28• Pequeno Acidente
Alguns dias haviam se passado desde que voltei do acampamento. O segundo semestre começou depois das férias de verão e os primeiros dias de aula já nos deixaram repletos de trabalhos e atividades extracurriculares para fazer. Eu precisava arrumar tempo pra tudo se quisesse mesmo ir pra Universidade Nacional de Seul.
Levantei da penteadeira, pegando a sacola em cima da minha cama e descendo as escadas. Na sala, Kyujin estendeu os braços no chiqueirinho, pedindo que eu a pegasse. Fui até lá, pegando a bebê no colo e dando um beijinho nela.
— Mãe, tô saindo, tá? — ela apareceu da cozinha com um pano de prato pendurado no ombro.
— Nada de voltar tarde pra casa, mocinha — recomendou. Eu apenas assenti, colocando minha irmã de volta no chiqueirinho e saindo.
O clima ainda era quente e eu não podia negar que gostava de sentir o calor dos raios solares sobre minha pele. O caminho para a padaria onde Seungmin trabalhava era o mesmo, mas parecia diferente de alguma forma.
Se tudo ainda era igual, talvez fossem meus sentimentos que estivessem mudando.
O sino da porta tocou quando entrei na padaria. Seungmin estava atrás do balcão, de costas, ajeitando alguns copos próximo à máquina de café. O barulho da campainha o fez virar para frente; eu sorri fechado, acenando com a mão quando ele me mostrou um sorriso enorme e receptivo.
— Você chegou! — o sorriso continuava estampado em seu rosto. Ele veio em minha direção, me levando para sentar em uma das mesas — Tudo bem? Como foi o acampamento? E a viagem de volta? E sua mão? Tá melhor? Ainda dói muito?
— Eu tô bem, Seung — ri da enxurrada de perguntas. — Vou tirar essa faixa na próxima semana, mas nem dói mais nada. Aliás, já consigo até pegar a Kyujinie no colo!
— Mesmo? — assenti com a cabeça — Isso é ótimo!
— E você, como tá? As coisas estão indo bem por aqui?
— Bom, eu sempre ganho o prêmio de funcionário do mês, então... — ele riu de um jeito fofo enquanto coçava a cabeça — Ah! Eu vou trazer o novo menu pra você provar! Espera aqui!
Quando Seungmin voltou, trouxe duas bebidas e um tipo de torta que parecia bem apetitosa. Ele tirou o avental do trabalho e se sentou na minha frente, colocando a torta e uma das bebidas próximas a mim.
— É o meu horário de almoço, podemos conversar com calma — disse, colocando um canudo no meu copo. — Veja se está bom.
Concordei, dando um gole no café. Era deliciosamente doce, mas não a ponto de ser enjoativo.
— Nossa! Isso tá muito bom, Seung! — elogiei, sugando um pouco mais do líquido — Totalmente aprovado! — fiz um joinha com a mão.
— É só um teste por enquanto, mas se os clientes gostarem, vai entrar no cardápio oficial.
— Eu sempre fico admirada como você conhece tanto sobre cafés. Sério, é muito legal mesmo.
— Um dia eu vou ter a minha própria cafeteria — ele bebeu um pouco do líquido em seu copo; os olhos de Seungmin brilhavam enquanto ele falava. — Imagina só, eu vou poder criar quantas receitas eu quiser!
Nós continuamos conversando por algum tempo e eu mal vi a hora passar. Sempre me divirto muito quando estou com Seungmin, nossos gostos são parecidos e sempre temos um assunto diferente pra falar. Eu poderia dizer sem dúvida alguma que ele era o garoto certo pra mim.
Mas, por algum motivo, parecia faltar algo.
— Seung, eu preciso ir agora — me levantei da cadeira, ele fez o mesmo rapidamente —, tenho alguns conteúdos pra revisar e minha mãe não quer que eu chegue tarde em casa.
— Ah, tudo bem. Eu também tenho que voltar ao trabalho — ele gesticulou com as mãos, como se dissesse para eu não me preocupar. — Obrigado por ter vindo.
Sorri fechado o encarando. Ele era realmente perfeito. Por que meu coração não consegue enxergar isso?
— Eu que agradeço. Foi muito legal — peguei a sacola de papel que eu tinha deixado no chão, estendendo para o garoto. — Trouxe pra você do acampamento. Queria retribuir o presente que deu pra Kyujin daquela vez.
— Pra mim? Mas ainda nem é setembro!
— Eu sei disso, até porque vamos comemorar seu aniversário todos juntos, certo? — lembrei do dia do karaokê, quando nos divertimos com Seungmin e seus amigos.
Ele se aproximou devagar, vindo mais perto para pegar a sacola. Seu olhar, que antes estava no objeto, parou em mim novamente.
— Tenho uma coisa pra contar pra você, Ky. Não disse nada até agora porque não sabia bem como dizer — eu estaria mentindo se dissesse que não me senti nervosa ouvindo aquilo, mas me contive, tentando parecer calma na frente dele.
— O que é, Seung? — perguntei, o vendo suspirar antes de falar qualquer coisa.
— Kyra, eu— me surpreendi com o toque do meu celular. Olhei no visor, era minha mãe. Seungmin me disse para atender, eu assenti, passando o dedo no ícone verde.
Minha mãe estava desesperada do outro lado da linha. Kyujin tinha se pendurado e caído do chiqueirinho onde estava brincando. Depois disso, eu não entendi mais muita coisa. Senti meu coração disparar e minhas pernas tremerem. Eu precisava ver minha irmã.
