45• Como Uma Covarde
Se eu pudesse pedir um único poder ao universo, com certeza pediria invisibilidade. Tudo que eu gostaria nesse momento era não ser vista por ninguém, e era por isso que eu estava ali, passando o intervalo trancada na cabine de um dos banheiros femininos do colégio.
A tampa do vaso sanitário, que antes estava gelada, já havia até aquecido pelo tempo que eu passei sentada ali. Infelizmente, o tempo não a deixou mais confortável, a cada minuto que passava, eu me sentia ainda mais incomodada em estar ali.
Eu estava fugindo de Heeseung. Na verdade, acho que estava tentando fugir de todos. Não queria ser bombardeada com perguntas dos meus amigos e não queria, de jeito nenhum, que Minho me visse tendo qualquer tipo de interação que fosse com o garoto - se é que eu podia chamar de garoto alguém tão podre como Heeseung - que o fez perder tudo que ele mais amava.
Escutei alguém entrando no banheiro e encolhi minhas pernas para cima do vaso. O barulho veio acompanhado de sons de rodinhas e eu sabia que tinha acabado de perder o meu esconderijo.
— Ei, garota! — a mulher chamou, batendo na porta da minha cabine — Tá tudo bem aí?
— Uhum — me limitei a dizer.
— Se tá tudo bem, então pode ir saindo, preciso limpar o banheiro — a frase podia ser um pouco grosseira, mas ela falou de um jeito tão suave que parecia estar me consolando.
Suspirei, destrancando a porta e saindo da cabine.
— Enfrentar um problema é melhor do que se esconder dele — a encarei confusa, vendo-a empurrar o carrinho de limpeza um pouco para o lado —, você vai achar uma solução.
Seu conselho me fez pensar.
— Obrigada — me afastei, fazendo uma reverência para ela ao passar.
— Ah, e não se esconda em outro banheiro! — exclamou alto para que eu ouvisse já da saída — Eu vou passar em cada um deles para conferir!
— Droga — resmunguei comigo mesma, saindo do banheiro.
Eu não tinha mais meu esconderijo e o intervalo ainda não havia acabado. Não tinha outra opção senão me misturar no meio de alguns alunos e torcer para não ser encontrada.
Caminhei até o refeitório, sendo surpreendida pelo fato do espaço estar tão vazio. Não havia nem uma dúzia de pessoas ali. Onde raios estava todo mundo?
— Kyra! Onde é que você se meteu? A gente tava te procurando! — Yena acenou, vindo em minha direção junto de Soojin.
— A pergunta certa aqui é: onde todo mundo se meteu? — franzi as sobrancelhas confusa.
— Parece que tá rolando alguma coisa lá fora, olha o tanto de gente que tem lá embaixo! — Soojin foi até a parede de vidro que dava vista para a quadra de basquete. Nós a seguimos.
A quadra estava repleta de alunos, alguns garotos estavam no centro dela e os demais - a grande maioria, na verdade - estavam assistindo da beirada. Parecia se tratar de uma competição.
— O que a gente tá esperando? Vamos lá ver! — a fala da Choi me fez arrepiar. Tudo que eu menos queria era estar no meio de tanta gente agora.
— Podem ir sem mim, eu vou ficar pra comer.
— Kyra, o que é que tá rolando? Você tá muito estranha esses dias — a Lee questionou, me perfurando com o olhar.
— Não é nada, eu só não quero ir lá for-
Não consegui nem terminar a minha frase quando senti o tranco causado pelo puxão de Yena me arrastando. Ainda tentei me segurar mas, ao fazer isso, Soojin veio pelas minhas costas me empurrando para frente também. Apenas as segui contrariada.
Do lado de fora, meu maior medo estava personificado bem na minha frente. Fiquei atrás das minhas amigas enquanto espiava pelas brechas entre seus corpos o que acontecia no centro da quadra. Parecia uma reunião de egocêntricos para ver qual deles era o mais babaca.
Entre um lançamento e outro na cesta, provocações eram lançadas entre eles. E é claro que Yeonjun e Heesung estavam participando daquele showzinho idiota. Mesmo assim, eles pareciam estar se divertindo. A cada minuto, mais garotos se juntavam à competição de quem conseguia acertar a cesta da maior distância.
Eu tentava me esquivar de todos os olhares possíveis, ainda mais depois de ver que Minho e Jisung também estavam no meio dos vários espectadores, mas tudo parecia conspirar para que as coisas dessem errado para mim. No meio da confusão de alunos tentando ver melhor o que acontecia no centro da quadra, fomos empurradas para frente. Eu quase caí de quatro no chão e, talvez, essa seria a melhor coisa que teria me acontecido, pois, depois desse momento, uma sucessão de tudo que eu mais temia aconteceu.
Me equilibrei de volta depois de quase ter caído e todos os olhos ali se voltaram para mim, inclusive os de Heeseung. Todo meu esforço para fugir dele tinha sido em vão. Ele batia a bola de basquete no chão enquanto me encarava com um sorriso vitorioso no rosto e eu senti como se um personagem de filme de terror estivesse vindo me pegar.
— Acho que não preciso provar pros perdedores que sou o melhor, mas mesmo assim... — lançou a bola de longe, acertando em cheio a cesta e arrancando suspiros surpresos ao redor — Minha namorada chegou, então, estou saindo.
