19• A Viagem

Minha animação cresceu exponencialmente com a notícia de que Yohan iria conosco na viagem. Eu corri para contar a novidade para Soojin e Yena, que ficaram super eufóricas, claro, até porque as duas sempre babaram pela beleza do meu melhor amigo. Ainda acho que um dia a Soo vai finalmente dizer que gosta dele, apesar de negar até a morte todas as vezes que Yena e eu a pressionamos a falar sobre isso. 

O Kim sempre teve todas as garotas aos seus pés, mas nunca se interessou por ninguém. Sua cabeça sempre esteve preenchida apenas por Taekwondo e brincadeiras infantis que ele nunca deixou de fazer. Eu diria que Yohan nunca vai deixar de ser uma criança boba. 

De qualquer forma, tanto a mentirosa quanto o bobo da corte continuam sendo meus amigos. Vou apoiá-los, seja lá quais decisões tomarem. Mas que seria legal vê-los juntos, ah... isso seria. 

[...] 

Eu dormia tranquilamente quando um barulho muito, mas muito chato mesmo invadiu os meus sonhos. O toc toc persistiu e eu resmunguei algo sem sentido enquanto abria os olhos com dificuldade. O ambiente ao meu redor já estava um pouco claro, mas eu podia sentir que ainda era extremamente cedo. 

Olhei para a janela, de onde o som vinha, mais uma vez, esqueci de fechar as cortinas antes de dormir. Pensei que fosse uma alucinação da minha cabeça, mas, depois de esfregar os olhos com força, a figura ainda estava lá, batendo no vidro da minha janela. 

— Kyra! — o garoto me chamou, acenando com a mão. 

— Eu só não te mato porque tô com muito sono agora  — resmunguei, cobrindo o meu rosto com o edredom. 

— Não vai abrir pra mim? — Yohan continuou com as batidas infernais no vidro. Acho que a ideia de levantar para matá-lo não parecia mais tão ruim assim. 

— Kim Yohan, é melhor você dar o fora daqui! — ameacei. Maldita hora em que voltamos a usar a passagem entre nossos quartos pela árvore. Ele não para mais de me fazer essas visitas desavisadas. 

— Tudo bem, mas você vai se atrasaaar! — ele cantarolou, se virando de costas para ir embora. 

Espera! Atrasar?! 

Eu levantei correndo, tropeçando no edredom e batendo em todas as coisas que estavam pelo caminho. Tinha me esquecido de ativar o despertador para hoje. 

O dia da viagem havia chegado. 

[...] 

A bagunça era enorme no gramado do Colégio. A área do campo onde os garotos jogam futebol estava tomada por alunos e suas malas, prontas para serem colocadas nos bagageiros dos ônibus que estavam estacionados próximos dali. Avistei Soojin e Yena chegando e acenei com o braço erguido para que elas me vissem. 

As duas se aproximaram rapidamente, Soo carregava um travesseiro nas mãos e uma mochila nas costas, enquanto Yena parecia extremamente fofa e engraçada usando uma almofada de pescoço amarela que a fazia se destacar de todas as outras pessoas ali. 

— Então quer dizer que agora temos um atleta no nosso grupo? — Choi sorriu de lado, esperando uma resposta de Yohan. Olhei para o meu amigo, ele apenas ergueu as sobrancelhas surpreso. 

— E-eu acho que sim — finalmente respondeu, parecendo um pouco envergonhado. 

— Qual é, Yohanie?! Vocês já se conhecem faz tempo, não vou fazer apresentações de novo. Vamos, diga oi pras meninas! 

O Kim se curvou brevemente e cumprimentou as duas, recebendo reverências de volta também. Não faria nenhum sentido começarmos tudo de novo sendo que os três já se viram milhares de vezes na minha casa. 

— S-seja bem v-vindo, Yohan — Céus, Lee Soojin, você não sabe mesmo disfarçar. Eu ri internamente do seu jeito nervoso perto do meu melhor amigo. 

— Soojin é a representante da nossa turma, você deve falar com ela se precisar de algo, qualquer coisa mesmo — dei dois tapinhas no ombro do Kim e sorri fechado para a garota — Não é mesmo, Soo? 

Ela pareceu engolir em seco antes de responder monossilabicamente: 

— Hm?! Ah, é s-sim!

A algazarra ao redor continuava bem alta quando nosso professor surgiu, gesticulando com os braços para entrarmos no ônibus e sentarmos em nossos lugares. Pra piorar, ele tinha um apito pendurado no pescoço e, para minha infelicidade, tinha certeza de que ele o usaria logo logo. 

Meus colegas de classe começaram a se aproximar do grande veículo, aparentemente, a maioria deles queria sentar no fundo para parecer descolado. 

