A conexão
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Na segunda-feira, Amber acomodou-se à mesa de fórmica da mãe, tomando uma xícara de chocolate quente. Estava vestida com seu melhor par de calças jeans e seu suéter favorito, preto com listras brancas. Um presente da sua melhor amiga Cassie, de aniversário de 17 anos, no ano passado.
Um passarinho cantava no carvalho perto da janela. O dia estava frio, pequenas gotas finas de chuva batiam sobre o vidro, como um sussurro que se transformava em melodia.
Amber se lembrou da noite anterior, quando passou numa lanchonete e ficou horas conversando com Alex. Ele era muito gentil e amigável, e ouvia atentamente enquanto Amber falava sobre sua vida na Filadélfia. Não conseguia deixar de notar seus olhos a observando com certa curiosidade. Quando Amber percebeu que estava tarde, Alex a acompanhou até a porta de casa. Ela não tinha certeza se deveria convidá-lo para entrar, então apenas agradeceu por sua gentileza e acenou para ele enquanto entrava no carro.
Amber entrou em seu quarto e continuou conversando com Cassie, sua melhor amiga. A pergunta de Cassie era sobre garotos, e Amber ainda se sentia confusa e magoada. Ela não queria pensar no Black, mas, por um acaso do destino, ele foi a pessoa que surgiu em seus pensamentos. Black não seria o último a odiar sua família. Amber se perguntou várias vezes se seria uma boa ideia conversar com Catarina sobre isso, mas pensou melhor e decidiu deixar o assunto para trás.
Um vento morno acariciou seus cabelos presos por uma fita vermelha. Amber olhou para seu calendário: 7 de agosto. O outono já estava chegando, e as gramas que cercavam o jardim de sua casa estavam ficando amareladas, assim como as folhas do plátano.
Amber se alongou e sentiu o cheiro de grama recém-cortada vindo da casa de sua tia Mara. Deu mais um gole em seu chocolate quente. Faltavam poucos dias para o ano letivo começar, e Amber decidiu aproveitar seus dias em casa. Resolveu que iria tricotar uma touca para quando chegasse o inverno.
Ela gostava de tricotar sempre que tinha tempo livre. No ano anterior, fez um cachecol rosa bebê para Cassie. Em seu quarto, na estante de ursos e bonecas com rosto de porcelana, Amber fazia todos usarem roupas de tricô.
Amber olhou para cima quando braços frios passaram pelo seu ombro. Podia sentir o cheiro doce da Catarina, Amber sentia falta da sua mãe pela parte do dia, Catarina estava mais ocupada e às duas quase não tinha tempo nem para jantar juntas. Catarina passava mais tempo em seu escritório, Amber notou que a mãe estava mais cansada e estressada.
— Eu sabia que te encontraria aqui. – Catarina beijou o topo da cabeça da Amber. — Está nervosa para semana a que vem?
Amber balançou a cabeça.
— Espero que não seja tão constrangedor.
Catarina puxou a cadeira para se sentar ao seu lado, sorrio ao vê-la tricotar uma touca rosa com branco.
— Uma touca, está ficando linda. – Catarina sorriu. – gosto de vê você assim, tricotando.
Amber olhou para Catarina, colocou seus fios loiros para atrás da orelha, Amber não pode deixar de notar a beleza da sua mãe, mesmo com todo o estresse que Catarina estava passando, ela parecia está mais bonita do que nunca. A sua pele estava limpa e hidratada, lábios rosados, unhas longas e bem-feitas.
— Sentir a sua falta. – confessou Amber.
— Desculpa querida, só estava muito ocupada, a mansão já está à venda. – Lamentou Catarina, deslizando os seus fios para trás. – As coisas estão se resolvendo e antes de um ano, voltaremos para casa.
Amber franziu o cenho.
— Estão? Já tem duas semanas que a gente não janta juntas.
— Eu sei querida, mas agora vai ser diferente, era essa mansão que estava dando nos nervos.– Catarina pegou nas mãos de Amber. — E você, não pense que não vai arrumar amigos, você é ótima com isso.