Minhas pernas começaram a tremer ao mesmo tempo que eu apertava as mãos em punho observando Heeseung vindo em minha direção depois de ter dito aquilo. Eu paralisei, sem conseguir mover um único músculo quando ele passou o braço por cima do meu ombro, me chamando para sair dali.
Minha mente estava em branco e senti meu coração ser esmagado quando meu olhar cruzou com o de Minho. Sua expressão não era de choque como a de todos os outros ali, eu o conhecia bem. Em seu rosto, tudo que eu conseguia ver era tristeza.
E eu não podia estar mais arrasada.
Segui Heeseung, saindo de lá de cabeça baixa enquanto me encolhia por ter o braço dele ao redor de mim. Sentia repulsa do toque dele. Quando chegamos no saguão do colégio e ninguém mais podia nos ver, eu finalmente me desvencilhei dele.
— Tira a sua mão de mim! — exclamei, tirando seu braço com força. Ele riu soprado.
— Talvez você esteja confusa, então vou deixar as coisas mais claras pra você, ok? — passou a mão em meu cabelo, colocando uma mecha para trás. Recuei de seu toque — Eu nunca disse que você ia fingir sair comigo, eu disse que você vai sair comigo. Isso significa que eu vou aproveitar cada benefício disso.
Meus olhos se arregalaram com sua fala. Era inevitável sentir medo dele, sua aura me fazia sentir que estava presa em um filme de terror. E, de fato, eu estava.
Dei dois passos para trás quando o vi se aproximar na intenção de me beijar. Ele se assustou quando, no mesmo instante, o sinal tocou, avisando que o intervalo havia terminado. Aproveitei o momento para fugir dali, correndo diretamente para a sala.
Quando o professor entrou, minha apreensão diminuiu, a presença dele me fazia sentir menos exposta ao perigo. Yohan me encarava confuso, ninguém entendeu nada sobre o acontecimento na quadra. Heeseung me chamou de namorada na frente de todos, isso gerou um burburinho infinito que só parou depois que a turma inteira levou bronca do professor.
— Kyra, que história é essa? Por que você não me contou nada? — Yohan sussurrou, eu apenas suspirei e continuei em silêncio, encarando meu caderno.
Eu queria muito falar sobre aquilo. Queria contar para Yohan e, principalmente, para Minho que estava sendo chantageada e obrigada a fazer o que estava fazendo, mas eu não podia arriscar, ainda mais sabendo tudo que Heeseung é capaz de fazer, ele não hesitaria em contar a todos o segredo de Minho.
Como já esperado por mim mesma, não consegui prestar atenção em uma única palavra que estava sendo ensinada na aula. Apoiei meu rosto nas mãos, esfregando meus olhos enquanto tentava pensar em uma solução para aquilo tudo, quando meus pensamentos foram interrompidos pelo Sr. Yoon. Ele pediu que fizéssemos uma lista de exercícios enquanto ele ia na sala dos professores buscar o material para a continuação da aula. Quando ele saiu, o frio na espinha que senti me dizia que algo aconteceria. E, infelizmente, minha intuição estava certa.
A maioria dos alunos estava focada em resolver os exercícios passados pelo professor, mas é claro que Heeseung não iria se importar com isso. Ele se levantou, vindo em minha direção e Yohan logo percebeu, se ajeitando na cadeira, como se estivesse de guarda, pronto para revidar a qualquer coisa que o outro tentasse fazer contra mim. Eu me encolhi, já esperando pelo que viria a seguir. Heeseung parou ao meu lado, mas não tive coragem de olhá-lo.
— Cadê seu celular? — perguntou, e eu sentia que ele estava me encarando.
— O q-que...? — apertei o aparelho que estava no bolso do blazer entre os dedos.
— Me dá seu celular. Agora!
Algumas pessoas começaram a observar a cena. Meu corpo inteiro se arrepiou com o fato de estarem me olhando em um momento tão vulnerável.
— Ou o que, Heeseung? — Yohan se ergueu em um movimento rápido, indo na direção do garoto — O que acha que te dá direito de falar assim com ela?
Eu me assustei com o jeito que a voz do Kim soou ameaçadora. Estava preocupada que Heeseung se zangasse e acabasse falando algo que prejudicasse Minho, então, me levantei também, me colocando entre os dois.
— Tudo bem, Yohanie. Eu disse que ia emprestar meu celular pra ele — menti, apenas para que Yohan se sentasse novamente. — Aqui, Heeseung.
Entreguei o aparelho para ele, me sentando novamente enquanto evitava com todas as forças trocar olhares com quem quer que fosse. Estava tão envergonhada que minha vontade era de sumir dali. O pior de tudo era saber que esse inferno não acabaria tão cedo, não enquanto Heeseung tivesse o segredo de Minho nas mãos.
Para minha total infelicidade, eu sou refém dele.
— Aqui, prontinho — ele me entregou o aparelho e, no mesmo momento, escutei alguns comentários surpresos vindo de todos os lados. Olhei ao redor, confusa —, a namorada precisa ter a foto do namorado como papel de parede, né, baby?
Fixei meus olhos no celular, vendo a selfie de Heeseung estampada na tela de início. Apenas assenti vagamente com a cabeça para que ele saísse de perto de mim, mas, antes de fazer isso, ele soltou uma risada debochada na direção da carteira de Minho. E, mais uma vez, eu queria olhar para Minho e me explicar, mas sei que não aguentaria ver o seu rosto decepcionado novamente, então, como uma grande covarde, eu fugi.
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