12- Thiago
O tempo está mesmo contra mim! Era assustador imaginar que eu estaria em frente à uma platéia. Imaginar que os holofotes estariam virados para mim, imaginar o tanto de pessoas que estariam me olhando. Eu não perdia o foco, lia todo o meu material. Estava em pleno desespero. E se eu errar? E se eu travar na frente de todo mundo? Não, preciso ser positivo e confiante. Vamos lá.
Eu havia perdido as contas de quantas vezes eu havia estudado o mesmo material em uma manhã. Perdido as contas de quantas vezes meus pensamentos me traíam. Perdido as contas de quantas vezes eu tentei mandar um simples "oi" para Luísa, mas não o fiz. Naquele momento, tudo o que importava era ter certeza de que eu iria bem. Peça? Acho que não foi uma boa ideia, afinal.
- Thiago, vem comer alguma coisa! Já são duas horas da tarde! - Márcia chamou.
- Já?! - Me surpreendi.
- Sim e eu não quero que você desmaie de fome. - Ela entrou no quarto e me puxou pelo braço até a cozinha.
Comi rápido, tinha que estar na escola às 15:30. Tomei um banho apressado e voltei a me esconder atrás das folhas que já mudavam de cor, de tantas que foram as vezes que eu as havia lido para conter o medo do público.
- Como eu estou? - Patrícia perguntou.
Levantei os olhos brevemente para observá-la. Ela estava ótima, parecia até que seria ela a apresentar a peça. Como será que Luísa estará?
- Você está linda. - Falei, sendo honesto.
- Eu sei disso. - Ela falou, depois se sentou ao meu lado. - Como você está?
- Bem... Tirando o fato de que vou ser exposto à uma platéia. Só não posso errar! - Falei mais para mim.
- Você vai conseguir. Até porque se não conseguir, eu arranco seus olhos do lugar! - Ela ficou pensativa. - Espero que Luísa não erre em nada.
- Você o quê?! - Eu estava ouvindo coisas?!
- Não me olhe assim, eu não sou um monstro! Realmente espero que ela vá bem... Eu notei que ela não é tão terrível quanto pensei. - Disse.
- Desde quando?! - Aquilo ainda era um absurdo para mim.
- Ah, não importa! Eu só mudei de ideia, não posso? Você devia ficar feliz, afinal está caidinho por ela! - Ela revirou os olhos e saiu para atacar a geladeira, com certeza.
Certo, eu ainda não estou ouvindo coisas. Ok. Dentro de alguns minutos, nossos pais apareceram e nós fomos para o carro. Paty tomou os papéis das minhas mãos no meio do caminho.
- Qual é o seu problema?! - Falei irritado.
- Você tem que viver mais! E não vai errar por causa de 10 minutos sem estudar essas falas! - Ela disse.
Eu não respondi, fiquei quieto, observando o caminho. Acabei ficando mais tranquilo depois disso. Papai estacionou o carro e nós descemos. Como sempre, Patrícia puxou meu braço e nós fomos andando juntos. Ela era muito confiante e parte disso, emanava em mim. Ela tinha um coração grande, que raramente cabia alguém, seletiva como era.
Haviam poucas pessoas ainda, meus pais foram procurar seus lugares junto com Patrícia e eu fui ajudar a terminar de montar o cenário.
- Thiago, vá se arrumar. - Camila ordenou e se eu quisesse continuar ouvindo sem a ajuda de aparelhos, eu obedeceria prontamente.
Todos estavam prontos para encenar, devidamente vestidos com seus personagens, todos inspirados em um livro que Camila havia lido para escrever a peça. Estava tudo pronto e ainda eram três horas da tarde. Tudo daria certo.
Ou teria dado, se Luísa tivesse chegado no horário. Camila não parava de gritar faziam quinze minutos e a diretora entrava e saía perguntando da Luísa. Cadê você?
Às quatro horas, a diretora começou a falar, ganhar tempo para nós à pedido de Camila.
- Ela não veio, Camila! Vai ser um fracasso! - Falou Charles.
- Vira essa boca pra lá! - Disse outro colega para ele.
- Calem a boca! Minha cabeça tá explodindo, a diretora não para de me pressionar, a Luísa ainda não chegou e estamos meia-hora atrasados! Acho bom ficarem quietinhos. - Ela saiu pela porta do camarim coletivo.
- Custava ficar na sua, cara? - Perguntou Keven.
- As vezes, falar é mais forte que eu.
Que idiota! Chega logo Luísa! Depois de vários minutos, Camila entrou de novo e me chamou para conversar.
