29• Problemas com o Novato

— Não quero ter que cobrá-los, então, por favor, me entreguem esse trabalho até a próxima aula. Alguma pergunta? 

Terminei de anotar no meu caderno as instruções sobre a pesquisa que o Sr. Yoon havia acabado de nos pedir. Por sorte, seria em dupla, então eu não me preocupei muito quanto ao tempo curto para fazê-lo. 

— Anotou tudo? — sussurrei para Yohan, que agora era meu colega de classe e de carteira. Ele balançou a cabeça afirmando. 

— Professor, eu tenho uma pergunta! — minha atenção foi para o novato que estava com a mão erguida no ar. 

O garoto, que foi transferido para nossa escola nesse semestre, era bem misterioso. Ele nem sequer tentou fazer amigos na nossa turma, mas, ainda assim, parecia conhecer muito bem as pessoas aqui. 

— Heeseung, certo? — o professor perguntou; ele assentiu — Qual é a sua dúvida? 

— Eu posso escolher a minha dupla? 

Olhei de volta para o professor, esperando a resposta que eu já sabia qual seria. 

— Por que? 

— Eu gostaria de fazer o trabalho com o Minho — Heeseung sorriu de lado, me fazendo estranhar ainda mais a situação. 

A sala estava silenciosa, o barulho de um lápis tendo sua ponta esmagada sobre um caderno chamou a minha atenção. Virei a cabeça discretamente, vendo Minho continuar forçando a ponta do objeto mesmo quando a mesma já estava em pedaços. Seu rosto continha raiva e, ao mesmo tempo, parecia estar longe dali, como num transe. 

— Você ainda não deve conhecer todas as regras, já que é novo no Songdong — o Sr. Yoon abaixou seus óculos no rosto, fitando o garoto. — Todos os trabalhos em dupla são feitos com seus respectivos colegas de carteira. Já que o senhor está sozinho, vou pedir que se junte à representante de classe. Vou permitir um trio como exceção dessa vez. 

— Venha falar comigo depois — Soojin sussurrou para o novato. Ele não respondeu nada, apenas fechou a cara e se largou na cadeira quando o professor saiu da sala. 

Observei Minho novamente, sua expressão continuava a mesma. Jisung, ao seu lado, o olhava preocupado e tentava chamar a sua atenção. 

— Ei, Minho! — falei baixo, cutucando o ombro do garoto — Você tá bem? 

Todos se ajeitaram na cadeira quando o Sr. Son, nosso professor de educação física, entrou na classe. 

— Crianças, vão vestir seus uniformes de treino, hoje teremos aula prática. 

[...] 

O complexo de esportes do colégio era enorme. Tinha quatro quadras, sendo duas abertas e duas cobertas, para prática de basquete, vôlei, badminton e tênis. Do lado de fora, também havia um gramado grande com arquibancadas e uma pista de corrida ao redor. E na parte interna, um ginásio maior, que tinha aparelhos de ginástica artística e outras modalidades, sem contar o Centro de Treinamento de Taekwondo, que era o espaço mais moderno do complexo, graças ao fato de que Yeonjun, filho do diretor, fazia parte da equipe. 

Na pista de corrida, o professor nos passava alguns alongamentos enquanto nos dava instruções sobre o exercício que faríamos a seguir. Aquela já era a nossa última aula do dia, o que significava que o sol estava alto no céu e esquentando bastante a minha pele. Mesmo gostando de climas quentes, eu torci pra tudo terminar logo e eu poder tomar um banho e ir pra casa. 

A competição era uma corrida de 200 metros em velocidade e eu já podia ver a minha ruína, porque eu simplesmente não tenho preparo físico nenhum para uma prova de atletismo. 

O professor chamou alguns nomes. Mais precisamente, oito, que era o número de raias da pista. Nós assistimos da arquibancada os primeiros alunos correrem. Yena estava entre eles, então Soojin, Yohan e eu ficamos torcendo por ela. Na linha de chegada, o professor marcou com um cronômetro o tempo de cada corredor. Yena foi uma das últimas a terminar o percurso, mas ainda assim chegou na arquibancada se exibindo como se tivesse ganhado.

— Isso foi moleza pra mim — seu jeito convencido me fez rir. Ela estava extremamente ofegante, mas não daria o braço a torcer de que foi difícil. 

— Quem dera se todo mundo fosse assim atlético igual a você, Yena — Yohan zombou, fazendo a garota resmungar. Soojin, por sua vez, riu do comentário enquanto colocava uma mecha de cabelo atrás da orelha. É tão óbvio que ela continua louca por ele.

Não demorou muito para o professor chamar os próximos corredores. Minha sorte parecia grande nesse dia, pois, mais uma vez, eu não fui chamada. Observei meus colegas se posicionarem nas raias da pista, preparando-se para o início da corrida. Enquanto Soojin alongava as pernas segurando o tornozelo atrás do corpo, eu notei o novato provocando Minho algumas raias ao lado. O Lee apenas fingiu que não escutou, continuando seu aquecimento até que o professor apitasse.

Na metade do percurso, Minho já estava bem na frente dos outros. Eu pensei que ele fosse ruim em esportes, já que ele é o tipo de pessoa que passa o dia inteiro sentado na frente de um videogame ou computador jogando online, mas, aparentemente, como um bom covarde, ele é bom em correr.

Eu me distraí por alguns segundos apenas, mas quando voltei o meu olhar para a pista, Heeseung estava colado em Minho. Não sei como ele o alcançou tão rápido, mas a disputa agora era bem acirrada entre os dois. 

Não acreditei quando vi o novato empurrando Minho pelas costas. 
Em um piscar de olhos, o garoto estava no chão e o nosso professor corria para ajudá-lo. Em um piscar de olhos, também, eu já estava lá, chamando preocupada pelo Lee.

