⁷⁰

capítulo 70, último da segunda temporada.

Acordei contemplando Gabriel ao meu lado, o ruivo com os cabelos bagunçados e dormindo todo desajeitado. Fiquei alguns segundo olhando pra ele e sorrindo como uma boba. 

A alguns dias atrás ele recebeu uma chamada para dirigir um filme, sem esperar por nada ele me indicou como atriz principal, infelizmente não consegui o papel, mas eu teria um ao lado da protagonista e uma parte do filme focaria em mim. Estava satisfeita com o nosso futuro juntos, mas é claro que a falta de tempo tomou conta.

Nossos primeiro minutos da manhã eram o único horário que tínhamos pra ficar juntos, pois durante todo o resto do dia não dava pra nos encontrar. A volta de Chicago foi recente, e as férias de inverno ainda aconteciam, mas pra garanti nossos trabalhos era preciso muito esforço.

-Bom dia, amor.- Ele me assustou quando disse. 

Tirei as mechas ruivas da frente de seu rosto, abrindo um sorriso ainda maior. 

-Bom dia, lindo.- Beijei sua bochecha, me levantando da cama dele e indo até o banheiro pra  começar a me arrumar.

-Perdoe o comentário, mas você fica muito linda usando minha blusa.- Senti meu rosto ficar vermelho com seu comentário. Estava vestindo somente uma blusa até os joelhos e de short fino. Era meu pijama mais usado durante esse semana que passava na casa dele.

Uma batida na porta chamou nossa atenção, Gabe levantou também e foi abrir, eu entrei no banheiro logo. Percebi que não era tão ruim conviver no mesmo lugar que ele, achei que iriamos brigar ou tocar fogo em algum móvel da casa, mas tudo ficava muito tranquilo. É claro que Gabriel não tinha uma paciência eterna, mas tinha o desejo de sempre me fazer sentir confortável e amada, isso é bom.

Ficar numa casa com Pierre foi algo que nunca imaginei, tomar café da manhã com ele, o encontrar na sala e assistir algum programa de ação, ou empurrar ele na piscina gelada quando ele me irritar era divertido. Pensava que nunca podia confiar ou gostar dele de novo, até o dia que ele me pediu perdão e falou que estava muito arrependido.

Eu lhe dei uma chance, não que tivesse esquecendo o que ele fez, na verdade aquilo foi o começo pra muitas inseguranças na minha vida e nas pessoas, mas dei uma chance a ele de provar que podia ser alguém melhor. Faz somente uma semana, e está tudo muito bem.

Com Wesley foi a mesma coisa, ele me chamou pra conversar antes de viajar pra Boston. Contou que conversou com minha mãe e teve uma parte dele envolvida por ele me deixar em paz. Parece que ofereceu um emprego a ela e explicou que o melhor a se fazer era me deixar aqui com as pessoas certas. Fiquei muito agradecida, apesar do tempo, ele também se desculpou.

Catherine e Andrew resolveram dar um tempo na relação, ela me disse que estavam indo rápido demais e o Ian ainda mandava mensagens, a gatinha queria resolver as coisas em sua vida antes de começar outro namoro. Eu achei a decisão mais sábia possível. Andrew também veio me procurar, conversamos e acredito que em breve voltaram a serem um casal de novo. Afinal, ele confessou que ama minha amiga, foi a melhor notícia.

Na verdade, a melhor notícia mesmo foi saber que Brian voltou a Flórida pra se resolver com Tessa. Antes disso ele ficou quase uns três dias conversando com Maya, contando como ambos podiam manter uma relação de amigos sem nada a mais, a loira ficou uma fera mas não negou. Acho que ainda vai tentar algo pra atrapalhar o casal, já que não desiste assim tão fácil do que perde. Mas estou ansiosa por novidades entre meu novo shippe favorito. 

Outra coisa incrível que aconteceu. Hillary teve seu bebê, agora eu não sou a mais nova e tenho um irmão pra cuidar. Como se o Brian não já fosse o suficiente. Fomos visitar eles no hospital, por está ainda algumas semanas antes da data de nascer, ficou alguns dias internado, e dormi com ela no hospital quando meu pai tinha que ir descansar. Pra quem reclamava de sempre está sozinha, eu fazia parte de quase três famílias.

A dos Peters, a dos Leonards e a dos McCalls. Era um pouco cansativo participar das comemorações, dos aniversários e ficar viajando quase todo final de semana pra está com tudo em dia. Isso com contar com a luta de procurar um estágio e fazer peças, agora mais difícil ainda com um filme pra gravar. Mas apesar disso, é tudo que sempre quis e sonhei pra minha vida.