Amber sorriu, talvez pelo fato da Cassie ser tão popular, conversava com todos os alunos. Amber se enturmava por causa dela.
— Talvez pela Cassie, mas está na hora de eu resolver as coisas do meu jeito. — murmurou Amber. – Agora eu não tenho que escutar as outras amigas da Cassie, que disputavam com a Julie.
Amber imitou as amigas de Cassie, Catarina gargalhou. Amber deu um suspiro Alegre, adorava ver a sua mãe feliz daquele jeito.
— Lembro do dia que vocês fizeram a festa do pijama, elas faziam exatamente isso que você fez. – Catarina sorriu.
— Sim, mas, no fundo, vou sentir saudade das boas risadas. – Amber fechou o sorriso.
Catarina a puxou para um abraço, Amber enfiou o seu rosto no seu pescoço, sentindo o seu cheiro, se sentindo protegida em seus braços. Poderia ficar assim por horas.
— Tenho uma coisa para te dar. – Catarina se afastou um pouco, colocou a sua mão no bolso do seu casaco. – É seu.
Catarina estendeu um colar de prata, um pingente grande de uma coruja, os olhos são azuis e tinha vários detalhes ao redor, como se fossem símbolos, Amber abriu a boca, era lindo e brilhava no reflexo da luz.
Amber sentiu como se fosse um amuleto de proteção.
— Uau, que lindo, mãe. – surpresa Amber segurou com delicadeza.
Catarina sorrio, afastou para o lado os cabelos da Amber, colocou o cordão no seu pescoço.
— Era da Katelyn, joias da família, é sua por direito. – Catarina deslizou o dedo pelo pingente. – É de prata.
— Eu posso mesmo ficar?
Catarina apenas acenou.
Amber deslizou o polegar sobre o pingente de coruja, seus olhos, cor de avelã encheram de lágrimas e ela abraçou forte.
. . .
21 de agosto, uma segunda-feira, Amber caminhava pelo campus ao lado da Katrina. O ano letivo já havia iniciado há uma semana. Amber sentou-se em um banco de madeira, sob a sombra do carvalho amarelado, as folhas, que antes vibravam em verdes intensos, agora formavam num mosaico de tons quentes: amarelos, laranjas e vermelhos. As folhas secas estalavam sob os pés dos estudantes. O ar estava mais fresco, trazendo uma brisa suave que balançava os galhos das árvores e ressaltava o cheiro da terra úmida.
— Então posso ir à sua casa hoje?–
perguntou Katrina, ajeitando o seu suéter de Charlwood High School.
Amber retirou uma folha seca que acabara de cair em seus cabelos.
— Sim, quer que eu te busque? — indagou Amber.
Ambas começaram a andar em direção ao portão de pedra da escola. De lá, avistaram Chloe acenando.
— Não precisa, vou de carro. — respondeu Katrina.
Amber e Katrina estavam cada vez mais próximas nos últimos dias, ambas sentindo um peso na alma por causa da proteção excessiva dos pais. Dois dias antes, Katrina havia chorado para Amber, confessando que seus pais descobriram seu namoro com Tony e a obrigaram a terminar. Katrina, obediente, mentiu para os pais, dizendo que havia terminado, mas ela e Tony continuavam se encontrando às escondidas no velho trilho.
— Vocês querem dar um mergulho no riacho? — perguntou Chloe, observando suas unhas recém-feitas.
Chloe estava impecável com o uniforme escolar: saia plissada cinza-escuro, suéter preto com gravata, botas de salto alto e seus cabelos ondulados com perfeição.
— Eu topo, estou enjoada da piscina da escola. Ontem, o professor Jhonson nos obrigou a entrar na piscina para a aula de educação física. — continuou Katrina. — Eu odeio cloro.
Chloe olhou para Amber, esperando sua confirmação, mas a atenção das três foi atraída por três garotos em suas motos barulhentas: Tony, George e Black.
