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Thomas Peter.

O iludido. Palhaço. Trouxa.

É exatamente isso que eu sou pra ela. O cara que serve de consolo, o talvez amigo nas horas vagas quando não tem ninguém, o que sempre vacila, que faz palhaçada na hora errada e principalmente, que sempre a irrita.

Deixando tudo ainda mais confuso é saber que pra outras pessoas eu não sou assim.

Pra o Brian, eu sou o melhor amigo que ele pode sempre contar. Pra Sabrine eu sou o garoto mais engraçado e bonito com quem ela já saiu. Pra meus pais, eu sou o filho perfeito. Mas pra ela? Para Eva Cossford eu sou o bobão, o idiota, palhaço e relaxado. 

Posso pular de um avião e cair dando um mortal pra trás, pra ela, eu não vou ter feito nada demais. Isso acaba com minha mente, me deixa completamente rendido a dar o meu melhor. Talvez isso seja bom afinal de contas, mas quando eu erro Eva é a primeira pessoa que aparece em minha frente. Não posso dizer que estou apaixonado por ela, porque isso nunca aconteceu comigo antes, mas de uma coisa bem óbvia eu sei, estou tentando ser uma pessoa melhor.

Continuar saindo pra festas tem suas chances de vacilar um pouco altas, mas esse sou eu, e caramba, eu só queria um dia poder entrar numa festa de mãos dadas com ela e dizer que agora a garota mais bonita do colégio gosta de mim da mesma forma que eu gosto dela. 

É isso, eu, Thomas Peter, estou gostando da Eva.

Tantos anos pra isso acontecer e acontece logo agora, quando o tudo procede a dar errado na minha vida. Quando eu entro em detenção eterna e tenho que vê-la todos os dias ao meu lado no banco do carro como se o a natureza tivesse feito ela com as próprias mãos.

Mas ontem, mesmo depois dela ter recuado quando eu segurei seu queixo a pedindo que olhasse nos meus olhos, ao ver aquele sorriso eu senti que no fundo eu podia ter uma chance com ela. E que as forças do Planeta agradeçam a Sabrine por ter me devolvido aquele papel.

-Se não queria fazer o papel, porque fez ela te devolver?- Eu pergunto a Sabrine.

Ela está encostada no meu armário enquanto eu seguro o roteiro em minhas mãos pedindo uma explicação do que aconteceu.

-Eva é uma orgulhosa. Não aceita ser subestimada, esse é o mal de todo Cossford.- Sabrine responde e tira um chiclete do bolso da calça jeans vermelha.

-E quando foi que se tornaram melhores amigas pra se conhecerem tanto assim?- Eu pergunto estendendo a mão tomando o outro chiclete dela.

-Não preciso ser melhor amiga pra saber, afinal, nem melhor amiga ela tem. Só anda no meio de garotos por isso é daquele jeito mimado.- Minha amiga responde revirando os olhos entediada do assunto da conversa.

-Mimada? Eva é a pessoa menos mimada que eu conheço.- Defendo ela e coloco o chiclete na boca, faço uma bolha explodir perto do rosto de Sabrine.

Uma olha reprovado surge em seu rosto mas ela ignora.

-Está defendendo ela pois é a irmã do seu melhor amigo. Ela está acostumada a todos abaixarem a guarda com ela quando faz aquela cara revoltada, quando chega na minha vez eu não faço isso. Um dos motivos de não sermos amigas.- Sabrine explica e abre um sorriso atraente.

-Achei que mulheres se apoiavam.- Retruco.

-E eu apoio ela, por isso foi a primeira pessoa que pensei quando não queria o papel da peça. Mas tem diferença entre apoiar e suportar. Eu não a suporto.- Sabry diz e segura em meu ombro se aproximando pra sussurrar algo em meu ouvido. -Deveria contar a ela sobre os seus sentimentos.- Minha amiga continua.

Sinto uma frieza tomar conta e me afasto de repente fazendo Sabrine solta uma gargalhada alegre e alta pelo corredor.

-Que sentimentos? Ficou doida?- Eu pergunto e solto uma risada nervosa começando a sentir meu rosto esquentar de vergonha.

-Tom está com vergonha. Ganhei meu dia.- Ela brinca e dá um beijo em meu rosto já indo embora.

-Esquece isso, garota. Ei, eu posso te levar pra consulta amanhã se quiser.- Digo num murmúrio evitando os outros alunos escutarem.

O rosto de Sabrine perde a cor e o sorriso some no mesmo instante.

-Eu vou sozinha, pode ficar tranquilo.- Ela diz e solta um beijo pra mim já sumindo de vista.

Suspiro e encaro o roteiro da peça em minhas mãos. As palavras de Eva rodeiam minha mente quando ela pergunta se eu faria isso por ela. Daria tudo pra um dia poder vê-la sorrir de novo pra mim daquela maneira.

-Parece que Thomas está apaixonado.- A voz irritante de Rafael surge e o sorriso que eu nem percebi desaparece do meu rosto.

-Se ferra.- Eu digo somente e o escuto rir.

-O único ferrado aqui é você. Está na friendzone eterna pelo jeito.- Ele diz e me faz olhar no rosto dele.

-Desde quando minha vida te interessa?- Eu pergunto com nenhuma intensão de receber resposta e já me viro saindo dali.

-Desde que eu roubei sua garota e ela está caidinha por mim.- Rafael responde e mais uma vez dá risada. Eu nunca odiei tanto alguém rindo como agora.

