4- Thiago
QUE VER-GO-NHA...
Aquilo foi... Vergonhoso demais! Ela com certeza ficou traumatizada. Ai meu Deus, como isso foi acontecer? É como Camila diz, eu penso demais. "Só ando com a cabeça na lua". Mas, dessa vez foi diferente...
Numa hora eu estava pensando em Luísa, na outra, estava praticamente esmagando ela no chão. Normalmente, eu não sou tão desastrado. Se meus antigos amigos vissem aquilo, eu seria zoado por um bom tempo. Ainda bem que ninguém viu...
Eu só podia ser muito azarado, mesmo. Como Deus é bom e gosta de mim (eu acho, dado as circunstâncias), não tinha mais ninguém lá.
- Thiago - toc-toc, minha mãe adotiva batia na porta do meu quarto. - Já são duas horas, acho melhor você ir tomar banho logo.
- Ah, deixa ele, Márcia. Thiago é um garoto responsável, você sabe. - Meu pai disse da sala.
- Eu sei, mas se eu não tirá-lo do mundo da lua, ele viaja e se esquece do tempo, Nilton. - Ela resmungou em resposta.
Ouvi seus passos se afastando, provavelmente ela havia ido conversar com papai. Ela era sempre tão preocupada, papai, ao contrário, era um homem muito relaxado, não chegava a ficar muito preocupado facilmente. Eu havia herdado muito de sua aparência, mas tinha uma personalidade bem parecida com a da minha mãe. Eu não gostava muito de pensar nela, não gostava de lembrar do que havia acontecido. Preferia preservar seu sorriso tímido nas lembranças. Ela ficava melhor assim.
Mesmo sem cara para encarar Luísa no ensaio, fui tomar banho e assim que terminei de estudar minhas falas, como costumava fazer antes de sair, desci as escadas e entrei no carro, onde papai já me esperava na direção.
- Vai me levar hoje? E o Antônio? - Perguntei.
- Está doente e eu estou de folga essa tarde. Tenho que levar Patrícia no hospital mais tarde. Além disso, o que há de errado em levar meu filho à escola?
- Nada... - Mas, se ele decidisse me levar pra outro lugar... Por outro lado, Camila não gostaria muito dessa minha ideia... - Nada...
Em parte, meu pai era como eu, muito calado. Raramente conversava muito com alguém. Na verdade, eu era como ele, pelo menos em alguns dos seus aspectos. Como na timidez. Às vezes, eu me perguntava como ele havia se declarado para a minha mãe. Patrícia tem razão, eu sou tão... Argh!
O caminho de casa até a escola não era muito grande, por isso, chegamos lá bem rápido. Faltavam dez para as três, e Camila ainda não tinha chegado, o que era bom, pois eu teria quarenta minutos para estudar todas as minhas falas, que eram muitas. Isso, se quando eu entrasse, Luísa não estivesse lá.
Eu poderia fingir que não a tinha visto, mas seria muito ridículo, até para mim dizer que não tinha visto a única garota que estava na sala. Então, caminhei lentamente até ela, que vidrou-se em mim, como se estivesse cheia de espectativas.
- Oi, Luísa... - Tentei desviar seus olhos de mim por um instante, apesar de ser praticamente impossível eu conseguir fazer isso.
- Oi... T-Thiago, ai me desculpa, eu não queria gaguejar! - Ela falou exasperada, colocando as mãos na boca.
Comecei a me sentir em casa, o que era estranho, pois eu estava no colégio cara-a-cara com Luísa, a garota por quem alguma coisa crescia dentro de mim. O que era aquilo? Fome? Que frio na barriga estranho, nunca tinha sentido isso. Parece coisa de livro de romance. Mas, eu não sou um personagem fictício, eu existo e a Luísa também, até demais. E meu romance seria com quem se eu estivesse num livro? Com ela? Eu não teria coragem para tal.
- Tudo bem, a culpa foi minha - ei, eu não planejei isso!
- Culpa sua? - Ela perguntou quase rindo, deixando as mãos voltarem para o seu colo. - É claro que a culpa foi minha, todos sabem que a desastrada daqui, sou eu.
- Dessa vez não.
Agora ela ria pra valer e de repente, eu nunca tinha visto um azul tão lustroso em minha vida...
- É sério, me desculpa?... Foi sem querer, mesmo. - Ela falou.
- Já disse, a culpa foi minha! Além disso, eu devo ter quebrado suas costelas! - Tentei sorrir.
- Esquece! - Ela disse, revirando os olhos. - Posso te dar um abraço? - Ela abriu os braços, meio que esperançosa.
