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Eva Cossford

Inimigo. Chuva. Irmãos.

Era cerca de quase onze da noite, eu estava de frente pra o hotel onde meu irmão estava. Nós tínhamos combinado de nos encontrar pois precisava conversar com ele sobre a cena que tinha acontecido pela manhã na praia. A chuva forte tinha impedindo ele voltar, não tinha carona, e o jeito foi ele ficar no hotel onde Pierre estava hospedado.

-Eva, que bom te ver por aqui, estava querendo mesmo falar com você.- A infeliz voz de Pierre me despertou. Respirei fundo e me virei pra ele, estava chovendo naquela noite, o dia quente compensou a noite fria de chuva.

-Não acha que já causou problemas demais?- Perguntei e cruzei os braços tentando me proteger do frio. A chuva só aumentava.

-Devia me tratar melhor, fofinha. Sabia que meu pai é quem te deu a bolsa? A qualquer momento eu posso dizer que foi você quem convenceu a menina a me colocar na cadeia, já que até ele hoje ele procura saber quem fez isso.- Pierre ameaçou. Eu franzi a testa, respirei fundo novamente, não podia matá-lo ali.

-Primeiro que quando uma pessoa vai pra cadeia é porque ela fez alguma coisa, claro que alguns inocentes estão lá, mas você deveria ser um que podia apodrecer atrás das grades.- Eu digo, dou um sorriso escondendo a raiva transbordando.

Ele se aproxima ainda mais, um sorriso perigoso está nos seus lábios.

-Será que ter mostrado pra toda escola, suas declarações e mensagens fofas pra mim, não foi suficiente pra entender que não serve de nada?- Ele provoca novamente.

Pensei se o irmão dele também era assim. Pois ter um McCall me provocando e depois mais outro talvez seja algo que não quero aguentar.

-Por favor Pierre, para de falar disso, me supera.- Eu respondo e jogo os cabelo pra trás. 

-Você se acha, não é?- Ele pergunta gargalhando. 

-Não é minha culpa se você adora lembrar do passado. Que eu saiba, se as declarações fossem mesmo reais eu não estava com um namorado hoje e ainda estaria chorando. Pelo visto o único que não me superou ainda foi você mesmo, fofinho.- Eu declaro e passo por ele.

O rosto dele avermelhou, tinha certeza que era de raiva. Permaneci com um sorriso no rosto, já entendendo o motivo de Brian ter feito tudo aquilo. 

Era por mim, simplesmente por conta disso. O Pierre o ameaçou dizer que fui eu que o coloquei na cadeia, por conta de dinheiro, ele tinha dinheiro e com certeza pessoas que não pensariam duas vezes em o apoiar.

Bati na porta do quarto de hotel, não demorou muito pra Brian abrir. 

-Eu deveria ter ido te buscar, e ainda com essa chuva. Me perdoe.- Ele falou já me estendendo um casaco.

Fiquei calada, pensando no que diria a seguir.

Sentei na cama acolchoada e fria, certamente ele nem tinha deitado ali ainda, eu olhei pra meu irmão curiosa.

-Brian, o Pierre te ameaçou?- Perguntei e cruzei os braços mantendo o mínimo de calor que eu tinha no corpo.

Meu irmão me encarou, ele suspirou e sentou ao meu lado.

-Ele quer te colocar como culpada pelo que aconteceu com ele. Então, o único jeito de não fazer isso acontecer sou eu ajudando ele com as coisas do teatro da escola de Miami, fazer as coisas como se fosse ele. Foi a única maneira que achei de te proteger.

Eu abracei ele, fiquei alguns segundos naquele abraço.

-Maninho, ele quer que você fique com medo dele. Pessoas como ele gostam de ver outras se arrastando aos pés delas, não seja o que ele quer. Ele não tem provas, e tenho certeza que o vovô nunca deixaria que um McCall acusasse um Cossford injustamente.

Eu brinco, mas no fundo estou realmente falando sério.

-Por falar no nosso avô, acha que já está sabendo da nossa bolsa quando voltarmos?- Brian tentou mudar o assunto.

-Ele vai está na nossa casa quando chegarmos, pode apostar. E quero que esqueça essa coisa que fez com o Pierre, ele é problema, se afasta dele.- Declaro.

-Não tem como, se eu fizer alguma coisa errada ele não pode dizer que fui eu, pois todos acham que é ele que está ajudando.- Brian tentava explicar, enquanto eu virava os olhos.

-Brian, esquece isso. O Pierre é o errado e você não vai pagar por ele um erro que não cometeu.-Eu pedi, apertei sua mão e sorri, na esperança de o fazer desistir daquilo.

No mesmo instante alguém bateu na porta do quarto, torci pra ser Pierre. Queria mesmo dar um sono nele de novo.

