30• Uma Boa Babá

— Por que não me avisou que seu pai estaria em casa? — Minho sussurrou enquanto entrávamos pela porta.

— Ele fica com a Kyujin de manhã, agora que chegamos ele vai pro trabalho — expliquei, tirando os sapatos na entrada e calçando minhas pantufas. O Lee fez o mesmo com o outro par que estava ao lado. — Por que? Tá com medo dele? 

— C-claro que não! — respondeu depressa — É que ele pode achar ruim eu ficar aqui sozinho com as filhas dele.

O encarei incrédula, deixando escapar uma risada debochada. 

— Você não pensou nisso quando se ofereceu todo desesperado pra vir pra cá, né? — a expressão dele murchou, me fazendo rir — Não se preocupa, Yohan fica aqui o tempo todo e meu pai nem liga. 

Tirei minha mochila das costas e peguei a de Minho, deixando as duas num canto da sala. Ele estava em completo silêncio e sua cara não era das melhores. Talvez estivesse com dor por causa da queda na escola.

— Vou avisar meu pai que chegamos, pode se sentar aí — apontei para o sofá, me virando para ir até o escritório de casa.

— Ele vai vir hoje? — parei de caminhar ao ouvir a pergunta. Me virei de volta para o garoto, com as sobrancelhas franzidas sem entender muito bem a pergunta — O Yohan. 

— Hm? — pendi a cabeça para o lado, coçando o topo dela —  Ele passa as tardes no treino de Taekwondo, só chega a noite — esperei que respondesse algo, mas ele permaneceu calado, então eu continuei: — Por que?

— Nada! E-eu só... queria falar com ele!

— Entendi — era óbvio que ele estava mentindo, mas eu não queria provocá-lo dessa vez. Vou dar um descanso pra ele hoje, já que ele se machucou. — Você pode falar com ele amanhã na escola. Tem aula, lembra?

Ele se calou e sentou no sofá, enfiando as costas no estofado de uma forma que parecia que ia se esconder ali dentro. Eu ri internamente, saindo dali em direção ao escritório onde meu pai estava. 

Voltei para a sala com Kyujin no colo, ela estava no bebê conforto enquanto meu pai trabalhava no computador e ergueu os bracinhos rapidamente assim que me viu. Ela ficou ainda mais manhosa depois de ter se machucado quando caiu do chiqueirinho naquele dia. 

— Você pode trazer as mochilas? — perguntei, já subindo as escadas com minha irmã nos braços. Ele me seguiu, trazendo as bolsas como eu pedi — Pode indo pro meu quarto, só vou pegar algumas coisas no quarto dela e já vou também.

— Precisa de ajuda? — neguei, entrando no quarto de Kyujin enquanto Minho me olhava da porta — Tem certeza?

— Você tá com o braço machucado — o lembrei. — Mas já que quer ajudar, pega alguns brinquedos nesse baú, por favor.

— Que tipo de brinquedo? — imagino que a quantidade enorme de brinquedos ali o fez questionar. 

— Os que você achar que ela vai gostar, ué.

O garoto ficou em silêncio, ocupado demais com a tarefa de escolher os brinquedos, ele estava realmente empenhado nisso. Eu peguei um cobertor e a cadeirinha de descanso de Kyujin, já que provavelmente ela dormiria durante a tarde. 

— Isso é muito difícil pra você? — zombei, parando na saída do quarto. Minho ainda estava agachado pegando brinquedos no baú. Ele deu uma risada sem graça, levantando rapidamente com os objetos nas mãos.

— Já terminei!

— Então vamos, ora! — impliquei, mostrando que eu estava carregando a bebê em um braço e a cadeirinha com cobertor no outro. Era bem pesado pra falar a verdade. 

[...]

No meu quarto, Minho resolvia alguns exercícios que eu havia passado enquanto eu balançava a cadeirinha de Kyujin para que ela dormisse. Seus olhos estavam pesados, mas ela lutava bravamente contra o sono querendo alcançar com a mãozinha as estrelinhas penduradas acima de sua cabeça.

Eu queria muito que ela dormisse um pouco, pois durante a noite ninguém conseguiu pregar os olhos. O médico disse que agora que os pontos da testa dela estão secando, ela pode sentir coceira e irritação na pele por causa do curativo. Isso tem deixado ela muito estressada e inquieta.

Continuei balançando a cadeirinha por um longo tempo até perceber que ela estava quase pegando no sono.