— Minho! Você tá bem?! — o ajudei a se sentar, verificando se havia algum machucado em seu corpo.

— Tá tudo bem — disse, mas grunhiu de dor em seguida. Vi que seu braço sangrava por conta de um arranhão.

Até então, eu não tinha tido nem tempo de sentir raiva de Heeseung, mas isso não durou muito. Ele se aproximou, estendendo a mão para Minho enquanto sorria debochado.

— Opa, foi mal aí, cara — fechei os punhos involuntariamente com a fala sarcástica do garoto — Eu me desequilibrei e acabei te acertando. 

— Ele não precisa da sua ajuda! — o encarei feio, ajudando o Lee a se erguer. Heeseung rosnou algo de volta, mas eu pouco me importei. Não abaixo a cabeça pra homem nenhum.

O Sr. Son, que até então observava a cena, se apressou a me ajudar, pegando o outro braço de Minho e passando por cima de seu ombro.

— Vou te levar pra enfermaria — o professor disse, apoiando o peso do garoto em seu corpo. — Você vem, Kyra?

Assenti com a cabeça, vendo o professor concordar. 

— Soojin, você é a representante, certo? — minha amiga respondeu positivamente, esperando as instruções do mais velho — Se certifique de que todos voltem pra sala de aula, ok?

Nós entramos de volta no prédio do colégio, ajudando Minho a chegar na enfermaria. Até aquele momento, o único machucado que eu podia ver era o arranhão em seu braço, e o garoto insistia para que a gente o soltasse, dizendo que suas pernas estavam bem e que ele conseguia andar sozinho. O Sr. Son acatou o pedido, soltando Minho quando já estávamos no corredor próximo à enfermaria. Eu, obviamente, não concordei, e continuei caminhando com o braço do garoto ao redor dos meus ombros.

No cômodo claro, fui com o Lee até a maca enquanto o professor explicava para a enfermeira o que tinha acontecido. Em seguida, o homem saiu, nos deixando aos cuidados da mulher simpática. Muitas vezes eu disse que estava me sentindo mal só para passar um tempo na enfermaria com ela. 

— Estou admirada que não é você que precisa de cuidados hoje, Kyra — ela riu, parando perto da maca para examinar o garoto. 

— Tô dando um tempinho só pros professores não perceberem que venho aqui só pra papear com você — ri de volta, prestando atenção nos movimentos que ela fazia com o estetoscópio no peito de Minho. 

— É a sua primeira vez aqui, né? — ela perguntou para o garoto, que assentiu com um ruído — Respira fundo — ele obedeceu, inspirando o máximo de ar. — Isso dói?

Olhei atenta para ele, tentando encontrar algum semblante de dor caso ele pensasse em mentir para a enfermeira. 

— Não — respondeu, e pareceu sincero. — Foi só um arranhão mesmo.

— Isso é o que vamos ver — a enfermeira disse, pegando uma caneta com lanterna no bolso e apontando para os olhos dele. Foi engraçado ver ele resmungando por isso. — Bateu a cabeça? — o Lee negou — Ele bateu, Kyra? 

— Espera! Você não acredita em mim? — Minho interrompeu, indignado.

— É só pra ter certeza — ela respondeu, virando para pegar uma bandeja prateada com alguns itens de primeiros socorros. 

— Hm... hoje ele não bateu — fingi estar pensativa por um momento. — Mas não sei, pelo jeito que ele é, deve ter batido quando era criança.

— Ya! — ele gritou alto e eu gargalhei. A enfermeira se esforçou para não rir, mas eu vi quando seus lábios se ergueram num sorriso disfarçado. 

— Pelo visto seus pulmões estão ótimos  — a mais velha brincou enquanto fazia um curativo no braço de Minho. — Parece que foi só um arranhão mesmo, mas peça pro seu pai te levar pra tirar uma radiografia ainda essa semana, ok?

Eu assenti junto com o garoto, se ele não contasse para os pais sobre a queda, eu mesma contaria. A enfermeira anotou algo em uma prancheta, indo até a porta em seguida.

— Vou levar isso pro seu professor assinar, descanse aqui até a hora da saída — o fim da aula não demoraria tanto, mas era bom que ele repousasse pelo menos um pouco. — Você vai ficar bem.

A mulher saiu, deixando nós dois sozinhos na sala. Me dei a liberdade de sentar na maca, perto dos pés do garoto, ele apenas me observou em silêncio. 

— Vamos cancelar a sua aula de hoje, ok? — coloquei as mãos ao lado do corpo, me apoiando na cama. Eu não podia ver o rosto de Minho, apenas se eu me virasse para o lado da cabeceira, mas não fiz isso. 

— Por que? — ele ergueu o tronco, e eu sabia que o Lee me encarava mesmo sem olhá-lo diretamente. 

— Como assim por quê? Você se machucou, tem que ir pra casa descansar.

— Eu tô ótimo, olha aqui! — Minho se levantou rapidamente da maca, fazendo eu me assustar. Ele parou de pé na minha frente, dando algumas voltinhas com os braços abertos — Tá vendo? Nada errado! Então você tem que me dar aulas hoje, você prometeu! 

Eu não sabia nem como reagir. Queria rir do jeito desesperado dele, mas achei um pouco fofo no fundo. Pulei de cima da maca, ficando de pé junto com ele. 

— Tudo bem — soltei um pequeno sorriso nasal. — Mas lembra que prometeu me ajudar com a Kyujin, certo? 

— É claro!

— Então vamos — disse, já indo em direção à saída da enfermaria. — Quero ver se você é uma boa babá mesmo! 

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