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capítulo 66, trinta e um da segunda temporada.

A rua estava cheia de elementos natalinos, as músicas tocavam e as pessoas carregavam sacolas por todo lado. Eu gostava do Natal, da sensação de animação entre os outros.

Me lembrei de alguns dias atrás, quando o dia do pagamento chegou e meus amigos todos se juntaram pra pagar a dívida que eu tinha com a Faculdade. E acordar com meu colar numa caixa na manhã seguinte foi a coisa mais estranha que podia acontecer. Minha mãe tinha deixado um bilhete, querendo que eu tivesse um bom natal e pedindo desculpa por tudo que causou em minha vida. Isso sim foi um verdadeiro milagre.

-Vai ser tão divertido!- Catherine exclamou.

Sim, a viagem pra Chicago estava acontecendo e agora aquelas eram minha últimas férias de inverno. Passar aqueles dias com meus amigos era muito especial, pois fazia muito tempo que isso não acontecia. 

-Ainda estou me perguntando o que vim fazer aqui.- Brian resmungou, como sempre fazia. Dei risada por ele ter se sentado bem ao lado de Cat, que exalava animação, enquanto meu irmão só queria evaporar.

-Veio viajar com as únicas pessoas que suportam você, vai passar o Natal e o Ano Novo com a gente, e quem sabe arranjar uma namorada. O Andrew conhece muita gente lá, pode te apresentar a alguém interessante. 

E foi assim que seguimos a viagem até o aeroporto. 

Gabriel apareceu com os outros meninos um pouco tempo depois, Andrew e os meninos do time estavam quase saltitando de alegria. Meu namorado contou que eles vieram cantando todo o caminho, imaginei que tinham feito Cat agir da mesma forma.

Entramos no avião somente uma hora depois, eram tanta gente que parecia uma expedição pra Israel. É claro que sentei perto da janela, com Catherine ao meu lado. Brian e Gabriel logo atrás de nós nos assentos, Andrew e mais alguns garotos na nossa frente. Foi mais um milagre natalino consegui assentos perto um do outro e bem na semana de Natal.

Chicago. Longas três horas de viagem.

Cat foi rindo durante todo o percurso, cantando e dizendo o quanto estava animada. No assento de trás escutava Brian reclamar do sono e mandando minha amiga calar a boca, Gabriel colocou os fones e ficou ouvindo música até chegarmos, Andrew e os outros caras foram conversando como pessoas civilizadas. E eu, olhava a vista pela janela do avião.

-Senhores passageiros, obrigada pela preferência e espero que tenham um bom natal com um maravilhoso final de ano.-  A voz soou pelo avião, sorri levemente ao saber que era uma mulher que estava pilotando aquele tempo todo. 

-Catherine, cala a boca!

Brian reclamou de novo, Cat deu um soco no braço dele e começaram a discutir em como seria chato suportar a presença um do outro. Por um instante eu até pensei que caso minha melhor amiga não estivesse com o Drew, eu iria apoiar ela com o Brian. Mas de algum jeito eu sabia que ele tinha mais uma vez terminado com Maya, torcia pra que antes de ficar com mais alguém pudesse se estabilizar primeiro.

-Eu estou com fome.- Gabriel disse, abrindo a geladeira do quarto. Ignorei a briga que estava acontecendo e fui até meu namorado. Andrew estava demorando de chegar do super mercado e nós quatro iríamos nos matar aqui dentro do quarto.

-Só tem chá gelado e donuts frios. Deve ser de alguém.- Estranhei já ter comida naquele quarto. Olhei em volta notando que tinha uma toalha vermelha pendurada na porta do banheiro.

-Merda.- Gabriel exclamou, percebendo o mesmo que eu. 

-Temos que dar o fora aqui, agora.- Eu falei, já pegando minha mala e a bolsa. Brian e Cat pararam de discutir, começando a se perguntar o que estava acontecendo.

-Tem gente nesse quarto, entramos no número errado.- Gabe explicou. Todos começamos a catar as coisas feito doidos, querendo sair dali bem rápidos sem sermos notados por ninguém estranho.

-Sério, tava na cara que aquela não era a suíte da cobertura.- Brian falou. 

-Só tinha dois quartos.- Cat comentou. 

Quando estávamos dentro do elevador, um instante de silêncio foi feito, pra logo depois nós quatro começarmos a rir. Aquele era nosso primeiro dia em Chicago, já tínhamos entrado no quarto errado e passamos pela maior adrenalina de sermos pegos. Espero que nenhuma câmera tenha notado.

-Onde é que raios você estavam? Estamos procurando faz meia hora.- Andrew disse, cruzando os braços e nos encarando.

