27• A Estrela Mais Brilhante

Eu realmente queria fugir daquele jogo. 

Pensei que conseguiria me safar, mas aqui estou, com a maldita garrafa apontada para mim. Eu já sabia que não tinha nenhum desafio fácil ali, todo mundo pegava muito pesado na hora de escolher, então, decidi ir na opção mais segura: 

— Eu escolho verdade. 

Estava contando com a bondade de Jisung, que estava na outra ponta da garrafa, crente que, por ser um garoto legal, não me colocaria numa situação difícil. 

Ele pigarreou, limpando a garganta antes de perguntar: 

— Ãn... então, Kyra...? Você gosta de alguém? 

— O que? — franzi as sobrancelhas sem entender nada. Han parecia quase tão confuso quanto eu, coçando a nuca nervosamente. Ele se atrapalhou tentando perguntar mais uma vez. 

— Q-quer dizer, você está gostando de alguém nesse momento? — Jisung engoliu em seco de tão nervoso que estava — Está apaixonada por alguém ou algo do tip- 

— Sim! — respondi antes que ele pudesse completar a frase — Eu gosto de uma pessoa. 

Eu queria entender o que aconteceu comigo naquela hora. Todos os olhares me encarando me fizeram sair do eixo, ou talvez meu coração estivesse batendo totalmente fora do compasso por outro motivo, eu também não sabia sobre isso, porque tudo ficou confuso dentro da minha cabeça. 

Eu respondi a pergunta de Jisung com tanta certeza, então, por que agora parece que tudo se tornou difícil de entender? 

Me levantei com dificuldade, me apoiando com a mão boa no ombro de Yohan. Olhei uma última vez para as pessoas ali, algumas cochichavam entre si e outras riam; Han, por sua vez, ainda mantinha a mesma cara assustada de instantes atrás. Os únicos que pareciam preocupados comigo eram os meus amigos, provavelmente com muita pena de mim naquela situação, mas eu entendo, até eu mesma estou com pena de mim agora. 

— Kyra... — a voz de Minho chegou aos meus ouvidos, a sensação de que meu coração fosse ser esmagado só aumentou. 

Meus olhos encontraram com os dele por um segundo, e eu pude ver que ele era o único ali a não esboçar reação alguma, estava apático como sempre, como se fosse um boneco sem vida. 

Suspirei, saindo dali o mais rápido que podia. Eu não sabia pra onde estava indo, nem se saberia voltar, apenas deixei meu corpo me levar o mais longe possível. 

Na verdade eu não sabia nem por quanto tempo andei, mas a lua no céu era uma boa companhia naquele momento. Ela não poderia dizer nada mesmo se quisesse, e isso era ótimo. Apenas nós duas em silêncio. 

Você gosta de alguém? 

A pergunta de Jisung voltou à minha mente. Naquela hora, Seungmin foi a primeira pessoa que passou pela minha cabeça, então por que não aconteceu o mesmo com o meu coração? 

Uma rajada de vento passou por mim, me fazendo arrepiar levemente. Continuei andando, sem me preocupar em seguir um caminho correto, cada passo que eu dava me fazia esquecer um pouco o motivo que me levou até ali. Só parei de caminhar quando avistei o lago à minha frente. 

E era lindo. 

A luz da lua refletida na água formava um desenho incrivelmente bonito, o vento que batia nas folhas das árvores ao redor criou uma sinfonia calma que era quase como um tranquilizante. Respirei fundo o ar fresco, fechando os olhos por alguns segundos. 

— Esse lugar é lindo — virei para trás; Minho estava ali, a um metro de distância de mim. 

— É sim — concordei, dando mais uma olhada ao redor. — O que tá fazendo aqui? Você me seguiu?

— E-eu só vim ver se tava tudo bem. Você... sabe, desmaiou ontem e tá com a mão machucada também — apontou para a tipoia em meu braço. — Então, hm... eu já vou voltar pra lá, não queria te incomodar. 

— Não! — falei, antes mesmo que me desse conta — Quer dizer, não está incomodando. 

Ele apenas balançou a cabeça, chegando mais perto e parando ao meu lado. Me virei de volta para o lago, para onde o garoto olhava fixamente agora. Me deitei no chão, as folhas caídas deixaram o solo macio, me fazendo ter vontade de ficar ali por muito tempo. Minho me observou curioso, deitando ao meu lado em seguida, mas mantendo uma distância segura entre nós dois. 

— Obrigada por ontem — eu ainda sentia que precisava agradecê-lo mesmo que ele tivesse dito o contrário na enfermaria. — Yena disse que você me carregou nas costas quando eu desmaiei. Deve ter sido difícil, eu vou te recompensar. 

— Tudo bem, não foi nada difícil — colocou os braços atrás do pescoço, se ajeitando de um jeito presunçoso. 

— Eu sou tão leve assim? 

— Não mesmo! — exclamou — Você é pesada, mas eu sou muito forte! — era idiota, mas eu ri da forma que ele falou. 