— Tá na hora de dormir, Kyujinie — sussurrei, acariciando o seu pequeno nariz com o indicador. Seus olhinhos estavam quase se fechando — Quando você acordar, eu vou fazer a sua mamadeira, tá? Mas você precisa dormir agor...

— AISH! — o grito estridente de Minho assustou minha irmã, a fazendo chorar alto. 

Eu não acredito!

O fuzilei com o olhar enquanto o garoto tampava a boca com a mão depois de se dar conta do que tinha feito. Ele se apressou em se desculpar e levantou rapidamente da escrivaninha, fazendo várias reverências em minha direção. O encarei com a expressão fechada e ele abaixou a cabeça instantaneamente. Aish! Precisava mesmo gritar por causa de uns exercícios que nem são tão difíceis assim?

Tirei Kyujin da cadeira, a bebê chorava tão alto que pensei que os vizinhos poderiam nos denunciar à polícia por maus tratos. Nessa hora, meu pai já tinha ido para o trabalho e minha mãe ainda não havia chegado, eu teria que dar conta de acalmá-la sozinha. 

Comecei a balançar Kyujin em meus braços, tentando chamar sua atenção fazendo alguns sons com a boca. Nada adiantava, o choro ficava mais alto e desesperado a cada minuto. Olhei ao redor tentando pensar em algo para fazê-la parar. Em minha frente, vi pela janela que o quarto de Yohan estava com as cortinas abertas e caminhei até próximo do vidro, mostrando o lado de fora para a bebê. Geralmente isso funciona, porque ela gosta de olhar o lado de fora, mas nem isso a fez parar de berrar dessa vez.

Eu já estava prestes a desistir e chorar junto com minha irmã quando vi Minho se aproximar da gente. O garoto parecia um pouco receoso, mas trazia com ele a Anya de pelúcia dada por Seungmin na primeira vez que fui à padaria. Por falar nele, preciso ligar para explicar o motivo de ter saído correndo da última vez, com toda essa confusão com Kyujin eu ainda não consegui falar com ele devidamente; sem contar que Seungmin queria me dizer algo naquele dia, mas eu tive que sair antes de saber o que era. Tudo bem, vou ligar para ele amanhã. Ou melhor, vou dar uma passada em seu trabalho e falar pessoalmente, isso mesmo.

Estava tão imersa em meus pensamentos que, quando me dei conta, Kyujin havia parado de chorar. Olhei para ela em meus braços, a bebê sorria tanto que às vezes até soltava pequenas gargalhadas, não pude evitar de sorrir junto. Mudei minha atenção para onde ela olhava; Minho fazia brincadeiras enquanto balançava a pelúcia de um lado para o outro, conversando com minha irmã usando uma voz fina que eu nem sequer imaginava que ele conseguia fazer. Era realmente surpreendente que ele tenha conseguido fazê-la parar de chorar, e se tornou ainda mais quando, no instante seguinte, Kyujin ergueu os bracinhos buscando pelo colo de Minho.

Eu estava um pouco perplexa com a situação. Kyujin não costuma aceitar o colo de ninguém que não seja da família, quanto mais estender os braços para "estranhos". Até Yohan que vive aqui em casa tenta segurá-la e recebe um choro escandaloso em troca. 

Balancei a cabeça tentando deixar esse pensamento pra lá. Minha irmã não tinha desistido, continuava com os bracinhos esticados na direção do garoto, então, apesar de ainda estar confusa, entreguei Kyujin para ele. Minho segurou a bebê meio desajeitado, seus olhos estavam arregalados em surpresa por eu ter a colocado em seu colo sem avisar, provavelmente aquela era a primeira vez que ele tinha uma criança em seus braços, mas eu sabia que ele daria conta.

— Ky- Kyra! — seu olhar alternava entre mim e a bebê, ainda assustado — Ela tá no meu colo!

— É claro que ela tá no seu colo — ri da exclamação óbvia dele. — Não viu que ela tava com os braços estendidos querendo ir com você?

— Eu pensei que ela queria o brinquedo! — o Lee continuava falando alto, num tom quase desesperado. Dessa vez, quem riu foi Kyujin.

— Eu vou na cozinha fazer a mamadeira dela, já venho — falei, indo em direção à saída.

— Vai me deixar sozinho com ela?! Eu nunca cuidei de um bebê! 

Parei na porta, gargalhando do desespero do garoto antes de sair.

— Eu volto rápido. E não se preocupe, ela gostou de você.

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