-Por onde podemos começar, da parte que entramos no quarto errado e mexemos em tudo deixando a maior bagunça, ou quando só percebemos isso meia hora depois?- Meu irmão começou a contar.

-Também tem a parte de pegar todas as nossas malas e correr pro elevador feito malucos, fugindo dos seguranças.- Eu falei, deixando minha mala no chão e começando a rir.

-Andrew ia fazer uma queixa de sequestro. - Willian disse. Ele era colega de quarto do Gabe e jogador do time de basquete. Catherine bateu a mão na testa e começou uma crise de risos perfeitamente dramática.

-Sequestro talvez fosse muito precipitado, mas desaparecimento seria mais útil.- Brian declarou. Todos começamos a rir, sabendo que aquele dia seria só uma prova dos próximos dias que viriam pela frente até o Ano Novo.

Todos tinham saído juntos pra aproveitar a véspera de Natal, inclusive meu irmão, mas eu estava na cobertura com Gabe quando meu celular tocou, sorri ao ver que era Sabrine me ligando. Fazia um tempo que não conversávamos e era bom saber que nossa amizade caminhava em passos lentos e tranquilos.

--Oi, Sabry. 

Falei assim que atendi.

--Oi, Eva. Feliz Natal.

--Feliz Natal pra você também. 

--Obrigada. Estou na casa do Peter aqui na Flórida, ele quer falar com você.

Meu coração deu um salto de alegria ao ouvir aquilo. Rapidamente coloquei em modo chamada de vídeo, e ela aceitou. Notei que a garota estava com o cabelo mais curto e um brilho diferente naqueles olhos. Será que era isso mesmo?

--Peter, a Eva tá aqui!

Meu amigo apareceu um instante depois. 

--Oi snowflake, que saudade.

Sorri emocionada, contente em saber que eles dois tinham feito as pazes a tempo pra o Natal. 

--Thomas Peter com saudade de mim, que honra. 

Provoquei ele. Tom começou a rir, acompanhado de Sabrine.

--Cadê o Gabe?

Ele perguntou. Meu namorado apareceu acenando pra câmera do celular. 

--Iai, Pete. Feliz Natal, cara.

Ergui a sobrancelha com os apelidos que tinham chamado um ao outro. Desde quando tinham se dado tão bem a esse ponto?

--Feliz Natal pra você também. Ah sim, Feliz Natal pra o floco de neve.

Revirei os olhos diante daquilo. 

--Feliz Natal pra você, Thomas.

--Temos uma novidade pra contar.

Sabrine começou o assunto.

--Acho que já suspeito o que seja.

Falei e ela me olhou surpresa. Thomas passou a mão pelo cabelo meio nervoso, mas parecia feliz em dizer seja lá o que fosse.

--Estou nervosa, olha a cara dela, conta você. 

Minha amiga disse e entregou o celular pra Thomas. Dei risada de sua reação, eu realmente não prestava muita atenção as caretas que fazia quando ficava desconfiada.

--Eu e Sabrine estamos namorando.

Bem diferente da Sabry, Peter contou num único minuto.

--Não era assim que você devia contar, tinha que explicar tudo. Dizer quando foi que aconteceu e falar as coisas. Me dá esse celular, você não sabe fazer isso.

Sabrine reclamou, eu e Gabe não paramos de dar risada de toda aquela confusão a alguns quilômetros da gente. Parecia mesmo que eles estavam bem perto de nós. 

--Nossa, esse é novo namorado da Eva? Uau, você é lindo.

Ela pegou o celular, e só assim viu Gabriel ao meu lado. Ri mais alto ainda, vendo como ele tinha ficado com vergonha da inconveniência dela. Thomas revirou os olhos, talvez com ciúmes.

--É... obrigado, eu acho.

Gabriel coçou a nuca, e eu voltei o celular de novo pra mim.

--Conte logo, quero saber de tudo. 

Pedi e assim ela fez. Sabrine contou desde o começo da discussão, o momento que perceberam que a amizade entre eles tinha virado algo mais e o tempo distantes tinha ajudado a aumentar aquilo guardado por tanto tempo. Estava muito feliz por eles, se eu podia ter uma segunda chance, Sabrine também podia. Nós duas erramos muito, mas também sofremos e aprendemos com os erros, merecíamos ser felizes.

--Pode deixar que vou ligar no Ano Novo. Um beijo, amo vocês.

--Tchau, snowflake, tchau, Gabe. 

--Tchau Eva! Tchau namorado gato da Eva. Amamos você também!

Assim a ligação terminou, comigo sorrindo feito boba, o coração alegre e muito feliz por meus melhores amigos. 

