Capítulo 28🌙"Bom te ver"

Nota inicial:

Boa leitura ♥

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Era mais alto que ela, e suave em seus movimentos, como um gato. Enganosamente calmo, preparado para saltar. Um archote na trilha próxima captou o brilho de pequenas argolas de ouro em suas orelhas.
Graceling, o dom extraordinário
– de Kristin Cashore

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A Trilha dos Elfos se erguia diante de seus olhos. Brilhante sob a luz do sol outonal, reluzente em amarelo, laranja, marrom, verde e vermelho. Oscilava, cintilava e luzia no dia que estava firmando, e Aranel olhava aquilo com profunda admiração. Ouviu-se o som dos clarins e trompas, e um grupo de elfos caçadores passou correndo a alguns metros deles. Legolas avançou na direção deles com o rosto sério, mas vacilou e olhou para a noiva.

— Desculpe. — Ele deixou os ombros caírem.

Aranel sorriu e pegou a outra mão dele. — Por que?

O príncipe olhou fixo para ela e levantou o queixo, levemente. — É a força do hábito de sair correndo quando as trompas soam. — Ele ficou com uma risada presa na garganta.

A rainha examinou seu rosto, inclinou-se em sua direção e o empurrou contra um poste de ferro encrustado que havia na trilha. Colou seu corpo ao do príncipe e aproximou seus lábios do dele, mas não o beijou. No entanto, aquele sabor a delirava, enganosamente salgado, levemente doce. A língua dela explorou o canto esquerdo dos lábios do elfo.

Legolas suspirou quando ela parou. — Assim você não ajuda, minha adorável rainha. — falou.

Aranel apenas riu e beijou o pescoço dele, sugando e modendo, suavemente sua pele.

Ele segurou as mãos dela e deixou que a luz do sol iluminasse seu rosto. Nel resmungou. Ouviu-se sua gargalhada e então, ele a beijou. Legolas abraçou seu corpo e a puxou para perto.

— Alguém pode nos ver. — Ele sussurrou com uma voz demasiadamente ardente.

Aranel mexeu a cabeça. — Então, tire as mãos de dentro da minha saia, príncipe. — advertiu.

Legolas riu novamente. — É um lugar interessante, esse. — ele a precionou e Nel prendeu a voz para não gritar. Ele girou e apertou, e acariciou seu íntimo, então, parou. — Devo continuar mais tarde. — O príncipe a ergueu e a colocou de pé.

Aranel arrumou a saia do vestido e respirou fundo.

Trompas soaram novamente e mais elfos cruzaram a trilha, desaparecendo no meio da floresta em questão de minutos. Mas dois elfos pararam, olharam para Nel e Legolas e sorriram.

— Acredito que queiram ficar sozinhos para passear. — Nëssa rodou a faca entre os dedos e olhou para Driën, sorrindo. — Ele não vai querer vir agora.

O elfo ao seu lado franziu a boca. — Com uma rainha ao seu lado, quem iria querer se distanciar? — comentou.

Nëssa o olhou, séria e resolutamente calma. — Que falta de educação.

Aranel sorriu.

— Se não fosse filho de Tauriel, eu o prenderia aqui e agora. — Legolas cruzou os braços, fingindo estar zangado.

Driën piscou os olhos. — Não faço questão de ter uma Rainha, vossa alteza. Sério. — Ele enfatizou.

— Sim. — Bard, irmão gêmeo de Nëssa, se aproximou cautelosamente pelo lado norte da Trilha dos Elfos e se juntou aos dois. Colocou os braços em torno dos ombros da irmã e olhou para Driën. — Ele não precisa de uma rainha quando se está apaixonado pela filha do Rei.

Uma risada ficou presa dentro da garganta de Aranel. Driën arregalou os olhos e encarou Bard. O meio-elfo gargalhou.

Ela olhou para o lado. Legolas estava vermelho.

— Como é?! — a voz dele retumbou. Agora sim ele ficou zangado!

— É mentira. — Nëssa levantou as mãos, tentando amenizar a situação.

— Sim. — Driën saiu de perto da árvore. — Perda de tempo. Sério...

Sua voz foi oculta pelo som das trombetas soando cada vez mais alto. Dessa vez, os três olharam naquela direção.

Legolas estremeceu. — Beleg. — disse e se virou para a noiva. — Eu preciso ir, realmente.

Aranel sorriu e beijou seu rosto. — Vá. — disse.

O príncipe correu para fora da trilha e os três elfos o seguiram.

Aranel olhou em volta e se viu sozinha na trilha. Colocou as mãos na cintura, aproximou-se de uma árvore e sentou-se ali.

