Capítulo 7 - Encontros e desencontros (Lara)
Eu estava executando o meu trabalho de sempre, antes do intervalo para o café. Por um instante, pensei na ironia da situação... Enquanto o trabalho de Derek era cheio de ação e perigo, o meu era o completo oposto: parado, repetitivo, inofensivo, chato mesmo. Eu passei o dia organizando papeis e passando-os para o sistema integrado de documentos públicos virtuais.
Alguém me mate.
Terminando o serviço, eu ficava sem ter o que fazer, de modo que entrava no meu notebook e aproveitava para pesquisar os lugares pelos quais Derek costumava ir, quando encontrava-se em missão. Era tudo chute, porque ele deixava escapar uma ou outra indicação e só.
Eventualmente, eu trabalhava nos meus romances amadores. Correção: no meu romance hot que eu nunca conseguia terminar.
Aproveitei que Derek estava confinado na equipe verde dos SEALs Seis, sem tempo para ver as minhas publicações, e postei os primeiros cinco capítulos do romance hot no VoxPaper. Decidi chamá-lo de "Lua de Fogo".
Eu estava morrendo de vergonha. Por isso, nem entrava mais lá para olhar os comentários... Especialmente sobre o relacionamento entre o protagonista SEAL e uma garota do interior - um relacionamento íntimo, diga-se de passagem.
Para o meu espanto, ele comentou, pelo canal direto do Instagram, que estava adorando o enredo. E, astutamente, sinalizou que eu devia ter coragem para entrar no livro e ler os comentários dos meus leitores.
Derek era uma raposa! Ele sabia tudo o que se passava na minha cabeça.
Respirei fundo e fui lá conferir. Levei um susto ao ver a proporção que o livro tomou, dentro da plataforma. Estava fazendo o maior sucesso. Derek deixou comentários em cada capítulo.
Com exceção de um ou outro detalhe, não chegou a criticar nada, apenas sugeriu algumas correções no que se referia aos procedimentos militares. Eu sabia que jamais deveria citá-lo como minha fonte de informações, porque os SEALs são profissionais discretos. E suas missões, altamente sigilosas. Além do mais, ele nunca me contava os detalhes de seu trabalho. Eu tive que garimpar tudo sozinha na internet. Daí, quando eu fazia isso e publicava, ele apenas me corrigia quanto a algo gritante de tão errado.
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Certa vez, altas horas da noite, ele me perguntou como eu achava que a nossa história iria terminar. Se eu acreditava em "felizes para sempre". Não consegui responder. Ele também não me cobrou uma resposta.
Nós sabíamos tanto, um sobre o outro, que ele conseguia adivinhar meus maiores medos, bem como os botões certos para acionar a minha coragem. Nós nos entendíamos muito bem. Quando todo o resto destoava... Os signos combinavam - ele era de Leão e eu, sagitário. As idades batiam - ele com 30 e eu com 25. Os gostos por filmes e livros se completavam - a gente gostava e desgostava dos mesmos gêneros. Ele gostava de me ouvir e eu gostava de ouvi-lo. Mesmo os problemas, eram considerados com toda a atenção.
E agora, ele não estava ali para meu ouvir... Estava na base dos SEALs, em Virginia Beach, enfrentando um treinamento tão ou mais duro do que a seleção inicial para SEAL (o BUD/s).
Nossa!,pensei, sonhadora, encontrando rapidamente as fotos de Virginia Beach no Google. Que lugar lindo! Imagina acordar com aquela vista, durante o treinamento? Bem, para eles devia não ser tão bom assim, mergulhar de uniforme e tudo dentro do mar gelado. Especialmente no outono, ou inverno.Certa vez, Derek me disse que se entrasse para a equipe verde, teria que passar pelo teste de natação em águas congelantes, uma segunda vez. Primeiro, foi durante o BUD/s, no Oceano Pacífico que banha a região de Coronado, na Califórnia. E agora... Considerando que ele conseguiu entrar para a equipe verde, teria que fazer o mesmo no Oceano Atlântico.
Coitado, nem iria aproveitar toda aquela beleza.
Eventualmente, eu ficava passeando pelas fotos maravilhosas, imaginando Derek em meio ao cenário... Foi aí que me conscientizei de que o sentimento que me assolava era saudade.Ironicamente, Derek parecia mais distante de mim do que quando estava baseado no Afeganistão, no Chifre da África, no Iêmen, ou no Iraque.