Acredito que até nos nossos erros há um propósito, sem eles não teríamos muitas coisas em nossa vida e se não temos algo, quem sabe o que podia acontecer. Não apenas nascemos, reproduzimos e morremos. Somos vidas, marcamos pessoas, fazemos histórias, amamos alguém e ajudamos quem um dia precisou. Talvez eu já tenha sido um exemplo melhor de ser humano, mas me orgulho muito da mulher que me tornei.

Não por minha herança de quase cinco milhões de dólares, nem pelo meu namorado, nem por minha melhor amiga do mundo, muito menos por ter está sendo uma atriz reconhecida. Isso um dia vai acabar e só será lembranças. Mas me orgulho das minhas ações, meus pensamentos com mais empatia e por está apaixonada, isso sim ficará marcado eternamente em minha vida.

Quando acabo o banho, coloco uma roupa simples e vou até a sala, onde escuto barulhos de conversas. É quando vejo minha sogra sentada no sofá, rindo com seu filho. Viviana já veio aqui algumas vezes essa semana, e mal falou comigo, talvez esteja me ignorando ou não quer mesmo meu envolvimento. Me viro e vou até a cozinha, encontrando Pierre lá.

-Oi, nerd.- Ele provoca assim que me vê.

Reviro os olhos e dou um gole no café com leite. Me sento ao lado dele no banco da ilha. 

-Não vai falar com ela também?- Pergunto indecisa, ainda meio confusa por ele está sendo tão legal e receptivo comigo, depois de vários anos com um rivalidade entre nós.

Pierre estrala a língua, comendo uma fatia de bolo caseiro. Desvio o olhar dele, incomodada por se parecer tanto com Gabriel em todos os sentidos. Menos na personalidade. Mas ele tem seus olhos azuis e o cabelo ruivo igual, a forma do rosto e até mesmo as covinhas quando sorri tímido. É algo fora do comum. 

Chego a questionar se não estou namorando com Pierre e é Gabriel que está em minha frente. Porém noto algo de diferentes entre eles, algo que poucos percebem.

-Eu odeio essa mulher.- Ele sussurra quando Viviana dá uma risada escandalosa.

Sim, é isso que diferencia os dois. Enquanto Gabe é cuidadoso e gentil, Pierre é frio e solitário. Ele prefere a individualidade, e seu olhar o entrega. Nele mostra como sofreu com o abandono dos pais, como se sente culpado por não consegui recompensar seu irmão e que ficar sozinho é mais vantajoso do que ter algum amigo. Não somente o olhar diz isso, como o jeito que ele se encolhe toda vez que Viviana lhe faz uma pergunta.

-Eu te entendo.- Respondo calmamente. Percebo seus punhos fechados, quase como se quisesse quebrar a xícara em sua mão. Toco em seu ombro, o fazendo se desconcentrar da raiva.

-Desculpa, não queria te assustar. Eu só... só quero ir embora daqui.- Pierre diz. Ele deixa tudo na mesa e sai da cozinha tão rápido sem me dar tempo de seguir. Mesmo assim eu vou atrás.

O encontro no banheiro, vomitando dentro do vaso. Me assusto com a cena, cambaleando pra trás. Retomo o fôlego e volto a me aproximar colocando a mão em suas costas. É pouco o tempo que ele fica ali, e não parece muito incomodado por ter feito isso em minha frente. Pierre molha o rosto e escova os dentes, parece já acostumado com a situação sempre sabendo o que fazer.

Então ele se senta no corredor vazio e mais distante da sala, o que ouço daqui é muito pouco pra o tanto que escutava na cozinha. Olho pra o outro ruivo em minha frente, ainda estabilizando sua respiração.

-Quer que eu pegue um copo de água ou qualquer outra coisa?- Pergunto baixo, sem saber muito o que fazer. Pierre afirma, e um minuto depois eu volto e lhe entrego. Ele agradece e bebe tudo de uma vez só.

-Não conte isso a ninguém.- É a primeira coisa que diz depois do ocorrido.

-Não vou contar, pode confiar em mim.- Digo verdadeiramente. 

Outro silêncio se faz, e consigo ouvir o som da risada de Viviana. Já estou quase indo lá e mandando ela calar a boca e ir embora daqui. Tento avisar a Gabe que ela só voltou quando soube que Wesley vai passar os bens mais preciosos dele, a mulher é falsa, ela só quer o dinheiro que um dia já perdeu. 

-Acontece sempre?- Pergunto, percebendo que ele melhorou um pouco a falta de ar.

-Só quando ela aparece. Sinto enjoo e falta de ar, as vezes eu fico tonto ou tremendo. Por favor, Eva, não pode contar isso a ninguém, prometa.- Pierre explica. Eu me aproximo e seguro sua mão gelada, confirmando minha promessa.