- Você não sabe mesmo onde está a Lulu?
- Não faço a mínima ideia. - Respondi.
- Vamos ter que pedir para a Paty fazer o papel dela.
- Mas, isso vai complicar a Luísa... - Argumentei. - Ela ainda pode chegar.
- Não temos mais tempo, Thiago. Você fala com a sua irmã? Quem sabe você a convença... Por favor, se não apresentarmos, nem sei o que a diretora irá fazer com a gente. - Ela pediu com um olhar suplicante.
- Ok, eu vou tentar convencê-la. - Falei.
Por dentro, eu ainda torcia para a Lulu aparecer a qualquer momento, correndo desesperada pela platéia para chegar até o camarim coletivo. O público fazia barulho, murmúrios de conversas por todo lado. Havia um cheiro adocicado de perfume que me fez espirrar, mas prossegui, enxergando a morena de vestido vermelho conversando com alguns amigos. Toquei em seu braço e ela virou para mim, ficando preocupada em seguida.
- Essa cara não é boa, Thiago. Algo me diz que aí vem bomba. - Ela falou.
- É... A Luísa sumiu, já tentamos ligar, mas ela não atende! A peça vai começar e precisamos dela... - Ela me olhava sem entender o que poderia fazer. - Ou... Precisamos de uma substituta.
- Que seria eu? - Ela perguntou, não pareceu gostar da ideia.
- Sim, Patrícia, por favor. - Pedi, como o irmão educado que sou.
Ela arqueou uma sobrancelha e fechou o semblante.
- Não. - Disse curta.
- Só tem você, você é a única que conhece a peça...
- Thiago, esse papel é da Luísa! Esperem ela chegar! Eu não vou tomar o lugar de ninguém, não quero que ela seja expulsa. - Ela disse.
Fiquei surpreso. Essa é a mesma Paty que eu conheço? Ok. Tive de lhe pedir várias vezes, até convencê-la a ir.
- Se você não for, ficamos sem protagonista. Será ruim para todos nós. Eu queria que a Luísa aparecesse tanto quanto você, você sabe. Mas, eu não sei onde ela está ou o que aconteceu... Temos que fazer isso hoje! - Era minha última tentativa.
Ela suspirou, mas concordou e me acompanhou até o camarim.
- Só porque você pediu! - Ela resmungou.
Olhei para os lados, tudo o que eu queria era saber onde ela estava. Se eu pudesse, sairia gritando pelas ruas, iria até a casa dela, daria voltas para descobrir onde ela estava. Havia um mal pressentimento percorrendo meu corpo, uma sensação de que algo de ruim realmente havia acontecido.
- Ah, Paty. Obrigada por vir. - Camila disse.
- Agradeça ao Thiago, Camila. Eu não queria roubar o papel da Luísa! - Patrícia ainda falou, revoltada.
Eu ainda não sabia o que havia acontecido com ela para mudar de opnião sobre Luísa e provavelmente, eu nunca saberia. Esperar que ela me contasse estava fora de questão.
No fim, tive que enfrentar a platéia e os holofotes. Meu nervosismo acabou no instante em que pisei no palco. Logo, tudo foi preenchido pelas cores dos refletores, pela sinfonia das músicas. Cada cena, uma atrás da outra.
Depois de tudo, o ato final, a ruína, a perca... Tudo misturado no personagem magnífico que havia me transportado para um universo diferente.
- Bem, essa foi a nossa peça! Obrigada pela presença de todos vocês! - A diretora disse no final.
Depois que estávamos comemorando no camarim, felizes por tudo ter dado certo, a mulher robusta de saltos entrou com um sorriso gigante.
- Vocês foram ótimos! E... Eu sabia que a garota ruiva não viria e ainda bem que não veio, ela teria estragado tudo com aquele desastre! - Ela virou-se, indo embora.
- Diretora - Camila chamou a atenção da mulher. - O que a senhora vai fazer com a Lulu?
Ela se virou por completo, exibindo passos elegantes e contentes.
- O que eu disse que faria. Segunda-feira. Aliás, você foi muito bem, Priscila! - Ela disse, batendo a porta.
- É Patrícia, sua... Bruxa! - Minha irmã gritou.
A maioria das pessoas da peça pareciam um tanto tristes, os que gostavam da Luísa. Camila estava calada e eu podia apostar como estava tramando algo para tentar ajudar a ruiva. Meu estômago se contraiu.
Luísa... O que aconteceu com você, hein?
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