Fazia duas semanas que Amber não via Black desde a última vez no velho trilho. George e Tony acenaram, chamando Chloe e Katrina.
— Você vem? – perguntou Chloe, com um convite nos olhos.
Amber observou a garota de cabelos curtos que, por cima do uniforme, exibia uma jaqueta de couro. Ela caminhava em direção ao Black, sorrindo enquanto falava e ajeitava seus fios negros e curtos.
— Eu odeio essa garota, Makayla Barnes. – disse Katrina, cruzando os braços de maneira desafiadora.
Amber desviou o olhar, sentindo o peso do olhar do Black sobre si.
— Eu também, se acha a fodona! Além disso, pensa que está namorando o Black. – acrescentou Chloe, com um leve riso sarcástico.
— Eles parecem namorados. – comentou Amber, arrependendo-se na mesma hora por ter deixado essa ideia escapar.
— É porque ela gruda nele que nem chiclete. – dizia Katrina, remexendo em sua bolsa em busca do celular.
Black não parava de olhar em direção a elas, e Amber desejava corresponder, mas Dean Black estava irresistível naquela manhã, com sua regata que destacava os braços fortes e definidos, óculos de sol que ocultavam parcialmente seu olhar, e lábios que pareciam incrivelmente macios.
— O que vocês estão fazendo paradas aí? – interrompeu Alex, que aparecera por trás delas, exalando o aroma fresco do sabonete Dove. Ele, um dos nadadores da turma, tinha os cabelos molhados caídos sobre a testa.
— Vamos ao riacho. – Chloe deu de ombros, impaciente. — Você vem ou não?
— Oi! – disse Katrina, dando um abraço no amigo.
Dessa vez, os olhos azuis de Alex se fixaram em Amber, e, embora soubesse que não deveria ir, Amber queria evitar Black ao máximo, especialmente após aquela última noite.
— Não, vou para casa. A mamãe está quase vind... – começou Amber, mas não conseguiu terminar a frase.
Ela se lembrou de que Catarina havia saído cedo naquela manhã e pedido a ela que fosse com Chloe, e isso a incomodava, pensando em ter que ir até o riacho com aquele grupinho.
Alex olhou para Amber com uma expressão amigável.
— Se quiser uma carona... – ele sugeriu, gentil.
Amber sorriu, sentindo-se um pouco mais leve.
— Muito obrigada! Alex. – respondeu, com doçura. – Acabei de lembrar que ela me pediu para ir com a Chloe, mas como ela vai para o riacho, aceito a sua carona.
Ela suspirou aliviada, como se tivesse tirado um fardo das costas.
— Ok. – Chloe deu de ombros, puxando Katrina para andar.
Com passos largos, elas seguiram em direção a Tony e George.
— Vamos. – disse Alex.
Amber caminhou ao lado de Alex, atravessando o antigo portão de pedra com a inscrição "Charlwood High School" gravada acima. Ela não conseguia deixar de notar o olhar de Black sobre cada passo que dava com Alex. Imaginou que ele sentiria ciúmes, mas logo se repreendeu, achando-se idiota por pensar nisso. Chloe entrava em seu Jeep, seguida por George em sua moto. Katrina vinha logo atrás com Tony, em sua Harley.
Amber passou mais perto de Black, seu olhar a fazendo dar passos curtos. Ao passar por ele, o tempo pareceu se esticar, e seus olhos se encontraram por um instante. Amber quase esboçou um sorriso, mas ele estava sério, com um olhar de desprezo. Por um momento, seus olhos pareciam negros como a noite. Seu corpo tremeu quando o motor da moto rugiu, soltando uma leve fumaça pela descarga. Black acelerou, desviando dos carros que saíam do estacionamento da escola. As folhas secas se levantaram da calçada de pedra.
Amber deu um longo suspiro, lançando um último olhar antes de entrar no Mercedes.
— Gosta de Green Day? — perguntou Alex, sorrindo.
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