Ela ficou ali, pensando, ouvindo os murmúrios dos animais na floresta,  e dos elfos caçando. Sentindo o odor silvestre da mata, da faia, da relva e dos riachos que cortavam o vale ali perto; o brilho cintilante do sol nas folhas dos carvalhos era incessante, parte dos raios tocavam a terra que adquiria uma cor de chocolate. Orvalhada, a trilha seguia, sinuosa, entre as árvores e desaparecia depois de uma curva drástica. Tudo muito parecido com o que ela viveu naquele mês que vagou pela Floresta das Trevas, sozinha e sem memória.

Aranel prendeu um sorriso. Agora que se lembrava de tudo, lembrar-se dela sem memória era cômico. Mas ela prendeu a respiração quando se lembrou de Ruby e Eären, que morreram no incêndio misterioso.

Aquele incêndio... Aranhas pequenas... Visões, trevas... Tudo depois que eu despertei... Não pode ser uma conhecidência!

Ela sentiu as sombras se curvando sobre ela, sugando e gargalhando no ar em suas costas. Nel bufou e balançou as mãos em frente ao rosto.

Pensei que tudo tinha acabado! Mas não tinha. Havia algo naquela terra, algo tão malígno que era capaz de controlar as sombras e as Trevas que viviam nelas. Algo que não foi destruído. Nem sequer descoberto. Havia um inimigo no vento que soprava do Norte. Legolas estava lá quando eu acordei. Talvez seu noivo soubesse de algo que ela não sabia, que Thranduil não mencionara e que estava preocupando Nienna – novamente.

Suas mãos seguraram com força o seu rosto.

Ela caiu.

Seu corpo pesou.

Deitada, encostada na árvore, ela encarou as árvores e suspirou. Quando recuperou a memória, pensou que finalmente fosse ser feliz, que sua vida havia sido livrada dos malefícios de outras pessoas. Pensou que estava em paz, finalmente. Estava errada. Terrivelmente enganada.

O som alto de passos a tirou de seus pensamentos congestionados. Ela se levantou rápido, e olhou em volta. Não havia ninguém ali.

Nel pegou a adaga que Galadriel lhe deu e deixou os olhos e ouvidos atentos. Ouviu-se até o farfalhar das folhas e som de sussurros amadeirados. Aranel sorriu.

Passos vêm e vão, mas você não desgruda da Floresta, voraz rainha. — A árvore ao seu lado resmungou. — Onde está aquele cervo detestável?

— Eu não o vi. — Respondeu a árvore do outro lado da trilha.

— Culpa dele! — gralhou a primeira.

— Coitado!

Fiquem quietas! Eu quero dormir! — As raízes de uma terceira árvore se moveram, passaram rastejando no meio dos pés de Aranel e se encolheu perto dela.

A rainha sorriu. Ela se aproximou de uma árvore e sentou-se em suas grandes raízes.

— Desculpem-me incomodá-las, novamente. — Ela se inclinou e balançou a faca. — Mas devo um “obrigada” a floresta. — disse.

Ela tinha se esquecido da sensação maravilhosa quando aquilo acontecia; um canto rouco ronronou entre as árvores e seus troncos pareceram respirar. A luz do sol passeou entre cada folha, e flocos cintilantes flutuaram por ali. A floresta estava agradecendo.

Finalmente, uma noldo com coração por essas terras. — A primeira árvore sussurrou.

— Ela é uma silvestre. — corrigiu outra.

Metade de ambos. — incluiu uma terceira.

— Eu quero dormir!  — Praguejou a árvore que fizera o mesmo comentário, minutos antes.

— Ah, cala a boca! — Todas as árvores ergueram os sons de sua voz.

Aranel deu uma risada e se levantou antes que a árvore abaixasse o galho e a atingisse. Ela saltou e ficou de pé.

— Sejam educadas. — Pediu a rainha colocando as mãos na cintura.

Então, algo estranho aconteceu. Alguém a segurou por trás, tapou sua boca e envolveu seu pescoço com o braço. Aranel, porém, pegou seu braço e arranhou a pele dele, o jogou por cima dos ombros e se livrou do toque dele.

Ele caiu de pé.

Seu rosto estava oculto por um capuz escuro, e uma máscara escondia sua boca. Apenas seus brilhantes olhos azuis estavam visíveis. Ele usava roupas pretas e botas de caça. Poderia ser qualquer ser, mas o arco em suas costas chamou sua atenção. Era curvo, com duas pedras de rubi em ambas extremidades; a corda era de ouro, e era completamente entalhado de pedras cintilantes – diamantes, topázios e safiras. Era alguém da realeza... Ou um ladrão.

