Sombras do passado

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Amber estava sentada na grama do quintal da tia Mara. O outono se mostrava perfeito para relaxar sob os raios suaves do sol. Ao seu lado, Chloe arrancava as folhas da grama, que se desfaziam entre seus dedos. Em uma das mãos, segurava um copo com um líquido vermelho.

— Você está bebendo vinho? — perguntou Amber, ajeitando as pernas com curiosidade.

O céu, antes um azul claro, agora exibia nuances mais quentes. Os pássaros cantavam alegremente, e o jardim, em sua plenitude, parecia uma pintura. Amber inalava profundamente, sentindo o cheiro do pinho, o frescor do orvalho e o doce aroma de baunilha que lembrava Katrina. Para sua surpresa, percebeu que seu olfato estava mais apurado do que nunca, capaz de captar a essência de tudo ao seu redor, mesmo que estivesse a uma certa distância.
— Chloe? Cadê a Katrina? —
Amber olhou para todos os lados, a grama agora chamuscada e seca. O cheiro de sangue pairava no ar, e seu coração, que antes batia em ritmo normal, agora pulsava lentamente. Um grito abafado ecoou, e o céu escureceu.
— Chloe?
Amber chamou, mas não obteve resposta. Ela se virou e viu Chloe parada, fitando o bosque. Seus lábios estavam manchados de sangue, e suas mãos, ensanguentadas. O cheiro metálico se intensificava a cada segundo.
— O que você fez? — Amber tremia, a voz falha.
Chloe se virou, seus olhos vermelhos e brilhantes, dentes afiados e olheiras roxas. Ela sorriu, seus dentes brancos agora tingidos de vermelho pelo sangue
— O que você fez? O que você é?
Amber gritou, enquanto Chloe ria alto e sem parar. Ao olhar para o lado, Katrina estava deitada na grama, pálida e fria como um cadáver, com uma mordida profunda em seu pescoço.
— Essa vagabunda mereceu — disse Chloe, com uma voz suave.
Amber se virou, levantando-se, Chloe estava com jeans sujos de grama e barro. O sangue que não lhe pertencia escorria pelo seu pescoço, e sua blusa branca de mangas bufantes estava manchada de vermelho.
— Mas... por que você fez isso? — Amber soluçou, mal conseguindo se manter em pé. — Chloe... o que você é?
Chloe sorriu de maneira maligna.
— Sua vez!
Chloe saltou em direção a Amber.
                            
. . . .

Amber sentou-se na cama, seu peito subindo e descendo rapidamente enquanto o suor escorria pela testa. Levou alguns segundos para perceber que se tratava apenas de um pesadelo. Ao olhar para o lado, viu Katrina dormindo tranquilamente ao seu lado.
Com um frio na barriga, Amber apoiou os pés no tapete do quarto, sentindo o toque gelado. Seu corpo tremeu levemente ao sentir o vento frio da noite entrando pela janela. As cortinas na cor salmão balançavam suavemente, e os galhos dos carvalhos do lado de fora pareciam envolver o ambiente em uma sombra inquietante, como se alguém a estivesse observando.
Recordando-se do que havia acontecido, Amber lembrava que Katrina tinha mencionado que a hipnotizaria com um truque que havia visto em um programa. Ela havia concordado, imaginando que não funcionaria de verdade. No entanto, não conseguia se lembrar do que ocorreu enquanto se concentrava nas palavras de Katrina.
A única coisa que permanecia em sua mente era o terrível pesadelo que havia vivenciado. Levantou-se e caminhou até a janela. Ao olhar para fora, percebeu que o Mercedes de Roger ainda estava estacionado perto de um arbusto. Amber desviou o olhar e focou no relógio da escrivaninha, que marcava dez horas da noite. Uma hora havia se passado desde a hipnose que Katrina acabara de realizar
Chloe não estava na cama. Ela havia se sentado ao lado de Amber quando Katrina disse que iria hipnotizar as duas. Amber se perguntou onde Chloe estaria. Desceu as escadas lentamente, o degrau rangendo levemente a cada passo. Sentou-se em um degrau, de onde podia ver sua tia Mara de braços cruzados.
— Isso não vai acontecer, de jeito nenhum. — afirmou Catarina com firmeza, deixando claro que não aceitava outra possibilidade. — Aqui nesta casa, isso não será permitido.

