10- Thiago

    Que fim de semana interminável! Era segunda de manhã, eu estava acordado desde cedo, acabei ficando sem sono durante a madrugada. Mas, finalmente estava indo para a escola. No carro, Patrícia não parava de falar no celular. No entanto, isso não chegou a me incomodar, estava feliz pois iria ver a Luísa. Um minuto, o que eu vou dizer quando vê-la? Senti um frio na barriga. De repente, achei mais simples ficar dentro do carro, onde eu não teria que olhar para olhos azuis incrivelmente hipnóticos. Porém, minha "querida" irmã me puxou pelo braço e me obrigou a acompanhá-la até a sala de aula. Não vi Luísa no caminho, apenas quando entrei na sala e notei seu olhar curioso mudar. Estreitei os olhos, fiquei confuso.

         Luísa parecia recolhida. Estranhei seu silêncio, pensei várias vezes em ir até ela, perguntar se estava tudo bem, mas... Algo me prendia na cadeira. Talvez fosse melhor deixá-la um pouco sozinha. Ela fez dupla com Keven durante uma atividade, pareceu mais animada conversando com ele. Ele estava fazendo ela rir, o que não era difícil.

       Senti raiva dele, quis sair do meu lugar e enforcá-lo com as mãos. Eu... Estou com... Ciúmes? Engoli em seco. Não gosto de pensar em mim como uma pessoa possessiva. Luísa não era minha propriedade, ela era... Minha... Amiga? Encontrá-la depois de anos, me fez mudar, me fez me conhecer melhor. Eu não podia prendê-la. Aquele não era eu. Mas, eu agradeceria muito ao Keven se ele não se aproximasse tanto da Lulu. Sujeito inconveniente.

       Senti alguém me beliscar e virei para Paty. A morena estava com uma cara de quem tinha me feito uma pergunta, que obviamente eu não ouvi nem respondi.

        - O que foi? - Perguntei.

        - Você vai continuar encarando a Luísa? Não está claro que ela não liga pra você? - Ela disse.

         Ignorei o que ela havia dito. Ser tímido é ruim, porque em momentos como aquele, eu queria poder ir até lá e puxar conversa, mas o simples pensamento me fazia concluir que seria péssimo. Não sei puxar conversa com ninguém, ou algo do tipo. Para algumas pessoas é fácil, para mim é quase impossível.

         - Se você não percebeu, ela não tem nada haver com você nem você com ela. - Paty murmurou.

          Fiquei em silêncio. Ela tinha razão e eu não queria concordar. O horário do intervalo chegou e alguns amigos meus me cercaram para conversar, acabei esquecendo o que ia fazer.

       - Cara, você devia entrar no time! Ultimamente tem sido bem divertido! - Charles falou.

         - E tem o Interclasse... Ouvi dizer que o pessoal daqui é bem competitivo! - Fernando comentou.

        - O chato é que a gente é do primeiro, ninguém nos leva a sério. - Gabriel disse.

        - Eu não curto esse tipo de coisa... - Argumentei.

        - Só uma partida, cara! Você vai gostar! Além do mais, dá pra fugir da palestra de hoje. - Charles falou, tentando me animar para o jogo.

         - Charles, você mesmo disse que eu sou lerdo demais para um esporte agitado como o futebol. - Disse.

         - Ah, isso meu amigo, é o resultado por ser nerd e viciado em jogos! - Nos rimos. - Aliás, nós temos um para jogar hoje...

         Lhe mostrei meu material.

         - Cara, você estuda demais... Eu até tento ser assim... Acabo dormindo depois de 5 minutos lendo alguma coisa. - Diogo falou, ri de si próprio.

         Desviei meu olhar para a porta da sala, por onde Luísa entrava com adivinhe só! Keven. Ele lançava olhares significativos para ela, algo que ela não percebia.

        - Não acredito! Alguém me acorde! Aquele é o Keven que não sai de perto da Lulu?! - Luís falou, rindo.

         Eu não achei nada engraçado.

         - Luís, não era ele quem dizia "a Luísa é muito esquisita, Deus me livre"?! Olhem só. Contemplem um cara interessado numa esquisitona! - Gabriel falou.

        - A Luísa não é esquisita, só é diferente das outras garotas da escola. - Falei com raiva.

          - Uhum... Thiago, é você? - Perguntou Charles.

          Olhei para ele com raiva e saí de perto do grupinho formado de idiotas. No Ensino Médio só tem caras imbecis? Ainda prefiro o fundamental.

         - Cuidado, hein. Pra você não ser o próximo a gostar da esquisita ruiva! - Gabriel recomendou.

          Dentro de poucos minutos, a professora entrou na sala e a aula de Biologia começou. Foram mais alguns horários intermináveis, enquanto eu tentava prestar atenção. Anotei muitas coisas, inclusive algumas atividades que me deixariam ocupado pelo resto da tarde depois do ensaio.