-Ela não é minha garota, nem sua, nem de ninguém. Se acha que ela não vai ficar sabendo algum dia do cara merda que você é, está bem enganado.- Eu provoco mas me controlo fechando os punhos.

-Fala pra ela então, diz que eu não presto que eu já sei bem o que ela vai dizer pra você.- O perturbado continua a falar.

Sinto que a qualquer instante eu vou socar a cara dele.

-Oi Rafa.- A voz conhecida de uma garota surge.

Na mesma hora eu me viro e meu peito aperta quando vejo Eva abraçando Rafael e ele com um sorriso irritante pra mim.

-Hey Eva, como foi na prova?- Ele pergunta e sorri pra ela. 

Seus olhos brilham. Acho que vou ficar cego.

-Tirei B negativo, a minha maior nota de todos os tempos em química.- Ela diz animada.

-Oi Thomas, você ainda tá aí.- Rafael diz e sinto um tom de provocação na sua voz.

Me aproximo dele e cruzo os braços abrindo um sorriso em seguida.

-É claro, não perderia a chance de ver o casal do ano.- Eu provoco.

-Eu e o Rafael? Claro que não, somos amigos. Já mandei parar com essa brincadeira idiota sua.- Eva responde exatamente o que eu sabia que responderia.

-Friendzone pra ele então? Rafa tá super afim de você.- Eu continuo recebendo o olhar quase mortal de Rafael em mim.

Ela olha pra ele esperando uma confirmação mas Rafael continua olhando pra mim, certamente pensando onde enterraria meu corpo agora.

-Achei que tínhamos conversado sobre isso.- Ela responde ainda encarando ele.

Eu olho pra Rafael, que dá uma tosse completamente falsa, assim como ele mesmo, e diz.

-Sim, eu sei. Thomas gosta de me provocar.- Ele dá essa péssima desculpa.

-Eu? Nem sei do que estão falando, apenas confirmei o fato do Rafael está falando pra todo mundo que você é a garota dele sento que pelo visto ainda não se tocou que tu não está afim.- Digo tranquilamente escondendo o sorriso vitorioso que abre em meus lábios.

-Isso é verdade?- Eva pergunta a ele.

-Claro que não, Evie.- Ele responde num tom desesperado e se aproxima dela a fazendo recuar.

-Não chegue perto de mim se não quiser ganhar um soco.- Ela responde e eu sinto uma necessidade imensa de dar risada da cara que o Rafael faz.

-Evie, eu gosto de você. Thomas tem razão, não sabia como dizer isso.- Rafael fala e na mesma hora o sorriso desaparece.

-Não...me...chame...de...Evie.- Eva fala quase rangendo os dentes. 

-Tá desculpa, eu não chamo mais. Qual o problema de gostar de você?- Ele insiste.

-O problema é você achar que sou propriedade sua logo depois de eu ter conversado com você que não queria nada mais do que sua amizade. Agora nem ela mais eu quero.- Eva disparou a falar daquele jeito que só eu suportava.

Eva segurou no meu braço e saiu me arrastando pra longe do Rafael com ela.

-Doeu em mim.- Eu brinquei.

-Talvez porque sirva pra você também.- Eva retrucou e eu dei risada.

-Tenho uma coisa pra você.- Disse e entreguei o roteiro e as falas pra ela.

Ela ficou alguns segundos observando as folhas em sua mão, depois olhou pra mim e foi assim que eu vi o sorriso mais bonito de todos em minha frente.

-Muito obrigada, Thomas. Não sabe como isso é importante pra mim.- Eva disse fazendo meu coração acelerar.

-Nunca quis tanto ser um pedaço de papel, pra ouvir você falar o quanto sou importante pra você.- Eu acabei pensando alto demais e quando aquilo saiu da minha boca eu na mesma hora me arrependi.

Eva me olhou surpresa, sua expressão já mostrava que ela não esperava nada por aquilo.

-E porque você não seria importante pra mim?- Ela perguntou confusa.

Fui eu que não estava esperando por aquilo dessa vez.

-Eu sou?- Perguntei sentindo minhas bochechas esquentarem e não tive vontade nenhuma de esconder isso dela por algum motivo.

-O que acha?- Ela perguntou de volta e eu me aproximei na tentativa de ouvir de Eva Cossford que eu era importante pra ela.

-Não vai me dizer?- Eu insistir e pela primeira vez em tantos anos ela não recuou quando eu coloquei uma mecha do seu cabelo castanho atrás da orelha, que tinha um brinco dourado redondo bem pequeno.

-Você está corado porque, Thomas?- Ela perguntou mudando o assunto e eu mordi o lábio evitando o máximo possível não lhe dar um beijo ali mesmo na frente de todos.

-Não mude de assunto, Eva.- Eu falei fixando meu olhar no dela.

Eva se afastou como se tivesse retomado a realidade e voltou a observar os papéis em suas mãos. Continuei ali no mesmo lugar, na esperança que um dia eu pudesse tocar nela sem receio dela recuar de mim como se eu fosse machucá-la. 

Percebi que insistir nela era um caso perdido quando ela foi embora sem olhar pra trás.

A única coisa que fiz foi dar as costas e caminhar até o estacionamento, precisava urgente de uma festa e esquecê-la antes que isso acabasse com minha mente.

Thomas Peter também fica na friendzone.

Se cuidem, seus lindos.

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