Bem, eu devia esperar por isso, uma vez que o treino eliminatório do "Six Team" é muito rigoroso. Ele estava prestes a se tornar um membro do esquadrão antiterror - a elite da elite - a realização de um sonho.
Tudo o que eu podia fazer por ele, era torcer para que conseguisse ser aprovado.
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Abri o Instagram, com um suspiro, apenas para dar uma espiada e, de repente, vi que a bolinha verde estava brilhando ao lado da caveira do Esqueleto (ele havia mudado a imagem do seu user - da bandeira pirata para a caveira com capuz do Masters of Universe). Não creio... Balancei a cabeça, olhando para o arqui-inimigo do He-man.
"Eu tenho a força!"
Eu, por meu turno, continuava usando a foto da gata com laçarote na cabeça, e continuava me chamando @Lara_de_bem... De bem com a vida. Não era uma verdade cem por cento, mas eu estava trabalhando para que fosse.
Aquela bolinha verde no user de Derek me deixou agitada.
Derek. Online. Naquele instante. Ahhhhhhh!
-Lara, venha até a minha sala - disse uma voz tão desagradável quanto inoportuna.
Fiquei congelada no lugar, quando meu chefe me chamou. Olhei para o ecrã do celular. Derek viu que eu estava online, também, porque começou a digitar.
"Coração, eu estou acabado".
O que será que ele quis dizer com acabado?
-Lara! - meu chefe tornou a me chamar, impaciente.
Eu fui obrigada a deixar Derek sem resposta, para ir ver o que "A Praga" queria de mim.
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(Derek)
Ela não respondeu, mas continuava online. Alguém bateu com a toalha molhada na minha bunda, causando-me um sobressalto.
-Quer morrer? - eu resmunguei.
-Olha só o Nahas! - disse Joshua, em tom de deboche. - Levou um fora da namorada, é? Tá com uma cara!
-Não vai contar quem é a garota misteriosa? - perguntou James, do outro lado do vestiário.
Eu nunca falava dela com ninguém, embora meus antigos companheiros tenham descoberto que eu estava meio que namorando pela internet, meus atuais companheiros não perdoavam uma. Era marcação cerrada. Por isso, virei alvo de gozação. Tudo bem... A gente se acostuma a ser novato outra vez.
E logo começaram as brincadeiras... De repente, um marmanjo apareceu na porta do alojamento, dizendo que era o amor da minha vida e que vinha se correspondendo comigo no Instagram. Eu queria matar o Constanza!
Dedo duro! Língua frouxa!
O cara que me bateu com a toalha se afastou beijando o ar, estalado os beiços e rebolando pelado.
Ninguém merece.
Olhei para a tela do celular. Ela estava online, mas não respondia à mensagem... Digitei mais um pouco: "Você está aí?"
Eu queria lhe contar o quão puxado estava sendo o treinamento. Que eu tive que pagar cem e que cada vez que o instrutor não ficava satisfeito com a minha técnica, eu tinha que repetir o movimento até ele estar perfeito. Até eu perder a força em meus braços... Então, eu pagava cento e vinte nas flexões de barra.
E isso logo depois de correr cerca de seis quilômetros cronometrados em mais ou menos onze minutos - e depois, mais dois e meio na praia, usando calça comprida e botas.
Eu nem tive tempo de me recuperar da missão no Oriente Médio. Peguei um voo que, no final das contas, me fez chegar à base em cima da hora, com apenas três horas de sono... e já tive que sair correndo no instante em que larguei a mochila.
Além do mais, eu estava competindo com garotos mal saídos das fraldas. Quer dizer, eu estava com 30. Não era a mesma coisa que ter 25. Não quando você já está bem rodado nas missões... A vida de SEAL detona o cara.
Eles me chamavam de vovô! Porra, cadê o respeito pelos meus cabelos brancos?
Eu estava preocupado com o meu desempenho. Não queria decepcionar o meu chefe de pelotão. Nem o meu líder de equipe, que foi quem pôs a mão no fogo pela minha candidatura. Não teria coragem de encarar meus companheiros na equipe Oito, se eu fosse desclassificado. Eu poderia tentar no ano seguinte, mas não queria perder todo o esforço até aqui.
-Desocupa a moita aí - gritou alguém, ao me ver parado diante do armário.
Mostrei o dedo do meio e me movi para a direita.
Terminei de me vestir, peguei minha mochila e saí do vestiário, em direção ao refeitório.
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