Eu não costumava abraçar ninguém. Ninguém mesmo. Era contra minha política de espaço. Na verdade, eu me sentia estranho. Nada confortável. Mas, sério, ela merecia. Pelo menos um pouquinho de esforço da minha parte. Assenti com a cabeça. Ela se pôs de pé e me abraçou como uma criancinha, descançando a cabeça preguiçosamente em meu peito, depois sorrindo de olhos fechados. Curvei um pouco o pescoço, encostando meu queixo em seu ombro e inspirei, depois afundei meu nariz em seu pescoço, mesmo com seus cabelos revoltosos lá. Só porque era bom. Naquele momento, descobri que abraços são bons, principalmente os dela.
Luísa tinha cheiro de framboesa e maçã, simplesmente incrível. Foram os dez segundos mais longos da minha vida. Até o abraço acabar. Aquele cheiro doce, ficou na minha mente.
- Porque você não senta aqui? - Ela perguntou apontando uma cadeira à sua esquerda.
- Tenho que estudar...
- Ah, ok... É que, você poderia me ajudar, já que eu entrei agora e estou tendo problemas com as falas... Mas, deixa pra lá, eu me viro bem sozinha. - Ela estampou um sorriso e eu quis me bater por ser um idiota.
- Hum... Boa sorte, então. - Não sou muito bom em desmanchar expectativas. Mas, o que eu poderia fazer? Simples segundos perto dela me deixavam... Louco! Se eu passasse mais de dez minutos... O que aconteceria? Que sentimento é esse?
Fui para o meu lugar, do outro lado da sala. Nem consegui me concentrar nas falas, meus olhos sempre encontravam o rosto dela, o biquinho que fazia quando estudava suas falas. Não consegui sequer desviar meus pensamentos...
Vi todos chegarem, se sentarem, conversaram e nada de Camila. Terça-feira, 15h40m. Ela nunca se atrasava. Eu já estava começando a me preocupar, quando ela chegou. Quatro horas, meia hora atrasada, se fosse um de nós do elenco, ouviríamos muito. Porém, uma pequena observação, aquela foi a única vez que aconteceu em um mês de ensaio. Ela era responsável demais com as coisas da escola.
Chegou jogando a mochila na cadeira e vários papéis na mesa. Ela se sentou, massageando a nuca com os dedos.
- Péssima notícia, pessoal! - Falou estressada, como sempre.
- O que foi? Seu carro quebrou? - Keven perguntou, chato como era de nascença.
- Isso seria uma benção! A péssima notícia nem se compara a isso!
Todos pareciam espantados.
- Querem saber?! Vamos apresentar a peça no sábado, semana que vem! - Soltou de uma vez.
- O quê?! - Charles gritou.
- Tem razão, seu carro quebrar seria infinitamente melhor! - Keven falou.
- Infelizmente, não pude escolher! - Camila disse, cruzando os braços.
- E você já falou com a diretora? - Charles perguntou.
- E porque você acha que eu cheguei numa hora dessas?! - Ele rosnou, às vezes parecia uma adulta entre nós. - Ela me trancou na diretoria para me dar a paulada! Daí tentei convencê-la que não daria certo, pois Luísa entrou recentemente, mas ela não liga! Quer que nos apresentemos no sábado e ponto-final! Tudo por causa dos patrocinadores do colégio!
- Era só o que faltava! - Charles disse, desimpaciente. - E agora? O que faremos?
Ela o olhou.
- A peça é bem simples, uma das mais fáceis que eu já fiz... - Ela era realmente como uma adulta falando, tão ponderadora. - Vocês já sabem ela toda! Nosso único problema é a Luísa! É exigir demais!
- Você exige demais de todos nós! - Keven soltou, cheio da razão. Só para se arrepender.
- Cala a boca! - Ela pensou um pouco após ter deixado todos em silêncio. É claro que Keven se calou, porque ele sabia que era besteira entrar numa briga com Camila numa hora daquelas. Até mesmo Charles ficou quieto, intimidado. - Já sei o que fazer. Ouçam bem: daqui em diante, só Thiago e Luísa viram ensaiar. O restante está de folga. Apenas apareçam no último ensaio. Sem faltas nem atrasos. Certo?
Todos assentiram.
- Estão esperando o quê? Vão embora, estão de folga, XÔ! - Ela gritou abanando a mão, os expulsando. Ela pôs a mão esquerda na testa, com o cotovelo apoiado na mesa. A mão direita buscou os papéis. - Certo, vamos começar, temos muito trabalho pela frente.
Eu olhei para Luísa.
Luísa olhou para mim.
No olhar dela, eu pude ver uma pergunta estampada: "Como vou fazer isso?"
Eu não respondi. Sabia que ela era forte e muito inteligente. Mas, mentalmente, desejei que ela se acalmasse.
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.......... Oi, gente! Tudo bem? Espero que tenham gostado! Este capítulo fresquinho é em agradecimento à @KariaMyn
Obrigada pelos comentários nesse livro💙
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