Contraí os lábios em uma linha vendo a aglomeração para entrar no ônibus. Eu realmente não queria me enfiar no meio daquele bolo enorme de gente. 

— Vou no banheiro rapidinho, guardem um lugar pra mim! — avisei, saindo em seguida. 

No caminho, cruzei com Minho e Jisung e os cumprimentei com um aceno de cabeça, como sinal da ótima educação que recebi dos meus pais. Sério, dá pra sentir a vibe de Tico e Teco exalando só de olhar os dois juntos. 

Eu lavei minhas mãos depois de usar o banheiro. A água da pia estava mais gelada do que imaginei, e o vento forte do secador de mãos fez o sono que eu sentia ir embora de vez. 

Saí do banheiro e coloquei uma bala de menta na boca, caminhando de volta para fora da escola. Ouvi uma notificação apitar em meu celular e a abri. Era Soojin. 

"Sem perguntas quando entrar, prometo que te explico tudo depois" 

Suspirei, avistando o ônibus a alguns metros de distância. Seja lá o que isso significa, tenho certeza de que não é algo bom. Tomei coragem e avancei os passos que faltavam. 

— Está atrasada — o Sr. Yoon riscou o meu nome na prancheta, pelo visto eu fui a última a chegar. 

— Desculpe, Sr. Yoon. Não vai se repetir. — disse educadamente, mas pelas suas costas eu revirava os olhos. 

— Tudo bem, agora vá se sentar, vamos partir logo. 

Me curvei brevemente para o professor e o motorista que já estava sentado em seu posto, pronto para dar a partida e fui em frente, chegando no corredor do veículo. 

Olhei ao redor, tudo parecia normal, meus colegas de classe conversavam alto; lá no fundo, os garotos riam exageradamente, e eu pensei que tinha sorte por ter trazido fones de ouvido bem potentes. Avistei Yena, sua almofada amarela não era nada discreta, mas isso era bom, levando em conta que estamos indo para um acampamento dentro de uma reserva florestal onde provavelmente seria muito fácil se perder. 

Parei abruptamente no corredor, segurando nas poltronas que me cercavam. Eu não podia estar enxergando certo. Meus olhos só podiam estar de brincadeira comigo. 

"Sem perguntas quando entrar"

A mensagem de Soojin pipocou em minha mente, e eu finalmente entendi o que significava. 

Significava que eu estava ferrada. E muito. 

Lancei um olhar ameaçador para minha amiga, que me retribuiu com aquela maldita expressão de gato de botas pidão do filme do Shrek. Ela estava sentada ao lado de Yohan, onde eu deveria estar. Mas esse não era o problema. 

Choi Yena deu um sorriso amarelo, que claramente dizia que ela sabia que eu estava furiosa. E eu sabia que ela estava se desculpando, mesmo sem pronunciar uma única palavra. 

Acontece que, eu não sei como e nem quando, Yena e Jisung se tornaram muito próximos. Ela só esqueceu de me contar que iria SENTADA COM ELE NO ÔNIBUS. 

O que significava que havia dois únicos assentos disponíveis agora. E um deles era o do professor Yoon, na primeira fileira. O outro, adivinhem só: era ao lado de Lee Minho. E ele tinha um rosto vencedor, como se aquilo o divertisse muito. 

Eu abri minha boca para protestar, mas fui interrompida por ele. 

— Hm, parece que esse é o único lugar disponível, não é, Kyra? — suspirei com o cinismo de sua fala. 

— Minho, por que não cuida da sua vid‐ 

— Senhorita Bae, ainda está de pé aí?! — o professor surgiu atrás de mim, me fazendo por a mão sobre o peito com o susto. — Vá para o seu lugar, preciso fazer a contagem dos alunos, vamos! 

Eu fechei meus olhos por dois segundos, tentando não surtar com a raiva que tinha dentro de mim. De todas as pessoas do mundo, elas tinham que me fazer passar a viagem sentada ao lado de Minho? E ainda se dizem minhas amigas? Sério, eu devo ter feito algo muito ruim na minha vida passada.

Caminhei derrotada até o assento ao lado do Lee, colocando minha mochila no bagageiro acima de nossas cabeças. Confesso que o pensamento de deixá-la cair de propósito em cima dele passou pela minha mente, mas me contive, me mantendo o mais calma que conseguia, até ter a minha paz testada por mais uma das falas sarcásticas do garoto: 

— Não se preocupe, Kyra, eu deixo você ir na janela se quiser — ele apontou para a vista lá fora. — Ah, e se você passar mal, eu posso segurar o seu cabelo quando vomitar. 

Revirei os olhos.

— Não vou passar mal — sentei, já colocando os meus fones. — Mas, caso aconteça, vou fazer questão de vomitar na sua cara, Minho.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top