O despertar

Para salvar quem amamos, tiramos forças de onde menos esperamos.

 
~ Lucky Buckland

    Após um início de uma noite conturbada quando enfim conseguiu dormir, Lucky sentiu uma forte luz em seu rosto. Abriu os olhos lentamente e se surpreendeu ao ver à sua frente um lindo cavalo branco com asas. Era ainda mais incrível do que os que apareciam em seus sonhos, e, diferente dos outros, esse tinha um cristal em sua fronte, os olhos da menina ficaram vidrados na criatura e por um momento teve vontade de se beliscar, nenhum animal poderia ser tão bonito.

—  Uau! — Exclamou em alto e bom som.

      Se levantou lentamente da cama e caminhou até ele, não se conteve, precisava tocá-lo. Ao chegar perto, ele relinchou, o que a fez recuar um pouco; ele então abaixou a cabeça como uma forma de mostrar que estava a autorizando a tocá-lo, a menina sorriu e levemente estendeu a mão direita.

      Ele aproximou-se da mão dela que o acariciou, a criatura então bateu o casco direito três vezes no chão e abriu as asas que começaram a brilhar, ela se afastou assustada e o brilho começou a tomar conta de todo o quarto, fazendo-a proteger os olhos com as mãos.

        Em seguida o brilho diminuiu e foi como se toda aquela luz entrasse dentro dela, com os olhos fechados ela pôde senti-la, era uma sensação incrível, que nunca havia sentido antes, como se estivesse flutuando.

     Abrindo os olhos olhou para as mãos e uma energia diferente parecia tomar conta de todo o seu ser, o quarto então voltou a ser iluminado apenas pela lua e pelas estrelas, o cavalo havia sumido e no lugar dele havia uma pessoa parada no meio do quarto, usava uma capa com um capuz na cor salmão-claro.

     Ela pode ver um leve sorriso debaixo do capuz. Aquilo era real? Seu coração estava acelerado, sentia medo, mas ao mesmo tempo, tinha a sensação de que não precisava temer, não sabia o que dizer, queria correr, porém seu corpo não respondia, então a pessoa disse com uma voz suave e serena.

— Não tenha medo.

— Quem é você? — Perguntou a menina receosa.

— Não importa quem eu sou, o mais importante é que chegou a hora Lucky, precisamos de você.

— Como sabe meu nome? E como assim, precisamos? Do que está falando? — Questionou tomada de espanto, seu coração estava tão acelerado que ela se perguntava se a pessoa a sua frente podia ouvir, mesmo assim se manteve firme fitando o ser da forma mais inquisitiva que conseguia expressar.

— Não há tempo para explicações, eles estão vindo!

     Ouvindo barulho de passos no corredor, ela olhou para a porta e nesse momento acordou. Estava deitada na cama e tudo ao redor estava completamente normal. Só mais um sonho maluco, pensou.

  Decidiu voltar a dormir, quando virou de lado ouviu passos firmes e pesados vindo do corredor, se sentou e avistou uma sombra passar pela, a porta. Ela Sempre foi muito medrosa, contudo, também extremamente curiosa. Caminhou então com cautela até a porta, a abriu levemente, viu no corredor um brutamontes, com vestes longas e pretas, não dava para ver o rosto dele, pois estava de costas, percebeu que ele estava se virando pra ela e seu coração gelou, sentiu então uma mão a puxando para dentro do quarto rapidamente e em seguida tampando a sua boca, o coração de Lucky faltou saltar pela boca nesse momento.

     A sua frente estava o mesmo homem que apareceu no seu sonho no início da noite, só que ao invés de vestes longas estava apenas com um terno preto comum, ele fez sinal pedindo silêncio, ela não sabia se podia confiar nele, mas também não queria arriscar fazer alguma coisa e de repente ser morta. O homem então se afastou lentamente, Lucky ia perguntar quem era ele, mas antes que pudesse dizer algo, viu uns flashes de luz vindo do corredor, ouviu um gemido semelhante a alguém que leva uma pancada e cai ao chão, em seguida, então, a chave da porta do quarto começou a sair da fechadura.

     Ela olhou para o tal homem, assustada, ele tirou do bolso uma varinha de madeira chinesa com o cabo vermelho, a chave caiu no chão, então uma pequena luz azul brilhante passou pela fechadura e foi em direção a ele, isso pareceu o tranquilizar, já Lucky queria gritar ou derrubar qualquer coisa que pudesse chamar a atenção de seus pais. Se ela fizesse apenas um barulho alto talvez eles a ouvissem e só talvez houvesse alguma chance de ela não morrer.

    A luz parou ao lado dele e foi crescendo, ao crescer foi se tornando uma mulher com asas de borboleta, ficando na estatura do tal homem, todo o brilho se desfez juntamente com as asas e puderam vê-la por completo. Sua aparência não era fora do comum, e o que estava em destaque era seu cabelo liso platinado acima do ombro, fora o cabelo ela era uma versão feminina do homem ao seu lado.