Saí correndo da padaria, deixando Seungmin com um olhar preocupado e confuso para trás e indo em direção ao hospital onde Kyujin sempre fazia suas consultas de rotina, minha mãe disse que estava indo para lá com a bebê. Peguei um táxi, quase colocando todo o café que havia bebido antes para fora.
No hospital, corri até a ala da pediatria. Uma enfermeira me indicou onde elas estavam e eu fui desesperadamente até lá, dando de cara com minha minha mãe sentada em um banquinho ao lado da maca gradeada.
— Mãe! — ela estava escorada na maca, mas assim que me ouviu, se levantou. Eu a abracei forte, sentindo o aperto no meu peito diminuir um pouco — O que aconteceu? Como ela tá?
— Parece que sua irmã é bem precoce pra uma criança de seis meses — me soltei do abraço, me encostando na maca onde Kyujin dormia como um anjo. O curativo na testa era grande pra uma cabeça ainda tão pequena. — Ela se pendurou no cercadinho e caiu de cabeça no chão.
Arregalei os olhos, mexendo na bebê para tentar acordá-la.
— Tá tudo bem, filha — segurou minha mão —, ela levou alguns pontos no corte, mas os exames estão todos normais — soltei um suspiro aliviado.
— O papai tá no trabalho? — ela assentiu com um "uhum" — Você avisou ele?
Nos entreolhamos por alguns segundos. Aquela expressão dizia claramente que ela não tinha contado nada ao meu pai.
— Mãe! — a repreendi.
— Você sabe como o seu pai é, eu não queria assustar ele antes de saber o que tinha acontecido.
— Pode deixar que eu falo com ele — ela concordou com a cabeça, ajeitando o cobertor em cima da bebê. — Sei lidar bem com aquele poço sem fim de drama.
Finalmente vi um pequeno sorriso surgir nos lábios de minha mãe. Acenei para ela, saindo do box de cortinas verde claras, indo em direção à saída do hospital. Passei pela porta de vidro automática, olhando a avenida movimentada à minha frente. O sol já tinha se posto e a noite chegado. O prédio onde meu pai trabalhava não era muito longe dali, seria melhor eu ir até lá do que dar uma notícia dessas por telefone, não queria que ele tivesse um infarto.
— Kyra? — minha atenção foi tomada pelo garoto que passava por ali.
— Minho? — ele me olhou, em seguida, olhou para a fachada do prédio atrás de mim.
— Você tá bem?! O que aconteceu? — me surpreendi quando ele caminhou apressado na minha direção, me examinando de cima a baixo várias vezes.
— Eu tô bem — dei um passo para trás com a sua aproximação repentina. — Kyujin caiu e se machucou, mas tá tudo bem, não foi nada grave.
Depois do que aconteceu no acampamento, eu pensei que me afastar de Minho seria o melhor a ser feito, talvez tentar ficar longe dele já que, na nossa última conversa, eu meio que ergui uma barreira bem alta entre nós. Mas de que adiantaria? Eu ainda o vejo todos os dias na escola e prometi continuar dando aulas particulares a ele nesse semestre.
No fim das contas, evitá-lo só deixaria tudo pior, então, eu decidi apenas deixar as coisas fluírem normalmente, afinal, ele podia estar apenas confuso sobre seus sentimentos por mim.
— Tem certeza? Precisa de algo? Eu posso ir comprar pra você!
— Não se preocupa, tá tudo bem mesmo. Aliás, preciso ir encontrar meu pai pra avisar pra ele, então... eu já vou indo — falei, já me afastando. Ele deu uma corridinha para me alcançar.
— Eu te acompanho — pensei em negar, mas sei que ele continuaria insistindo de qualquer forma. Nesse momento, eu estava apenas pensando em Kyujin e em como meu pai reagiria ao saber que ela se machucou.
— Vou ter que cancelar as suas aulas dessa semana, tudo bem? — perguntei enquanto caminhávamos pela calçada. Ele não respondeu nada, então continuei: — Minha mãe já voltou ao trabalho e não podemos mandar a Kyujin pra creche enquanto ela não melhorar, então eu vou me oferecer pra ficar com ela todos os dias depois da escola.
— E se eu for pra sua casa? Posso te ajudar a cuidar dela enquanto fazemos a aula.
— E desde quando você sabe cuidar de crianças? — levantei uma das sobrancelhas, o observando quando paramos para atravessar no semáforo.
— Eu sou ótimo com crianças, você não sabia? E também, eu sei fazer primeiros socorros, aposto que você não faz curativos tão bons quanto os meus!
O olhei desconfiada enquanto atravessamos para o outro lado da avenida.
— Eu não sei se acredito muito nisso — ri soprado, parando na frente da construção espelhada.
— Mas é verdade — o Lee parou também, como se esperasse a minha resposta. Suspirei derrotada.
— Tá, você pode ir — apertei o espaço entre as minhas sobrancelhas sentindo uma leve dor de cabeça. — Mas não esquece que você prometeu me ajudar!
— Pode deixar! Você vai ver que eu sou melhor do que qualquer babá treinada! — ele estava animado demais, muito diferente do Lee Minho de costume.
— É aqui que o seu pai trabalha? — apontou para o prédio, sorrindo largo. Eu não respondi — Bom saber, vou vir visitar um dia! Acha que ele me pagaria uma refeição?
Soltei um suspiro debochado, ao mesmo tempo que queria rir do que ele havia acabado de dizer. Por que ele viria visitar meu pai no trabalho? Ele não acha que isso é ser sem noção demais?
Apenas desisti, acenando um "xô" com a mão para que ele fosse embora.
— Tchau, Minho!
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