— Mas ele está disposto a se mudar novamente para Charlwood Hills. — disse Roger, caminhando em direção a Mara, de onde Amber observava a conversa atentamente. — Ele não sabe quando virá.

— É só uma hora de viagem daqui. Ele disse que era importante e odeia ter que mandar cartas. — informou Mara.
— Quero que ele fique bem longe, especialmente da Amber. — Catarina suspirou alto, demonstrando sua preocupação. — Eu mesma o mandarei embora daqui, se for necessário.
O desespero na voz de Catarina era palpável, e Amber, intrigada, se perguntava quem seria essa pessoa que Catarina tratava com tanto desprezo. Por que ele não podia se aproximar dela? A mão de Amber se fechou com força na madeira da escada, a pressão aumentando a cada palavra. Ela precisava saber quem era essa pessoa que queria voltar para Charlwood, deixando Catarina em tal estado de angústia.
— Calma, não podemos agir assim. Vou conversar com o Sebastian. — disse Mara. — Ele ainda não explicou o motivo de querer voltar aqui depois de...
Mara olhou para Amber, que engoliu em seco, sem escapatória. Logo em seguida, Catarina apareceu na porta, ajeitando seus fios volumosos.
— Amber... — Mara sussurrou, a voz baixa e quase inaudível.
— Amber, o que você está fazendo aí? — Catarina surgiu na porta, a mão no peito, a expressão séria. Seus olhos azuis e penetrantes, fixaram-se em Amber.
Ela caminhou em direção à Amber, cada passo decidido, como se estivesse pronta para enfrentar um desafio.
— Você estava ouvindo nossa conversa? Já te disse para não fazer isso! — Catarina repreendeu, a voz firme, sem deixar espaço para dúvidas.
Amber piscou várias vezes, pega de surpresa. Sua mão tremia levemente, denunciando o nervosismo que a tomava. Catarina estava em pé bem na sua frente, imponente e ameaçadora. Amber não pretendia ouvir a conversa, mas a curiosidade a atraiu para mais perto, como uma mariposa atraída pela luz. A conversa parecia tão importante, tão cheia de segredos, que ela não conseguiu resistir à tentação de espiar.
Amber estava visivelmente aflita.
— Ah... eu tive um pesadelo...— murmurou Amber.
com o olhar fixo em Catarina, que parecia desinteressada, desviando o olhar. Num impulso, Amber lançou um olhar por cima do ombro e avistou Katrina, que se destacava no primeiro degrau da escada. Seus cabelos castanhos volumosos a tornavam ainda mais impressionante, mas seus olhos arregalados denunciavam a curiosidade que a consumia.
Catarina, com as mãos firmemente na cintura, dirigiu o olhar a Katrina e a confrontou.

— Katrina. — começou ela, sua voz ecoando com uma mistura de reprovação. — Você estava ouvindo a nossa conversa!
Catarina fuzilou Amber com o olhar.
— Foi um mal-entendido. — Katrina abaixou a cabeça. — Desculpa.
Katrina correu em direção ao quarto. Amber se levantou logo em seguida, sem conseguir encarar a mãe. Era apenas um mal-entendido. Amber não conseguiu deixar de notar o semblante sério de Chloe, como se dissesse "eu avisei para não bisbilhotar".
Amber olhou para Catarina e balançou a cabeça em sinal de negação.
— Vá para o quarto!

Catarina falou em um tom alto, algo incomum para Amber, que só a ouvia falar assim quando estava muito brava com ela.
Amber sabia que Catarina detestava quando alguém se intrometia ou tentava escutar atrás da porta. Ela odiava pessoas que se metiam onde não eram chamadas.
Amber subiu as escadas apressadamente. Ao entrar no quarto, Katrina estava sentada na poltrona, balançando a chave do carro entre os dedos. O ursinho Pooh no chaveiro balançava junto, fazendo um leve tinido.
— Amber... eu não... não foi minha intenção. – Katrina soluçava, as lágrimas escorrendo pelo rosto. — Tive um pesadelo horrível.

— Você também? O que aconteceu? Acabei apagando. — Amber estava totalmente confusa.
— Eu sonhei que estava suja de sangue... mas, foi só um pesadelo. – Katrina se levantou e abraçou Amber de surpresa. O abraço apertado, carregado de emoção, transmitia a angústia que a consumia.
— Está tudo bem, só foi um pesadelo.