    Irmãos gêmeos? É uma boa notícia já que ambos estão do mesmo lado, isso devia tranquilizar a Lucky, porém ela se encontrava completamente perplexa com tudo aquilo, não sabia o que pensar, o que fazer, estava com medo e ao mesmo tempo confusa. Observava atentamente os dois, porém não conseguia dizer nada, o homem então perguntou para a mulher:

— Quantos estão na casa?

— Cinco. — Respondeu — Bom, 4 agora. — Declarou se gabando, em seguida olhou para a menina com um olhar doce e disse. -– Lucky? Como você cresceu! Está linda! Tão parecida com a sua mãe... como você está? — Vendo que a garota permanecia em silêncio, se virou para irmão e perguntou. — Você lançou o feitiço do silêncio nela?

— Não, ela está em choque, também não é todo dia que vê uma luz passando por uma fechadura, flutuando e se tornando uma mulher com roupas extravagantes.

— Respondeu o homem parecendo óbvio, já que ela trajava um vestido branco com pontas e um detalhe todo trabalhado no busto com pedras de diamantes azuis.

— O que tem de errado com as minhas roupas? — Questionou emburrada.

— Nada, tirando o fato de que combinamos que íamos tentar ser naturais para não a assustar.

— Se ela já está assustada com isso imagine quando ela souber... — Ele a interrompeu.

— Agora não, Lincy!

Depois de respirar fundo para não surtar, Lucky conseguiu enfim falar e voltando-se para os dois perguntou.

— Quem são vocês?

— Eu sou o Alberico. — O homem respondeu.

— Eu sou a Lincy. — Falou a mulher animada.

— Nós fomos enviados. –— Contínuo o Alberico.

— Para levá-la até Wordelyn. — Interrompeu Lincy.

— Em segurança. — Concluiu o homem.

— Wow! O que? — Perguntou Lucky, tentando ganhar tempo para pensar em uma forma de fugir. Se ela parecesse acreditar em qualquer coisa que os dois falassem poderia ficar bem. Nesse momento ouviram barulhos de coisas quebrando e em seguida o grito da mãe da garota.

— Mãe?!

Preocupou-se a menina, e deixando de lado toda aquela loucura saiu correndo ao encontro da mãe.

— Lucky, não! — Gritou Alberico correndo atrás dela em seguida, ao chegar no corredor se surpreendeu com outro homem estranho, de estatura magra e vestes pretas com correntes penduradas; ele também estava com uma varinha em mãos, era igual a de Alberico, porém com o cabo preto, usando-a lançou um feitiço contra a garota, a magia era da cor vermelha com uns raios.

      Alberico tomando a frente da menina, criou uma barreira protetora devolvendo a magia contra o inimigo que ao recebê-la ficou com os cabelos arrepiados, rosto com manchas pretas e esfumaçado, com os olhos arregalados e após alguns minutos de pé caiu ao chão em cima de seu companheiro brutamontes, que provavelmente foi nocauteado por Lincy, a menina arregalou os olhos abismada sentindo arrepiar a espinha com a possibilidade de que poderia ter sido o alvo de tal feito, voltando-se para Alberico o olhou agradecida e disse.

— Obrigada. — Ele apenas consentiu, Lincy que estava na porta do quarto sorriu aliviada, à ambos os gestos, Lucky entendeu que eles não queriam fazer nenhum mal, talvez só quisessem ajudá-la como ajudaram a mulher em seus sonhos, mas por que ela precisaria de ajuda? Seus devaneios foram interrompidos quando ouviu novamente sua mãe gritando, dessa vez gritou pelo nome do marido.

      A casa não era muito grande, dois andares, dois cômodos em cima, dois cômodos em baixo e um pequeno jardim aos fundos. O grito da mulher vinha do jardim, Lucky saiu correndo novamente, enquanto os irmãos voltaram a segui-la.

       Descendo as escadas em disparada, passaram pela sala onde havia um sofá de três lugares tombado, um vaso de flores quebrado no chão, vestígios de luta por toda a parte, deixando a menina ainda mais aflita e confusa. Seguiram até a cozinha e mais vestígios, pratos quebrados, a mesa de madeira quebrada ao meio e cadeiras espalhadas em volta.

     

      A garota tomada de espanto, respirou fundo e mirando a porta na parte de trás da casa entreaberta caminhou com cautela até ela, quando se aproximaram da porta que dava para o jardim, olharam pelo vidro, viram o pai caído no chão e a mãe ajoelhada apoiando a cabeça dele sobre sua perna. Havia dois homens mal encarados, liderados por um duende gordo e calvo, trajando vestes de couro na cor preta, ele ameaçava a mãe da menina dizendo:

— Onde está a garota? É só entregar ela para nós e ninguém mais precisa se ferir. — Dizia o duende com as sobrancelhas arqueadas.