Ele se posicionou para atacar e Aranel ficou em alerta.

— Belo arco. — Ela disse, com um sorriso no canto dos lábios.

Uma risada escapuliu da boca dele e ficou abafada pela máscara. — Bela faca.

— O que faz aqui? — Nel questionou. Não conseguia distinguir a voz dele por causa da prata que encobria metade de seu rosto.

— Gosto dessa floresta. — Ele respondeu. Havia um tom sarcástico, enganosamente calmo e frio. O estranho balançou as mãos e tocou o poste que estava ao seu lado. — Só não gosto muito do elfo que governa essas terras.

Aranel mexeu os ombros. — Não é nenhuma novidade. — disse.

Ele riu, novamente. — O conhece, creio eu. — Ele se inclinou novamente e estalou o pescoço.

A rainha deu um passo na direção do estranho e ficou séria. — Conheço.

— Então sabe que ele não gosta muito de visitas distantes.

Nel franziu. — Quem é você? — questionou.

Os olhos do homem brilharam, divertidos. — Você não usava uma coroa da última vez que nos vimos. — ele mexeu o dedo indicador em sua direção.

Aranel reconheceu sua voz, apesar da prata na máscara, os olhos azuis e o brilho sarcástico. Ela sorriu.

— Eu não era uma rainha na última vez que nos vimos. — disse.

Ele gargalhou e abaixou o capuz. Seus cabelos louros chicotearam seu rosto, balançando no vento quente da floresta. Tirou a máscara de prata e sorriu.

— Mae govannen, Aranel. Bom te ver, Aranel. — ele fez um cumprimento sulista, deslizando as mãos em sua direção, e então ergueu dois dedos, acenando uma continência.

Ela fez o mesmo sinal. — Digo o mesmo, tio.

O príncipe sorriu.

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Aëden sentou-se na cadeira e sorriu. — Bela biblioteca. — elogiou olhando em volta.

Aranel olhou para Thranduil, ao seu lado. O Rei Élfico estava com seu semblante inexpressivo – como sempre.

— Achei que vinhesse acompanhado. — disse o rei, inclinando-se a um tom debochado. — Que tipo de príncipe viaja sem uma Companhia?

Aëden apenas deu de ombros. — Eu viria com minha adorável esposa — Ele franziu os lábios e colocou o indicador no queixo —, se eu tivesse uma.

A rainha da Floresta Branca sentou-se na mesa, em frente ao tio e se apoiou, debruçando-se na madeira de carvalho. Ela manteve o olhar atento nos dois elfos e esperou.

O Rei Élfico sentou-se na cadeira, na cabeceira da mesa, e encarou o príncipe das terras do sul. Seus olhos frios estavam sem brilho, seus lábios levemente precionados e seu maxilar lentamente travado. Ele suspirou e ergueu o queixo. Sua coroa de bagas e folhas avermelhadas ficou ainda maior.

— Então decidiu vir sozinho? — Ele apontou para as roupas escuras do príncipe. — Parecendo um ladrão do leste.

Aëden olhou para o colo, para os braços e sorriu. — Eu não sou um Rei. Não preciso de guardas para me proteger. — Ele olhou para a sobrinha e sorriu. — Acho que todos os meus três irmãos puxaram isso de mamãe. Somos os únicos elfos da Alta Nobreza que anda por ai sem proteção.

Aranel sorriu para o tio. Ele era encantadoramente sarcástico, enganosamente calmo, levemente frio e absurdamente debochado. Aëden era o único membro da família do seu pai que ela conhecia, e que conviveu por alguns meses. Mas também era reservado quando falava dos seus irmãos. Nel nunca conseguiu arrancar nenhuma informação extra dele sobre o passado do seu pai, e aquilo a desgastava. Não agora, porém. Ela sabia do que havia acontecido no passado e resolvido todos os problemas que Thranduil e sua mãe criaram – mesmo que inconsequentemente. Ou pelo menos, era isso que ela acreditou por algum tempo.

— A vovó Ëll era destemida? — perguntou ela.

Seu tio ficou calado, como todas as outras vezes que ela perguntara algo sobre sua família. Ele suspirou e abaixou o olhar.

— Meu pai saberia responder essa pergunta. — Thranduil disse depois que viu que Aëden não diria nada. — Ele a conheceu.

A elfa olhou para o rei. — Podemos pensar nisso depois? — ela questionou. Ainda não conseguia aceitar o fato de Thranduil não querer ir para as Terras Imortais, mas não desistiria facilmente.

O elfo a olhou, sério e negou.

Nel bufou.