Amber acariciou seus fios macios, que exalavam um leve aroma de baunilha. Ela não conseguia parar de pensar na conversa que acabara de ouvir. Quem seria Sebastian?
A porta se abriu e Chloe entrou no quarto, soltando um suspiro ao visualizar as duas.
— Eu disse para você não ouvir a conversa da tia Catarina. — Chloe se aproximou. — Você não deveria ter feito isso.
Amber se virou.
— Não foi minha intenção, só queria saber onde você estava. — completou Amber. — Afinal, quem é Sebastian e por que ele não pode se aproximar de mim?
Chloe apenas suspirou. Amber sabia que não conseguiria arrancar nada dela agora. Afinal, quem devia explicações a ela era Catarina.
— Não foi o que pareceu. — Chloe bufou, a frustração evidente em sua voz.

— Até você parece esconder algo! — Amber exclamou, a irritação transparecendo em sua postura. Sentar-se foi o único movimento que conseguiu fazer, consumida pela sensação de que todos ao seu redor estavam escondendo segredos.
Parecia que todos estavam envolvidos em um jogo de esconde-esconde, sussurrando em cantos do escritório, tratando de assuntos importantes com um sigilo que a deixava cada vez mais frustrada.
— Calma, foi tudo um mal-entendido, não vamos brigar agora. — disse Katrina, com a voz suave. — Preciso ir, minha mãe está me ligando insistentemente.
Katrina pegou sua bolsa e disse:
— Te vejo amanhã na escola.
Amber retribuiu o abraço de Katrina e caminhou até a porta. Ao tocar na maçaneta, Catarina abriu a porta antes dela.
Os olhos azuis estavam marejados, mas sua postura permanecia firme, imponente, o rosto sério.
— Desculpe, dona Catarina. — pediu Katrina.
Catarina apenas balançou a cabeça em resposta. Katrina passou por ela, despedindo-se de Chloe e Amber.
— Tia, eu disse que não era nad...
— Saia, Chloe. Mara te espera.
Chloe lançou um último olhar para Amber antes de sair.
Amber acomodou-se no chaise perto da janela, de onde podia ver o Mercedes de Roger entrando no quintal ao lado. Roeu o canto do polegar, sentindo o olhar da mãe sobre si.
— O que você ouviu era apenas um parente distante, nada demais. — Catarina caminhou em sua direção. — Mas não queria que você escutasse minhas conversas às escondidas.

Catarina jogou uma mecha de cabelo para trás da orelha, o olhar cansado, mas relaxado.

— Não quis ouvir de propósito, só que tive um pesadelo e fui procurar a Chloe. — Amber suspirou. — Estamos com problemas financeiros? Por que não me conta nada?
— Um pouco, não quero te preocupar. Quero que você se concentre nos seus estudo.— Catarina segurou a mão de Amber, fazendo um carinho leve com o polegar. — Quero que sua cabeça fique livre de preocupações.
Amber umedeceu os lábios.
— Por que você não quer o Sebastian aqui? Eu ouvi você dizer que iria mandá-lo embora e que ele deveria ficar bem longe de mim.
Amber a olhou bem nos olhos.
— Sebastian é um primo distante, ele se mete em muitas confusões, nunca mudou e nem se casou. — acrescentou Catarina. — Para falar a verdade, ele só pensa em si mesmo.
— Então, por isso você não gosta dele? — perguntou Amber, curiosa para saber mais.
Catarina balançou a cabeça.
— Sim, ele é insuportável, e não quero ele perto de você porque eu acho ele uma péssima influência.
Amber concordou, se ele não fosse ruim, Catarina não iria querer bem longe.

— Desculpa, realmente não foi minha intenção. — declarou Amber.
Catarina puxou Amber para perto e, envolvendo-a em um abraço apertado.
— Está tudo bem, não se preocupe com isso. São apenas coisas que estão sendo resolvidas. — Catarina beijou o topo da cabeça de Amber, sussurrando em seu ouvido. — Vem, durma comigo hoje.
Amber sorriu, a sensação a levando de volta ao tempo em que era criança. Lembrava-se do medo que sentia dos palhaços nos filmes e de como se sentia segura e protegida nos braços de Catarina.
— Eu quero.

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