Lucky supôs que só podiam estar falando dela, não fazia ideia do porquê esses homens sinistros poderiam estar atrás dela, no entanto ela nunca foi o tipo que pensa antes de agir, então ameaçou sair da casa, contudo Alberico a segurou impedindo-a de sair.

— O que está fazendo? Me solta! — Disse, tentando se soltar.

— Você não pode ir lá, é você que eles querem. — Declarou.

— Por isso preciso ir, são os meus pais que estão lá! — Falou parecendo óbvia.

— Precisamos de um plano, não podemos aparecer lá assim, esses Lynos são perigosos. — Explicou Lincy.

— O plano é não deixar meus pais morrerem! — Insistiu ela.

— Não deixaremos eles morrerem, mas você precisa ficar calma. — Retorquiu Alberico.

— Ficar calma?! — Exasperou a garota perplexa. — Primeiro eu tenho o sonho mais estranho que já tive durante anos, depois dois malucos bizarros entram no meu quarto dizendo que vieram me levar pra não sei onde, para fazer não sei o que e agora tem três homens sinistros prestes a matar meus pais!

— Nós só precisamos de um plano, querida... — Interveio Lincy.

— O plano é salvar a vida deles! — Rebateu.

A breve discussão foi interrompida, pela voz aflita de Elisa vinda do lado de fora que dizia:

— Eu já disse que ela não está mais com a gente!

— E eu já disse que você é uma mentirosa! — Rebateu o duende.

— Quer saber já me cansei desse joguinho, se você não vai dizer onde ela está, nós a encontraremos sozinhos, exterminem os dois. — Ordenou para os dois homens altos e fortes de orelhas pontudas, que imediatamente se preparam para atacar.

Nesse momento o coração de Lucky disparou, não se contendo, agindo completamente por impulso, mordeu a mão de Alberico o obrigando a soltá-la.

— Arg. — Resmungou ele, enquanto Lincy levou a mão a boca surpresa, se segurando para não dar risada, a menina aproveitou o gancho para sair correndo ao encontro dos pais, estando do lado de fora.

— Fiquem longe dos meus pais! — Gritou de forma feroz tentando parecer o mais assustadora possível, mesmo tendo em mente que esse poderia ser seu brado de morte.

— Olha só quem resolveu aparecer pra festa. — Comentou um dos homens altos com um sorriso sarcástico, encarando-a com seus olhos cor de violeta intenso.

Lincy se preparou para sair, porém Alberico a deteve.

— Espera! — Ele falou.

— O que está fazendo?! — Questionou atônita.

— Dá para não discutir por um instante, se esqueceu que é o décimo terceiro aniversário dela?

— Declarou e mesmo com receio ela consentiu.

      No mesmo instante Lucky começou a sentir uma brisa leve passando por si, seguida de uma grande fúria, à qual sentiu a mesma energia que no último sonho transbordar dentro de si, seus olhos passaram de esverdeados para brancos brilhantes e de repente começou a subir uma quantidade de poeira, formando uma grande ventania, todos olharam atônitos.

— Eu estou fazendo isso?! Mas como? O que? — Se perguntava ela completamente assustada e confusa, não fazia ideia do que estava acontecendo, porém no momento tudo o que importava era salvar a vida dos seus pais.

— O que estão esperando, idiotas? Detenham ela! — Declarou o duende.

    Os elfos foram para cima dela rapidamente, involuntariamente ela posicionou suas mãos a frente do corpo, as direcionando para os esquisitos assustadores que avançavam contra ela, esse gesto fez com que a ventania os atingisse em cheio os lançando longe, o outro homem, visivelmente assustado, se preparou para atacar, no entanto antes que pudesse fazer algo, também foi lançado longe com a força do vento.

— Isso é o poder de uma Uxal legitima? — Perguntou Lincy para Alberico completamente perplexa.

— Não, esse é apenas o despertar de uma Uxal legitima. — Respondeu ele impressionado.

     Após ter se livrado dos três Lynos como Lincy os chamou, a ventania foi cessando, os seus olhos foram voltando à cor natural, sentiu uma fraqueza imensa e ia cair no chão, Alberico então apareceu à sua frente e a segurou, impedindo-a de cair, ela o olhou completamente exausta e perguntou:

— O que eu sou?!

     Essas foram suas últimas palavras, depois disso caiu nos braços de Alberico e não viu mais nada.

   Olá que bom te ver por aqui, eai o que esta achando da história? Espero que esteja gostando, comenta aí a sua opinião e não esqueça de levitar aquela estrela mágica que alegra meu dia 😍❤️.
 

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