas isso iria acontecer e isso não é minha culpa.

— Está dizendo que tenho que aceitar? — Falo bufando de raiva.

— Mia, já chega. — Knut fala suavemente.

— Eu deveria pedir desculpas, então? Por você ter matado o meu pai? — Falo com mais raiva ainda, enquanto ele continua a comer a sopa que a mamãe preparou — Como ousa comer a sopa que a minha mãe faz? Por você estar destruindo o lugar onde eu vivo? As lembranças que tive?

— MIAAA! JÁ CHEGA! PARE DE AGIR COM IMATURIDADE! — Mamãe fala e volto para o quarto chorando.

Olho a Marie dormindo e aliso os seus cabelos suavemente. Deito-me na cama e, sem perceber, pego no sono. Sonho com o papai e lembro-me de um episódio que ocorrera quando tive a primeira briga com o Knut. Papai nos colocou frente a frente e começou a nos ensinar a fazer pássaros de papel. Os pássaros do Knut eram sempre os mais belos. Ficava encantada e sempre esquecia pelo que havia brigado.

Acordo sorrindo, olho para a cabeceira da cama e vejo alguns pássaros de papéis pendurados, sorrio ainda mais.... Olho para a porta e ele está lá, sorrindo.

— Me desculpa irmã!!! — Fala com um grande arrependimento em voz — Eu não tenho escolha....e... ele, apesar de ser alemão, é uma boa pessoa. Ele é um amigo, não é como os outros.

— Tudo bem, irmão.... Eu que te devo desculpas.... — Falo, o abraçando — Não deveria ter explodido... Mamãe ficou muito triste.

— Ficarei aqui até o dia da apresentação da nossa Marie. Mas sempre que vier para casa, será na companhia dele. — Fala esperando uma aprovação.

— Não agirei com imaturidade — Falo sorrindo e levanto para ajudar a mamãe.

Acompanho o Knu,t e a primeira cena que vejo é do Jordan brincando com a pequena Marie. Por um momento a raiva toma conta de cada partícula do meu corpo, mas ao observa-lo um pensamento estranho me ocorre, talvez ele não seja uma má pessoa!!! Talvez ele seja diferente...

— Mia!!! Miaa !!! Está dormindo em pé? — Mamãe fala e só então percebo que ele também está me encarando com um enorme sorriso.

— Minha mãe? Estou aqui — Falo e a mamãe dá uma pequena risada.

— Parece que está em outro planeta. Há alguns minutos te chamo. Preciso de alguns materiais para ensinar as crianças... Acha que consegue? Chegar até aqui sem ser pega?

— Mãe!! Eu sou a Mia — Falo rindo.

— Acha mesmo que consegue? Está cada vez mais difícil, já que tudo está sendo monitorado por eles....

— Mãe... isso é uma canja — Falo..., mas confesso sentir uma pontada de medo.

— Posso fazer companhia para a senhorita — Jordan fala, aproximando-se.

— Não precisa eu.... — Começo a falar e sinto o medo percorrer ainda mais sobre meu corpo.

— Eu faço questão — Ele fala fazendo um gesto de cavalheiro e logo o acompanho.

PARTE V

— Não sei se devo confiar em você. — Falo caminhando ao seu lado — Você não deixa de ser um deles...

— Sabe que você é uma mulher firme para a sua idade? Para o seu sexo? — Ele fala, me deixando surpresa — É dona dos seus pensamentos. Nunca conheci uma mulher com tais peculiaridades.

Continuamos a andar e ele continuava a falar o que pensava sobre mim. Por alguns minutos, até esqueço da situação em que nos encontrávamos. Seguimos em frente e logo chego ao meu destino.

— Pode me esperar aqui? — Falo em um tom grosseiro — Não há necessidade de entrar comigo.

— Tudo bem! — Ele fala e entro.

Pego tudo o que a mamãe precisava, coloco na sacola em que havia levado e saio.
Olho para todos os cantos e não o vejo. Resolvo seguir o meu caminho para casa, como sempre ando pelas sombras dos becos de Copenhague. Ainda não conheciam todos os cantos, pelo menos foi o que eu havia pensado.

— Ei! O que faz por aqui e sozinha? — Olho para trás e vejo um soldado Alemão vindo ao meu encontro.

— Acho que ela está pedindo para a usarmos — O soldado a minha frente fala, me deixando enfurecida ao ouvir tais palavras.

— O que está carregando? — Um terceiro soldado fala apontando para minha sacola e a seguro ainda com mais força.

— Vamos brincar um pouco com este filhote de rato, antes de a levarmos para nossos superiores — O primeiro soldado fala desabotoando ao cinto que segurava as suas calças.

O vento frio invade minhas narinas e congela meu coração, e aos poucos todo o meu corpo começa a estremecer. O medo se instala e o arrependimento de não ter esperado Jordan toma conta. Sinto a sacola ser puxada da minha mão... e o meu corpo continua como pedra. Em meio àquele frio, sinto uma lágrima quente descer pelo meu rosto.

— O que pensam que estão fazendo? — Era um alívio escutar aquela voz familiar.

— Olha se não é o filho da Pátria — Um dos soldados fala soltando a minha bolsa no chão.

— O que pensam que estão fazendo? Eu perguntei o que pensam que estão fazendo? — Jordan estava exaltado e parecia repugnar tal ação.

— Ora, ora, devemos nos divertir um pouco com as vadias deste lugar não acha? — O ser repugnante que já havia tirado o cinto fala.

— Você se considera alemão? Você se considera humano? — Jordan fala o segurando pela gola enquanto os outros dois os observam.

— VOCÊ É ESTULTO DEMAIS, GAROTO. ACHA QUE EU GOSTARIA DE ESTAR AQUI? ACHA QUE ELES QUEREM ESTAR AQUI? ACHA QUE TODOS ESTÃO AQUI PELO BEM DA PÁTRIA? — O soldado fala gritando e o soca. — ACORDA.

— Eu estou cumprindo o meu dever como cidadão alemão. Não preciso torturar e usar mulheres e crianças para que isso aconteça devidamente. O fato de servir ao meu país já é o suficiente — Jordan fala fazendo-me ficar grata ao ouvir aquelas palavras e ao mesmo tempo sentir um embrulho no estômago. Aquelas palavras foram desconfortáveis, mas me manteve aliviada.

— Você é inocente demais para estar em um lugar como este. Não viverá para uma próxima guerra. — Aquele homem fala com fúria no olhar.

— E por falar nisso, acho melhor eliminar logo a vadia e o soldadinho da pátria — O soldado à minha frente fala, e, sem que ele perceba, o alcanço e empunho a sua arma contra ele.

Para ser mais clara, desde muito nova, papai servia ao exército. Ensinou ao Knut a empunhar uma arma e atirar e sempre que o papai saia, meu irmão me ensinava. Nunca pensei que eu devesse sentar em uma cadeira e costurar belas mantas para um futuro marido, como todas as outras mães ensinavam as filhas, sempre quis mais que isto...

— Senhorita Mia! Coloca esta arma no chão — Jordan fala, me olhando assustado — Não se brinca com armas...

— Atira logo nessa mulher — O que estava no chão após brigar com o Jordan fala enraivecido — Esses dois não irão fazer falta.

Antes que pudesse falar qualquer outra coisa, escuto o som seco e ensurdecedor. Uma bala, duas balas três balas. Minhas pernas tremem e não consigo abrir os olhos. Agora seria a minha vez. Fico ali abaixada e espero as próximas balas perfurarem o meu peito.

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