3- Luísa
Cheguei dentro do carro em êxtase, apesar da minha conversa com Thiago ter sido muito esquisita.
Dei um abraço em Carlos bem apertado e só parei porque ele estava mudando de cor.
- Parece que foi tudo bem, não é mesmo? - Ele perguntou.
- Bem? Foi maravilhoso! Você nem imagina! - Respondi alegremente.
- Não mesmo.
- Você não vai acreditar! Eu fiz um montão de amigos hoje! - Fiz um arco com as mãos no ar.
- Hum... Que bom para você. Eu disse que você não tinha com o que se preocupar.
- Pois, é, não é? Bem que você disse! Ainda bem que eu tenho você aqui sempre, seja como meu motorista, ou não!
- É claro, mocinha. - Ele deu uma piscadinha para mim.
- Ei, alguém já lhe disse que você quase não fala nada? - Perguntei.
- Desde criança você faz a mesma pergunta. - Ele sorriu.
- Jura? Eu não lembro disso.
- Tem muitas coisas que você não se lembra, Luísa.
- Ah, falando nisso...
- Ham..? - Perguntou.
- O quê? - Perguntei.
- O que você estava falando?
- Eu ham... Esqueci. Mas, era importante. Tinha haver com alguma coisa do passado... Quando eu morava no Rio de Janeiro. - Tentei lembrar o que era mesmo.
- Não faço ideia do que seja. - Ele disse.
- Quando eu lembrar, eu pergunto pra você, tá?
- Está bem, garota. Agora, vá para casa.
Dei um beijinho no rosto dele.
- Tchau, Carlos! - Exclamei, indo sorridente para dentro de casa, com minha mochila pesada balançando para os lados.
__________
Antes mesmo que eu conseguisse pôr os pés dentro do colégio, Camila apareceu ma minha frente, me recebendo com um abraço caloroso.
- Oi, Luísa! - Ela disse com um sorriso.
- Ah, oi Camila. - Eu não sabia bem o motivo daquele comportamento comigo logo pela manhã. - O que foi? Ensaio agora?
- O quê? Não, não. Eu só... Sei lá, pensei em andar com você.
- Andar comigo? - Eu estava surpresa.
- É, quem sabe nos tornamos amigas? - Sugeriu.
- E você não... - Olhei ao redor. - Sente vergonha de andar comigo?
- Não, porque eu sentiria? - ela perguntou.
- Sei lá. - Dei de ombros. - É que todo mundo daquie acha meio... - Ela me interrompeu.
- Não me interessa o que pensam de você, Luísa. Eles podem falar o que quiserem! Você sabe ser original e isso os incomoda. Alguns te julgam errado, como a Patrícia...
- Patrícia? - Tinha esquecido que elas eram muito amigas. Droga, essa Barbie chata me persegue até nas conversas.
- Ela não gosta de você. Mas, acredito que ainda seremos amigas, ele mal conhece você.
- Não conte com isso. Ela me odeia. - Falei, fazendo careta.
- Ela não te odeia... Bom, temos que ir para a sala. - Anunciou.
- Engraçado, eu ia dizer a mesma coisa. - Sorri.
Agente entrou na sala sorrindo e eu dei de cara com justamente, quem? A Patrícia. Bem que podia ser o Papai Noel adiantado. Ela me olhou de uma forma estranha. Não era com ódio, raiva, tristeza, alegria ou qualquer coisa do tipo. Foi um olhar estranho mesmo.
O mais estranho, foi que eu estava sorrindo pra ela. Talvez ela não seja tão terrível assim e talvez, eu esteja redondamente enganada sobre ela. Ela continuou me olhando como se pudesse ler meus pensamentos. Isso é impossível, Lulu, ela ainda não é o Charles Xavier. Hummm como seria a Patrícia, se ela fosse careca? Fui me sentar e comecei a rir sozinha da mimha imaginação tola.
Lá no canto da sala, alguém também estava me olhando. Sim, é ele. Thiago. Não era estranho que meu coração estivesse à mil por hora? Desviei o olhar e parei de sorrir, engolindo em seco. Mas, droga, eu estava parecendo uma pedra de gelo, por dentro e por fora.
Fui me sentar ao lado de... Keven, infelizmente Keven. Não era porque ele era chato ou coisa assim. Era porque... Ele não falava nada comigo e praticamente me ignorava a manhã toda.
- Hã... Oi, Luísa. - Ele disse.
- Hã?! Oi?! - Me surpreendi. - Pra mim?! É... Oi!
Ele riu.
- Você é engraçada. - Ele sorriu novamente. Povo esquisito.
- Bom dia, classe! - A professora falou ao entrar na sala, porém ao me ver, abriu um sorriso enorme. - Óh, que milagre glorioso! Luísa, é você mesma?
- Acho que sim. - "Talvez eu tenha sido abduzida." Isso tudo só porque eu amarrei meu cabelo? Uau, o que um pompom não faz?
- Bom - ela continuou - parece que meu dia começou ótimo! Camila, como estão indo na peça?
- Bem, professora. - Camila respondeu.
- E... Os novatos? - A professora me indicou com o olhar, eu fingi não estar prestando atenção.
- Ótimos, dona Marciela. - Camila assegurou. Gente ela é tão esquentada! Depois eu escuto pessoas dizendo que ruivas são bem zangadas... Sou a prova viva do contrário.
Ri sozinha mais uma vez, tenho algum distúrbio, com certeza. E acho que todos concordam comigo.