        Quando o horário bateu, fui atrás da Luísa para conversar com ela. Mas, o Keven chegou antes de mim. Eu não iria atrapalhar. Ela gosta de mim, ela disse isso. E eu acredito nela.

        Paty enroscou seu braço no meu e me deu um olhar amigável.

         - Vamos para casa agora? - Perguntou inclinando a cabeça.

        - Sim. - Respondi, sorrindo brevemente.

        Entramos no carro e ela começou a puxar conversa comigo. Acabamos nos envolvendo entre risos e músicas engraçadas do Youtube.

       Pela tarde, eu saí cedo com Antônio. Os alunos da tarde estavam nas suas salas. Esbarrei em alguém no meio do caminho sem querer...

        - Opa! Desculpa! - Era uma voz feminina.

        - Tudo bem. - Falei olhando para ela.

        A garota loira não estava de farda, portava apenas alguns documentos e uma bolsa de lado. Ela era baixa, tinha olhos verdes. Ela sorriu, me estendendo uma mão.

        - Ah, prazer, meu nome é Thiago. - Apertei sua mão de volta.

        - Eu sou Daniela, vou estudar aqui... Daqui há alguns dias, é claro. Acabei de me mudar e tal... Muita coisa pra organizar ainda! - Ela não parava de me olhar e sorrir, enquanto falava. - Bom te conhecer! Tchau!

        Acenou, indo embora. Estreitei os olhos. Essa sim é estranha e tagarela! Segui para o ensaio e me juntei às duas garotas lá dentro: Luísa e Camila que conversavam animadamente.

         Porém, quando eu cheguei a conversa acabou. Partimos a ensaiar as falas. Camila estava um tanto desesperada, já que iríamos apresentar no sábado e já estava bem próximo, reles 5 dias.
 
       Luísa parecia distante, não da peça, mas de mim. Àquela altura, eu tentava descobrir o motivo. Quando deu quatro horas da tarde, Camila deu pausa.

       - Gente, eu tenho muita atividade para fazer, então nós vamos parar por aqui hoje. Mas, se vocês quiserem continuar sem mim, tudo bem. Tchau, Lulu. Cuide-se, Thiago.

        A assisti sair e me aproximei de Luísa.

        - Você está bem? - Perguntei.

        - Sim, por quê? - Ela sorriu.

        - Por nada, eu só... Não sei. Senti sua falta. - Falei, sem saber o que dizer.

        Ela me abraçou apertado e eu sorri.

        - Eu também! Vem, vamos andando que eu tenho que te contar pra onde minha tia me levou esse fim de semana! - Ela falou, animada.

        Estávamos sentados em um daqueles bancos da praça. Lulu balançava os all stars vermelhos de um lado a outro, com as mãos apoiadas no banco. Em momentos como aquele era impossível deixar de observá-la contando sua história cheia de aventuras em um sábado de manhã.

        - Aí quando a gente chegou, fomos fazer macarrão! Mas... Não deu muito certo! Ele borbulhava e a água quente derramava pelas bordas! - Ela falou, fazendo gestos. - Ainda bem que a nossa cozinheira nos salvou... - Ela sorriu de canto. - E você? Como foi seu final de semana?

        Ela me encarou. Como ela podia fazer isso? Será que ela não sabe que eu não consigo olhá-la nos olhos por muito tempo?! Que crueldade! Senti algo me levar para mais perto. Mas, eu precisava me controlar. Assumir as rédeas de mim mesmo.

         - Bom, eu só... Fiquei jogando com um amigo. - Falei, hipnotizado.

        - Jogando?! Me ensina a jogar, Thiago? Eu aposto que ganho de você! - Ela sorriu.

         - Claro que eu ensino, seria engraçado ver você perder pra mim. - Eu podia me gabar disso, eu era bom.

        - Será..? - Ela me olhou, arqueando uma sobrancelha.

        Ok, aquele foi meu fim. O fim das minhas tentativas de me manter longe. Era simplesmente impossível pra mim, éramos como ímãs que se atraíam. Será que você tem noção da sua beleza?

        Me aproximei apenas para selar nossos lábios brevemente. Ainda assim, sentí-la ali, bem como estava, perto de mim, era ótimo.

         - Posso ser sincero? Odeio ser tímido. - Falei e ela sorriu. - Também odeio o Keven, ele não é tímido. Mas, devia ser.

         Ela apenas juntou as sobrancelhas, sem entender o que eu quis dizer, apoiou sua cabeça no meu ombro, depois voltou a me contar mais coisas fascinantes.

        Nós conversamos muito até seu motorista chegar e a levar embora. Eu preferi ir andando. As vezes, era bom caminhar um pouco.

        A semana parecia estar de mal conosco, em um piscar de olhos já era quarta-feira e Camila nos dava broncas por cima de broncas. A diretora acompanhava os ensaios e cobrava mais. Nós nos reuníamos para tratar de mais outros assuntos e ensaiávamos todos juntos.

    Tinha de dar certo.

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