7- Luísa


       Jesus! Cheguei em casa rindo com o vento. Titia inventou um "cinema em família", mas dispensei os filmes e a pipoca, tinha que estudar. Ainda bem que ela não tentou me convencer do contrário.

        Vi o assunto, revisei, tornei tentar, mas não conseguia absorver absolutamente nada. Minha perna não parava de coçar, com aquele bilhetinho com o número do whatsapp do Thiago, eu não conseguia me concentrar nos meus estudos.

        Peguei o celular e adicionei o número dele. Estava prestes a mandar um "oi", quando titia entrou no quarto sem bater, assustada joguei o celular à kilômetros de distância. O coitado bateu na parede e voltou para a cama, como uma bola de pingue-pongue.

        - Oi, Luísa. Só vim dizer "boa noite".

        Ri amarelo, sem jeito, sem cara, morrendo de preocupação com meu pobre celular...

         - Ah, é... Boa noite!.. - Era a única coisa que eu poderia dizer, né?

         Titia estreitou os olhos.

         - Está tudo bem com você? - Perguntou.

         Sem pensar, comecei a balançar a cabeça em negativa, olhando meu celular (pobrezinho...), mas logo assenti e soltei um "claro, está tudo ótimo" com um fiapo de voz.

        - Ah, ok. Já vai dormir?

        - Sim! - Respondi de imediato. - Na verdade, eu já ia vestir meu pijama!

        - Hum... Tudo bem, então.

        Ela ia indo embora, então eu a gritei e ela voltou.

        - O que foi? - Perguntou com a cabeça entre a porta.

         - É que... O professor de química passou um trabalho em dupla, um relatório na verdade, e... Eu fiquei de ir na casa do... Meu colega. A senhora poderia avisar mamãe?

         - Sim. Que dia você vai?

         - Na quinta.

         - Certo. Até amanhã.

         Ela se foi. Pulei em cima da cama e peguei meu celular. Graças à Deus! Ele ia sobreviver ao seu mau "aterrissamento". Eu o liguei, feliz por não ter quebrado a película.

         23h00 o relógio apontava. Decidi que não mandaria mais nem um "oi" ou "boa noite" parar o Thiago. Já estava tarde.

        Fui dormir.

         Acordei cedo e animada. Quando eu não acordo animada, mesmo? Minha nova "amizade" com Thiago só aumentava, ele era meio tímido, mas ia se soltando aos poucos. Os ensaios "à sós" ajudaram bastante. Os dias iam passando e eu estava melhorando muito na peça. Camila era uma excelente diretora e amiga. Estávamos nos tornando muito amigas, o que foi uma coisa nova para mim, não estava acostumada a ter uma "amiga".

        Por fim, a quinta-feira chegou. Nervosa, fui à casa do Thiago. Sendo que, Carlos me levou, claro.

         A casa dele era bonita, não parei para procurar mais detalhes importantes, no geral não costumo notar nada. Não sou muito observadora, na verdade, nem um pingo! Se a minha vida fosse um livro e eu fosse a protagonista, os leitores nunca teriam detalhes do que eu via. Exceto se eu fosse falar das minhas pinturas.

        Carlos só foi depois que eu toquei a campainha e o Thiago apareceu na porta. Ele me conduziu pela sua casa, me levando até o seu quarto, que tinha tudo em ordem.

        - Acha que aqui é um bom lugar para fazermos o trabalho? Ou prefere a sala?

        - Não, aqui está bom.

        - Hum... A mesa está bem ali, vou pegar algumas folhas para a impressora.

        - Ei, porque agente não senta no chão?

        - No chão?.. É, pode ser...

        Ele sumiu pela porta, depois apareceu novamente trazendo os papéis. Nls sentamos sobre o tapete macio, fiquei observando (observando?) as paredes, alguns quadros...

       - Thiago, por que tudo no seu quarto é preto, cinza ou marrom?

       - Ah, é... - ele meio que sorriu - Acho que são minhas... Cores favoritas...

       - Você só gosta dessas cores? - Perguntei, chocada. Eu era uma artista! Tinha que entender como dentre tantas cores, ele só gostava de 3!

       - Não... - Falou pensativo. - Sendo sincero, eu também gosto muito de vermelho... E, azul... - Disse, olhando nos meus olhos. Vi um brilho diferente nos olhos dele. Algo... Lindo, novo, profundo e... Sincero.

        Senti meu estômago agitado e uma náusea terrível, porém ainda assim era bom de certo modo. Bom a ponto de me fazer esquecer quem eu era e quem ELE era. Ao ponto de me fazer esquecer o que eu tinha que fazer ali.

         - Também adoro castanho, é minha cor favorita... - Falei, meio tonta. Ele sorriu e eu também.

         Eu nunca tinha percebido que ele tem os dentes tão branquinhos e alinhados... Amo o castanho dos olhos dele! Aqueles olhos refletiam a mim mesma e, ao mesmo tempo, eu podia ver claramente a alma de quem os portava.

        Ok, já estava demais, eu precisava voltar ao meu normal e já! Bem rapidinho! Antes que eu pagasse o maior mico da história!