- Excelente! - Disse a professora, contente. - Na aula passada, nós estávamos falando sobre...
E a aula seguiu como de costume, com a minha mão sendo levantada a cada 15 minutos para fazer uma pergunta ou comentário. A loucura é a sabedoria dos homens, ops! Das garotas, no caso.
Porém, após a terceira pergunta, meu olhar se encontrou com o dele. As vezes, ou seja, em momentos como esse, eu gostaria de ser telepata só pra saber o que ele pensa. Nem venha me perguntar quem é, pois você sabe que é ele. Olha, eu não tenho culpa, ele não para de me olhar de canto. Estou nervosa. Será que meu cabelo está tão horrível assim? Será que ele não gosta do meu cabelo? Será que...
- Tragam as atividades na quinta! - Disse o professor Joel, que por acaso, eu odeio. E olha que eu não odeio ninguém, sou da paz.
Os horários passaram tão rápidos, que eu nem percebi quando os professores foram entrando e saindo da sala, de qualquer forma, eu tinha que ir para casa.
- Luísa! - Gritou Camila, correndo atrás de mim. - Não falte e chegue cedo!
- Tá bem. - Dei de ombros, sorrindo. - Pode me chamar de Lulu! Ok?
- Tá legal! - Ela ponderou um pouco. - Tchau, Lulu!
Saí como um vulto da escola, para chegar do lado de fora o mais rápido possível, antes que...
- Ai! - Gritei.
- Me... Desculpe... - Ele respondeu.
Dentro de... 5? É, 5. Dentro de cinco segundos, enquanto eu dobrava o canto, Thiago esbarrou em mim, me derrubando no chão e caindo sobre mim.
Acho que naquele momento, mudei de cor... E, ele parecia meio constragido, depois de me esmagar contra o solo rígido do colégio.
Ele logo se levantou e me ajudou a ficar de pé, me lentando com uma das mãos firme na minha cintura fina. Nossos olhares se encontraram. Me senti enjoada e tonta, com vontade de correr dali, virar atleta. Por um breve instante. Ele baixou a cabeça. Ele está corando? Sério?
Thiago pôs as mãos nos bolsos, ainda cabisbaixo. Eu não conseguia parar de olhá-lo, nem falar algo útil eu era capaz. Estava atenta a tudo, com meus olhos bem abertos. Virei múmia ao vés de atleta. Acho que nunca fui tão observadora em minha vida.
- Desculpe, eu... Me perdoe, não vi você. - Ele falou, finalmente.
- Ah... T-tudo b-bem. - Falei, quero dizer, gaguejei. Eu nunca tinha gaguejado na frente de alguém. Senti uma dor leve na cabeça e a toquei fazendo careta. Ai...
- Machuquei você? - Ele perguntou, preocupado.
- O quê? Não, não. Está tudo bem por aqui! - Falei forçando um sorriso. - Pelo menos, terei um galo que não vai me deixar passar do horário de vir pra escola!
Ele riu, ainda envergonhado. Lulu! Você tem que ir pra casa! Fica aí com cara de besta que ele vai achar que você tem uns distúrbios na conta... Minha consciência gritava. Minha vontade era sair correndo bem rápido. Só, que ver o garoto dos meus sonhos (onde não tem vez pra Barbies falsificadas e ursinhos demoníacos), parado bem à minha frente me olhando, me fez paralizar como uma estátua, mostrando bem a mimha completa estupidez.
- Eu... P-preciso ir em-embora - apontei para o lado.
-Ah, claro... - Ele disse, afastando-se, parecendo ainda mais envergonhado, sem razão nenhuma, pois a culpa dessa queda desastrosa foi minha. Completamente minha, afinal sou eu quem nunca se adaptou a gravidade do planeta Terra e, por isso, tropeço até no vento.
- Luísa? Você está bem? - Carlos estava falando comigo e eu estava totalmente aérea.
Eu mal conseguia pensar em algo coerente! Apenas assenti, esperando que ele não falasse nem perguntasse mais nada, e, para minha sorte, assim aconteceu.
É claro que eu ainda estava assustada demais para agir no meu comportamento natural.
Eu jamais esqueceria isso tudo, ou pelo menos, não tão cedo. A forma como ele me olhou... Os olhos dele... Eu tinha certeza que o conhecia a mais tempo do que pensava. Mas, quando foi isso?
Pensar nele, me lembrava o Rio. Mas, porque? Será que ele faz parte do meu passado? Será que...
- LULU?! - Carlos chamava, não pela primeira vez, eu suponho. - Tem certeza que está bem? Você está muito pálida, ruivinha!
- S-sim... - Eu nunca iria superar o tombo, com certeza!
- Você não parece bem, não quer ir ao hospital? - Ele virou-se para mim do banco do motorista.
- Não! - Falei de olhos arregalados. Não era tão terrível assim. Tudo bem, minha cabeça ai da estava doendo, mas eu iria sobreviver. Nada sério. Quanto ao Thiago... Tinha lá minhas dúvidas. Talvez eu tenha traumatizado o rapaz... Não é todo dia que se topa com uma doida varrida andando que nem um vulto no corredor da escola!
- Pois melhore essa cara, mocinha. Se não quiser deixar sua mãe preocupada. - Carlos disse, notei que ainda estava no carro.
- Ok... - Ele tinha toda a razão. Eu devia dar o meu melhor sorriso pra espantar a minha vergonha e para evitar questionamentos da minha mãe. E questionamentos meus também, que eu raramente fazia.
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