— Bom, você pode me pedir o que quiser em troca. 

— Qualquer coisa? 

— Desde que eu possa comprar, claro. Sabe que não sou rica igual você — ele riu soprado, virando a cabeça para me olhar. 

— Continue me dando aulas. 

— O que? 

— Yena disse pro Jisung que agora que minhas notas melhoraram você vai parar as aulas — arregalei os olhos. Yena não sabe mesmo ficar de boca fechada, eu disse a ela que estava apenas pensando sobre isso, já que o Lee subiu no ranking nas últimas provas. 

— Eu nu- nunca disse isso! — gaguejei tentando me explicar. 

— Então isso quer dizer que...? 

— Vou continuar te dando aulas. Também não vou mais cobrar por elas, então considere como o meu agradecimento, certo? 

— Certo! — ele sorriu vitorioso, voltando a olhar para o céu em seguida. 

— Já leu Harry Potter? — apenas perguntei sem pensar muito no que estava dizendo. Precisava mudar de assunto rápido, então qualquer coisa servia naquela situação. 

— Eu assisti todos os filmes — respondeu orgulhosamente. — Isso serve, né? 

— É o suficiente — ri nasal, apontando para o centro do céu — Tá vendo aquela constelação ali? 

— Aquela? — apontou para o mesmo lugar; eu assenti com a cabeça. 

— É a constelação Cão Maior, a estrela mais brilhante dela se chama Sirius. Sabia? 

— Sério? — Minho virou a cabeça para o lado, me encarando incrédulo. — Então...? 

— Sirius Black tem o nome dessa estrela porque a forma de animago dele é um cachorro — o garoto arregalou os olhos como se tivesse descoberto a coisa mais impressionante do mundo. Eu sorri, olhando para cima novamente pra ver a estrela mais brilhante de todas — É bonita, né? 

— Mais que tudo... 

Senti o olhar de Minho sobre mim enquanto eu admirava as estrelas. Era realmente um milagre que a gente pudesse vê-las ali, pois a constelação Cão Maior só pode ser vista no hemisfério norte de dezembro a março, e nós já estamos na metade do ano. 

— Sabe o que é estranho? — ele respondeu um "o que?" curioso. — Ela não fica visível em agosto. É um milagre a gente conseguir ver ela agora — eu ri fraco, enquanto alguns pensamentos passavam pela minha cabeça. — Acho que, no fim das contas, hoje é meu dia de sorte. 

Nós ficamos em silêncio por um tempo apenas olhando o céu, mas não era um silêncio incômodo, pelo contrário, tudo ao redor parecia aconchegante. 

— Espero que seja o meu dia de sorte também — ele disse tão baixo que eu mal entendi. — Kyra, será que... eu posso te perguntar uma coisa? 

— Uhum — virei o rosto para o lado, mirando o garoto. — O que é? 

Ele hesitou, evitando me olhar, enquanto eu esperava que ele dissesse algo. O Lee se ergueu, sentando-se, e tudo que eu podia ver agora eram as suas costas. Franzi as sobrancelhas confusa, quando o ouvi me chamar. 

— Kyra... 

— Hm? — me ergui também, parando sentada ao seu lado. 

— Mais cedo, no jogo, você disse que gosta de alguém — o garoto começou;  eu o interrompi assim que pude. 

— Minho, eu tava encurralada com todo mundo me olhando, só falei qualquer coisa sem pensar muito — menti, tentando escapar do que ele provavelmente me perguntaria. 

Eu podia perceber apenas pela sua feição que ele não havia acreditado em nenhuma vírgula do que tinha acabado de dizer. Eu sempre fui uma péssima mentirosa. 

— Será que... — Minho me encarou. Não consegui sustentar meu olhar no dele, apenas abaixei a cabeça esperando sua pergunta — Tem alguma chance dessa pessoa ser eu? 

De repente, o mundo pareceu parar de girar. Entre os milhares de pensamentos que passavam pela minha cabeça, senti meu coração doer de tão rápido que batia, ou será que era porque a minha resposta também seria uma mentira? 

Respirei fundo e levantei a cabeça, encarando o rosto triste de Minho. Naquele momento, usei toda força que tinha pra conseguir por pra fora as três letras mais difíceis que tive que dizer até hoje: 

— Não.

— É o garoto do karaokê, né? Também foi ele quem te deu a Anya de pelúcia...

Eu permaneci em silêncio, sem saber como responder sua pergunta. Minha mente estava confusa e meu coração batia rápido dentro do meu peito.

— Minho, e-eu-

Tentei falar algo, mas parei, vendo a mão do garoto se aproximar do meu rosto. Seu polegar tocou minha bochecha e eu recuei por impulso. Apesar do meu ato, ele continuou me olhando docemente. Eu não sabia como reagir.

— Kyra... eu sei que você não gosta de mim agora, mas eu vou fazer você gostar — Minho respirou fundo antes de continuar —, então, por favor... não vá até ele.

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