-Pode ficar muito grave se não cuidar disso logo, posso te acompanhar se quiser, Gabriel não precisa ficar sabendo. Digo que está me ajudando com o filme.- Tento lhe convencer, não entendo nada de problemas assim, nunca tive algo parecido com isso, mas sei que se passa de um efeito pós-trauma. E tudo que afeta a mente, afeta o corpo e pode causa um baita estrago.

-Você faria isso por mim? Eu tenho medo, não gosto de fazer tudo sozinho como parece. O meu jeito faz as pessoas se afastarem ou me odiarem pelo que faço, não julgo isso, realmente sou um canalha, mas eu sei que isso é algo que meus pais causaram em mim, especialmente minha mãe. Se você for comigo, eu acho que consigo ir.- O ruivo confessa. Abro um sorriso triste, por saber que a anos atrás eu já o julguei tanto sem saber do que ele passou.

-Eu vou. Ela não parece interessada em pedir desculpas ou arrependida, não tenho certeza do que a trouxe aqui, mas acredito que seja dinheiro. Bem, se Gabe não se unir a nós, será uma luta justa de dois contra dois.- Faço um esforço pra o fazer rir.

Ele faz isso, dá uma pequena risada. 

-Os termos da guerra não permite invasão em espaço inimigo.- Pierre pisca. Abro um sorriso maior e mais alegre.

-Eu não sigo regras, eu crio as minhas. E nelas dizem que eu posso ceder ao inimigo quando tiver vontade e ele também.- Pisco de volta. Isso felizmente faz ele soltar uma risada animada.

-Nunca achei que a nerd da escola fosse tão engraçada.- Pierre diz, vou continuar revirando os olhos quando ele falar esse apelido.

-Nunca achei que o valentão fosse virar meu amigo.- Provoco. Fazendo com que ele consiga um tom vermelho nas bochechas, isso me faz rir.

-Somos uma boa dupla, eu acho.- Ele declara e eu afirmo. 

Ficamos assim por um tempo, conversando no corredor da casa. Minha barriga ronca de fome e decidimos sair escondido pra tomar café em alguma cafeteria próxima. É tão inesperado está sentada numa mesa com ele, tomando café e comendo bolinhos, como se fossemos grandes amigos. Estamos um pouco longe disso, mas nada impede de poder ajudar. 

E pensar que começaria meu primeiro mês daquele ano sentada numa mesa de cafeteria, conversando com Pierre McCall, meu cunhado e agora meu amigo. 

Não negava que era um pouco estranho, já que anos atrás eu estava apaixonada por ele, tinha tido que o amava e no fim ele me traiu, não só isso, como me humilhou diante de uma escola inteira. Foi errado o que fez, mas se arrependeu e eu estava pronta para perdoa-lo. Não apagava seu passado, mas o perdão dava início a uma nova fase. E eu queria fazer parte dela, só que dessa vez unidos. Sem qualquer inimizade.

-Sabe o que eu acho? Que daqui a uns anos você vai ser tão famosa que vai implorar pra um dia pisar nessa cafeteria de novo. Espero que ainda lembre de mim quando estiver ao lado do Michael B Jordan num filme. 

Pierre falou e aquilo me fez gargalhar, talvez estivesse certo, ou talvez não. 

Eu só tinha que esperar e continuar lutando por meus sonhos.

Quem podia imaginar que no último capítulos tivemos finalmente um diálogo decente entre a Eva e o Pierre. Não que eu esteja passando pano pra o que ele fez, deixei isso bem claro durante o capítulo. A Evie não apagou o que ele fez quando o perdoou, ela deu uma nova chance dele mostrar que está mesmo arrependido. Pierre errou e está disposto a compensar. Claro que ela podia nunca ter feito isso, mas acho melhor assim.

Esse foi o último capítulo. O próximo será o epílogo.

Música de hoje é:
Back From The Edge - James Arthur.
(Eu acho essa música muito do Pierre)

De volta da margem
De volta da morte
De volta antes que demônios tomem o controle da minha cabeça
De volta ao começo
De volta ao meu coração
De volta ao menino que alcançaria as estrelas
Oh, ele iria alcançar as estrelas.

Você pode tomar a minha casa
Você pode tomar minhas roupas
Você pode levar os medicamentos que tenho e ninguém sabe
você pode levar meu relógio
Você pode levar o meu telefone
Você pode tomar tudo que tenho até eu estar em pele e osso.

Eu não quero o controle
Eu posso cavar meu próprio buraco
Eu posso fazer minha cama e eu posso deitar nela no frio
Porque eu não preciso me aquecer, eu estive queimando no inferno
Mas agora estou de volta com a minha própria história para contar.

Todos nós cometemos erros
Somos tão rápidos para julgar
É difícil perdoar quando nos apegamos a um rancor
Então diminua o calor, eu estive queimando no inferno
Mas agora estou de volta com a minha própria história para contar.


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