        Pisquei duas vezes, Thiago me imitou. Me virei de vez, ele também. Ficamos de costas um para o outro. Olhei para o teto. Thiago limpou a garganta.

        - Então... Nós... Precisamos fazer o trabalho...

         Me encolhi mais ainda, imaginando ter que olhá-lo nos olhos novamente.

         - Não posso!

         - Por que não? - Ele perguntou.

         - P-por que... Eu... - Droga, droga, droga... O que eu poderia dizer? Que desculpa eu daria? - Estou com fome!

         Nos viramos um para o outro num rompante e ele caiu na gargalhada. Fiquei feliz por vê-lo assim, era menos constragedor. Ele levantou e estendeu uma mão.

         - Vem, vamos atacar a geladeira! - Ofereceu.

         - Aceito o convite! - E estendi uma mão trêmula, que incendiou quando ele a tocou suavemente,  como se temesse me machucar de alguma forma.

        Ele me encantava cada vez mais. Estou parecendo uma pateta, credo! Argh! Fomos até a cozinha. Thiago abriu a geladeira e tirou uma bandeja com dois sanduiches e uma jarra de suco de laranja com dois copos emborcados. Ele virou os copos, os encheu com o suco e me entregou o meu copo.

         - Márcia fez antes de sair. - Falou.

         - Márcia, a sua madrasta? - Perguntei.

         - É... - Disse enquanto pegava seu sanduíche. - Pra mim, ela é como uma mãe. A palavra "madrasta" me lembra aquela coisa de contos de fadas.

        - É mesmo! Todas eram malvadas! - E sorri. - A Márcia é legal? - Perguntei, enquanto pegava o meu sanduíche.

        - Ela é... Muito precavida... - E sorriu. - Sim, ela é legal. E gostaria de conhecer você. Falando nisso... - Ele deixou seu lanche na mesa e puxou o celular do bolso. - Ela pediu que eu tirasse uma foto sua... Posso?

       - Aham... - Deixei a comida de lado.

       Fiz uma pose sorridente, outra fazendo biquinho, outra com cara de má, outra com cara de pateta, outra revirando os olhos... Ele tirou todas. Várias fotos.

        - Você não disse que era só uma foto?

        - Quanto mais, melhor né? - Disse sem parar de sorrir, revendo cada foto.

        Ele parou olhando oara mim.

        - Posso tirar uma com você? - Pediu.

       - Claro, por quê não? - Falei animada.

        Thiago passou para o meu lado, passou o braço pela minha cintura e pôs a cabeça ao lado da minha, assim... Bem pertinho. Eu sorri, tentando aliviar o frio na barriga, ele também sorriu. Ele tirou a foto, mas o celular escorregou da sua mão, ele tentou segurar o celular no ar, porém só alcançou uma mão que estendi institivamente. Seus olhos castanhos atraíram os meus e, de repente, nossos narizes estavam se tocando, suas mãos apertavam firmemente minha cintura, me puxando para mais perto. Um calor estranho subia pelo meu corpo, meu coração trotava, como trotes de cavalo. Nossos lábios estavam a menos de um centímetro de distância, minhas mãos estavam no seu pescoço involuntariamente. Porém, antes que seus lábios encontrassem o curto caminho até os meus, eu voltei em mim com o barulho que se fez lá fora.

       Um vizinho barulhento estragou tudo! Aquele idiota!

       Thiago se afastou, corando de leve. Suas mãos me soltaram e as minhas também o libertaram. Ele encarava o chão, sorrindo consigo mesmo e se envergonhando por causa disso.

        - Desculpe, Luísa... Não sei como isso foi acontecer...

        Ele já me olhava nos olhos, mas eu estava perdida demais para prestar atenção nas suas palavras.

        - Hamm?! - Eu só conseguia observar seus lábios se movendo e imaginar como seria se aqueles lábios perfeitos encontrassem os meus... - Como é? O que você disse?

       - Eu disse que... Bom, agente não vai comer?

       - Ah, isso... Claro... Estou faminta... - Falei, decepcionada.

       Meu cérebro mandava eu me afastar dele... Mandava eu pensar coerente e parar de me iludir! Não foi nada, Lulu! Você só está fantasiando um romance! O Thiago não gosta de você! E nunca vai gostar! Aliás, por que gostaria mesmo? Você não é bonita, nem nada. É uma pateta atrapalhada!

         - Eu... Acho melhor ir embora... - Murmurei, tinha que aceitar os fatos.

        - Por que? Agente tem que fazer o trabalho...

        - Agente não está fazendo trabalho nenhum! - Me irritei sem motivo, nem eu estava me reconhecendo. Quem era aquela pessoa? - Desculpa! - Falei, levando a mão à boca. Depois tirando-a. - Eu não... Quero isso! Quer dizer... Eu não entendo, me sinto estranha, não sei como isso aconteceu... Me desculpa, Thiago...

       Saí correndo, ele ficou lá, sem entender nada. Abri a porta e corri pela avenida. Parei num Café e liguei para o Carlos ir me buscar. Ele foi bom comigo e não fez perguntas, como "porque você está vermelha como um tomate?" Eu estava assustada, era muita coisa pra mim. E meu cérebro nunca me engava. Eu tinha de ser obediente. Mas, eu conseguiria me afastar dele?

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