Havia vários livros empilhados na mesa, ao lado de Aëden. Aquilo tudo fazia Aranel se lembrar do tempo que trabalhou como curadora. Ela sorriu.

O príncipe sulista pegou um livro de capa vermelha e começou a folheá-lo. — A quanto tempo não entro numa biblioteca. — Ele sorriu e uma folha escorregou de uma das páginas do livro. Aëden se esticou para pegar e sorriu.

Aranel viu Thranduil fechar as mãos com força, e franziu as sobrancelhas.

— O que é? — Ela se inclinou.

Seu tio virou a folha e Nel caiu sentada novamente. Era uma pintura pequena, feita de tinta a óleo. Branca, dourada, prateada e vermelha, azul e preta. Era o retrato da mãe de Eáránë.

— Lossë. — Ela deixou escapulir.

Aëden olhou para a foto, novamente e sorriu ainda mais. — Lossë. — Ele deixou o livro de lado e segurou a folha com as duas mãos. — Ela merece uma moldura. Por que está aqui?

O rei se inclinou sobre a mesa e tomou o retrato das mãos do príncipe. — Eu estava procurando por isso.

— Um “obrigado” seria bom. — Aëden inquiriu, com um sorriso teimoso. — Ela é realmente muito bonita. Aonde posso encontrá-la?

Thranduil o olhou com raiva. Suas bochechas estavam vermelhas.

— Se der sorte, em Aman. — Respondeu ele.

Aëden deixou o sorriso desaparecer e suspirou, derrotado.

Aranel se inclinou na direção do rei e apontou para o retrato em sua mão. — Não acha que Eáránë devesse ver essa pintura?

— Não. — Ele foi seco — Lossë pediu para queimar tudo dela, lembra-se? Só não queimei essa pintura porque não sabia aonde ela estava.

Nel o olhou, séria. — É a mãe dela! Eáránë merece conhecer a mãe.

Thranduil lambeu os lábios. — Não agora. — disse. Havia rancor em suas palavras.

Aëden pegou a pintura novamente e olhou, sorridente. — Não é sua esposa, é? — Questionou.

O Rei Élfico o olhou. — Não mais.

O príncipe passou o indicador pela pintura. — Talvez eu precise de um barco. — murmurou, esperando que nenhum deles ouvisse, mas ouviram.

Aranel levantou as sobrancelhas e pegou a foto. Puxou um livro para perto de si e guardou a folha dentro dele.

— Certo. — Ela suspirou — Talvez você dê sorte com ela. Lossë gosta de olhos azuis e cabelos louros. — O tio deu umas batidinhas na mesa e deu uma risada. Thranduil suspirou ao seu lado. — Mas a foto fica comigo até o rei decidir quando revelá-la a filha. — disse olhando-o de soslaio.

Aranel cruzou os dedos sobre a mesa e olhou para o tio, séria.

Aëden arregalou os olhos. — Olhar penetrante, esse. — disse.

Nel não conseguiu esconder o sorriso.

— Se deseja saber como está o reino no sul, já adianto: está tudo em ordem. — ele disse, recostando-se na cadeira. Cruzando as mãos atrás da cabeça. — Deixei Tealiff cuidando de tudo.

Aranel conhecia o velho elfo sindar chamado Tealiff. Era alguém de absoluta confiança. Lutou ao lado de Elrond na Primeira Batalha do Anel.

— Que bom. — ela suspirou — E quantos foram embora?

— Rapunzel providenciou muitas partidas. — respondeu ele — Depois que “perdermos” nossa Rainha de Duas Coroas, setenta porcento dos elfos partiram para Aman. — Ele suspirou — O reino está bem vazio.

— E por que você não foi? — Thranduil questionou, olhando fixo para a mesa em sua frente.

Aëden sorriu. — Não era a hora.

O silêncio se fez novamente. Pelo menos, o reino do seu pai no sul estava longe das garras das Trevas. Aquilo a aliviou.

O rei se levantou e encheu o peito de ar. — Aranel, escolha um quarto em que seu tio possa ficar. — Ele falou alternando o olhar entre ela e Aëden. — Vejo vocês no jantar?

Nel sorriu.

Ele deixou a biblioteca em silêncio.

Aëden se inclinou na mesa e sussurrou. — Empreste-me a pintura da bela elfa novamente? — pediu.

A rainha gargalhou e pegou a foto de dentro do livro, e entregou ao tio. Ele pegou e suspirou.

— Que coisinha mais bonitinha. — disse.

Nel riu, novamente.

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Nota final: Foto de Aëden no começo do capítulo. Gostaram? Ele é bonito? Sim ou claro? Espero que tenham gostado do capítulo. Vejo vcs no próximo.

Tenn'enomentielva...

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