-Parece que gostou da notícia.- Gabriel comentou, passando o braço por cima de meus ombros. Ele me ofereceu uma taça de vinho e os petiscos antes disso.

-Eu fiquei meio preocupada com o Tom, ele pareceu meio mal por ver que os nossos amigos estavam com alguém e ele estava sozinho. Ainda estou, espero que ele não esteja usando a Sabrine pra se sentir melhor. Mas gostei deles juntos.

Era uma confissão sincera.

Gabriel deixou um beijo na minha testa, afagando meu ombro enquanto eu contava.

-Eu conversei com ele, não é isso que está acontecendo. Eles realmente gostam muito um do outro, quando me contou que estava saindo com alguém eu suspeitei que fosse ela mesmo. Mas sabe como é, ele me pediu pra não contar pra ninguém sem antes ter certeza.

-Já te agradeci por ser tão incrível assim?- Perguntei passando os braços ao redor do pescoço dele. Gabriel sorriu, afirmando logo depois.

-Quero contar algo pra você.- Ele pediu. Dei um pouco mais de espaço e começou a contar. -Sabe que eu fui abandonado pela minha mãe, demorou bastante pra eu voltar a manter contato com ela e saber que estava bem melhor sem mim. Foi dolorido, mas aceitei. Nunca contei a ninguém, mas eu tive várias crises de ansiedade. Algumas pessoas podem pensar que isso é errado, mas quando você me contou sua história vi que também podia ter uma chance de ser feliz de novo. Obrigado meu amor, por ter sido a luz nos meus piores momentos de escuridão.

Encarei ele sentindo meus olhos marejarem. O abracei bem forte, sabendo que nós tínhamos sido a luz na vida um do outro, um ponto de segurança e conforto, ambos fomos a segunda chance do amor que tinha nos destruído. Sabia que apesar dos nossos traumas e dificuldades, merecíamos também a chance de sermos felizes juntos.

-Obrigada por ter me contado isso.- Era difícil pra ele falar sobre seus sentimentos, e aquela era a segunda vez que ficava totalmente vulnerável pra mim. Íamos fazer dois meses juntos, aquele só era o começo de grandes coisas que estavam por vir.

-Eu te amo muito, Eva.- Ele falou, me dando um beijo na bochecha. 

-Eu te amo muito mais, Gabe.- Me aconcheguei nele, conseguindo ouvir seu coração acelerar com a minha presença.

-Eu te amo mais.- Ele continuou. Franzi a testa.

-Eu que te amo mais.- Falei em desafio. Ele comprimiu os lábios, escondendo as covinhas que iam aparecer.

-Todo mundo sabe que fui eu que disse eu te amo primeiro, então eu que te amo mais.- Ele provocou, com um sorriso vitorioso. Revirei os olhos.

-Gabriel, aceita que eu te amo mais e pronto.- Dei de ombros, bebendo um pouco do vinho. Ele deu risada, deixando suas lindas covinhas aparecerem, se ressaindo junto com as sardas alaranjadas.

-Vou te deixar ganhar dessa vez.- Gabe disse, tomando a taça da minha mão e colocando ela num canto. 

Finalmente ele me beijou, deixando o gosto adocicado da uva se misturar. Sorri entre o beijo, ao lembrar em como a anos atrás eu estava definhando em culpa e agora me sentia completamente viva nos braços dele. Gabriel McCall tinha me mostrado de novo o amor, ensinado que apesar das minha falhas eu merecia uma chance de sorrir novamente. E eu havia sido sua luz, tirando ele daquele caminho escuro e triste. 

Aquele foi o melhor Natal que alguém podia ter.

Eu amo esses dois e posso dizer isso com todas as letras.

Música do capítulo:
Trigger - Anne-Marie

Eu nem quero abrir esta porta
Não, eu não quero entrar
Toda a nossa história está espalhada no chão
Destruindo todas as linhas inimigas
Estamos muito longe do início para lembrar
Por que há uma briga
Eu não quero mais falar
Eu não quero ser deixada para trás

Não estou chegando a lugar nenhum, cansada de lutar
Abaixe a arma, faça a coisa certa
Isso não irá consertar as coisas mais rápido
Não precisamos puxar o gatilho
Venha, apenas mostre alguma misericórdia
Você realmente quer me machucar?
Isso não irá consertar as coisas mais rápido
Não precisamos puxar o gatilho

Por que não podemos falar sobre isso?
Por que não tentamos?
Acho que podemos mudar de opinião
Se pudéssemos apenas olhar nos olhos um do outro
Em vez de deixar as balas voarem
Talvez pudéssemos nos encontrar no meio
Nós temos que tomar partido?
Acalme-se e não temos que ir à guerra
Por que não tomamos nosso tempo?

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