-Gabriel?- Perguntei ao ver o outro ruivo quase parecido com o irmão. E ele estava infinitamente mais diferente do que da última vez.

-Oi Eva, oi Brian. Vem, vocês tem que ir embora daqui.- Gabriel não deu tempo de nós pensarmos.

-O que? Por que?- Eu perguntei de novo.

-Meu pai acabou de chegar no hotel, e Pierre está com ele. Se ele encontrar vocês aqui a bolsa vai correr risco, ele tem provas falsas contra você e vai te acusar na frente do meu pai.

Então esse era o plano de Pierre. Fazer meu irmão vim pra cá, a chuva também não ajudou ele voltar pra casa, em seguida me trazer também pra o mesmo hotel, e então dizer ao seu pai que juntos colocamos o filho dele na cadeia, e no fim eu e Brian perderíamos a bolsa de estudos.

Eu e meu irmão seguimos Gabriel até no estacionamento.

-Preferem que eu dê a chave do carro ou leve vocês?- De onde tinha surgido tanta compaixão dele? Eu estava me perguntando.

Percebendo o nosso silêncio ele notou que nenhum de nós dois ia preferir dirigir aquele carro enorme e caríssimo. 

-Vamos ter que ser rápidos, tenho que chegar antes do meu irmão me procurar.- Ele disse enquanto entrava no carro também.

Brian foi dando as instruções pra chegarmos na casa de praia, a chuva estava só um pouco melhor, mas parecia que estava se segurando pra não piorar. Quando estávamos a uma esquina de distância o telefone de Gabriel tocou, era exatamente quem a gente menos queria.

-Ficou maluco? Cadê você?- Pierre gritou do outro lado da linha.

Gabriel era mais velho, já estava na faculdade, nunca notei que ele era sim diferente do irmão. Pra mim os dois eram a mesma pessoa e nem tentei descobri. Mas quando estudavam juntos na minha escola a alguns anos atrás, mesmo sendo de turmas diferentes, Pierre já afetava a vida dele. Gabriel cuidava de tudo, era ele quem ouvia as broncas, quem dava os comunicados pra os pais assinarem, quem levava o irmão pra escola, quem andava com ele nos corredores pra os meninos da outras salas não se aproximarem. 

E agora mesmo, estava destruindo um dos planos do seu irmão.

-Peguei o carro pra comprar alguns lanches diets pra o pai. Ele tinha pedido pra mim e acabei esquecendo, diz a ele que fui abastecer o carro pra saímos cedo amanhã.- Gabriel respondeu.

-Tá com algum acompanhante?- Pierre perguntou novamente. Estava ficando nervosa, mas parecia que o mais velho nem se importava em mentir pra ele.

-Ah claro, eu trouxe acompanhante pra comprar lanche no meio da chuva as onze da noite, faz todo sentido.- Ele respondeu irônico.

-O que não faz sentido é sair as onze da noite pra comprar lanches.- Pierre retrucou.

-As lojas dos postos de abastecimento vinte e quatro horas servem pra isso, jumento.- Gabriel disse.

-Volta logo então, imbecil. Agora.- E desligou.

Soltei o suspiro preso, mas não arisquei dizer nada. Brian também ficou quieto e finalmente Gabriel chegou em frente a casa. Meu irmão agradeceu e pulou do carro já que a chuva ameaçava piorar.

Olhei pro ruivo, ele me encarava como se tivesse me mandando ir logo. 

-Porque fez isso?- Eu perguntei uma última vez.

Gabriel respirou fundo e olhou pra o relógio no celular. Onze horas e vinte minutos.

-Pierre queria acusar vocês de algo que ele fez por querer, e voltou pra Flórida por esse mesmo motivo, quer encontrar as pessoas que colocaram ele na cadeia, sendo que o culpado disso tudo é ele mesmo. A garota que ele abusou era minha amiga, mas ele não se importou com isso quando foi preso, só queria saber de vingança, é melhor tomar muito cuidado.- Ele respondeu.

Apesar da péssima notícia eu sorri, por notar que ele não era o que eu tanto pensava que seria. Pulei do carro logo em seguida, finalmente entrando na casa e vendo de longe ele ir embora.

-Brian, Eva?- A voz de Rafael me despertou quando ele abriu a porta.

-Desculpe, não queria acordar ninguém.- Eu disse baixinho.

Rafael deu risada e abriu um pouco mais a porta, avistei todo mundo acordado, com seus pijamas e as caras de sono. Bati na testa me lembrando que deixei a janela do meu quarto toda aberta quando pulei.

Assim que entramos Thomas veio ao meu encontro, ele parou na minha frente e suspirou aliviado. Esperei por alguma reclamação, mas ele me abraçou. 

E simplesmente me senti segura naquele abraço.

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